segunda-feira, 30 de abril de 2012

EFACEC- um exemplo de internacionalização

A internacionalização das empresas portuguesas tem vindo aumentando nos últimos anos.  Permanece baseada no investimento no exterior e na exportação mas, mesmo assim, os parâmetros não são os desejados para quem quer atingir a média da União Europeia. Na ultima década a variação foi inconstante, para isso contribuiu o aparecimento da crise financeira e da entrada do Fundo Monetário Internacional no país. O volume das exportações portuguesas tem uma correlação positiva com a proximidade geográfica dos países, enquanto que o investimento no exterior ainda só é efetuado por um nicho muito reduzido de empresas. O valor das exportações Portuguesas em 2011 era de 42350 milhões de euros. O que leva estas empresas exportar é o fato de encontrarem mercados com um menor grau de concorrência e de exigência, para assim poderem obter aquilo que a entrada na União Europeia veio tornar cada vez mais difícil para Portugal: lucros e crescimento. 
A Efacec é uma das empresas que encaixam neste enquadramento. É uma empresa que trabalha quase exclusivamente na criação de infra-estruturas de energia, tendo até hoje mais de 4500 colaboradores e um volume de negócios que ultrapassa os 1000 milhões de euros, estando presente em mais de 65 países. A sua criação aconteceu a 12 de Agosto de 1948, pelo o Sr. Engº António Ricca. A Efacec ao longo da sua “vida” tem crescido a olhos vistos e um dos seus passos mais importantes foi a sua abertura ao exterior, que aconteceu em 1990, altura em que a globalização dava os seus primeiros passos. Com os devidos investimentos, a Efacec vendeu produtos e serviços, entre 2006-2010, que evoluíram do valor de 432.6 milhões de euros para 851.7 milhões de euros. No mercado interno, a variação foi entre 258,6 milhões de euros e 283.9 milhões de euros. No mercado externo, o crescimento foi de 174 milhões de euros para 567.9 milhões de euros. Portanto, o crescimento total das vendas entre 2006-2010 foi de 50% (9% no mercado interno e 41 % no mercado externo). Em 2011 recebeu uma menção honrosa nos prémios de Internacionalização, promovido por duas grandes instituições: o BES e o Jornal de Negócios.
A Efacec é um dos exemplo que comprova o fato de Portugal ter e necessitar de reforçar estruturas e capacidades para produzir mais e exportar mais, assim melhorando a nossa balança de pagamentos e promovendo o crescimento. Para isso, é necessário que as nossas forças políticas unam esforços no sentido de promover a competitividade e subsidiar investimentos no estrangeiro, ajudando as empresas a manter alguns dos seus postos de trabalho, ou, criando novos. Não é só pela via do corte da despesa do estado que se resolve a situação macroeconómica gravíssima que atravessamos neste momento.

Marílio Meireles

[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]

A energia eólica em Portugal

É a norte do rio Tejo que se encontram a maioria dos parques eólicos, aproveitando as condições favoráveis do vento e altimetria, como é o nordeste transmontano. Viseu, Viana do Castelo e Castelo Branco apresentam valores bastante significativos em relação às restantes regiões de Portugal, o que significa uma mais-valia no desenvolvimento destas regiões já que apresentam problemas relacionados com o envelhecimento, abandono e pobreza das populações.
O investimento na construção de centrais de produção de energia eólica, com destaque para a implementação das mesmas em regiões descentralizadas, tem impactos significativos na criação de empregos e de riqueza local, dinamizando, ainda, outras fontes produtivas como as áreas industriais.
Um dos melhores exemplos da potencialidade de criação de emprego ligada à energia eólica é, sem dúvida, o cluster industrial de Viana do Castelo. É um bom exemplo da força que a energia eólica possui para dinamizar as economias locais, modelo que pode ser adoptado por outras regiões que possuam as mesmas condições. A construção deste cluster tinha como objectivos utilizar a energia eólica como motor para a criação de um sector industrial e optimizar a exploração do recurso eólico em Portugal. Através da criação deste cluster foi possível recrutar trabalhadores dos municípios vizinhos, uma vez que o grupo alemão ENERCON decidiu alargar as suas unidades fabris na região, investindo 200 milhões de euros, criando 2000 empregos diretos e milhares de empregos indiretos, relacionados com a construção e exploração de parques e fornecimento de matérias-primas. Só este polo industrial representa 2,5% do PIB regional (Minho-Lima).
Mas não é só pelas fábricas construídas que as regiões beneficiam com o aumento da produção de energia através do vento, por um lado, existe a compensação monetária destes parques aos municípios, que representa 2,5% dos rendimentos dos parques, e, por outro lado, as terras onde são instalados os parques representam mais um rendimento para os donos das mesmas, já que as alugam a quem explora os parques. Se estes forem instalados em terrenos agrícolas, o dono das terras além de receber o respectivo aluguer pode ainda produzir nas mesmas visto que elas podem ser trabalhadas até à base das torres, duplicando assim o rendimento do proprietário.
Os parques eólicos podem também ser aproveitados turisticamente para dar a conhecer as regiões onde estão implantados. Em Celorico da Beira tem-se o exemplo de como podem funcionar os parques eólicos no desenvolvimento turístico das regiões, nomeadamente para quem gosta de pedestrianismo. No parque eólico da Serra do Ralo, foi estabelecido um percurso pedestre temático – “Trilho da Serra do Ralo” – sobre energia eólica, que dá a conhecer aos visitantes não só a beleza natural da serra mas também como funciona um parque eólico com possíveis visitas a um aerogerador.
Este tipo de projetos, se forem pensados a uma outra escala, englobando um vasto número de parques eólicos de diferentes regiões, podem servir como uma grande área temática, com a criação de rotas para dar a conhecer ao público não só essas áreas serranas muitas vezes esquecidas, mas também servir como fonte de informação acerca de uma fonte de energia limpa, com tudo o que lhe está adjacente.  Sendo assim, a energia eólica é mais uma janela de oportunidades que se abre para o desenvolvimento das regiões.
Com o investimento nas energias renováveis, nomeadamente, na energia eólica, foram criados mais postos de trabalho, registou-se um aumento no volume de negócios ligados a essa área e foram lançados clusters industriais, como o de Viana do Castelo. Os pesquisadores projectam um ganho entre 115000 e 201000 novos postos de trabalho em 2020 e entre 188000 e 300000 empregos em 2030, isto num cenário moderado. Já no cenário de fortes investimentos, os ganhos giram entre 396000 e 417000 empregos em 2020 e entre 459000 e 545000 novos empregos em 2030.
Segundo um estudo da Deloitte, as energias renováveis terão evitado um custo de 15,3 mil milhões em energia ao país entre 2005 e 2015. É também referido pela Deloitte em parceria com a APREN que a poupança eólica se verifica ao nível das emissões de CO2, estimando que no mesmo período se poupou 2,2 mil milhões.
Em 2010, no Governo de José Sócrates, entre Janeiro e Setembro, mais de metade da electricidade consumida veio de fontes de energias renováveis, o que permitiu poupar mais de 700 milhões de e euros em importação de energia.
Atualmente, está Portugal muito bem posicionado num contexto mundial da produção de energia eólica pelo que deve ser feita uma forte aposta neste tipo de produção de energia, para assim se poder reduzir a dependência energética, bem como melhorar as condições ambientais e económicas do país. Também, se Portugal fizer um contínuo investimento neste sector, leva a um aumento significativo de empregabilidade, assim, como a um aumento do PIB Nacional. Desta forma, defendo uma clara aposta nesta energia, visto que apresenta bastantes benefícios e poderá ser um meio que no longo-prazo nos ajudará a ultrapassar esta recessão económica por que passamos, pois apesar de o investimento inicial ser elevado, os proveitos retirados compensarão certamente o gasto.

Fábio Fiúza Moreira Veloso

[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]

domingo, 29 de abril de 2012

CORRUPÇÃO: MÁ CONDUTA INDIVIDUAL OU COLECTIVA?

Que a corrupção anda à solta nos ambientes políticos e nas esferas municipais já todos sabemos. Basta um olhar pelos fóruns de debate na rádio, na tele­visão ou nos jor­nais online para con­fir­marmos o repú­dio dos por­tugue­ses face à corrupção. Mas será que as nossas acções do dia-a-dia são pautadas pela ética? O que observamos é que a mesma pessoa que foge aos impostos ou furta material de escritório, exige ver transparência e integridade na empresa onde é detentora de acções, no político no qual vota e no cliente com o qual negocia. Não nos devemos conformar com a falta de ética dos nossos governantes, mas todos podemos começar a construir um país mais justo, tendo cuidado com a nossa postura.
Enquanto fra­cas­so do regime democrático e causa das frus­trações do país, está a cor­rupção. Como mostrou o Barómetro Global da Cor­rupção da Trans­parency Inter­na­tional, em 2007, 64% dos por­tugue­ses achava inefi­caz o com­bate à cor­rupção no nosso país e, em 2010, já eram 75%. No entanto, em Novembro de 2011, o Procurador-Geral da República, Pinto Monteiro, mostrou-se muito aborrecido porque a comunicação social era levada a concluir que “Portugal é o país mais corrupto do mundo”, o que “não corresponde à realidade”. Este afirmou que “a corrupção existe em Portugal e é preciso combatê-la com todos os meios legais existentes, mas Portugal está muito longe de ser um dos países onde a corrupção atinge os níveis mais elevados”. Segundo ele, o combate à corrupção deve ser uma prioridade, mas há “outros ilícitos” a que o Ministério Público também deve dar prioridade por também serem “altamente lesivos da sociedade portuguesa”, designadamente a criminalidade organizada e a criminalidade altamente violenta, que em época de crise “aumenta e gera terror, instabilidade e danos pessoais e patrimoniais”.
Ainda que concordando com as suas palavras, é necessário aprofundar a pertinência deste paralelismo, porque, de certo modo, o crescimento da pobreza está para o crime tal como a falta de ética está para a corrupção. Quando as condições de vida, numa determinada sociedade, decrescem, aumentando assim a pobreza generalizada, existe uma tendência comprovada por muitos estudos para o crescimento da criminalidade. Tal como a factual relação entre pobreza e criminalidade, a falta de desenvolvimento ético de uma determinada sociedade potencia o crescimento e desenvolvimento da corrupção, não apenas na esfera política mas também junto da generalidade da população.
A Linha de Participação Pública no combate à corrupção surgiu na sequência de uma recomendação da OCDE e visa permitir que todos os que conhecem fenómenos de corrupção os possam denunciar de forma anónima. A questão, no entanto, não é assim tão sim­ples. Cândida Almeida, directora da DCIAP, explicou que a maior parte das denúncias prendem-se com dívidas fiscais e com o incumprimento de deveres tributários de várias empresas ou, simplesmente, com pedidos de ajuda das pessoas, o que foge à finalidade da Linha. Os estu­dos que medem as ati­tudes da pop­u­lação face a este fenó­meno apon­tam para que, nas sociedades democráti­cas con­tem­porâneas, os cidadãos con­vivam mal com a cor­rupção a nível sim­bólico, mas a nível estratégico aceitem a sua funcionalidade.
É no sentido de defesa de medidas formais e informais de educação para mais ética e cidadania, enquanto ferramenta de combate à corrupção, que o Conselho de Prevenção da Corrupção veio defender que o fim das aulas de Formação Cívica é um retrocesso no combate a este fenómeno, pois essa valência poderia ser utilizada como veículo para concretizar a vertente da prevenção pela informação, formação e consciencialização. Pessoalmente, julgo que os parâmetros de acordo com os quais se tem vindo a leccionar esta disciplina não são consistentes e muitas vezes esta acaba por ser direccionada para fins pouco pertinentes. Introduzida no ensino básico em 2001, esta tem sido utilizada sobretudo pelos directores de turma para resolver problemas e conflitos dos alunos e portanto julgo necessária a sua reformulação, no sentido de criação de um espaço mais autónomo, mas não a sua abolição. No âmbito da corrupção, a Formação Cívica pode incidir, por exemplo, sobre a educação fiscal, a educação financeira, os direitos dos consumidores ou a economia paralela.
É necessária uma nova consciencialização, uma mentalidade mais responsável e cívica por parte de todos os cidadãos. Precisamos de nos tornar nos exemplos que queremos e exigimos aos demais, pois todos temos o nosso papel a desempenhar para a diminuição da corrupção. Antes de acusar o próximo devemos actuar correctamente, pois só através dos bons exemplos podemos incentivar os outros a seguir o mesmo caminho, até mesmo os nossos políticos!

 Telma Valdemar Azevedo da Silva

[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]

sábado, 28 de abril de 2012

A produtividade e a competitividade nacional

Uma empresa é competitiva sempre que produz um bem ou um serviço cujos atributos e cujo preço interessam a uma procura solvente, isto é, um conjunto de compradores com interesse e capacidade financeira para a respectiva aquisição. 
Para que uma empresa seja competitiva é necessário reunir duas condições: uma competência específica numa dada área de produção de bens e serviços; e, por outro lado, custos de produção compatíveis com as condições de concorrência no mercado onde vende.
Uma economia competitiva é aquela que assegura o emprego da respectiva população activa em condições que lhe permitem validar ou aumentar, de forma sustentada, o seu nível de vida. Uma economia competitiva é aquela que, simultaneamente, assegura emprego, aumenta a produtividade e cria valor.
Uma empresa pode ser, ou pode passar a ser, competitiva aumentando a produtividade ou produzindo bens ou serviços com maior valor para o cliente ou através de uma redução dos salários reais do país onde produz, nomeadamente através de uma desvalorização cambial, ou através da deslocalização de partes do processo de produção para países com salários mais baixos. Tais medidas podem levar há recuperação ou ao reforço da competitividade das empresas de uma dada economia, o que não implica necessariamente uma maior competitividade da respectiva economia.
A reposição da competitividade das empresas através da deslocalização de parte do processo produtivo só constituirá um factor e um indicador de competitividade da respectiva economia se for acompanhado da criação de um volume igual ou superior de empregos, com um valor acrescentado por activo superior ao do emprego deslocalizado.
Uma política de promoção da competitividade nacional significa muito mais do que a mera salvaguarda da competitividade do respectivo tecido empresarial. Significa gerar mais valor acrescentado por activo e salvaguardar ou aumentar a taxa de emprego da população activa do país. Por isso, o problema da competitividade nacional tem que ser atacado em duas frentes: através do aumento da produtividade e da produção de bens e serviços com mais valor por parte do aparelho produtivo já instalado; e através da criação de novas unidades empresariais e instalação de novas competências cujo valor acrescentado por activo permita acomodar os aumentos de salários correspondentes a uma trajectória de aproximação da média do nível de desenvolvimento da União Europeia.
O aumento da produtividade do tecido empresarial e a instalação de novas competências são duas vertentes inseparáveis numa estratégia de reforço da competitividade da economia portuguesa. Desde logo, é necessário aumentar a produtividade do aparelho produtivo nacional para fazer face à pressão da concorrência dos países com baixos salários. Tratar-se-á de produzir mais com o mesmo volume de emprego ou, em mercados maduros, produzir o mesmo volume de produção com menos emprego. Por isso, por si só não garante a competitividade da economia nacional, isto é, mais emprego e mais valor acrescentado. Depois, é necessário introduzir novas competências potenciadoras de novas ofertas para novos mercados de modo a criar o emprego que permitirá, por um lado, absorver o trabalho libertado pela racionalização das unidades produtivas existentes ou compensar a redução da taxa de emprego daí resultante, e, por outro, incrementar o valor acrescentado por activo do tecido produtivo nacional.
A introdução destas novas competências depende não só da emergência de novas empresas e de novos empresários como da vitalidade das empresas existentes para reconhecer e endogeneizar a capacidade empreendedora revelada. O aumento da produtividade do tecido empresarial implica a introdução de novos processos de produção e de novos modelos de organização empresarial. Por sua vez, a introdução de novas competências significa a aquisição de conhecimentos sobre a produção e comercialização de bens e serviços que não eram produzidos na economia; ou a incorporação de novos atributos em bens e serviços já produzidos.
Isto é, na minha opinião, o aumento da produtividade e a introdução de novas competências, essenciais ao reforço da competitividade nacional, pressupõem a aceleração do processo de concretização de novas ideias quer sobre o como fazer quer sobre o que fazer, sendo a chave da competitividade da economia portuguesa a Inovação. Isto é, inovação de processos e inovação de produtos e serviços.

Tiago Rodrigues


[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]

sexta-feira, 27 de abril de 2012

O DIREITO DE COMPREENDER

No quotidiano, deparamo-nos com uma série de documentos essenciais, mas que estão redigidos numa linguagem muito pouco clara. Infelizmente, a ignorância de uns acaba por ser a fortuna de outros, mesmo que em causa esteja o entendimento da lei, da bula de um medicamento, dos termos de um contrato de arrendamento, de um contrato de trabalho, da conta de electricidade ou de uma notificação da justiça.
Durante o TEDxPorto, Sandra Martins veio defender que o empobrecimento informativo da população não pode de todo conduzir a resultados positivos e apresentou alguns dados que reflectem a falta de literacia da população portuguesa. Segundo a oradora, “o problema não reside apenas no facto desses documentos serem complexos e irritantes, mas também no facto de a literacia dos portugueses, isto é, da sua capacidade de perceber os documentos escritos, ser muitíssimo baixa”. Se considerarmos a parcela da população que sabe ler e escrever, verificamos que 50% tem o nível mínimo de literacia, ou seja, são pessoas que conseguem juntar as letras para formar palavras, mas não conseguem de facto perceber o que estão a ler. Por exemplo, se uma dessas pessoas tiver de ler uma bula de um medicamento, não a irá compreender. Outros 30% são indivíduos que se desenrascam no dia-a-dia se não tiverem de ler nada muito novo ou muito diferente mas, por exemplo, se estes tiverem de ler o manual de instruções de uma máquina para conseguir trabalhar com ela, eles já não o conseguem fazer. Já 15% consegue entender os documentos, desde que não sejam muito complexos, e temos apenas 5% da população que consegue compreender verdadeiramente documentos complexos. Podemos concluir que existe uma pequena minoria de pessoas que tem de facto acesso à informação e beneficia dela, mas existe uma larguíssima maioria que não a consegue utilizar e, como tal, é excluída e prejudicada.
Quando as pessoas não compreendem a informação que lhes é transmitida isso tem consequências graves, não só para o indivíduo mas também para todo o país. Quando alguém não percebe quais são os seus direitos e os benefícios aos quais pode ter acesso, também não irá perceber as suas responsabilidades e obrigações e também não será um cidadão activo e participativo. A linguagem rebuscada que é utilizada pelos órgãos do governo, e também pela iniciativa privada, é uma ameaça constante à democracia, à transparência e à prestação de bons serviços. Se não entendermos os contratos que assinamos podemos cometer erros e tomar más decisões. Por exemplo, a crise financeira pode, em parte, ter-se dado porque quem assinou os documentos de concessão do crédito não compreendia o que estava a assinar e não se apercebeu que a partir de dado momento deixaria de ser capaz de pagar as prestações. Se houvesse no sector financeiro uma cultura de clareza talvez as coisas nunca chegassem ao que chegaram.
Sandra Martins questionou também qual a solução para “resolver os problemas resultantes destas disparidades entre a literacia dos portugueses, que é extremamente baixa, e os tais documentos públicos tão complexos”. A minha primeira proposta apresenta-se como evidente, pois se a literacia é tão reduzida, o que os órgãos competentes devem fazer é aumentar esse indicador, educando a população. No entanto, esta é uma solução difícil e sobretudo lenta. Para além disso, mesmo indivíduos com um grau de literacia elevado, quando alienados da sua área de actuação, apresentam dificuldades em compreender claramente muitos destes documentos. Assim, para além de aumentar a literacia, é muito importante, no curto prazo, criar meios para reduzir a complexidade dos documentos e simplificar a sua linguagem.
Numa tentativa falhada, o Diário da República recorreu a uma empresa que traduzia para linguagem clara o propósito fundamental de cada lei. Tal serviço foi considerado dispensável e foi vítima da austeridade. Será que a poupança valeu a pena? Talvez um dia os nossos governantes façam as contas que são realmente do interesse público e deixem de utilizar esta falta de transparência e de clareza para seu próprio benefício. 
Em suma, julgo que primeiro é necessário consciencializarmo-nos que querer compreender os tais documentos públicos não é um capricho, não é uma curiosidade intelectual, mas sim uma necessidade. É acima de tudo um direito de todos e, como tal, temos de nos tornar consumidores e cidadãos mais exigentes. Segundo, quem escreve tem de escrever para ser compreendido. A oradora referiu também uma citação bastante pertinente de Einstein: “Se não consegues escrever sobre um assunto de forma simples é porque na realidade não o compreendes”. A mentalidade civil a adoptar deve passar por exigir compreender e escrever para sermos compreendidos.

Telma Valdemar Azevedo da Silva

[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]

Diminuição dos salários da função Pública: será uma solução?

O aumento contínuo da dívida pública Portuguesa, associada às inexistentes condições de financiamento do estado português, levam a pensar sobre os resultados das medidas programadas e sobre a sua viabilidade. Sobre o facto dessas medidas serem insuficientes colocam-se várias alternativas para a resolução dos problemas. O aumento de impostos tem sido predominantemente utilizada nos últimos tempos, contudo a subida continua dos mesmos trazem impactos negativos na economia. Outra possibilidade passa pela redução em grande escala do número de funcionários públicos, mas isto só levaria ao agravamento dos números do desemprego, e à incapacidade de garantir todos os serviços que o estado assegura. Uma alternativa que tem sido recentemente utilizada consiste na redução de salários dos funcionários públicos. A filosofia passa por manter o emprego às pessoas, ajustando os salários à capacidade do país, e não sobrecarregar as gerações futuras com as dívidas resultantes dos vencimentos presentes. É uma medida relativamente fácil de implementar, salvo eventuais obstáculos jurídicos. Essa medida pode ser acompanhada por uma redução gradual do número de funcionários.
Será nesta alternativa que encontramos a solução? Vejamos: segundo a Lei de Wagner, as despesas públicas no rendimento nacional são sempre crescentes ao longo do tempo; o que o Estado está a fazer com a redução de salários é ganhar liquidez e com isso diminuir o valor da despesa, mas isso não impede a contínua acumulação de dívida, que será sempre crescente. No médio prazo, voltaremos á situação em que nos encontramos neste preciso momento, isto é, a um nível de endividamento insustentável.
O que faremos nesse momento? Diminuiremos ainda mais os salários das famílias portuguesas? Estas reduções apenas vão refletir uma maior recessão económica, num momento em que os salários encurtam, e as despesas aumentam através do aumento de impostos que se repercutem nos preços dos produtos e nos spreads, que não param de crescer. Cada vez menos as pessoas conseguem poupar, poupança essa que seria canalizada para o investimento dos produtores. A economia estagnou! Chega de sacrificar as famílias! É necessário uma nova reestruturação das despesas públicas. É necessário implementar medidas mais eficientes em sectores como a educação e a saúde, para que se diminua a despesa.
Não faz sentido que se tente resolver uma crise mundial através de “arranjos” de programas individuais. Estando nós numa União Económica Europeia, esta crise deveria concentrar-se em soluções centrais, repartidas de igual modo por todos os países. A nossa solução passará por decisões do Banco Central, para que seja possível existir maior acessibilidade ao crédito por parte das empresas, e dessa forma construir uma base sustentável, que irá repercutir-se na diminuição desemprego, no aumento do poder de compra das famílias e no incremento do crescimento económico.

Joana Gonçalves

[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]

quinta-feira, 26 de abril de 2012

Basta!! Está a ficar insuportável

          Embora os recentes dados divulgados pelo Eurostat, numa notícia do jornal de negócios, premiassem o esforço feito pelo governo e o grande sacrifício dos portugueses para levar o nosso país a bom porto, a mesma notícia revelava que, dos 17 países da moeda Euro, Portugal encontrava-se na 8º posição, com o défice mais baixo, fixado nos 4,2% do PIB. E, após a recente avaliação positiva da Troika, quanto aos ajustamentos que estão a ser feitos, aparentemente, Portugal estaria a caminhar para o sucesso. Contudo, os portugueses perguntam-se até quando é que terão de abdicar dos seus direitos (como abdicarem dos subsídios)? Até quando terão de contar o seu dinheirinho para pagar as suas contas? Que custo terão estes sacrifícios para as gerações vindouras? Teremos mesmo que fazer estes sacrifícios todos?
            Todos sabemos que Portugal está num período bastante delicado, estando a dívida portuguesa “a rebentar pelas costuras” e, não existindo alternativas a estes cortes no curto prazo, embora o actual governo não tenha culpa, pois o nosso país nas últimas décadas sempre viveu acima do que lhe era permitido, não tem outra alternativa senão a de aplicar tanta austeridade, mas BASTA... Os portugueses não aguentam mais sacrifícios, não aguentam mais apelos ao esforço e solidariedade para com o país… Os números de pobreza não param de disparar (as casas de apoio aos desfavorecidos e de apoio no que toca a alimentação estão lotadas e o número de pessoas que têm para acolher não pára de crescer), “a classe média portuguesa está a desaparecer”, como afirma, correctamente, Santana Lopes (antigo ministro), o desemprego atinge valores record todos os dias, para não falar da nossa economia, que está a ficar destruída com tantos sacrifícios.
            O governo diz que o país está “melhor municiado para enfrentar os tempos complexos e incertos”, mas como o pode estar se o país, embora apresente números interessantes de melhoria, nunca poderemos esquecer que as constantes medidas de austeridade têm contribuído para a decadência social do país, permitindo dizer que não tem havido desenvolvimento.
            Um dos motores para que haja crescimento e desenvolvimento de uma economia são as empresas. Todavia, com a constante asfixia provocada pela implementação de políticas fiscais (aumento de impostos) e pela retração do mercado, os processos de insolvência têm aumentado significativamente, uma vez que cada vez são maiores as dificuldades das empresas. Este acréscimo de falências das empresas constitui um dos grandes motivos do aumento do desemprego.
Segundo os estudos apresentados pela Informa, verificamos que no mês de fevereiro dissolveram-se cerca de 344 empresas, um número preocupante e relevador da decadência da nossa economia. Porém, o número referente ao último mês de Março, onde 495 empresas fecharam as portas, prova que as pessoas que nos comandam, sendo elas o governo, a Troika, o FMI, a União Europeia, Alemanha… não estão com grande interesse em preocupar-se com o estado em que a nossa economia está a ficar.
A meu ver, não há alternativa à austeridade, mas...está a ficar insuportável para as famílias e para as empresas.

Wilson Santos

Bibliografia:

[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]

quarta-feira, 25 de abril de 2012

Custos da União Europeia com a Política Agrícola Comum (PAC)

             A Política Agrícola Comum da União Europeia (PAC), criada em 1962, é um sistema de subsídios à agricultura e programas de desenvolvimento em áreas afins, parte do primeiro dos três Pilares da União Europeia, designado como Comunidades europeias.
            Os princípios básicos da PAC são os seguintes: a criação de um grande mercado único, dentro do qual se possa importar e exportar produtos agrícolas livremente, preferindo os produtos produzidos dentro das fronteiras da UE e o financiamento comunitário da Política Agrícola Comum.
            Tal como se encontram enunciados no artigo 39º do Tratado de Roma (1957), tem como principais objetivos: aumentar a produtividade agrícola; garantir um bom nível de vida à população agrícola; estabilizar os mercados; garantir os fornecimentos regulares; e, ainda, garantir preços razoáveis no abastecimento ao consumidor.
            A PAC existe há mais de 40 anos como uma das mais importantes políticas pan-europeias. Não surpreende, portanto, que o seu orçamento represente, de um modo geral, uma grande parte do orçamento e das despesas da UE, já que substitui as despesas e as políticas nacionais no domínio da agricultura.
            Pode dizer-se que a PAC tem um custo aparentemente elevado, uma vez que, durante os primeiros anos de existência da UE, representou uma parcela significativa das despesas orçamentais, mais de dois terços em determinados momentos. A política em questão custa cerca de 55 mil milhões de euros por ano, o que representa 40 % do orçamento total da UE, menos do que 0,5 % do PIB da UE. A percentagem das despesas da PAC no PIB da UE não só se encontra em declínio, como também está a decrescer a um ritmo superior ao das despesas públicas da UE.
            Contudo, relativamente a outras despesas públicas, os custos da PAC são razoáveis. Ao contrário de outros sectores, como a educação, a defesa, os transportes, a saúde ou a segurança social, cujos custos são suportados pelos governos nacionais, os Estados-Membros concordaram que as decisões sobre a política agrícola da UE seriam tomadas a nível comunitário e que seria previsto um orçamento adequado para alcançar esse objetivo. Desta forma, cada cidadão europeu contribui em média com cerca de 2 euros por semana para financiar a PAC. Isto não representa um preço elevado a pagar pelo fornecimento de produtos alimentares saudáveis e pela vitalidade do espaço natural. A parte do orçamento disponibilizada para o apoio ao mercado (cereais, açúcar, carne de bovino e leite) e para os subsídios à exportação diminuíram, enquanto que as ajudas diretas aos produtores e os fundos para o desenvolvimento rural aumentaram.
            A PAC opera dentro de um conjunto de parâmetros rigorosos. As limitações orçamentais são estabelecidas para controlar as despesas num determinado ano ou em períodos de vários anos. As limitações previstas para as medidas de mercado da PAC e as ajudas diretas para o período 2007 - 2013 não permitem um aumento em termos reais e serão, efetivamente, mais restritas cada ano, à medida que os pagamentos diretos de ajudas a efetuar aos 12 novos Estados-Membros forem aumentando progressivamente nesse período, até atingirem os níveis de ajuda total já aplicáveis nos restantes 15 Estados-Membros. Ao mesmo tempo, a PAC sofreu reformas (três vezes em 10 anos), em parte com o objetivo de orientar e controlar melhor as despesas. As despesas da PAC foram congeladas (em termos reais) até 2013. Além disso, vão ser rigorosamente controladas, tendo sido introduzido um novo mecanismo de disciplina financeira destinado a assegurar que o limite máximo de despesas não é ultrapassado.
            A Política Agrícola Comum (PAC) confronta-se com uma série de desafios, alguns inéditos, outros imprevistos, que convidam a UE a fazer uma escolha estratégica para o futuro a longo prazo da sua agricultura e zonas rurais. Para poder enfrentar estes desafios de uma forma eficaz, a PAC precisa de funcionar no contexto de políticas económicas sãs e de finanças públicas sustentáveis que contribuam para a realização dos objetivos da União.
            Tendo em conta o que foi referido anteriormente, a Comissão organizou um amplo debate público em 2010, que terminou com uma conferência em Julho de 2010. O Conselho discutiu a reforma durante quatro presidências consecutivas, o Parlamento Europeu (PE) adotou um relatório, estabelecido por sua própria iniciativa, sobre a PAC pós-2013 e a sua ligação com a Estratégia «Europa 2020», e tanto o Comité Económico e Social como o Comité das Regiões (CR) apresentaram tomadas de posição. No decorrer destas discussões, a esmagadora maioria das opiniões expressas considerou que a futura PAC deve continuar a ser uma política comum forte.
            A reforma da PAC deve também ser prosseguida, a fim de promover a competitividade, a utilização eficaz dos recursos fiscais e os benefícios que os cidadãos europeus esperam de políticas públicas eficazes em termos de segurança alimentar, ambiente, alterações climáticas e equilíbrio social e territorial. O objetivo deve ser fomentar um crescimento mais sustentável, mais equilibrado e inclusivo nas zonas rurais da Europa.
            A agricultura é uma parte integrante da economia e sociedade europeias. Em termos de efeitos indiretos, qualquer redução significativa da atividade agrícola europeia resultaria em perdas no PIB e no emprego em sectores económicos associados. Posto isto, a futura PAC deve tornar-se uma política mais sustentável, mais equilibrada, melhor orientada, mais simples e mais eficaz, e que responda melhor às necessidades e expectativas dos cidadãos da UE.
Sílvia Manuela de Jesus Pinto
[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]

segunda-feira, 23 de abril de 2012

“Impulso Jovem” contra o desemprego jovem

 Uma das grandes preocupações atuais anda à volta do desemprego, especialmente do desemprego jovem. Com a recente crise económica e financeira e com as notícias semanais de empresas a fecharem, para aqueles que vão ter o primeiro contato com o mercado de trabalho e com nenhuma experiência, torna-se uma tarefa cada vez mais difícil. Segundo o Eurostat (departamento de estatística da União Europeia), o desemprego português em 2011 estava nos 12,9% e os jovens com menos de 25 anos representam cerca de 30% dos desempregados, embora os últimos dados remetam para os 35,4%. A média da União Europeia (UE27) é de 9,7% e de 21,4 respetivamente, o que demonstra que Portugal está acima da média com alguma distância e está entre os 8 países membros com maior taxa de desemprego jovem, no quinto lugar, estando no topo a Espanha (46,5%), depois a Grécia (44,4%), a Eslováquia (33,2%) e a Lituânia (32,9%). Os países-membros com menor taxa de desemprego jovem são a Holanda (7,6%), a Áustria (8,3%) e a Alemanha (8,6%). As regiões portuguesas que mais estão afetadas por este fenómeno económico são o Norte, com cerca de 36% em 2011, e o Centro, com 19,6%. Apesar de cada vez mais os jovens dedicarem-se mais tempo aos estudos e haver muitos a tirarem licenciaturas, mesmo assim eles não conseguem arranjar emprego na sua área de formação e muitos deles acabam por trabalhar nas caixas de supermercado, servir em cafés, outros empregos distantes da sua área ou saem do país para encontrarem emprego na sua área, assistindo-se à conhecida “fuga de cérebros”.
       Um dos recentes projetos do Governo português para reduzir este número é o “Impulso Jovem”, que para além de dar resposta ao problema do desemprego jovem também tem uma componente de intensificar os apoios às pequenas e médias empresas (PME’s), que conta com um investimento de trezentos e cinquenta milhões de euros, através da reorientação dos fundos comunitários, que deverá beneficiar cerca de setenta e sete mil jovens. Foi criado em Março deste ano e inicialmente o investimento era para ser maior (por volta dos mil milhões), mas foi este o montante que foi aprovado pela Comissão Europeia. As principais medidas passam pela promoção e reforço dos estágios profissionais como forma de inserção dos recentes licenciados, mestrandos e doutorados no mercado de trabalho e no final, caso as empresas contratem o estagiário, recebem um prémio. Para além das duas medidas referidas acima, foram definidas as seguintes políticas ativas de mercado de trabalho para os jovens que estão atualmente em execução:
- Estágios Profissionais (meta de 40.000 desempregados a abranger em 2012)
- Sistema de Aprendizagem (meta de 30.000 jovens a abranger em 2012)
- Cursos de Especialização Tecnológica (meta de 1.000 abrangidos em 2012)
- Cursos de Educação Formação realizados na rede de Centros de Formação Profissional de Gestão Direta (meta de 5.000 abrangidos para 2012)
      Prevê-se que no final de Maio este projeto esteja acabado para ser aplicado no âmbito do QREN (Quadro de Referências Estratégico Nacional), na Agenda Competitividade e nos Programas Operacionais Fatores de Produtividade e Programas Operacionais Regionais do Continente e das Regiões Autónomas.
        Espera-se que com este plano estratégico o desemprego jovem seja reduzido e que cada vez mais haja mais empregos, se bem que com a situação atual ainda é capaz de demorar a obter-se resultados e é necessário que as PME’s estejam dispostas a receber estagiários, tendo em conta que um trabalhador novo tem um custo para a empresa pela sua fase de adaptação.

Diana Vilaça

[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3.º ano do curso de Economia (1.º ciclo) da EEG/UMinho]

A repartição do rendimento e os níveis de pobreza

Muitos consideram que a pobreza involuntária é uma violação dos direitos humanos e como tal a sua erradicação deve ser incluída na agenda política dos governos. Assim, com este artigo pretende-se dar a conhecer as desigualdades na repartição do rendimento e da riqueza, as grandes disparidades de condições em que vivem os cidadãos do nosso País e as carências básicas de que sofrem alguns estratos de população. A actual grande crise económica e social confere ao combate da pobreza e da exclusão social uma maior importância.
Segundo o Banco Mundial, é pobre em condições extremas todo aquele que vive com menos de 1 dólar por dia. Estudos recentes revelam que 1 bilião e 100 milhões de pessoas vivem com menos de 1 dólar. Devido a esta pobreza, morrem todos os dias no mundo 50.000 pessoas e, por ano, morrem 11 milhões de crianças (com menos de 5 anos). Estes números são alarmantes e, até, chocantes. Várias são as circunstâncias que jogam a favor do aumento desta situação: governos incapazes de tomar medidas eficazes para combater a pobreza; a crise financeira que leva milhares de pessoas para o desemprego; e as restrições orçamentais que originam cortes no subsídio de desemprego, no rendimento social de inserção, no abono de família.
Dados do INE, referentes a 2009, mostram que 20% dos portugueses mais ricos apresentam rendimentos 5,6 vezes superiores aos 20% mais pobres, com tendência para que esta desigualdade entre os rendimentos seja cada vez maior. É de reconhecer que esta desigualdade tem vindo a alargar-se muito rapidamente num crescente número de países.
De facto, a pobreza pode ser considerada um caso extremo de desigualdade na repartição do rendimento. Assim, segundo dados do Eurostat cerca de 17,9% da população portuguesa encontrava-se, em 2010, em risco de pobreza, percentagem claramente elevada, embora próxima da média da União Europeia (16,4 %). Seria de esperar que, com o desemprego acima dos 14% e com os sucessivos cortes nas prestações sociais, o risco de pobreza tivesse aumentado, no entanto, segundo dados do Eurostat, Portugal apenas registou um ligeiro aumento em 2010.
Os dados revelam ainda que, em 2010, Portugal era o nono país mais pobre dos 27 da União Europeia e que mais de 30% dos portugueses passam fome, especialmente no Norte do país. São vários os factores que podem explicar os números de pobreza na zona norte do nosso país: essencialmente o elevado número de desempregos e de empresas falidas. Devemos ainda destacar que é nesta zona de Portugal que se encontram os mais baixos níveis de formação e o mais elevado abandono escolar.
A repartição do rendimento também não é uniforme nas regiões portuguesas. De acordo com o INE, a Madeira tem os menores rendimentos por família, enquanto Lisboa e Vale do Tejo tem o maior rendimento médio. Em consequência, são também estas regiões que apresentam a maior e a menor taxa de pobreza no país. Ao longo dos anos, a Região Centro, o Alentejo e as ilhas têm mantido uma posição desfavorável em termos da incidência da pobreza. Existem ainda significativas diferenças entre áreas com maior grau de urbanização e as zonas rurais, sendo o rendimento médio destas cerca de metade do das zonas urbanas.
Em relação ao grupo etário são os mais novos (0 aos 17 anos) que possuem um risco de pobreza mais elevado quer em relação aos idosos (65 ou mais anos) quer aos adultos (18 aos 64 anos). É de salientar ainda que, hoje em dia, está a surgir uma nova pobreza que atinge a população activa, que são as pessoas que têm um trabalho mal remunerado, precário ou inseguro e que correm o risco de se tornarem pobres.
Para concluir, importa referir que as instituições de solidariedade social garantem que o problema da pobreza cresce a cada dia, isto devido aos cortes orçamentais, aos cortes nos apoios sociais e às dificuldades de acesso ao crédito.

Ana Sofia Ferreira Fernandes

[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3.º ano do curso de Economia (1.º ciclo) da EEG/UMinho]

Argentina: Nacionalismo e Proteccionismo

A recente notícia da Presidente da Argentina - Cristina Kirchner- em nacionalizar 51% do património da petrolífera YPF controlada pela petrolífera Repsol, tem marcado a actualidade, gerando forte desconfiança no sector privado, que teme iniciativas semelhantes do governo em outros sectores da economia. Das acções expropriadas, 51% irão passar para a domínio do Estado argentino e 49% serão distribuídos pelas províncias. Com a operação, a petrolífera espanhola vai ficar com cerca de 6% do capital da empresa argentina. A nacionalização sobre a Repsol-YPF não afectará apenas a indústria do país, mas também as relações comerciais da Argentina com outros países, especialmente da Europa.
O Governo argentino defende a sua posição. Primeiramente recusou pagar a indemnização exigida pela Repsol apoiando-se nos danos ambientais vividos, na quebra na produção por falta de investimento e nos gastos excessivos em importação de combustível. Posteriormente, não temendo represálias, começou a procurar parceiros alternativos para a empresa, finalizando na nacionalização da mesma.
Esta decisão, segundo alguns especialistas, foi considerada como "um gesto de hostilidade" contra Espanha e até mesmo contra a Europa. Prevê-se, inclusive, que o ambiente económico das empresas espanholas na Argentina se deteriore, tendo repercussões tanto a nível financeiro como politico. Consequentemente, as reacções desencadearam-se de um modo nada favorável para a Argentina, sendo criticada severamente pela Espanha e pela Comissão Europeia. A UE cancelou a reunião destinada a renovar a ajuda financeira; o Presidente do Governo Espanhol afirmou que a nacionalização da petrolífera rompe o bom entendimento entre os dois países e o Presidente do Banco Mundial considerou a nacionalização como sendo um erro.
Naturalmente, a presente medida teve repercussões imediatas nas acções em Bolsa assim como nos mercados de dívida. Esta operação levou a quedas acentuadas das acções das empresas envolvidas no negócio. A YPF e Sacyr desceram mais de 20% e a Repsol caiu mais de 14%, naquela que foi a pior semana para a petrolífera em mais de três anos. Analistas defendem que a nacionalização terá um impacto considerável na reputação da Argentina, agravado pelo facto de este país ainda se encontrar a recuperar dos danos do incumprimento aquando a intervenção do FMI em 2001, levando à insegurança politica e económica. Presencia-se ainda a retirada de capital pelos investidores estrangeiros; sendo este facto preocupante pois o investimento privado é uma parte chave do desenvolvimento de qualquer país. A Argentina passou, de facto, a ser o terceiro país com mais risco do mundo.
 Serão anunciadas, brevemente, as medidas e acções diplomáticas por parte do Governo Espanhol em reacção à nacionalização da petrolífera. No entanto, mais do que argentino ou espanhol, este é um problema europeu em que nada beneficia a Europa fragilizada que se presencia.

Ana Raquel da Silva Nogueira

[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]

quinta-feira, 19 de abril de 2012

Every closed eye

"Every closed eye is not sleeping, and every open eye is not seeing." 
Bill Cosby

(citação extraída de SBANC Newsletter, April 17, Issue 712 - 2012, http://www.sbaer.uca.edu)

terça-feira, 17 de abril de 2012

A queda na avaliação das casas em Portugal

O valor pelo qual os bancos avaliam os imóveis está em queda nos últimos dez meses (de Fevereiro de 2011 a Fevereiro de 2012). Os valores da avaliação bancária baixaram em todas as regiões de Portugal, registando uma queda de 7,4% em Fevereiro de 2011 face ao mesmo período do ano passado e 0,8% face ao mês de Janeiro de 2011, de acordo com o Instituto Nacional de Estatística (INE).
As regiões onde se regista a queda mais acentuada, foram na Região Autónoma dos Açores (14,2%) e na Região Autónoma da Madeira e em Lisboa (9,6%). É a queda mais acentuada desde que há registo (Setembro de 2008), de acordo com o INE.
No âmbito da concessão de crédito, o valor médio do metro quadrado recuou para 1055 euros em Fevereiro deste ano. O Algarve é a região onde se regista o valor mais elevado, de 1330 euros, e o Centro o valor mais baixo, de 905 euros, por metro quadrado. Na capital, o preço do metro quadrado baixou 134 euros no último ano. Mas entre as regiões que apresentam os valores médios da avaliação acima da média nacional, perduram Lisboa, a Madeira e o Algarve, com valores médios de 1314 euros e 1330 euros. Assim, em média, um imóvel com 100 metros quadrados, terá uma avaliação de 105,5 mil euros.
O indicador da avaliação bancária é fundamental para quem está à procura de casa para comprar a crédito, pois é com base nesta avaliação que a banca define o valor do empréstimo. Habitualmente, os bancos emprestam até 80% do valor da casa. Perante esta evolução negativa, cada vez mais a compra da casa fica mais difícil.
Quando se trata de uma concessão de crédito habitação, o indivíduo tem de ter em conta a análise de alguns factores fundamentais: para além da aprovação do crédito, o valor da avaliação do imóvel e as taxas de juros a que este está associado.
Segundo o INE, as taxas de juro implícitas no crédito à habitação têm estado em queda, essencialmente devido à evolução das taxas Euribor, fenómeno não registado nos contractos realizados nos últimos 3 meses, porque em contrapartida os “spreads” praticados pelos bancos têm vindo a subir.
Em Fevereiro, a taxa de juro situou-se em 2,687% (traduzindo um decréscimo de 0,020p.p. em relação ao mês anterior) e o valor médio do capital em dívida dos contractos de crédito habitação situou-se em 59484 euros (diminuiu 17 euros em relação ao mês anterior). Desde de Fevereiro de 2011 até Fevereiro de 2012, o valor de capital em dívida baixou em média 204 euros, o que reflecte todas essas divergências do crédito à habitação.
A ausência de capacidade financeira das famílias, o agravamento das condições no acesso ao crédito, a maior mobilidade e a instabilidade no emprego são razões centrais para o aumento acelerado da procura de arrendamento, em detrimento da compra de casa. Mas, infelizmente, continua a ser apetecível comprar casa porque as prestações da banca ainda compensam face ao valor, ainda elevado, das rendas.

Filipa Oliveira

[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]

COMO O MARKETING E OS HOLOGRAMAS AJUDAM A COMBATER A CRISE

A globalização e o boom tecnológico vieram aumentar o leque de opções, preenchendo as nossas vidas com a oferta de uma infinidade de produtos e serviços. Assim as exigências por parte dos consumidores também aumentaram, o que obriga as empresas a manterem constantes modificações. Como tal, tornou-se imperioso que todas as áreas que compõem as organizações entendam a utilidade de outras ferramentas para o desenvolvimento dos seus métodos. É neste ponto que as necessidades de cooperação e complementaridade entre as tecnologias e o marketing se tornam fulcrais para o acompanhamento do mercado. Uma das inovações provocadas pela evolução tecnológica são os hologramas, que deixaram de ser apenas projectos e tornaram-se em poderosas ferramentas de apoio às empresas. Assim, torna-se fundamental percepcionar os prós e contras que estas ferramentas poderão trazer para as estruturas de marketing mix das organizações.
 O marketing e os hologramas são dois conceitos que, através do nosso senso comum, nos imputam uma sensação de sofisticação. Se, por um lado, temos o marketing como uma forma essencial de divulgação e aproximação entre os dois extremos do processo de mercado (vendedor – consumidor), por outro, temos a holografia que é, por definição: “uma forma de se registar ou apresentar uma imagem”, o que permite inovar e cativar a atenção dos observadores.
Os hologramas podem interferir nas variáveis de marketing mix (Existem autores que definem o marketing mix de um produto ou serviço como um composto de 4 componentes: Produto, Preço, Distribuição e Comunicação. No entanto, dentro desta área de gestão há também quem defenda que para os serviços é necessário acrescentar mais 3 elementos: Pessoas, Physical Evidences e Processos), permitindo por esta via manipular a forma como o cliente observa o produto e quais as necessidades que advêm dessa percepção. Esta ferramenta científica é capaz de, assim, interagir no marketing de um bem ou serviço e, se bem usada, será, certamente, uma poderosíssima forma de potenciar o valor percepcionado pelo consumidor.
No âmbito das exibições, os hologramas poderão ser vistos também como uma mais-valia, pois permitem a criação de protótipos virtuais. A evolução permite que a indústria, como por exemplo a automóvel, apresente um maior número de modelos nas feiras internacionais de exposição sem que exista um desgaste da linha de produção e dos recursos conseguindo assim produzir, à posteriori, apenas os bens que tenham melhor feedback do mercado.
Actualmente, já existem campanhas que utilizam os hologramas como forma de cativar a atenção do consumidor, como por exemplo: os serviços de apoio do aeroporto de Orly, em Paris, onde são projectadas imagens dos funcionários em 2D que dão as instruções necessárias aos clientes. Neste caso temos um serviço que explora, através da projecção, as variáveis de Distribuição, Produto, Physical Evidences, Pessoas e Processos. Há também o projecto da Coca-Cola, que passa pela mudança constante das imagens projectadas na garrafa. Assim, a variável de Comunicação é a que está a ser trabalhada pelos hologramas (http://www.youtube.com/watch?v=WUfXaUL-biA). Apesar disto, a utilidade dos hologramas como ferramenta de marketing ainda se encontra muito longe da sua plenitude, uma vez que existem projectos ainda mais ambiciosos. Um desses projectos é a disponibilização dos jogos do Campeonato do Mundo de Futebol de 2022 através de hologramas.
A sua utilização não está apenas associada ao marketing mix. Esta técnica já é utilizada como forma de protecção. Um “carimbo com holograma” torna as imitações mais complexas e como tal resguarda o produto das cópias piratas. Esta utilidade permite não só proteger o nome da marca, mas também os interesses de todos aqueles que dela tiram proveito, como são o caso dos stakeholders.
Torna-se claro que os hologramas podem ser uma ferramenta muito forte no marketing, tornando-o mais interactivo na forma de contacto com o público (Comunicação e Distribuição), auxiliando a uma redução nos custos de produção (que, por sua vez, influencia o Preço) e, por fim, o próprio Produto. No entanto, a utilização dos hologramas no marketing poderá também trazer algumas fragilidades. Em muitos bens, uma visualização através desta ferramenta é suficiente para elucidar as dúvidas quanto à reunião entre as expectativas do cliente e as particularidades apresentadas pelo produto que é oferecido, porém existem outras características despertadas pelos sentidos e a que o consumidor dá valor, como são o caso do olfacto e do tacto. Estes dois factores podem ser prejudicados por uma propagação da divulgação por meio da projecção de hologramas. Assim, os hologramas não são mais que uma ferramenta de marketing até que deixem de ter utilidade para o mercado.
A diferenciação na forma de fazer marketing é o que torna as empresas e as suas ofertas “mais apetecíveis aos olhos do consumidor”, deste modo a dependência das tendências é bastante grande. O marketing, jamais poderá ser uma disciplina obsoleta e como tal não se poderá aliar a métodos ultrapassados e que não suscitem interesse no público-alvo.

João Coelho

[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]

sábado, 14 de abril de 2012

Programa de Ajustamento Estrutural Português: Um Tratado de Austeridade “a la carte”

Em primeiro lugar, gostaria de começar esta minha crítica por dizer que, não raras vezes, sou confrontado com títulos jornalísticos, que expõem determinadas problemáticas da esfera económica nacional, cujo teor me deixa completamente perplexo e atónito. Com efeito, e tendo em conta a temática sobre a qual versa este meu comentário, apraz-me dizer que, nos últimos tempos, de entre toda uma panóplia de cabeçalhos socialmente acutilantes, houve um que registei com particular atenção: “Trabalhadores de empresas públicas reclamam excepções”. A primeira dúvida que me assola é a seguinte: será possível que uma qualquer empresa ou até cidadão coloque sequer a hipótese de reclamar uma excepção aos cortes salariais anunciados pelo Governo, como que reivindicando uma espécie de regime especial, numa altura tão difícil para o país, em que tantos sacrifícios são pedidos a todos os portugueses? Pelos vistos é. Senão, vejamos o caso da TAP e da CGD.
Num contexto europeu marcado pela crise da dívida soberana, em que Portugal, face à dificuldade de se financiar nos mercados internacionais a taxas de juro compatíveis com a manutenção do défice externo sob controlo, se viu obrigado a recorrer a um pacote de ajuda financeira externa disponibilizado pela U.E. e pelo F.M.I., aplicando, como moeda de troca, um programa de ajustamento estrutural da economia que, entre outros pontos, visa uma redução significativa do défice público, nomeadamente, recorrendo a medidas de austeridade (aumento generalizado de impostos, cortes salariais, cortes nos subsídios de férias e de Natal, etc.), considero inaceitável que, tanto a TAP, como a CGD, duas empresas com participações do Estado, reivindiquem um regime de exclusividade relativamente às demais empresas (quer estas sejam de capital público ou privado) no que à questão dos cortes salariais diz respeito. Contudo, no meu entender, maior afronta aos cidadãos constitui a posição do Estado ao conceder, quer à TAP, quer à CGD, um regime de excepção, tal como pretendido, ignorando, desta forma, a meu ver, o direito à igualdade de todos os contribuintes portugueses.
Ainda sobre os contribuintes e a gestão, por parte do Estado, do dinheiro que estes pagam em impostos, gostaria de tecer uma última consideração no que concerne à política de privatizações de empresas públicas levada a cabo pelo Governo, em linha com o programa de ajustamento estrutural, com o intuito de arrecadar receitas extraordinárias para amortização do défice. Neste âmbito, sabendo que o Estado alienou 21,35% do capital da EDP, 40% do capital da REN e 7% do capital da Galp Energia, entendo que, numa fase de necessidade de realizar receita urgentemente e, como tal, sem grande margem de manobra para negociar com os interessados, o Estado efectuou um mau negócio, logo, saiu a perder, isto é, todos nós saímos a perder. Como curiosidade fica o facto de que, se tivesse mantido a sua posição na EDP e na REN, o Estado teria encaixado uma verba de aproximadamente 180 milhões de euros com remunerações accionistas.
Em jeito de nota final, gostaria de deixar clara a minha opinião acerca das várias tomadas de posição por parte do Governo no que toca à abertura de determinadas excepções para algumas empresas. Assim, considero um comportamento ou acção extremamente grave, essa, a do Governo, de conceder regimes de excepção à TAP e CGD, uma vez que penso que a abertura de excepções num contexto de crise constitui, claramente, uma prática lesiva para a restante população portuguesa que paga os seus impostos e que, ainda assim, não tem direito a determinadas regalias que outros, por sua condição de estarem inseridos numa empresa que está destinada a ser privatizada, ou que opera num mercado concorrencial, lhes vêem ser atribuídas. Mais, penso até que constitui uma manobra fracturante da coesão social portuguesa, uma vez que viola, indubitavelmente, o princípio da igualdade do cidadão. No entanto, é de realçar que a população portuguesa acatou mais uma afronta deste calibre de modo pacífico, se calhar, demasiado pacífico.
Tendo isto em mente, e visto pensar que atribuição de um regime especial a um determinado conjunto de privilegiados, uma elite, descurando todos os outros contribuintes, constitui uma das ofensas mais graves de um regime democrático para com a sua população, dou por mim a pensar que, para o bem e para o mal, não somos como a Grécia, porque se fôssemos...
              
Nuno Ferreira

[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]