domingo, 30 de setembro de 2018

Os compadres de Pedrogão

“Pedrogão” foi uma palavra muito ouvida nas televisões portuguesas desde o verão do ano passado, infelizmente pelos piores motivos.
No verão de 2017, um grande incêndio tirou a vida a mais de 60 pessoas e feriu outras tantas, deixando também sem teto dezenas de habitantes neste concelho do centro do país. Sendo este um assunto que tocou o lado sensível da população portuguesa e, principalmente, daqueles que viviam em Pedrogão Grande, rapidamente surgiram donativos para tentar atenuar a dor de quem viu as suas casas, carros e animais transformarem-se em nada. À primeira vista, o pós-tragédia parecia estar associado a palavras como solidariedade e altruísmo, no entanto, se esmiuçarmos melhor este tema, logo conseguimos perceber que alguma coisa não estava a funcionar de forma correta.
Segundo os residentes deste concelho, nem a cronologia de construção de habitações parecia estar a ser adequada, nem as pessoas envolvidas seriam as certas. Segundo foi apurado, pessoas como o irmão do Presidente da Junta de Vila Facaia, funcionários da Câmara Municipal de Pedrogão Grande e a sogra do Presidente da Junta da Graça dirigiram-se às finanças, a conselho de “alguém superior”, para alterarem a morada fiscal após a tragédia ter acontecido. Ou seja, casas em ruínas e desabitadas e palheiros foram transformados em casas de 1ª habitação, para desta forma conseguirem candidatar-se aos fundos dirigidos às casas destruídas pelos fogos.
A acrescentar a isto, pessoas que viviam há mais de 40 anos em casas que foram arruinadas pelas chamas continuam a viver em casas alugadas pela segurança social e pagas por todos os contribuintes, e casas que nem sequer tinham ardido já estão prontas a habitar e vender. Além disso, pessoas que realmente precisavam de ajuda foi lhes disponibilizado um orçamento que rondava os 4.000€ e a estes “senhores” foi lhes concedido perto de 100.000€.
Estamos a falar de 500.000€ desviados para apoio indevido! Casas em ruinas, sem água e luz, desabitadas há mais de 30 anos, convertidas em moradias novas. Vergonhoso! Desperta-me uma revolta enorme ver pessoas que tudo o que lhes restou foi a roupa que traziam vestidas continuarem a viver em condições deploráveis e os donos da corrupção e da mentira estarem descansados, nas suas casas novas.
O pior disto tudo é que notícias como estas diminuem o incentivo a fazerem-se donativos e aumentam a desconfiança junto das pessoas, pela incerteza do paradeiro dos mesmos.
A meu ver, crimes como estes têm de ser punidos de forma severa, para de alguma forma se desincentivarem este tipo de ações e tem de se parar de fechar os olhos e favorecer o “amigo”, porque no final de tudo são sempre os mais fracos que acabam prejudicados.  


Bárbara Coelho

[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]

Impacto do Brexit na Economia Portuguesa

A saída do Reino Unido da União Europeia levará a um “buraco financeiro” na ordem dos 10 mil milhões por ano para a UE, o que desafiará a uma coesão financeira entre os seus 27 membros. Sendo Portugal um dos maiores beneficiários de fundos comunitários, a saída da Grã Bretanha (um dos maiores contribuintes líquidos para o orçamento da UE) poderá ter impacto nas suas transferências futuras. Além disso, diversos estudos apontam que o Brexit poderá ocasionar um efeito dispendioso para muitos dos parceiros de importação e exportação da Grã-Bretanha, incluindo Portugal.
Um estudo publicado no início do ano de 2018 por dois investigadores do Instituto Jacques Delors, afirma que, num primeiro cenário, a compensação dos 10 mil milhões poderá ser feita através do aumento das contribuições nacionais. Este panorama incentivará o descontentamento dos contribuintes líquidos dada a possibilidade de aumentarem cerca de 15%. Em Portugal, verificar-se-ia o aumento de 7% das contribuições, isto é, o incremento de 100 milhões aos 1,5 mil milhões que contribui anualmente. Só assim permanecia a receber os 2,6 mil milhões de transferência da UE.
Outra perspetiva preza-se pelo ajustamento através da despesa, ou seja, o orçamento da EU seria comprimido em 10 mil milhões de euros, sendo os mais sacrificados os beneficiários líquidos, por exemplo Portugal.
Ainda uma terceira hipótese consiste numa solução mista: corte de 5 mil milhões de euros na despesa e aumento das contribuições nacionais, o que penaliza, maioritariamente, os contribuintes líquidos. Desta forma, Portugal pagaria mais 38 milhões de euros. No entanto, para este e para as suas empresas, o impacto total não é claro, uma vez que depende do desenvolvimento da saída do Reino Unido da UE.
A nível do comércio internacional, é um dos principais destinos de exportação de Portugal - “segundo o INE, em 2015, cerca de 6,7% dos bens e serviços portugueses foram exportados para o Reino Unido, sendo este o quarto maior mercado de destino das exportações portuguesas”. Assim sendo, após o Brexit são esperadas alterações no comércio internacional, tais como a inclusão de tarifas, maior controlo de fronteiras bem como maior volume de impostos.
Por conseguinte, com o possível Brexit, as exportações para o Reino Unido irão diminuir o bastante para provocar uma grande adversidade para as empresas portuguesas exportadoras e um possível défice na balança comercial de Portugal. Nos últimos cinco anos, a balança comercial de bens e serviços entre estes dois países foi conveniente ao nosso, salientando-se o crescimento médio anual das exportações nesse período de cerca de 9,2%. Pelo contrário, as importações contraíram aproximadamente 2,8%, refere uma análise da AICEP àquele mercado.
Um estudo efetuado pela empresa de seguros de crédito Euler Hermes sobre o efeito do Brexit nas relações comerciais entre os Estados-membros da União Europeia simulou o impacto em dois cenários: Brexit, mas com acordo de livre comércio, ou Brexit sem qualquer acordo para a troca de bens e serviços entre Reino Unido e UE. Na possibilidade de se estabelecer acordo comercial, é estimado um impacto negativo no PIB português de 0,2% no acumulado entre 2017 e 2019. Caso contrário, o impacto será ainda maior, estimando-se que o crescimento do PIB fique 0,3% abaixo do que seria esperado por efeito do Brexit.
É de salientar o facto de os Britânicos serem um dos maiores investidores em Portugal, sendo que, em 2016, foram o segundo país que mais investiu em Portugal, rondando os 582 milhões de euros. Além disso, são os principais visitantes estrangeiros em Portugal e este é um dos domínios onde mais se receiam os efeitos do Brexit. “Em 2014 e 2015, mais de 20% dos turistas que dormiram em Portugal tinham nacionalidade britânica, uma percentagem que sobe para 30% na região do Algarve”.
Pessoalmente, acredito que o Brexit danificará as relações comerciais entre a Europa e o Reino Unido, pela consequente reformulação do comércio com este país. A mudança de preços tornaria os bens e mercadorias portugueses menos atrativos aos consumidores Britânicos, levando a um grande impacto negativo nas exportações portuguesas.
Pressuponho que o Governo Português está e deve preparar-se para a ocorrência do Brexit,  pois poderá ter enorme impacto na economia portuguesa. Além de que, recentemente, Portugal superou uma recessão profunda, no entanto, o PIB continua abaixo do potencial, logo encontra-se numa posição muito frágil para absorver um choque macroeconómico.
Para concluir, é importante clarificar que o Brexit poderá, também, ser uma mais-valia, podendo ocorrer o êxodo de entidades financeiras e de empresas sediadas no Reino Unido e, desta forma implantarem-se em Portugal.

Alexandre Barbosa

[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]

Portugal sobre rodas

No mês de julho de 2018 verificou-se uma alteração na tendência das contas nacionais: o crescimento das exportações foi superior ao crescimento das importações, tendo estas apresentado uma taxa de variação homóloga de 13% contra os 11% registados pelas importações. Este acontecimento conduziu a uma redução do défice da balança comercial portuguesa.
O contributo do setor do Material de Transporte (inclui automóveis) para o aumento das exportações foi significativo, uma vez que este cresceu 37% relativamente ao ano anterior. Para tal, enfatiza-se a elevada produção da Volkswagen AutoEuropa, reforçada para possibilitar a produção em maior quantidade do novo modelo, T-ROC.
Segundo um estudo da Mobinov e da Deloite, o cluster da indústria automóvel em Portugal conta com cerca de 900 empresas, apresenta um volume de negócios significativo, com uma crescente geração de riqueza (16% do VAB da indústria transformadora), com caráter fortemente exportador (cerca de 20% das exportações de bens transacionáveis e 98% do volume de negócios é exportado) e garante empregabilidade (27% dos empregos gerados na indústria transformadora nos últimos 5 anos). No total, a riqueza anual criada equivale a 2,6% do PIB nacional (VAB em 2016).
Deste modo, prevê-se que os valores de produção anual em Portugal continuem a crescer, e que o número de automóveis produzidos se aproxime das 300 mil unidades. Esta perspetiva de aceleração da produção está relacionada com a produção do modelo T-ROC na Volkswagen Autoeuropa, do K9 na PSA Mangualde, do primeiro camião 100% elétrico Mitsubishi Fuso Trucks e do aumento de veículos “verdes” na Caetano Bus (garantindo um crescimento sustentado).
         Após esta análise, concluo que cada vez mais a indústria automóvel se revelará de extrema importância para a economia portuguesa, em diferentes níveis. A meu ver, com os aumentos esperados da produção, serão gerados novos postos de trabalho, contribuindo desta forma para a redução da taxa de desemprego portuguesa, proporcionando uma maior qualidade de vida à população. Contudo, temos que contabilizar o facto desta indústria ser fortemente automatizada, o que pode levar a que o aumento dos postos de trabalho não seja tão grande quanto podíamos esperar. Por outro lado, com o crescimento esperado das exportações, talvez a balança de mercadorias se torne finalmente positiva. Esta indústria poderá projetar internacionalmente o país que, por sua vez, poderá aumentar os investimentos futuros na economia portuguesa.
         Sinto-me otimista perante este crescimento, contudo a forte dependência desta indústria também pode ser algo negativo, uma vez que se algo correr mal mais difícil será o conserto da economia, e sendo a Alemanha que apresenta um maior investimento externo nesta indústria, estamos sempre condicionados a este país. Outro ponto menos positivo neste ramo centra-se na questão desta indústria ser fortemente exportadora, mas também importadora, tendo em conta que os componentes dos automóveis provêm de várias partes do mundo.
Será o contínuo crescimento da indústria automóvel a alavanca necessária para o crescimento sustentado da economia portuguesa? Ou ficaremos em ponto morto?

Tânia Gabriela Carvalho da Costa

[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]

sábado, 29 de setembro de 2018

PORTUGAL: O “PARAÍSO” DE MADONNA?

Recentemente, Madonna, que há sensivelmente um ano escolheu Portugal para viver, publicou nas redes sociais mais um vídeo, nas praias da Comporta, com a descrição: “This is Portugal… This is heaven”.  Sendo que vivemos na era da comunicação e do mundo digital, este gesto da cantora poderá provocar algum impacto, resultando na atração de mais visitantes ao nosso país, tendo em conta os seus milhões de seguidores.
Madonna, assim como outras figuras mediáticas, têm sido boas aliadas do Turismo de Portugal, contribuindo para promoção do nosso país e expansão deste sector. Mas, claramente que o nosso sucesso turístico não se deve só a estas ações isoladas.
Na minha opinião, Portugal teve sempre os ingredientes necessários para ser um destino turístico de excelência. As nossas paisagens, o nosso sol, a gastronomia, cultura, património e a simpatia dos portugueses tornam o nosso país apelativo para os estrangeiros. No entanto, sendo este setor muito concorrencial, Portugal foi ocupando lugares secundários nas tabelas dos melhores destinos. Porém, esta situação tem vindo a alterar-se. Considero que o sucesso da nossa seleção de futebol, a vitória na eurovisão, a organização da web summit, os bons resultados económicos dos últimos 3 anos, a segurança do nosso país, assim como a avaliação positiva de diferentes revistas e sites de viagem, valorizaram ainda mais a nossa imagem no exterior.
Deste modo, não é de admirar que o fluxo de turistas tenha aumentado muito nos últimos anos. Se compararmos alguns indicadores, fornecidos pelo INE, comprovamos este crescimento. Por exemplo, os meios de alojamento turísticos, em 2010, registaram 45 milhões de dormidas, enquanto que, no ano passado, registaram-se mais de 65 milhões. Quanto às receitas do Turismo, em 2010, o valor foi de 7 611 milhões de euros, enquanto que, em 2017, este valor subiu para 15,2 mil milhões de euros.
         Este crescimento no turismo tem favorecido a diminuição na taxa de desemprego, devido à criação de vários postos de trabalho. Segundo os mesmos dados estatísticos, os setores de alojamento e restauração registavam 279,2 mil postos de trabalho em 2016, número esse que cresceu para 323,2 mil em 2017. Ou seja, em apenas 1 ano foram criados cerca de 44 mil novos postos de trabalho graças ao crescimento deste sector. 2017 foi um ano extraordinário em termos de turismo porque, pela primeira vez, o número de estrangeiros que visitaram o nosso país superou o número da população portuguesa. No total de 20,6 milhões de hóspedes, 12,7 milhões eram estrangeiros.
No entanto, o turismo traz algumas consequências, as quais devemos identificar e tentar corrigir. Eu considero que a sua maior desvantagem relaciona-se com o aumento da procura de alojamento por parte dos que nos visitam. Neste sentido, temos assistido a uma crescente especulação no setor imobiliário no que se refere ao preço de venda e ao custo do arrendamento. Assim, torna-se cada vez mais difícil encontrar casas, relativamente acessíveis, em cidades como Lisboa e Porto, e os residentes voltaram a preferir as periferias. Será fundamental controlar este problema para que não cheguemos a situações extremas, como acontece no estado da Califórnia, nos EUA, onde milhares de pessoas, muitas delas com empregos, vivem nas ruas, pelo simples facto das rendas serem insuportáveis.
Neste sentido, o governo tem criado alguns instrumentos de apoio à revitalização dos centros históricos e recuperação de edifícios, com o intuito de aumentar a oferta, obrigando os preços das habitações a baixar. Foram também implementadas medidas para proteger os inquilinos, residentes nessas zonas, particularmente idosos e pessoas com deficiência, para que as suas rendas não sejam aumentadas de forma exagerada, nem haja a possibilidade de serem despejados.
Contudo, apesar destes aspetos negativos, é inegável o contributo do turismo na economia nacional. Este sector é a nossa maior atividade económica exportadora (50,1% das exportações dos serviços e 18% das exportações totais), pelo que devemos continuar a promover e a melhorar a imagem do nosso país, para que continue a ser a escolha dos turistas.

Ana Isabel Rodrigues Ferreira

Referências:
https://ine.pt/xportal/xmain?xpgid=ine_main&xpid=INE

[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]

sexta-feira, 28 de setembro de 2018

“Boom” Imobiliário em Portugal…Lição aprendida com o Lehman Brothers?

Passada uma década desde a “maior  falência  de  todos  os  tempos”,  a  pergunta que  me  ocorre  é  a  descrita  no  título.  Seremos capazes de  antecipar  os  sinais  que  levaram  à  falência  do  quarto  maior  banco  de  investimento  norte-americano  e prevenir  um  cenário  de  crise  económica  profunda?  Será  que  a  euforia  ligada  ao  setor  imobiliário (em  Portugal,  particularmente)  nos  pode  levar  a  uma  espécie  de    crise  subprime?
Observando  o  nosso  país,  penso  que  a  nossa posição  a  nível  económico,  embora  evolua  favoravelmente  (há  que  reconhecer  o  grande  mérito  do  nosso  ministro  das  finanças e do atual governo),  ainda  é  frágil.  Temo  que  um  abalo  de  origem  externa  possa  fazer  tremer  os alicerces  que  estamos  a  reconstruir. 
Nos  EUA,   10  anos ,  o  clima  que  se  vivia  era  de  euforia.  Era  uma  altura  onde  todos  achavam  que  podiam  ter  uma  grande  casa, uma  mansão,  ou  mesmo  uma  casa  na  cidade  e  uma  na  praia,  e  para  tal   “apenas”   precisavam  de  pedir  um  empréstimo.
O  grande   problema  é  que  o  “apenas”  escrito  no parágrafo  anterior  era  um  “apenas”  sem  as  aspas,  ou  seja,  bastava  mesmo  ir  ao  banco  e  pedir  um  empréstimo  (absurdamente,  houve  até  quem  colocasse  a  hipoteca  em  nome  do  cão).  Os  grandes  cúmplices  destas  famílias  americanas  e  os  principais  culpados  eram,  obviamente,  os  bancos.  O  slogan  na  altura  era:  “se  você  tem  pulsação,  nós  damos-lhe  crédito”.  Não  é  difícil  perceber  o  porquê  do  colapso.
Voltando  a  falar  do  nosso  país,  aproveito  agora  para  fazer  uma  pequena  comparação  entre  a  euforia  vivida  naquela  altura  e  a  euforia  que  se  faz  sentir hoje  em  dia  no  setor  imobiliário. 
Pelo  décimo  nono  trimestre  consecutivo,  o  índice  de  preços  da  habitação  do  INE aumentou,  o  que  é  sinónimo  de  um  aumento  da  procura  que  não  está  a  ser  acompanhado  pela  oferta. “Entre  abril  e  junho  de  2018  foram  transacionadas  45  619  habitações.  O  valor  das  vendas  foi  aproximadamente  de  6,2  mil  milhões  de  euros,  mais  34,9%  do  que  no  segundo  trimestre  de  2017.”
Estes  dados  revelam  um  “boom”  no  setor  imobiliário,  um  acontecimento  fantástico  para  o  nosso  país,  impulsionado  principalmente  pelo  crescente interesse estrangeiro  em  Portugal  motivado pelo turismo.  Embora  seja  algo  muito  positivo,  não  podemos  cair  no  erro  de  achar  que  estamos  num  conto  de  fadas.  Este  “boom”  pode  ter  tanto  de  bom  como  de  mau.
Com  o  valor  das  casas  a  subir  de  trimestre  em  trimestre,  começa  a  surgir   especulação,  o  lado  mau  do  “boom”.  O  Banco  de  Portugal   veio  alertar  para  a possível  existência  de  “alguns  sinais”  de  sobrevalorização  dos  preços  do  imobiliário,  embora  limitados,  e   impôs  regras,  como  por  exemplo  a  recomendação  da  atribuição  de  novos  créditos  apenas  a  clientes  que  gastem  no  máximo  metade  (50%)  do  seu  rendimento  líquido  com  as  prestações  mensais  de  todos  os  empréstimos  detidos. No  seguimento  destes  avisos,  verifiquei  também  que,  segundo  o  DN,  desde  2010  que  não  eram  concedidos  tantos  empréstimos  para  compra  de  habitação.
Como  todos  sabemos,  o  crédito  malparado  é  algo  que  assombra  os  nossos   bancos.  Em  2018,  houve  uma  redução  significativa  de  1,7  mil  milhões  de  euros  (1º trimestre),  o  que  comprova  as  melhorias  significativas  que  temos  sentido,  mas  o  crédito  malparado  dos  bancos  portugueses  ainda  é  de  35,2  mil  milhões  de  euros  (+/-  18%  do  PIB).
Um  possível  cenário  de  incumprimento  por  parte  das  famílias  (e  empresas)  pode  levar  este  número  para  valores  megalómanos,  podendo  arruinar  os  bancos  por  completo.  Vimos  o  efeito  da  falência  do  Lehman  Brothers  na  economia  norte-americana  (e  mundial!).  Se  algo  assim  acontecer  aos  nossos  bancos,  Portugal  cairá  numa  situação  de  onde  jamais  se  levantará.
Atestando  a  minha  confiança  nos  nossos  decisores  políticos  e  nas  instituições reguladoras  (BdP),  espero  que  continuem  a  realizar  um  trabalho  sólido  de  consolidação  e  crescimento  sustentado.
Gostaria  de  terminar  deixando  um  reparo,  lembrando  que,  por  vezes,  é  necessário retirar  o   do  acelerador  (da  euforia).  Obviamente,  precisamos  de  crescer,  mas não  devemos  trocar  um  crescimento  sustentado  e  estável,  com  perspetivas  de  longo-prazo,  por  um  crescimento  rápido  e  efémero,  colocando  em  risco  a economia  e  o  longo-prazo.  Devemos  tentar  manter  os  níveis  de  confiança  dos últimos  trimestres  e  limitar  esta  euforia  para  que  esta  se  possa  prolongar  no tempo.  Acredito  que  é  possível  e  pelo  que  vejo    esforços  nesse  sentido.
Penso  que  estivemos  atentos  e  afinal…  a  lição  foi  aprendida!

MIGUEL ÂNGELO MARQUES FERNANDES  

Webgrafia:    
·        TVI24
·        PORDATA
·        Jornal de Negócios
·        INE
·        Dinheiro Vivo
·        Diário de Notícias
·        https://www.pordata.pt/Europa/Produto+Interno+Bruto+(Euro)-1786
·        http://www.jornaldenegocios.pt/mercados/detalhe/como-e-que-estao-a-evoluir-os-precos-das-casas

[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]

terça-feira, 25 de setembro de 2018

Aumentar ou não o salário mínimo? Eis a questão…

O salário mínimo em Portugal situa-se, atualmente, na 12º posição, relativamente a um ranking constituído a partir dos 22 países da Europa cujo ordenado mínimo é estatutário. Desta forma, encontra-se no patamar intermédio desta classificação, que é liderada pelo Luxemburgo, com uma remuneração mínima mensal de cerca de 1999€.  Relativamente a Portugal, a Eurofound concluiu que, em 2017, 23% dos trabalhadores a tempo inteiro receberam o salário mínimo e, segundo o relatório “Statutory minimum wages 2018”, este cenário continua a ser alarmante. Apesar destes dados requererem cautela porque são utilizadas diferentes fontes nacionais, ficamos com uma noção da realidade portuguesa e, agora, só nos resta perguntar: mas será sustentável continuar a aumentar o salário mínimo? Esta é uma questão controversa e sem uma resposta óbvia, pelo que requer a nossa atenção e debate.
Desde que António Costa assumiu o cargo de primeiro-ministro em 2015, o salário mínimo tem subido ano após ano. Depois de ter sido alcançado, este ano, um valor de 580€ mensais, o primeiro-ministro português já deixou clara a sua intenção de, em 2019, chegarmos aos 600€. No entanto, o líder do PCP, Jerónimo de Sousa, fez questão de pressionar o governo e lançar uma meta de 650€. Mas uma coisa é certa, ao que parece, tudo indica uma forte possibilidade de que o salário mínimo suba mesmo, e tudo isto já causa uma grande divisão de opiniões.
O aumento da remuneração mínima é sinónimo de mais rendimento, o que acaba por permitir a redução de desigualdades e do número de trabalhadores pobres, porém surge também uma tendência para se analisar o lado mais sombrio da situação. Desta forma, há quem considere que os portugueses têm de escolher entre uma função pública com mais qualificações e produtividade ou um maior volume de funcionários. No fundo, coloca-se a hipótese de um aumento no salário mínimo ser totalmente incompatível com uma redução da taxa de desemprego.
 No entanto, segundo o Jornal de Negócios, no início do ano corrente, apesar do ordenado mínimo ter subido, o número de funcionários públicos continuou a crescer. Avança também que havia 674,4 mil postos de trabalho nas administrações públicas a 31 de março, correspondendo isto a um aumento de 0,8% face ao mesmo período do ano anterior. Há, ainda, informação de que foram criados 5 mil postos novos, essencialmente na área da saúde, justiça e ensino superior, e na Administração Regional e Local o número de empregados aumentou 1,3%. Assim, houve um aumento do poder de compra, um crescimento da economia e o desemprego continuou em queda, ou seja, isto parece contradizer a ideia de que deveras existe a tal incompatibilidade referida acima e nada garante que uma nova subida deste salário tenha repercussões extremamente negativas.
Porém, observando o outro lado da moeda, podemos recuar até 2009, quando José Sócrates subiu o salário mínimo para 450€, numa altura de eleições. Associada à crise internacional, a taxa de desemprego subiu dos 7,6% em 2008 para 15,5% em 2012. Como consequência deste efeito veloz, a troika e o governo decidiram congelar o Salário Mínimo Nacional nos 450€ em 2011.
A nossa história diz-nos que depois de um continuado aumento do salário mínimo, este acaba sempre por estagnar ou cair em valores reais durante um extenso período de tempo. Será possível que os próximos anos sejam uma exceção à regra? A verdade é que, segundo o Banco de Portugal, a economia portuguesa deverá abrandar nos próximos dois anos, crescendo 1,9% já em 2019, menos 4 pontos percentuais que no ano atual, e, 1,7% em 2020. Estes dados poderão ser um indicador de que qualquer flutuação na economia terá de ser feita com o maior cuidado, pelo que o aumento do salário mínimo poderá, sim, a meu ver, ocorrer, mas dentro de um valor prudente e alcançável.

Raquel Maria Bernardo Lourenço

Bibliografia: Eurofound
Pordata
Jornal de Negócios

[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]

O MONSTRO DA DÍVIDA

Segundo a nota mensal sobre a Dívida Pública de Agosto de 2018 emitida pela Unidade Técnica de Apoio Orçamental da Assembleia da República, a dívida pública estaria em termos relativos num valor de 131,7% do PIB em 30 de Junho de 2017, tendo verificado uma descida de perto de 6 p.p., fixando-se em 125,8% do PIB em 30 de Junho de 2018. O que parecem serem ótimas notícias, deixam de o ser se esmiuçarmos um pouco mais os números da dívida pública. Com efeito se, em termos relativos, a dívida está em ciclo descendente, em termos absolutos a mesma não deixa de crescer e atinge hoje um número perto de 250.000 milhões de Euros.
No que diz respeito ao serviço da dívida (custos com juros e encargos de intermediação), em 2017, segundo o mesmo documento, o estado teve uma despesa de 7.127 milhões de euros. E aí reside o nosso grande problema, pois se atendermos aos outros gastos do Estado, como por exemplo a educação e a saúde, cujas despesas ascenderam a 7.289,2 milhões de euros e 8.757,7 milhões de euros, respetivamente, no mesmo ano, constatamos que a despesa associada à dívida pública foi praticamente equivalente à despesa com a educação e ligeiramente inferior à da saúde, duas rúbricas de despesa fundamentais para o estado de direito conquistado em 1974.
O problema torna-se ainda mais preocupante se atendermos ao facto de estamos a beneficiar das taxas de juros médias mais baixas dos últimos anos (tal como podemos ver no gráfico abaixo, retirado do site PORDATA). Note-se que a dívida pública se encontra maioritariamente titulada em instrumentos de médio-longo prazo. Daí a importância dada às obrigações do Tesouro a 10 anos.


Se, por um lado, o facto das taxas atingirem um nível tão baixo se deve ao bom comportamento face à execução orçamental e ao crescimento da economia, bem como à avaliação das empresas de notação, como a Fitch, que no ano passado elevou o rating da dívida soberana de longo prazo de dois níveis, passando diretamente para o penúltimo grau do chamado investimento de qualidade, parece-me inegável que o maior efeito é resultado da política de “quantitative easing” levada a cabo pelo BCE. Este tem efetuado compras avultadas de dívida pública no mercado secundário e nos leilões de dívida (note-se que até ao início desse programa, o BCE estava limitado por si próprio a compras de dívida dessa ordem de grandeza). No entanto, esse cenário está prestes a acabar, pois é público que o BCE vai deixar de ser um grande comprador de dívida pública no final do corrente ano, e aí, poderá estar o grande problema.
Como é que o mercado irá funcionar sem esse grande player? Uma subida significativa das taxas de juros seria de consequências desastrosas para as nossas novas emissões de dívida. Estamos como já constatamos sem espaço para mais encargos com a dívida. Estamos literalmente sentados em cima de um barril de pólvora. Resta-nos confiar na continuação de um bom desempenho económico do país, e desejar ainda mais, pois mesmo verificando crescimentos económicos como os obtidos nos últimos tempos, não é difícil de perceber que ainda são insuficientes. Do ponto de vista político é difícil gerir uma situação em que um país se vê na obrigação de gastar tanto em juros da dívida como em educação.
Que soluções nos restam?
Desenvolver com mais vigor a nossa economia através da atração de capital estrangeiro, e isso passa por várias reformas políticas, nomeadamente em questões fiscais (atrair o investimento estrangeiro passa inequivocamente por um regime fiscal estável e não de constante alteração), questões de justiça (os prazos para resolução de litígios são de conhecimento público o que mais uma vez afasta o capital estrangeiro). Note-se, também, que a captação de investimento estrangeiro depende do próprio problema da dívida pública, pois um investidor estrangeiro sabe que a dívida terá que ser paga um dia, e o mais provável é que seja através de mais impostos que incidirão também sobre o futuro lucro do mesmo.
Como derradeira solução, a que deve ser evitada a todo o custo, é uma renegociação da dívida contraída. O problema desta opção seria a perda de credibilidade nos mercados financeiras, o que levaria automaticamente a uma fuga dos investidores à dívida Portuguesa e uma consequente subida da taxa de juro.
Como é fácil de perceber está muito do nosso futuro em jogo nos próximos tempos, bem como das gerações vindouras, sendo que essas terão o problema acrescido da Segurança Social, tema esse que será desenvolvido numa próxima reflexão.

Filipe Monteiro Rodrigues Pereira

[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]

A Competitividade e o Retalho Alimentar em Portugal

Nos dias de hoje, a competitividade está bastante enraizada e presente nas sociedades, tanto a nível individual, empresarial e, principalmente, entre países. Sendo um indicador de extrema importância para avaliar o desempenho das economias, todos os anos é elaborado um indicador chamado Global Competitiveness Index, que avalia o grau de competitividade das economias, baseado num conjunto específico de 12 determinantes.
Ao longo destes anos, Portugal tem vivido várias oscilações no que diz respeito ao nível de competitividade. Atualmente, segundo a edição de 2017/2018 do Ranking Mundial de Competitividade, Portugal posiciona-se na 42ª posição entre 137 economias, subindo quatro posições, relativamente ao ano anterior. A meu ver, tal resultado é devido, principalmente, ao crescente nível de educação do país, proporcionando mão-de-obra mais qualificada, perspetivas e ideias mais eficientes e inovadoras, uma melhoria ao nível das infraestruturas, entre outros.
Nas últimas décadas, assistimos a um rápido crescimento de vários setores e mercados, atingindo-se altos níveis de competitividade. Ora, em Portugal é evidente tal competitividade no Retalho Alimentar, uma vez que se torna um dos setores mais atrativos para investimento, pois, segundo o INE, 60,3% da despesa anual média das famílias recaem na habitação, alimentação e transportes. A verdade é que várias são as empresas instaladas neste setor, competindo todos os dias para atingirem o máximo de vendas possível. Há, portanto, a necessidade de fortes jogos estratégicos de concorrência e constantes adaptações para atender às necessidades da população.
Apesar de, na minha perspetiva, o setor do Retalho Alimentar estar completamente saturado, ainda há quem não o ache. Neste momento, Portugal aguarda por uma promissora entrada de um grande retalhista com origem em Espanha e que opta pelo nosso país para se aventurar no mundo da internacionalização, a cadeia de supermercados Mercadona. Mas, afinal, o que faz este retalhista escolher Portugal, perante a elevada diversidade e competitividade já existente neste setor? Na minha perspetiva, esta entrada irá apenas comprometer este setor extremamente competitivo se for introduzido algo inovador aos olhos da população e só irão resistir se forem mais competitivos, e, portanto, capazes de captar quota de mercado a empresas concorrentes. Assim, a chave para o sucesso será a diferenciação, a inovação e a captação da confiança dos clientes como forma de se destacarem. Isto faz com que haja a promoção de um desenvolvimento mais eficaz de soluções alimentares inovadoras, reforçando a competitividade.
De salientar que, o relatório do “World Economic Forum” chama-nos a atenção para os fatores mais problemáticos para a atividade empresarial em cada país. Segundo este relatório, o fator que se destaca em Portugal é a burocracia governamental ineficiente, seguindo-se as taxas de imposto, a regulamentação de trabalho restritiva, a instabilidade política, o acesso ao financiamento, entre outros.
Independentemente de em Portugal se verificar um nível de competitividade já bastante elevado em alguns dos mercados, ainda estamos muito longe de alcançar o topo do ranking. Torna-se, assim, necessário o aumento da competitividade entre as empresas, devendo estas apostar na inovação, qualidade, marketing e mão-de-obra qualificada, tendo em vista a internacionalização. Para que tal seja possível, é necessária a implementação de incentivos ao conhecimento, desenvolvimento e investigação. Assim, neste momento, existe um acordo de parceria adotado entre Portugal e a Comissão Europeia, o Portugal 2020, “no qual se definem os princípios de programação que consagram a política de desenvolvimento económico, social e territorial para promover, em Portugal, entre 2014 e 2020”, sendo a competitividade e internacionalização uma das temáticas abordadas.

Márcia Alexandra Matos Fonseca Lima 

Bibliografia:
·         Instituto Nacional de Estatistica
·         World Economic Forum

[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]