quarta-feira, 30 de novembro de 2016

Fundo Europeu para o Investimento Estratégico - Plano de Juncker

       O Fundo Europeu para o Investimento Estratégico, mais conhecido por Plano Juncker, foi desenvolvido pela União Europeia no ano passado. Tem como objetivos dar visibilidade e prestar apoio técnico aos projetos de investimento e eliminar os obstáculos a este, utilizando de forma mais inteligente os recursos financeiros novos ou existentes.
         Para a execução do plano, está prevista a mobilização de, pelo menos, 315 mil milhões de euros, que devem ser distribuídos pelos 28 estados-membros, quer estes pertençam à zona euro ou não. Este plano tem o objetivo de apoiar o investimento na economia real e criar um ambiente favorável ao investimento. Pretende-se atrair fundos privados para grandes investimentos durante três anos.
         Na minha opinião, este programa poderá ter efeitos bastante positivos na Europa, se for bem aplicado, dado que pocura inverter a tendência de queda do investimento para estimular a criação de emprego e a recuperação económica, sem aumentar a dívida pública ou sobrecarregar os orçamentos nacionais. Assim, a meu ver, será possível apoiar investimento que vise satisfazer as necessidade a longo prazo da economia, favorecendo deste modo a competitividade. Para além destes efeitos, também consigo perceber que, com uma correta aplicação do programa, será possível reforçar a interligação no mercado único e reduzir assimetrias entre os países na Europa.
         Segundo uma avaliação independente da EY, o plano está a funcionar, mas pode vir a ser melhorado, o que foi recentemente confirmado pelo Banco Europeu de Investimento (BEI).
         O relatório do BEI veio a confirmar que 92 dos mais de 100 mil milhões de euros foram investidos no primeiro ano de aplicação do plano, nas 15 economias mais ricas da União. Os 13 estados-membros mais pobres, como as economias da Europa de leste, receberam apenas 8% dos fundos. Acho que esta é uma situação preocupante, dado que um dos objetivos da União Europeia passa por corrigir assimetrias e não aumentá-las.
         O setor que recebeu uma maior fatia dos fundos destinados ao desenvolvimento de infraestruturas e inovação foi o setor energético, recebendo 46% das ajudas disponíveis. Neste caso, foram países como Espanha e Itália os que mais beneficiaram, tal como o Reino Unido, que decidiu deixar a União Europeia num referendo realizado em junho deste ano, o Brexit.
         Cerca de 75 mil milhões de euros do plano destinam-se ao desenvolvimento de pequenas e médias empresas. Neste caso, foram as economias francesa, alemã e italiana as que mais beneficiaram dos fundos, recebendo 54% do total disponível.
         Na minha perspetiva, concordo com a aplicação no setor energético (que tem ganho cada vez mais importância nos dias de hoje), e também acho muito importante que se aposte no desenvolvimento de pequenas e médias empresas. No entanto, acho que será importante a realização de mais investimentos em setores até agora não contemplados, que deverão passar a ser considerados elegíveis, tendo em conta as necessidades das economias da União Europeia consideradas menos desenvolvidas, pois só deste modo conseguiremos reduzir as grandes desigualdades entre os países.
         Em suma, penso que este plano tem objetivos muito importantes, porém não está a ser aplicado da melhor forma, podendo até mesmo estar a aumentar assimetrias entre os países, dado que, atualmente, está a favorecer as economias mais ricas. Deverá ser necessário criar melhores soluções para os projetos mais pequenos e promover uma monitorização eficiente que garanta que os fundos estão a ser aplicados corretamente.
        
Diogo Meneses

[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]

terça-feira, 29 de novembro de 2016

Consumo Natalício como Indicador

Todos os anos é comum assistir à preocupação que as famílias portuguesas têm relativamente à época natalícia. O entusiasmo é tanto que, por vezes, vão além das suas possibilidades, para encontrar o presente ideal para os seus entes queridos. Nestes casos, o consumerismo é ultrapassado e, por vezes, as famílias caem mesmo em consumismo, podendo tal ser prejudicial para a sua saúde financeira. Felizmente, não é um cenário geral, e ainda são muitos os que celebram esta quadra em conformidade com as suas possibilidades.
O rendimento disponível das famílias portuguesas para despesas com o natal (presentes, alimentação, bebidas e eventos sociais) pode ser analisado como um indicador do nível de vida e do receio de instabilidade socioeconómica dos portugueses. Através da variação no valor médio dos gastos natalícios dos vários anos, conseguimos analisar a perceção que as famílias portuguesas têm da conjuntura económica do país. Creio que para este indicador ser eficaz é necessário que a amostra inclua inquiridos que celebrem o natal, e estes devem incluir não só as pessoas que incorrem em elevados custos festivos (com compras acima das suas possibilidades) mas também aqueles que não estão dispostos a tal, por recearem demasiado a instabilidade do próximo ano. Se tal for possível, penso que este indicador é simples, comparável e fidedigno. Logo, deverá ser tido em conta em análises de consumo.
Para o natal de 2016, as famílias portuguesas estão dispostas a gastar € 359, mais de dois terços do salário mínimo. Sendo que este valor é em €45 superior ao de 2015, o que me dá a entender que os portugueses estão mais confiantes no estado atual da economia. A meu ver, as famílias estão um pouco melhor financeiramente, contudo creio que não seja suficiente para um aumento tão elevado. Esta variação positiva está em  contraciclo com os restantes países europeus, segundo o estudo sobre o consumo na quadra natalícia da Deloitte. “Pela primeira vez desde 2009, a expectativa relativa à evolução do poder de compra é também menos pessimista em Portugal do que a média da Europa, o que poderá explicar este sentimento mais positivo”.
É importante referir o que leva os portugueses a gastar mais no natal. As promoções típicas da época são a resposta de grande parte dos inquiridos. Outros afirmam que é o facto de se quererem divertir e evitar pensar na incerteza económica. Os restantes asseguram aumentar as suas compras face aos anos anteriores devido ao aumento do rendimento disponível.  Em posição contrária estão aqueles que esperam gastar menos este Natal, sobretudo devido à redução do rendimento disponível e à expetativa de continuidade da recessão económica, motivos também apontados pelos nacionais dos restantes países europeus. Na minha opinião, embora estudos apontem para melhorias na economia, essa melhoria ainda não se fez sentir o suficiente no nível de vida da população. Logo, acho errado um clima de gastos excessivos quando pouco tempo passou da crise económico-financeira. Assim sendo, vou de encontro à opinião dos cidadãos dos outros países europeus.
Em suma, penso que este indicar pode ser muito útil para mensurar a visão que a nossa população tem acerca da economia. É relevante referir que mais de metade dos consumidores portugueses tencionam utilizar o subsídio de natal para as compras de natal, e pensam que este não será suficiente. Penso então que a saúde financeira das famílias não evolui tão favoravelmente. Caso contrário os consumidores não estariam à espera de receber o subsídio.

Ana Catarina Gomes Peixoto de Sousa Baptista

[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]

segunda-feira, 28 de novembro de 2016

Turismo nas exportações portuguesas


      O turismo sempre teve um grande peso na economia portuguesa quando comparamos com o seu impacto na economia de outros países, e o peso deste setor continua a crescer, estando muito próximo dos 50% do total de exportações de serviços em Portugal. Com paisagens e zonas tão únicas como as Portuguesas, é normal que o turismo tenha tanto impacto na nossa economia.
Segundo o Banco Portugal, as receitas do turismo cresceram 10%, com o setor a manter a tendência de subida, alargando o peso no PIB para 6,38. No total, o turismo vale 10.598 milhões de euros, que corresponde a 47% das exportações de serviços. Na minha opinião, tudo isto confirma a relevância deste setor na balança comercial portuguesa, mantendo-a positiva visto que os bens sozinhos têm um saldo negativo.
Os gastos dos turistas ultrapassaram pela primeira vez os cinco mil milhões, com as férias de estrangeiros em Portugal a representar 14% das exportações de bens e serviços e 43,6% das vendas de serviços ao exterior nesses seis meses. O crescimento de receitas que se tem registado no sector é superior ao crescimento do número de hóspedes que escolhem o destino Portugal.
“As taxas de ocupação continuam a crescer - em novembro cresceram 13% - o que dá saúde à continuação das empresas e ao seu esforço de investirem e qualificarem a sua oferta” diz Cotrim Figueiredo, presidente do Turismo de Portugal. “De nada nos adianta acertar em cheio no público que queremos atingir, e de nada adianta convencer as pessoas a visitar Portugal, a conhecer as nossas cidades, património e gastronomia, se, cá chegadas, saírem desiludidas, e partilharem más experiências. A promoção é importante. Ter bons produtos para promover ainda mais. E, nisso, Portugal tem muitos e bons argumentos”.
Olhando para a balança de viagens e turismo em percentagem do PIB fornecida pelo INE, podemos constatar que as exportações estão sempre bastante acima das importações, sendo que em 2015 as exportações representavam 6,3% do PIB enquanto que as importações representam 2%, resultando num saldo de 4,3%. Quando olhamos para 1996, apesar das exportações estarem bastante acima das importações, o saldo era muito próximo das importações o que, no meu ponto de vista, nos dá uma visão da evolução deste setor em Portugal.
Nos primeiros seis meses de 2016, os hóspedes estrangeiros gastaram aqui 5007,7 milhões, mais 9,2% do que no mesmo período do ano passado. Dos países da União Europeia, os britânicos são os turistas que mais vêm para Portugal e que mais dinheiro gastam cá. Os franceses também estão a gastar cada vez mais dinheiro, mas são os espanhóis em que se vê o maior aumento, sendo que, segundo o Banco de Portugal, foram gastos 662,5 milhões de euros, que representam uma subida de 19,6%.
Já nas dormidas, o Reino Unido continua a ser o que apresenta os maiores números da Europa, com 882,2 mil hóspedes até final de junho. Os espanhóis são os terceiros em gastos, mas os segundos em dormidas, com um aumento de 14,5% face ao primeiro semestre de 2015. Entre os franceses verifica-se a maior subida no número de turistas, com 18%. Entre os cinco primeiros, apenas os brasileiros reduziram a presença em Portugal.
Após tudo o que acima foi dito, penso que o Portugal dispõe de especificidades únicas que permitem o crescimento e desenvolvimento do sector do turismo: o clima favorável, a imagem de destino seguro e destinos turísticos bem definidos e implementados. A dinamização e diversificação da oferta já existente, bem como a introdução de novos segmentos no setor são oportunidades que se devem aproveitar para que o país possa continuar o seu crescimento e desenvolvimento, gerando mais-valias económicas a nível do PIB e do emprego.

Ana Filipa Lopes Marinho

[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]

domingo, 27 de novembro de 2016

Descaracterização da identidade televisiva portuguesa

A televisão portuguesa, para além de possuir poucos canais em sinal aberto, a qualidade geral foi tomada pela cultura lúmpen dos “reality shows”, o que faz com que aumente e consolide valores e práticas sociais e culturais retrógradas e primárias.
Décadas atrás, a televisão era descrita como iconografia nacional, onde ou procurava responder à enorme responsabilidade que lhe cabia por inerência da posição que ocupava no pequeno universo dos media nacionais, ou corria o risco de se tornar no principal meio de negação da identidade nacional. Ora, o descalabro aconteceu. Sendo assim, será que podemos falar que ainda existe identidade nacional? Será que os canais portugueses preferem ter um maior número de audiências independentemente de colocar ou não a identidade portuguesa no lixo?
De acordo com a legislação da televisão, os operadores têm de emitir “uma programação que contribua para a formação e informação do público e para a promoção da língua e cultura portuguesas”. O facto é que isso não está a acontecer e os operadores de televisão não só não estão a cumprir os objetivos da legislação e os respetivos cadernos de encargos, como estão a contribuir para a sua degradação e eventual negação.
Se dermos uma vista de olhos nos históricos de transmissão da televisão portuguesa nos últimos anos, chegamos à conclusão que a qualidade geral da televisão foi tomada pela cultura lúmpen dos “reality shows” que amplifica e consolida valores, crenças e práticas sociais e culturais retrógradas e primárias. Verifica-se nos dias de hoje uma falta promovedora de formação cívica, de ascensão cultural e social através de entretenimento e informação de qualidade, com um aumento da superficialidade, do amadorismo e da ausência de bom gosto (ética e estética). Tudo isto faz com que degrade e impossibilite todas as tentativas de alguns jornalistas, produtores, realizadores, autores, comentadores e outros colaboradores de contribuir para melhorar e atualizar a identidade nacional, uma vez que a construção cultural depende da história, dos valores, das crenças e dos costumes. E por falar em identidade nacional, a personalidade e identidade de um individuo provém de três elementos: da família, da escola e da televisão.
Semana após semana, a televisão portuguesa aumenta a sua falta generalizada de qualidade. Logo pela manha, ao ligarmos a televisão em um dos canais, estamos perante um programa de uma cartomante qualificada para ajudar a resolver todo o tipo de problemas. Ou seja, existe uma mulher, logo pela manhã, a “ler” o futuro dos espetadores nas cartas, a pedido de espetadores vulneráveis e que anseiam uma resposta, “vinda das cartas”. Mas será que isto está de acordo e respeita dignidade de uma pessoa humana e os demais direitos fundamentais, com proteção, em especial, dos públicos mais vulneráveis, nomeadamente crianças e jovens, cabendo-lhes garantir o rigor, a objetividade e a independência da informação?
Mas isto não se fica por aqui. Existem programas de televisão que, por um lado, até são culturais e mostram a cultura de várias regiões do país, mas, na maior parte do tempo, estão a solicitar aos telespetadores que liguem para um determinado número de forma a ganharem um prémio relativamente estimulante. Apesar disto, o pior mesmo são os reality shows, onde pessoas estão numa casa a viver juntas a fim de ganharem dinheiro. Por vezes, até situações de pornografia são transmitidos neste tipo de programas, pondo em causa a suscetibilidade de menores.
Assim conseguimos perceber que, atualmente, a televisão portuguesa não tem nada a ver com a televisão portuguesa de há uns anos. É necessário que respeitem a dignidade do ser humano e os direitos fundamentais dos cidadãos, com o direito de acesso a conteúdos nacionais, de entretenimento e de informação, e tudo isto com qualidade, de acordo com padrões de bom gosto, ética e estética. Pois a nação portuguesa e o Estado é que estão na guilhotina.

Pedro Diogo Mendes Penetro

[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]

sábado, 26 de novembro de 2016

O rejuvenescimento do setor têxtil em Portugal

Quando falamos em indústria têxtil, relembra-nos logo os anos 80, tempo em que a têxtil era a mais importante indústria do país. Mas a abertura do mercado europeu à China e a crise de 2008 provocaram um “desastre” no setor. Passados uns 25 anos, cerca de duas mil empresas desapareceram do mapa do setor, que se concentra principalmente nos distritos de Braga (51% das empresas) e do Porto, deixando a paisagem do Vale do Ave marcada por enormes “edifícios-fantasma” que recordam os anos de “glória” do setor. Contudo, o têxtil e o vestuário nacionais deram a volta à situação e emergem como uma indústria avançada e competitiva.
São notórias as mudanças que se fizeram sentir neste setor ao longo dos anos. Ainda antes de a Europa liberalizar por completo as importações da China, o que aconteceria em 2005, a queda abrupta de preços e redução dramática de encomendas deixou as empresas em estado de choque. A primeira tentação foi baixar os preços para resistir o mais possível ao “rolo compressor chinês” que, no prazo de uma década, aumentou a sua quota no mercado mundial da têxtil de 10 para 33%.
Entre 2004 e 2012 verifica-se que este setor registou um declínio. A produção passou de 7215 milhões de euros para 4905 milhões de euros. Por conseguinte, o volume de negócios passou de 7471 milhões de euros para 5774 milhões de euros. Para agravar, o emprego decorrente deste sector passou de 201.064 para 127.976. A crise em 2008 só veio acelerar este declínio. Em 2009 o valor das exportações foi o mais baixo durante este período, com 3501 milhões de euros. O peso da produção de fios, tecidos e vestuário no conjunto das exportações nacionais passou de 30% nos primeiros anos da integração europeia para pouco mais de 10%.
Segundo um relatório preparado para a Comissão Europeia – Empresas e Indústria, os principais fatores que levaram a estas alterações no setor têxtil, neste período, foram os mercados industriais e de consumo, a globalização, o conhecimento e a mudança, a política e a regulação, e a crise financeira.
Depois dessa grande crise, o setor demorou cerca de 5 anos a recuperar e a alterar o perfil da sua estrutura produtiva. Desde 2011 que o setor ultrapassou a fasquia dos 4 mil milhões de euros nas exportações, mas é em 2013 que se verifica um crescimento sustentado, com o volume de negócios a ultrapassar os 6 mil milhões de euros.
Em 2015 o volume de negócios chegou aos 6,8 mil milhões de euros, com perto de 80% da sua produção orientada para as exportações (4,8 mil milhões de euros).
São boas notícias. O setor têxtil está a ganhar cada vez mais terreno nas exportações, prevendo-se que atinja este ano os 5 mil milhões de euros. E está a criar postos de trabalho. Por este andar iremos conseguir atingir os objetivos estratégicos pensados para 2020 (5 mil empresas, 100 mil trabalhadores, 5 mil milhões de euros em exportações).
Não se chegará aos níveis existentes na década de 90, quando começaram as grandes perdas de postos de trabalho, mas houve um reajustamento, e também uma mudança de perfil do trabalhador necessário. Hoje, o operário têxtil tem de se adaptar às mudanças tecnológicas que se têm verificado.
Se em tempos o sector ficou muito exposto à concorrência com base no preço e à saída de clientes para a China, conseguiu mudar para uma produção baseada no acréscimo de valor pela qualidade, diferenciação do produto e inovação tecnológica. As empresas que resistiram estão mais capacitadas e mais sólidas. Mesmo que a subcontratação (produção para outras marcas) continue a ser um pilar importante do setor, a verdade é que ela já não assenta apenas no preço baixo. Os valores da produção subiram, mas incorporou-se valor, serviços e design. Conseguiu-se, assim, uma oferta mais integrada e completa.
A balança de mercadorias (diferença entre exportações e importações) deste setor continua a ser das mais líquidas, com um saldo positivo de 1,1 mil milhões de euros.
Em Janeiro de 2016, a Associação Têxtil e Vestuário de Portugal (ATP) destacou que a evolução mensal homóloga de 10% em novembro foi muito superior ao verificado nas exportações nacionais de bens, que cresceram 4,5%, o que confirma que as exportações da ITV (indústria têxtil e vestuário) continuam a crescer acima das exportações nacionais.
Segundo a ATP, os destinos para onde as exportações portuguesas do setor registaram maior crescimento absoluto continuaram a ser Espanha (acréscimo de 148 milhões de euros no período em análise, contribuindo para um total de 1,6 mil milhões de euros), EUA (acréscimo de 56 milhões de euros, contabilizando um total de 285 milhões de euros), Noruega (aumento de 15 milhões de euros e uma taxa de crescimento de 62%). Outra tendência em destaque é a recuperação em destinos como a Alemanha (410 milhões de euros, com um acréscimo de 8 milhões de euros no período em análise) ou Reino Unido (437 milhões). França mantém-se como o segundo maior cliente do sector (613 milhões), atrás de Espanha.
É possível concluir que, apesar dos anos de decadência verificados no início dos anos 2000, ultimamente, a aceleração do setor e o crescimento das suas exportações só comprova a vitalidade e a importância deste na economia nacional e nas trocas comerciais com o exterior. É muito importante para Portugal fazer propaganda e expandir a sua marca “made in Portugal” no mundo.

Maria Raquel Oliveira Ribeiro

[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]

sexta-feira, 25 de novembro de 2016

A ECONOMIA DAS ´APPS` PARA TELEMÓVEL

A tecnologia encontra-se numa corrida constante no sentido de se tornar cada vez mais pessoal: como se pode tornar mais simples e ajudar mais o utilizador? Na minha opinião, o tema da app economy é bastante pertinente, visto que é relativamente fácil passar-nos ao lado a dimensão que as apps assumem na economia mundial a nível de geração de riqueza, empregos e mudança de comportamentos.
As apps ajudaram a moldar os líderes da tecnologia móvel e o setor da tecnologia é um dos maiores do mundo também em termos de crescimento, onde suplanta os setores do entretenimento – tal como Hollywood – e do desporto. A economia das aplicações (apps) refere-se à dimensão da atividade económica que gira à volta das aplicações para telemóvel, criando novas fortunas para empreendedores e mudando a forma como os negócios são feitos. Compreende a venda de apps, receitas de anúncios ou relações públicas geradas por apps gratuitas, bem como os dispositivos físicos em que as apps funcionam.
A chamada app economy começou a proliferar com o aparecimento do iPhone e da App Store da Apple, em 2008. Assistimos, desde então, ao surgimento vertiginoso de startups cujo produto ou serviço está assente em aplicações móveis. Em 2007, virtualmente não existiam apps; em 2011 mais de 25 biliões de descarregamentos tinham sido feitos e estima-se que até 2020 esta economia possa duplicar o seu tamanho, tornando-se numa economia de 101 biliões de dólares. Este crescimento dever-se-á ao aumento do uso destas apps e de uma maior adopção do smartphone por todo o mundo - estima-se que até ao fim de 2016 existam 2 biliões de indivíduos com smartphone. Os jogos geraram 85% das receitas deste mercado em 2015 (34,8 biliões de dólares), devendo passar para 41,5 biliões em 2016.
No entanto, outras categorias crescerão ainda mais rápido. As apps provêm agora de todas as áreas da indústria: banca, retalho, companhias aéreas, serviços de transporte e até agências governamentais. Neste momento existem cerca de 4,2 milhões de apps disponíveis para download (2 milhões para iOS e 2,2 milhões para Android). No meu entender, ser bem-sucedido neste mercado requer que as empresas se movam com rapidez e agilidade ao mesmo tempo que proporcionam uma boa experiência junto do consumidor, o que inclui práticas de segurança necessárias para proteger os utilizadores das crescentes ameaças de ciber-segurança. Penso que as empresas que se pretendem assumir como líderes neste mercado altamente competitivo devem antecipar as tendências de consumo e procurar tirar partido de novas oportunidades.
Para termos uma melhor noção do quão significativo este setor da economia é, tomemos como exemplo Evan Spiegel, o fundador e presidente-executivo do Snapchat, uma app de partilha de fotografias e vídeos. Spiegel é o bilionário mais jovem do mundo, com uma fortuna estimada de 2,1 biliões de doláres. Usado diariamente por quase 100 milhões de pessoas, o Snapchat é avaliado em cerca de 16 biliões de doláres. Destaque ainda para Travis Kalanick, CEO da aplicação de transporte Uber, com uma fortuna estimada de 6 biliões de dólares.
No entanto, nem tudo são vantagens, nem é tão fácil como parece ser-se bem-sucedido neste mercado. Uma boa ideia não é condição suficiente. Criar uma startup baseada numa boa app, com design apelativo e com uma boa experiência de utilização poderá não ser difícil, mas fazer chegar essa app a um número relevante de utilizadores disponíveis, que pagam recorrentemente pela sua utilização, creio que já o é – existem centenas de milhares de apps a competirem por visibilidade.
A nível europeu, estima-se que as receitas provenientes das apps passem de 17,5 biliões de euros para 63 biliões de euros em 2018 e o número de empregos espera-se que passe de um milhão em 2013 para 2,8 milhões (considerando apenas os indivíduos que trabalham no desenvolvimento das apps; se considerarmos o restante suporte e marketing, este número passa para os 4,8 milhões).
Para concluir, as apps já alteraram a forma como passamos o nosso tempo livre, a forma como trabalhamos e a forma como cuidamos de nós. No entanto, penso que nos próximos anos a nossa dependência destas só irá aumentar.

Alexandra de Sousa Fernandes

[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]

quarta-feira, 16 de novembro de 2016

Emigração de jovens portugueses

A Organização Internacional do Trabalho estima que haja 73,4 milhões de jovens desempregados em todo o mundo.
Os jovens portugueses são dos cidadãos da União Europeia mais predispostos a emigrar para outro país em busca de melhores oportunidades de emprego. Em média, 40% pensam deixar o país, número apenas ultrapassado pelos eslovenos (57%) e italianos (55%), segundo o relatório "Tendências globais no emprego jovem 2015".
Desde 2008 que 100 mil portugueses deixam o país todos os anos. Estes jovens qualificados, ao contrário do que acontecia com os emigrantes dos anos 60, não pensam em regressar a Portugal só depois da reforma. Mas, com o agravamento da crise, sentem o país a ficar mais longe. O projeto “Generation E” tentou quantificar as intenções de regresso dos jovens emigrantes que responderam ao inquérito (mais de 80% das respostas correspondem a indivíduos com formação superior) e percebeu que entre eles há vontade ou, pelo menos, esperança de voltar. Mas não agora. Dadas as circunstâncias, num futuro próximo isso não é opção.
De acordo com os dados do Eurostat sobre as migrações nos países da UE e EFTA, Portugal, que apresentava um saldo migratório positivo de quase 47 mil indivíduos em 2000, passou a ser, em 2013, um dos países europeus com saldo mais negativo em termos absolutos (-36 mil indivíduos) e relativos (-0.3% da população residente).
O início da crise, em 2007, foi acompanhado de uma forte subida do desemprego entre os jovens, que atingiu o máximo em 2013, quando no mundo inteiro se contavam 76,6 milhões de pessoas entre os 15 e os 24 anos sem trabalho. Em muitos países, assim como em Portugal, os jovens continuam a sentir os efeitos da crise e da austeridade. De que forma? Nas dificuldades em que esbarram para encontrar um trabalho a tempo inteiro, por exemplo. Contudo, especialistas acreditam que os dados oficiais não contam tudo, pois há razões para crer que as estimativas oficiais pecam por defeito.
A liberdade de circulação que está estipulada no acordo de Schengen e a falta de registos oficiais de saídas dificultam a monitorização do fenómeno. Estimar e caracterizar a emigração de um país requer que se compilem os dados sobre a entrada e permanência dos emigrantes desse país nos países de destino, destaca o Relatório Estatístico da Emigração Portuguesa de 2014.
            Muitos jovens portugueses sentem-se melancólicos por perceberem que o país até os educou bem, mas simplesmente não tem estrutura para os empregar. A falta de oportunidades de emprego, transversal aos países sul-europeus, é o fator que mais tem levado os jovens a partir.
Se muitos vão por necessidade, outros dizem que é por opção. Para estudar, para seguir um amor ou simplesmente sair da sua zona de conforto. Outros dizem que partiram porque já não aguentavam os constantes escândalos de corrupção política, injustiças sociais, queixume e abatimento geral da população.
Nestas partidas de jovens para o estrangeiro, partem famílias inteiras, ficam famílias em partes. Em Portugal, muitos jovens não sentem estabilidade suficiente para poder garantir o seu futuro e, por isso, empacotam tudo, até as memórias, e decidem emigrar em busca de uma vida melhor.

Leonel Filipe Razão Peixoto    

[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]