quinta-feira, 30 de outubro de 2014

A Cultura e a Criatividade na Internacionalização da Economia Portuguesa

Na última década, a taxa de crescimento média anual das exportações culturais e criativas excedeu os 10%, posicionando-se acima do ritmo exportador da economia portuguesa como um todo (9,8%).
Deste modo, a cultura e a criatividade representam elementos transversais e decisivos no processo de reforço da internacionalização e da competitividade da economia portuguesa. Todavia, têm sido erroneamente menosprezadas pelos decisores políticos. Como tal, a exploração de três grandes sinergias, a cultura, o turismo e a indústria, aliadas à inovação e à diferenciação, constituem o reforço da capacidade de produção de bens e serviços com grande valia à escala global, permitindo ao tecido empresarial português impor-se nos mercados externos, da música ao turismo, do cinema ao calçado, do artesanato à ciência. 
Assim sendo, a sinergia cultural propõe um novo dinamismo de projeção internacional das atividades culturais e criativas, partilhando riscos e custos. Através da colaboração dentro e fora deste setor será possível aceder a informação relevante sobre as oportunidades de internacionalização, adquirir competências e melhorar a abordagem aos mercados externos e explorar a diversidade de programas de apoio à exportação. Adicionalmente, é essencial promover o setor cultural e criativo de forma a fortalecer a exposição, o prestígio e o reconhecimento internacional, reforçar os contactos e vínculos no exterior, potenciar estratégias de comercialização e de marca e explorar novos canais de distribuição. Por fim, é necessário conectar o setor cultural e criativo, desenvolvendo parcerias tecnológicas para a transição digital, de modo a tirar pleno partido da maior plataforma de internacionalização que é a internet. 
Relativamente à sinergia turística, importa a relevância da cultura na atração de turistas e do turismo como plataforma exportadora. De forma a fomentar a internacionalização e a competitividade, é fundamental diferenciar os destinos turísticos, oferecendo experiências únicas, autênticas e originais a nichos de mercado a setores sociais com maior poder de aquisição. De forma adicional, é necessário segmentar, aprofundando a compreensão das caraterísticas e das motivações dos visitantes, de modo a maximizar as potencialidades do destino turístico. Por fim, é fulcral interagir, através da utilização das tecnologias de informação e comunicação, disponibilizando informação personalizada, abrangente e atualizada, de modo a potenciar a inovação nos produtos turísticos. 
Complementarmente, a sinergia industrial propõe um avanço em direção a uma nova especialização e a um novo paradigma competitivo, onde a cultura e a criatividade se juntam ao conhecimento, para oferecer às empresas portuguesas uma combinação original de inovação e diferenciação, suscetível de reforçar a sua competitividade internacional e alargar a exportação de valor acrescentado. Para tal, é necessária uma diferenciação e inovação dos produtos que Portugal vende ao exterior, potenciando a inovação incremental e de índole não tecnológica, optando por uma especialização inteligente, através da concentração dos recursos nas áreas mais promissoras em termos de vantagem comparativa, e optando pelo elemento chave - o design
É também essencial a promoção de ambientes multidisciplinares e a procura de formas de eficiência coletiva onde as organizações culturais e criativas possam colaborar com empresas de outros setores. Importa ainda referir que são necessárias medidas mais eficientes de política pública para incentivar o investimento das empresas em fatores imateriais de competitividade, capazes de gerar bens e serviços inovadores que vençam nos mercados internacionais.
Assim, constata-se que é evidente o papel da internacionalização do setor cultural e criativo e o seu contributo para o reforço da competitividade internacional do turismo e das indústrias nacionais no processo de aceleração da globalização. Apesar dos constantes cortes orçamentais, prevê-se uma otimização dos resultados em termos de emprego qualificado, de criação de riqueza, de exportação de produtos e serviços com valor acrescentado e de sustentabilidade económica e social. Citando Augusto Mateus “Vamos para a globalização com aquilo que somos”. 

Ana Raquel Silva

[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho] 

terça-feira, 28 de outubro de 2014

Economia Verde - o exemplo das Energias Renováveis

Ao longo dos tempos, a consciência de que é fundamental crescer economicamente com sustentabilidade tem sido crescente. Para isso existe, cada vez mais, preocupação por parte das famílias, das empresas e dos governos na adoção de políticas/comportamentos “amigos” do ambiente. Estas políticas/comportamentos são conseguidos através do posicionamento dos sujeitos em um, ou em várias faces do triângulo composto pela eficiência na utilização de recursos, a exploração de recursos renováveis e endógenos, e padrões de produção e consumo mais sustentáveis. 
Em termos globais, a Economia Verde representa uma oportunidade avaliada em 4 triliões de euros, registando um crescimento anual de cerca de 4%. Um desses exemplos é o investimento em energias “limpas”, que ronda os 300 mil milhões de dólares anuais (sendo que 25% é nos Estados Unidos e 25% é na China), e as necessidades de investimento em energia projetadas até 2030 ascendem, globalmente, a 13 triliões de dólares, sendo que 50% são fora da OCDE. 
Em termos políticos, a União Europeia tem quatro metas respeitantes à energia e ao clima para cumprir até 2030 e que de alguma forma influenciam esta Economia Verde. São elas a redução de, pelo menos, 40% na emissão de gases com efeito de estufa face a 1990, a elevação para 40% do rácio de energia total consumida oriunda de fontes de energia renovável, colocação da eficiência energética nos 30% e atingir uma capacidade de interligação para eletricidade entre todos os Estados-membros de pelo menos 25%, face à capacidade total de produção em 2030. Para isso a União Europeia necessidade de investimento nesta área que se projeta que ronde um trilião de euros até 2020, e 2,5 triliões de euros até 2025. 
Portugal tem assim procurado fomentar a eco-inovação e a utilização eficiente dos recursos energéticos, hídricos e materiais. Graças ao seu “cluster” de energias renováveis, entre 2010 e 2014, e segundo Associação de Energias Renováveis, os benefícios líquidos das fontes de energia renovável, na produção de eletricidade, ascenderam a 2,7 mil milhões de euros, sendo que 55% provêm dos operadores e fabricantes. A energia eólica foi aquela que mais contribuiu, com 1.500 milhões de euros, seguida pela energia hídrica, que foi responsável por 910 milhões de euros. Segundo a mesma associação, em 2013, as energias renováveis terão já evitado importações no valor de 1.479 milhões de euros, reduzindo em 12,3, % para 71,7%, o peso das compras de energias fósseis, como carvão e gás natural ao exterior. 
Outro ponto em destaque é o impacto ambiental, ao nível das emissões de CO2 evitadas pela substituição da produção a partir de centrais térmicas a carvão e gás natural. Em 2013, esse valor foi de 10,6 milhões de toneladas de CO2, equivalente a um ano de emissões do parque automóvel nacional. Até 2020, o estudo prevê que se possa poupar, com base no aumento da capacidade de produção renovável e na previsível subida das licenças de CO2 no mercado internacional,187 milhões de euros. 
Em suma, e embora nestes últimos anos tenha existido uma desaceleração nesta sector provocado pela crise económico-financeira que culminou na intervenção da ‘troika' e no corte dos apoios ao sector, espera-se, que até 2020 31% das fontes energéticas sejam renováveis (60% na eletricidade e 10% nos transportes) – o que faz de Portugal um dos melhores países do mundo em política climática. Além disso, esta área de negócio deverá criar em Portugal perto de 18 mil novos postos de trabalho, representando um acréscimo de 40% face a 2013. A chamada eletricidade verde contribuirá ainda com cerca de mil milhões de euros para o Produto Interno Bruto (PIB), mais 40% do que a riqueza gerada no ano passado. Dito isto, parece haver motivos mais que suficientes para uma aposta neste sector estratégico.   

Telmo Filipe Lino Martins

Fontes: 
Ministério do Ambiente, Ordenamento do Território e Energia;
Associação de Energias Renováveis - Estudo sobre “Impacto macroeconómico do setor da eletricidade de origem renovável em Portugal” (http://www.apren.pt/

[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho] 

Prestações Sociais e Pobreza em Portugal

Recentemente foram publicados dois relatórios sobre Portugal, um da OCDE sobre o desempenho da economia nacional, e um outro da Unicef sobre o impacto que a crise está a ter nas crianças. Sendo dois relatórios distintos, tocam-se e cruzam-se num ponto essencial: a importância das prestações sociais.
A OCDE diz que Portugal é um dos países da Organização onde as despesas sociais menos corrigem as situações de pobreza, não porque o Estado não gasta o dinheiro mas porque, aparentemente, gasta-o mal. O mexicano Angel Gurría (Secretário Geral da OCDE) identificou 13 prestações sociais em Portugal onde recomendou que se colocasse um tecto à acumulação desses benefícios. O objectivo seria incentivar os beneficiários a regressar ao mercado de trabalho e evitar situações de fraude ou de abuso de benefícios aos quais na realidade não tinham direito, para uma repartição de rendimentos justa, de forma a reduzir as assimetrias sociais e ajudar aqueles que mais precisam. 
Infelizmente em Portugal, muitas pessoas/famílias preferem viver daquilo que o Estado lhes garante do que procurar um emprego, e esse “parasitismo social” tem efeitos nefastos para a Segurança Social, que, por sua vez, já de saúde instável, continua a redistribuir mal as prestações, sendo muitas vezes quem mais precisa o mais prejudicado.
A ideia não é nova. O Governo, no Orçamento do Estado, também veio propor uma medida semelhante, em que a soma das prestações sociais teria um limite. E esse limite seria o salário médio dos trabalhadores não qualificados.
Até aqui, OCDE e Governo estão de acordo. Onde começam a divergir é sobre o que fazer com o dinheiro que se poupa ao colocar um tecto aos benefícios sociais. E o Governo não sai muito bem na fotografia. Enquanto a OCDE sugere que a poupança seja utilizada para subir o valor do rendimento social de inserção (RSI), de forma a reduzir as assimetrias de rendimentos em Portugal (de notar que Portugal se assume como o sexto país da União Europeia onde há mais desigualdade entre ricos e pobres), o Governo prefere canalizar a poupança (100 milhões) para o Orçamento. Ou seja, enquanto a OCDE propõe uma redistribuição mais justa das prestações sociais, o Governo pretende obter uma poupança orçamental. Não existe nenhum mal nos nossos governantes quererem poupar (talvez seja melhor ideia do que investir em submarinos e infra-estruturas de defesa nacional), mas pelo menos aumentem as condições de vida daqueles que pior vivem no nosso país.
E é neste ponto que o relatório da OCDE se cruza com o da Unicef, que faz um retrato dramático sobre a situação das crianças que estão a ser vítimas da crise. Os números mostram que em Portugal havia 560 mil crianças em risco de pobreza e exclusão social. Para a Unicef, o desemprego (dos pais das crianças) é meio caminho andado para se chegar a uma situação de pobreza. O resto do caminho faz-se porque o Estado tem vindo a cortar de uma forma significativa o apoio às famílias. Segundo a organização, por exemplo, 546.354 crianças perderam o direito ao abono de família entre 2009 e 2012.
Na comparação com o exterior, Portugal também não sai bem na fotografia. Em 2009, o Estado português investiu 1,7% do PIB em despesas com prestações familiares, contra os 2,6% da média da OCDE.
Naturalmente que em tempos de crise, mais do que nunca, o Estado deve gerir bem o dinheiro público e evitar que as prestações sociais funcionem como forma de desincentivar o regresso ao mercado de trabalho. Mas também é por estarmos em tempos de crise que deve ser exigido ao Estado bom senso na altura de cortar os benefícios sociais aos que menos têm. Não podemos chegar a uma situação em que consideremos normal repetidos depoimentos como os de Fernando, de 14 anos, que aparece no relatório da Unicef a dizer: "Quando não há comida, os meus pais fazem isto: deixam de comer para nos dar à gente." Penso que não há necessidade de termos tão pouca gente com tanto e tanta gente com pouco. Não há necessidade de haver fome, num país com valores solidários e hospitaleiros como o nosso, muito menos de crianças, que não têm a menor culpa da crise onde estamos mergulhados… É tempo dos nossos governantes irem á realidade de quem vive mal, de quem tem um salário mal pago e filhos para alimentar, despesas para pagar, uma vida trabalhadora mas que por vezes não chega para satisfazer as necessidades de todos os elementos do seu agregado familiar. É tempo de retirar àqueles que recebem sem precisarem, “parasitas” sociais que, através de benefícios concedidos pelo Estado, vêem o seu rendimento aumentar sem nada fazer por isso, muitas vezes sem precisarem de um cêntimo dessas contribuições… E mais uma vez é o pobre que se sujeita…
Estima-se que em Portugal 1 em cada 4 pessoas viva abaixo ou no limiar da pobreza (cerca de 25% da população). Há hoje em dia relatos de fome, de crianças a idosos, que muitas vezes não têm certezas do amanhã, enquanto pequenos grupos continuam a viver à custa dos outros, à custa dos bolsos dos contribuintes só porque, muitas vezes, não lhes apetece trabalhar. Será que os nossos governantes andam de olhos vendados? É dificil ver futuro numa sociedade em que os ricos estão cada vez mais ricos e os pobres cada vez mais pobres…

Afonso Pereira

Referencias

[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho] 

segunda-feira, 27 de outubro de 2014

Dívida pública portuguesa

A dívida pública de Portugal, também denominada como dívida das administrações públicas, é o valor que o estado português deve, externa e internamente, através dos seus diversos compromissos financeiros. 
Houve dois períodos desde princípios do séc. XXI em que a dívida pública portuguesa teve um crescimento acentuado. O primeiro foi a partir do ano 2000, em que esta começa a ter um crescimento acentuado, o que viria a contribuir para criar no país uma crise estrutural. Todavia, o grande salto que se faz na dívida pública, em paralelo com o resto da Europa, é no período pós-2008, ou seja, após a crise internacional da Grande Recessão, que provocou a crise das dívidas soberanas. Sendo a dívida apresentada em percentagem do Produto Interno Bruto, ela é na realidade apresentada como um rácio. Assim o aumento da dívida após 2008 resulta também do facto de, estando o PIB a diminuir, aumenta-se o referido rácio, mesmo que em teoria, em valores absolutos, a dívida não aumentasse.
Houve alguns factores, desde o início do programa de ajustamento financeiro que teve início em 2011, que fizeram crescer a dívida pública, mesmo tendo havido corte da despesa. Tendo havido recessão e sendo a dívida apresentada como um rácio, este aumenta exactamente porque o PIB diminui. Uma boa parcela da dívida até 2011 estava "oculta", pois apesar de tecnicamente ser pública, a mesma não era apresentada na contabilidade oficial da dívida. Desde 2011 que essa dívida tem passado gradualmente para o domínio do Tesouro, ficando as empresas públicas obrigadas a financiarem-se junto do Orçamento de Estado e não da banca comercial. 
Falando mais precisamente em estatísticas, Portugal apresentava em 1991 uma dívida de 54,9%. No final de 2013, a dívida pública de Portugal situava-se em 129,4% do PIB, cerca de 215 mil milhões de euros, aproximadamente 20 mil euros por habitante. O valor em causa (130% do PIB), corresponde aproximadamente a 1 ano e três meses de produção nacional. 
Entre 1995 e 2000, Portugal manteve uma dívida pública, em percentagem do PIB, substancialmente inferior à média da Europa. O grande salto para o endividamento faz-se no período 2000 a 2008, antes da crise internacional. Em 1995, só 4 países tinham dívidas mais baixas do que o nosso país. Nenhum país conheceu neste período maior acréscimo do peso da dívida.
Como seria de esperar, a razão encontrada para o grande endividamento público português terá sido o resultado da necessidade de responder à crise internacional. O mau comportamento dos agentes privados provocou a crise à qual os poderes públicos ocorreram, aumentando a despesa e dívida públicas para suportar os encargos sociais acrescidos pela crise e estimular a economia. No entanto, esta explicação para o enorme endividamento público não é correcta, nem para Portugal nem para a Europa em geral. Isto porque o grande arranque da dívida pública portuguesa dá-se a partir de 2000 e não apenas, como na Europa, após 2008. Só em Portugal (42,1% contra 40,8%) e Alemanha ( 10,8% contra -5,9%) o crescimento do peso da dívida pública foi superior ao da dívida privada. 
A narrativa que atribui à crise o insuportável endividamento publico português não é apenas uma atrevida e errónea interpretação do passado. Ela serve o desígnio de alimentar a insistência nos mesmos erros de política económica que nos trouxeram à desgraçada situação de falência: sempre mais dívida, agora trasvestida de euro-obrigações, obrigações de projecto, acréscimo de créditos e de massa monetária do BCE e o mais que por aí circula loucamente. Justifica-se, assim, duplamente a sua contestação. 

Letícia Fonseca

Fontes
http://www.jornaldenegocios.pt/economia/detalhe/divida_publica_subiu_para_1324_no_primeiro_trimestre.html

[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho] 

domingo, 26 de outubro de 2014

Portugal, um país envelhecido

Portugal apresenta modificações demográficas de ampla escala e com importantes repercussões sociais, económicas e culturais. A evolução demográfica em Portugal, no passado recente, caracterizou-se por um gradual aumento do peso dos grupos etários seniores e uma redução do peso da população jovem. O efeito cumulativo da diminuição das taxas de mortalidade e de natalidade ao longo de várias décadas tem vindo a alterar o perfil demográfico da população portuguesa, cujo traço mais marcante é o progressivo envelhecimento da sociedade portuguesa.
Observa-se um estreitamento relativo da base da pirâmide de idades (isto é, menor peso de efectivos populacionais jovens) e um alargamento do topo (aumento relativo de efectivos populacionais idosos). A população idosa ocupa cada vez mais um papel fundamental na estrutura da nossa sociedade. 
Esta melhoria da esperança média de vida dos portugueses tem sido muito expressiva na segunda metade do séc. XX: em 1940, os homens tinham uma esperança média de vida de 48,6 anos e as mulheres de 52,8. Em 1993 era, respectivamente, de 71 e 78,1 anos. Em 2009, os dados demográficos do Eurostat apresentavam, para Portugal, uma esperança média de vida à nascença de 76,5 anos para os homens e 82,6 para as mulheres.  
 Os ganhos significativos da saúde em Portugal, ao longo das últimas décadas, constituem uma base importante para a melhoria do bem-estar, nomeadamente das populações idosas. 
Segundo o último relatório anual do Conselho da Europa sobre a "Evolução demográfica recente na Europa", os portugueses serão menos um milhão em 2050 e a população estará ainda mais envelhecida, havendo perto de 2,5 idosos por cada jovem. A população idosa deverá praticamente duplicar ao longo dos próximos 40 anos, prevendo-se que venha a pesar 32% do total da população residente em Portugal em 2050, enquanto a população jovem só deverá vir a representar cerca de 13%.
Por estas razões, Portugal é o sexto país mais envelhecido do mundo e, em 40 anos, passou de um país com a maior taxa de natalidade da Europa para detentor de uma das taxas de natalidade mais baixas.
Perante este cenário, a conclusão é óbvia: a população portuguesa está a estagnar, a envelhecer e com falta de activos para suportar os custos do envelhecimento. O envelhecimento da população portuguesa deve-se ao contínuo decréscimo da taxa de natalidade, à redução da taxa de mortalidade e ao aumento da esperança média de vida. Este último dado resulta da melhoria das condições de vida, dos progressos da medicina e da melhoria da assistência médica. A esperança média de vida está directamente relacionada com o grau de desenvolvimento dos países, o que significa que quanto mais desenvolvido for o país maior será o número de anos que o indivíduo terá, à nascença, probabilidade de viver. 
No entanto, será que estamos a fazer os esforços necessários para combater o envelhecimento da população portuguesa? Existem incentivos para o aumento da taxa da natalidade? O abono de família é suficiente para manter um filho? Existem subsídios satisfatórios de nascimento? Não! Daí os casais terem filhos cada vez mais tarde e em menor número. Por estas razões, a população idosa está a ganhar cada vez mais peso relativamente à população jovem. 
Por tudo isto, Portugal será crescentemente um país de velhos!

Letícia Fonseca

Fontes: 
http://www.publico.pt/sociedade/noticia/portugal-e-o-sexto-pais-mais-envelhecido-do-mundo-1611852 

[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho] 

Violência doméstica mata cada vez mais!

Tem-se tornado mais perigoso viver em Portugal. Não há segurança nas ruas, nas casas e muito menos se faz justiça perante certos acontecimentos. Um desses casos, e muito grave, é a violência doméstica. Acho importante falar deste tema não só pelo facto de eu ser mulher e achar repugnante o poder abusivo de certos homens, que por vezes se designam como maridos ou namorados, mas também porque a violência doméstica é o fenómeno criminal que dá origem a mais inquéritos (no entanto, 75,3% dos casos acabam arquivados).
A mulher continua a ser a principal vítima de todos os tipos de crime, com 80% dos crimes praticados contra o sexo feminino. O autor do crime é predominantemente do sexo masculino (78%). Traçando o perfil da vítima de crime, com base nos dados recolhidos pela Associação Portuguesa de Apoio à Vítima (APAV), verifica-se que: a vítima é mulher; tem entre os 35 e os 40 anos ou mais de 65 anos; é portuguesa; é casada; tem a sua família nuclear com filhos; trabalha por conta de outrém e reside nas grandes cidades.
De acordo com as Estatísticas/Relatório Anual 2011, 19 mulheres por dia foram vítimas de violência doméstica em Portugal, nesse mesmo ano. No total, foram registados 15.724 crimes de violência doméstica contra as mulheres.
Segundos os dados da GNR e da PSP, em 2012, morreram 37 mulheres e foram registadas 26.084 queixas, cerca de mais 10.000 do que no ano anterior. 
Em 2013 foram assinaladas 27.318 participações, correspondendo a um aumento de 2,4 relativamente a 2012.
Agravando a situação, apenas no primeiro semestre de 2014, conseguiu-se registar um aumento de 2,3%, em que 24 mulheres foram assassinadas e foram recebidas 13.071 queixas, mais 291 do que no mesmo período do ano anterior. A PSP registou 7574 denúncias nos primeiros seis meses do ano (mais 1,7%) e a GNR 5497 queixas (mais 3,1%). Em 42% dos casos, o crime foi cometido pelo marido, companheiro, namorado, e em 37% pelo ex-marido, ex-companheiro, ex-namorado.
A maioria dos homicídios praticados ocorre com arma de fogo, arma branca, por espancamento, asfixia ou estrangulamento. A residência surge como o local mais perigoso, onde ocorreu a maioria dos homicídios, seguindo-se a via pública e o local de trabalho. 
Perante este número, conclui-se que “a permanência em relações violentas aumenta o risco de violência letal, considerando-se assim a violência doméstica como um preditor do femicídio e tentativa do mesmo”.
Com o passar dos anos, esta questão deveria ter tomado outros rumos. Não é seguro viver nem manter relações em Portugal, visto que, falando como mulher que sou, não somos nem nos sentimos protegidas pelo nosso sistema de justiça. A mentalidade portuguesa não tem avançado no caminho certo relativamente a este delicado tema. Não existem quaisquer tipo de desculpas e explicações para os números acima referidos.
Olhando para os números antes apresentados e sua evolução, será legítimo questionar-nos se há alguma relação entre esses dados e a conjuntura económica que o país atravessa? O que podemos nós fazer para lutar contra isto? E, do ponto de vista da acção, será que é sensato ficar em casa com o marido/namorado sujeitas à violência ou isolar-nos do mundo com medo das consequências? Outras questões que podem ser levantadas são: de que vale apresentar uma queixa se sabemos que vai ser arquivada? Resta-nos deixar-mo-nos simplesmente morrer? Imensas questão que aparentam não ter respostas positivas para as mulheres do nosso país. Parece que a solução é suportar até à morte!
Todos devem saber: uma mulher morta que seja é sempre um número altíssimo…

Letícia Fonseca

Fontes

[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho] 

sexta-feira, 24 de outubro de 2014

Cortiça: uma imagem de luxo!

Portugal é um país com recursos úteis para a criação de novas ideias, sobretudo ideias inovadoras, e um bom exemplo disso é a cortiça.
A Associação Portuguesa de Cortiça (APCOR) foi criada com o objetivo de promover e representar a Indústria de Cortiça Portuguesa. Esta nasceu em 1956, em Santa Maria de Lamas, e associa empresas que visam a comercialização ou exportação de produtos de cortiça. 
A indústria corticeira tem diversos produtos, sendo as rolhas o produto corticeiro mais famoso, pois estas possuem diversos formatos e dimensões de forma a adequar-se às variadíssimas garrafas. Com o avanço tecnológico e com uma aposta no investimento e desenvolvimento das potencialidades da cortiça, rapidamente se concluiu que esta era útil para a construção de materiais com uso no setor automóvel, no isolamento e até no revestimento de pisos e paredes. Esta foi de tal forma explorada que acabou por atingir muitos mais setores, incluindo o setor do calçado e vestuário, onde se revelou um verdadeiro sucesso, uma vez que nos dias de hoje o material que provem da casca do sobreiro tornou-se numa imagem de moda e design. Para além disso, este produto é natural, reciclável e reutilizável, o que levou alguns países a promover a reciclagem deste produto. 
Desta forma, a APCOR delineou grandes objetivos, os quais consistem em expandir o mercado a nível nacional e aumentar a sua quota nos mercados emergentes, assim como posicionar a cortiça como material de valor acrescentado, em alguns segmentos.
Existem outros países exportadores de cortiça, no entanto Portugal é um dos países mais ricos em casca de sobreiro (716 mil hectares de montado de sobro), o que faz com que seja um grande exportador e, desta forma, a atividade tem um peso significativo na economia portuguesa (70% dessas exportações são as rolhas). Os principais importadores são a França, os Estados Unidos, a Espanha, a Itália e a Alemanha. Em 2012 a exportação deste setor atingiu os 845,7 milhões de Euros e 189,3 milhares de toneladas. Ao nível de produtos para consumo final, a indústria corticeira portuguesa é a quarta maior importadora, isto é, importa matéria-prima e exporta, depois, produto final.
Não foi só a APCOR que se internacionalizou no mercado da cortiça.  Também o famoso grupo AMORIM o fez, pelo que hoje é uma das maiores multinacionais empreendedoras com origem portuguesa.
A cortiça tornou-se também numa imagem de prestígio e classe por toda a Europa, visto que vários países aderiram ao seu uso das mais diversas formas. Um desses exemplos encontra-se em Amesterdão, onde a cortiça proporcionou uma imagem de luxo à discoteca ”Jimmy Woo”, uma vez que Eric Kuster (designer de interiores holandês) diz que “com a cortiça é possível criar uma imagem que respira luxo, sem comprometer as qualidades robustas e naturais do produto.” Também os designers Alzira Peixoto e Carlos Mendonça criaram, em 2004, a Simple Forms Design, e ficaram conhecidos como "designers da cortiça" após a coleção "Cork” (criação de objetos de cortiça para casas de banho) que valeu o prémio Red Dot Design Award, em 2008. Esta empresa sente-se condicionada pela crise económica na Europa e como tal também aposta em mercados emergentes, como a Ásia.
É de um aproveitamento eficiente dos recursos naturais de que dispomos que surgem as “ideias brilhantes” como o aproveitamento da cortiça, no entanto estas mesmas ideias podem deixar de o ser, daí ser importante adquirir novas linhas e procurar mercados que ajudem ao crescimento. Um bom exemplo disso é o facto de antes a cortiça se associar a rolhas e hoje a cortiça ser também sinónimo de design. Assim, com uma aposta na investigação e desenvolvimento este mercado foi crescendo e originando novos projectos, entre eles a" Rolha 'inteligente'” (desenvolvida na Universidade de Aveiro), que nos permitirá saber se um vinho é bom ou mau.
Adam Smith dizia que “o verdadeiro valor das coisas é o esforço e o problema de as adquirir”. Mas é exactamente com este esforço na produção de novos e inovadores produtos com qualidade que muitas vezes se abre um caminho para a internacionalização, e surge a possibilidade de gerar mais emprego e promover o I&D (investigação e desenvolvimento). Desta forma o importante não é apenas a criatividade, mas sim tomar a iniciativa.

Ana Isabel Lamas Nunes

Referências:
Expresso
Diário de Notícias 
APCOR
AMORIM

[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho] 

quinta-feira, 23 de outubro de 2014

Portugal: um dos mais importantes países turísticos europeus!

Portugal foi um país vanguardista na institucionalização do turismo, há um século, e tornou-se um dos mais importantes países turísticos europeus. Os seus recursos naturais e culturais e os produtos e destinos turísticos próprios, reconhecidos nacional e internacionalmente, são aspectos relevantes quando pensamos e falamos de como ultrapassar a crise actual. 
Até inícios da década de 60, o movimento de turistas em Portugal era bastante modesto. Desde então registou-se um aumento muito significativo, a ponto do turismo assumir hoje uma importância económica extraordinária em Portugal, quer pelas receitas financeiras directas e indirectas geradas, quer pela criação de emprego. 
Um dos aspetos fundamentais para a mudança é, certamente, o turismo com a inovação. Mas como?
Segundo Jorge Mangorrinha, presidente da comissão nacional do centenário do turismo em Portugal, “é determinante a aposta, designadamente, nas redes de conhecimento, externa e internamente, para a afirmação do turismo português como valor económico e cultural perante os mercados. O papel das redes é fundamental para a gestão da inovação e consequente melhoria da competitividade do sector turístico, a que se associa o impacto das tecnologias e das indústrias criativas e culturais na potenciação dessa inovação.
Internamente, a diversidade e a biodiversidade do nosso país sempre potenciaram a criação de produtos, destinos e marcas valorativas de uma estratégia turística nacional que, por sua vez, se deve articular, coerentemente, com a própria marca do País.”
Ao longo de 2013, crescemos nas taxas de ocupação, nos visitantes e nas receitas médias, conquistamos mais do triplo dos prémios do que no ano 2012 e o nível de satisfação dos turistas que nos visitaram e a vontade de regressar ultrapassou a barreira dos 90%.
O número de turistas estrangeiros a procurar  Portugal cresceu significativamente na última década, registando-se um aumento  superior a 2,5 milhões de pessoas entre 2004 e 2013.
Assim, depois de ter fechado 2013 com crescimentos recordes em receitas e dormidas, o sector do turismo volta a surpreender pela positiva. De acordo com os dados da actividade turística divulgados pelo Instituto Nacional de Estatística (INE), no primeiro mês de 2014, a hotelaria registou 1,7 milhões de dormidas, uma subida homóloga de 10,1% e mais 8,6% face a Dezembro do ano passado.
O INE justifica este desempenho com o contributo dos turistas residentes, cujas dormidas em unidades hoteleiras aumentaram 9,6%, assim como dos não residentes, que registaram um crescimento de 10,3%. No que se refere aos principais mercados emissores, o destaque vai para os crescimentos das dormidas dos hóspedes oriundos da Irlanda, França e Brasil. 
Os dados do INE revelam ainda que a taxa de ocupação situou-se em 22%, mais 1,7 pontos percentuais face ao mesmo período em 2013.
Com isto, o sucesso caberá aos destinos que souberem adoptar as estratégias mais criativas e em que o sector público adopte as políticas adequadas para facilitar o desenvolvimento das empresas turísticas, em cooperação permanente com o sector privado, tendo em conta as suas necessidades e tentando ajudar na resolução dos seus problemas, sem se substituir a ele. 
Felizmente, a oferta turística tem crescido, com sinais de qualidade e diversificando as experiências disponíveis, e Portugal soube manter-se no grupo dos países que se adaptaram às novas tendências. Estamos, na minha opinião, no caminho certo e os resultados estão à vista - o sector do turismo é o que mais contribui para o PIB, para a exportação de bens e serviços e para a criação de emprego.
Contudo, não basta as diversas características incríveis que temos - clima, paisagem, história e cultura, gastronomia, vinhos –, não chega ter infra-estruturas e equipamentos de grande qualidade, empresários empenhados, profissionais qualificados, uma tutela atenta e disponível e reconhecimento internacional junto das entidades e organizações ligadas ao sector. É importante não esquecer que a concorrência é feroz. Portugal tem de reinvestir em novos produtos e serviços, identificar novos mercados, apostar em mais promoção e, sobretudo, saber reunir todos os agentes do sector em torno de uma estratégia comum de crescimento e inovação. Só assim seremos capazes de colocar Portugal na restrita linha da frente dos destinos mais procurados do mundo. 

Susana Costa

[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho] 

quarta-feira, 22 de outubro de 2014

Desemprego camuflado

Tem-se vindo a falar de uma redução do desemprego e dos “sinais” de retoma da economia, registando-se, efetivamente, uma redução da taxa de desemprego oficial. Mas será assim tão certo que estamos perante uma maior empregabilidade e uma diminuição real da taxa de desemprego?
Podemos começar por decifrar o que não entra para o cálculo da taxa de desemprego. Há uma franja da população que estando desempregada não conta, no entanto, para a taxa de desemprego, nomeadamente os desempregados que não procuram um emprego (“inativos desencorajados”), todos os desempregados inseridos num curso de formação profissional e programas de emprego (que não se traduzem na integração direta no mercado de trabalho), mais conhecidos como “desempregados ocupados” e a população emigrada.
Nos últimos anos, o Governo incentivou a formação profissional e foi criando vários programas com o objetivo da integração dos desempregados, resultando toda esta “integração” numa diminuição do desemprego, o que não corresponde totalmente à verdade. Será que um desempregado que seja inserido num programa para formação ou estágio profissional estará realmente “empregado”?
Quanto à primeira questão, as diversas ofertas formativas de pequena (Formação Modular), média (Formação Profissional Qualificante) e longa duração (Formação de dupla Certificação – escolar e profissional) têm vindo a crescer significativamente nos últimos anos, em consonância com o aumento do desemprego. A população envolvida nestas formações não é considerada desempregada durante o percurso formativo, sendo designada como colocada. Apesar destes não estarem efetivamente empregados são dados como ocupados, tendo este número aumentado significativamente de 2009 a 2014. Dados do Instituto do Emprego e Formação Profissional (IEFP) confirmam este crescimento, registando-se atualmente 160.647 ocupados (média mensal), em comparação com 31.479 no ano 2009. Desta forma, uma parte significativa de desempregados foge às estatísticas.
No que respeita aos estágios profissionais, a resposta não é totalmente positiva, pois apesar dos estágios oferecerem uma oportunidade de experiência prática em contexto de trabalho, que pode ser bastante interessante para jovens que procuram o seu primeiro emprego e nunca tiveram contacto com o mundo do trabalho, não garante um emprego futuro e desta forma, no curto prazo, permite mascarar os números do desemprego. De acordo com o IEFP, em setembro de 2014 estavam abrangidos 57.716 indivíduos na medida estágios emprego.
Também os emigrantes, empurrados em busca de novas oportunidades, rejeitando o futuro incerto que teriam de enfrentar em Portugal e tentando melhorar a sua qualidade de vida, contribuem para estes “bons resultados” que o Governo gosta de proclamar. Entre 2008 (quando se iniciou a crise) e 2012, o fluxo de emigrantes mais do que duplicou, subindo nestes 4 anos 155%. Esta tendência de crescimento da emigração continuou, registando-se um aumento de 51.958 emigrantes permanentes em 2012 para 53.786 em 2013, segundo o Instituto Nacional de Estatística (INE). Estes emigrantes, na sua maioria, tentaram enfrentar o mercado de trabalho, o que se torna difícil nas condições que Portugal atualmente apresenta, acabando por fazer parte da elevada taxa de desemprego. A sua saída do país alivia desta forma os números do desemprego.
Podemos então concluir que esta redução de desemprego não advém, apenas e só, de uma “retoma” do crescimento da economia decorrente do “sucesso do ajustamento”, como o Governo gosta de fazer transparecer, mas tem por trás diferentes causas que passam muito ao lado de um “sucesso” do ajustamento ao qual Portugal esteve (e ainda está!) a ser sujeito. Arriscaria até dizer que se trata do oposto, pois um ajustamento que leva as pessoas a não terem alternativa senão deixar o seu país e família, viver em constante mudança e sobressalto, mudando de curso profissional em curso profissional, sem ter boas perspetivas para o futuro, não é um ajustamento feliz. Pode até ter resultado numa diminuição dos valores oficiais da taxa de desemprego, mas não numa real redução do desemprego.

Francisca Braga

Bibliografia:
Instituto Nacional de Estatística: www.ine.pt
Instituto do Emprego e Formação Profissional: www.iefp.pt
“Informação Mensal do Mercado de Emprego”, Setembro 2014:
“Relatório de Execução Física e Financeira”, Setembro 2014:
https://www.iefp.pt/documents/10181/747525/Relatorio+de+Execu%C3%A7%C3%A3o+Financeira+setembro+2014.pdf/5649afcd-bec5-4397-8bfc-7f062b98d71d

[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho] 

domingo, 19 de outubro de 2014

Competitividade das Empresas Portuguesas

Portugal recupera três lugares no índice mundial da competitividade elaborado pela escola de negócios IMD, passando do 46.º para o 43.º lugar entre 60 economias analisadas. Esta é a primeira evolução positiva registada desde 2010, mas ainda está longe da 37.ª posição que ocupava nessa altura. 
A competitividade das empresas é a capacidade de gerar lucro ou maior lucro tendo em conta a concorrência; é ter foco no cliente e no mercado. A competitividade das empresas portuguesas passa hoje pela capacidade em se afirmarem como um fornecedor para o mercado global. Nesse sentido, as empresas devem destacar-se pela qualidade dos produtos e serviços, bons preços, personalização e melhoria contínua do produto. 
Os principais desafios de Portugal para aumentar a competitividade que são apontados pela Comissão Europeia compreendem o difícil acesso ao crédito por parte das pequenas e médias empresa, o desajuste entre o sistema educativo e as necessidades do mercado de trabalho, que são notórias dados os elevados níveis de desemprego que o país enfrenta. “A economia não está a absorver os jovens mais qualificados e o desemprego de licenciados aumentou persistentemente nos anos mais recentes”, recorda a Comissão. 
Atualmente, é cada vez mais importante para as empresas o investimento numa oferta diferenciada e inovadora para atrair o investimento internacional. Um exemplo de competitividade em Portugal é o sector do vinho, que tem um reconhecimento internacional inquestionável, destacando-se não só pela qualidade e relação qualidade-preço mas também pela sua capacidade de inovação do produto e estratégia de promoção. Outro exemplo de sucesso é a Renova, uma vez que, na última década, o volume de negócios da empresa cresceu mais de 60 por cento e cerca de 50 por cento das suas vendas são fora de Portugal, sendo Espanha, França, Bélgica, Luxemburgo e Angola os mercados externos onde está mais presente. “A inovação e a persistência têm sido os motores que permitem à Renova continuar a entrar em novos mercados”, afirmam os responsáveis da empresa.
Em suma, as empresas portuguesas devem investir na qualidade, inovação, marketing, design, marca e recursos humanos qualificados de forma a conseguirem competir num mercado onde a concorrência é especialmente exigente. Assim, ao apostar no mercado internacional estão a impulsionar a economia portuguesa, aumentando as exportações e melhorando o saldo da balança comercial.

Sara Cristina Alves Ferreira

Fontes:
http://www.portugalglobal.pt/pt/portugalnews/documents/revistas_pdfs/portugalglobal_n36.pdf

[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho] 

Will Lithuania become independent from Russia supplied gas?

Till now Lithuania was dependent for 100% for its gas imports from Russian monopoly Gazprom. It is the largest extractor of natural gas in the world and one of the world's largest companies, which delivers gas to 25 European countries. In 2013 Gazprom delivered gas to the country for about $470-$480 per cubic meter, compared with the average $380 for the rest of the continent. 
The necessity to have an alternative energy source appeared following EU requirement to ensure alternative gas supply from 3rd December 2014. Furthermore, after shutdown of Ignalina Nuclear Power Plant, on 31 December 2009, Lithuania had become more dependent on natural gas import. For these reasons, Lithuania government has started and will soon finish LNG terminal project and, I think, it will make a big impact in our independence from Russia gas.
Liquefied natural gas (LNG) terminal is one of the most important Lithuania‘s energy projects. It will improve energy security situation in the country, create conditions for natural gas market in Lithuania and provide economic boost for local economies and residents. 
The LNG terminal is designed to have sufficient capacity and flexible operating modes and, if necessary, it could essentially meet the overall Lithuania’s demand for natural gas. 
The vessel storage will be manufactured by a Norwegian company: Höegh LNG. The floating vessel – a storage facility with the regasification terminal shall be of 170,000 m³, it maximum pumping capacity 11 m m³/day, which corresponds to the average daily consumption of gas in Lithuania. Therefore, even in the case of termination of gas supply by pipelines from Russia, the terminal will remain capable of supplying sufficient quantities of gas to the national economy. The terminal will be constructed at the same time addressing technical issues concerning coordination of pipelines, reconstruction and operation of pumping stations to ensure that in the future the capacities of the terminal are operated to their full extent.
Even if the LNG market remains less economical than long-term contracts with Gazprom, the mere presence of the floating LNG terminal would strengthen Lithuania’s bargaining position with Gazprom for long-term contracts. This has already been demonstrated when Lithuania, in May 2014, re-negotiated its gas contract and, for the first time since declaration of independence, received a price cut. Gazprom agreed to cut Lithuania’s gas price to $370, a reported discount of about 20 percent. From July 2014, Lithuanian consumers can expect to pay 15-24% less. 
The Klaipeda terminal would not only prevent Russia from threatening gas cut offs, but also deprive Moscow the opportunity to raise gas prices as a means of exerting political concessions. Once the LNG terminal is operational, the effects of Gazprom’s theoretical gas embargo on Lithuania are greatly reduced, as Lithuania could cover its short-term demand via LNG. Also Lithuania serves as a gas transit state to the Russian territory of Kaliningrad. In other words, the same gas pipeline feeding Lithuania, also supplies the Russian enclave. According to this argument, Moscow would be hesitant to turn off the gas supply to Lithuania because it would result in an automatic cut in the gas supply to Kaliningrad. However, the risk of a gas cut from Moscow remains in the long-term, particularly as the tensions between Russia and the West intensify. Lithuania will now be connected to a rapidly growing global LNG market, providing increased flexibility for gas importers.
In the end, I think that it is not as if Lithuania has achieved energy independence from Russia. But we got alternative supplier and prices cut, so the deal with the Norwegian company gives hope that gas supplies might finally be exempt from political manipulations.

Mantas Skroblas

[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]  

Social insurance

In Lithuania, the state social insurance is the major part of the system of social security. The key aim of the system of social security is to guarantee revenues for the insured in the event of the loss of working capacity in the result of a disease, maternity, old age, disability and in other cases specified in the Law on the State Social Insurance. The State social insurance, as well as social security, is based on the fundamental principles of universality, solidarity and other principles. From the very beginning, the system of social insurance had to be independent. This manifested in the separation of the social insurance budget from the state budget and the development of a tripartite the state social insurance management system. 
The financial sustainability of social insurance benefits is one of the key issues when making decisions with regard to the further development of social insurance. Forecasted ageing, interests of separate social groups, different ideologies and different social policy measures applied in other countries have encouraged and still encourage politicians, representatives of financial institutions, scientists, residents and other interested groups or persons to constantly raise the issue of sustainability of the financial system of social insurance, analyse possibilities of  this system for optimum implementation of obligations.
The history of independent Lithuania has witnessed several crises in the system of social insurance, when the system of social insurance was not capable of performing its obligations for a certain period of time. The disability to perform its obligations, i.e. to balance the monetary flows of the budget, is determined by a negative impact of macroeconomic factors or too many obligations (political risk aspect). Therefore, the year of 2013, as well as the preceding several years, may be called a period of regular savings and new challenges, since the country is still facing economic and financial outcomes of the financial crisis, which influence the State Social Insurance Fund budget (hereinafter referred to as SODRA budget), resulting subsequently in the deficit of the budget. 
The expenses of the SODRA budget have been exceeding its revenues for the seventh year in the row taking into consideration the forecasts of the SODRA budget revenues and expenses in 2014. This means that a share of pensions and other benefits are annually paid from borrowed funds.
Since 1st January 2013, a new procedure for calculating pensions came into effect. Pursuant to this procedure, the supplementary part of the state social insurance pension is calculated according to the whole insured period of the person and his insured income since 1st January 1994. Upon a person’s request, his pension may be awarded and calculated in line with the previous procedure with regard to his salary received in the period from 1st January 1984 to 31 December 1993. This procedure allows a person to choose the most suitable method of pension calculation and the amount of the pension increases, respectively. These measures influence the increase of the average old-age pension. According to the data of the State Social Insurance Fund Board under the Ministry of Social Security and Labour (hereinafter referred to as SODRA), the average old-age pension increased from 816.2 LTL~236,39€ (December 2012) to 862.42~249,77€ (September 2014). 
Social insurance is a service of regular collection of funds, which is also used to pay benefits, and this usually does not depend on the amount of contributions made, since benefits are awarded if the specified requirements are  met. This mechanism is more typical for social assistance system and some other benefits (in kind) which are paid from the state budget. However, it would be expedient to purify the basic principles in the system of the state social insurance. On one hand, the amount of some state social insurance benefits are more related to a person’s current or past salary, but on the other hand, some state social insurance benefits are not related to this kind of salary. However, exceptional privileges and rights for separate social groups or representatives of certain professions emerged in the system of the state social insurance.
The system of social security remains the field mostly striving for reforms and specific actions, therefore, a more sustainable Lithuanian social model covering the increase of employment, improvement of the regulation of labour relations and increase of the sustainability of social insurance is being developed. It is planned to implement project by using the support of the European Union structural funds. This method provides possibility to perform qualitative research by attracting not only Lithuanian scientists and experts, but also foreign researchers and experts, including social partners.
The key problems which encourage the development of a new social model of Lithuania are: the current legal regulation in the field of pensions does not allow ensuring durable financial sustainability of the pensions system; and benefits  do not efficiently reflect people’s contributions to this system, what, in turn, means insufficient adequacy of benefits. Economic development requires far more flexible labour relations, which would influence the establishment of new vacancies, contribute to employment reduction, youth employment, reduce illegal work or avoidance to register actual working time and modernise the labour market. 
The evaluation of the flexibility of labour relations means the evaluation of flexibility of the working time, complexity of employment and dismissal costs. In Lithuania, the regulation of the working time has received very unfavourable evaluation. Low level of labour force activity, shortage of qualified workers, inconsistency of the demand and supply of skills, which is further increased by high level of emigration, are the most important and concern-provoking problems, the variants of solutions to which should be offered not only for a medium period, but also for a longer perspective.
It is expected that the results of the developed model will allow responsible institutions to perform a more qualitative state’s strategic economy policy for a longer period. This way, the complex of these solutions will have a positive impact on the system of state social insurance, which will become more integrated and solidary, and the model of social insurance will become more transparent and sustainable. 

Markas Abramovicius

[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]  

Unemployment in Lithuania

Unemployment

Unemployment occurs when a person who is actively searching for employment is unable to find work. Unemployment is often used as a measure of the health of the economy. The most frequently cited measure of unemployment is the unemployment rate. This is the number of unemployed persons divided by the number of people in the labor force.

Unemployment in Lithuania

According to the Labour Force Survey performed by Statistics Lithuania, in 2013, the unemployment rate amounted to 11.8% and was 1.6 percentage point lower than in 2012. The male unemployment rate in 2013 reached 13.1%, and the female unemployment rate reached 10.5%. Over the year, the male unemployment rate increased by 2.1 percentage point and the female unemployment rate by 1.1 percentage points. The rate of long-term unemployment reached 5.1% and was 1.5 percentage point lower than in 2012.

In the first quarter 2014 the unemployment rate reached 12.4%, and if compared to the same period of 2013, decreased by 0.7 percentage point. In the first quarter 2014 the male unemployment rate amounted to 13.9%, and the female unemployment rate to 10.9%. The rate of long-term unemployment reached 5.2% in first quarter 2014 and was 0.7 percentage point lower than in the same period of 2013.


Youth Employment and Unemployment

Based on Labour Force Survey, the youth (persons aged 15–24) employment rate in 2013 comprised 24.6%. Over the year, it increased by 3.1 percentage point. Over the first quarter 2014 the youth employment rate reached 25.9%. It increased by 1 percentage point over the quarter and by 2.4 percentage point over the year. In the first quarter 2014, every fourth person aged 15–24 was employed. At the same period, 261.9 thousand (67.1%) of residents aged 15–24 were economically inactive. 93.55 of them studied at schools of general education or vocational schools, colleges, universities.

The youth (persons aged 15-24) unemployment rate in 2013, if compared to 2012, decreased by 4.8 percentage point and reached 21.9%. In the first quarter 2014, the unemployment rate attained 21.2% and was 1.5 percentage points lower than in the same period of 2013.

In my opinion, the situation of unemployment is bad, namelly with the young people. Usually, just graduated university students can not find job. The government of Lithuania is trying to change the situation through the implementation of a priority measure of the Programme 2012-2016 of the Government of the Republic of Lithuania Programme. The Programme for the Increase of Employment 2014–2020 was adopted in 2013, by Resolution No. 878, of 25 September 2013, of the Government of the Republic of Lithuania. It aims attaining an integrated solution to current problems of residents’ employment by uniting business, education and labour market sectors, as well as by engaging social partners and municipalities into the process of employment policy formation.

The programme specifies the main aims (to encourage the establishment of job vacancies and labour demand, to increase the correspondence of labour force qualification to labour market needs, to integrate free labour resources into the labour market and to maintain them there) and the tasks to achieve these aims. An Inter-Institutional Action Plan aimed at achieving the aims and tasks as well as the planned results was drafted and approved by Resolution No. 204, of 26 February 2014, of the Government of the Republic of Lithuania.

Aira Janonytè 

[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]  

Investimento Verde

As energias renováveis tinham, no discurso de José Sócrates, um papel fundamental no desenvolvimento tecnológico e sustentável do país. E, de facto, o investimento surgiu, tendo sido construídas notáveis infraestruturas para que pudéssemos estar no patamar onde nos encontramos no quadro Europeu.
Em termos relativos, a energia elétrica produzida em Portugal a partir de fontes de energia “limpa” teve uma tendência crescente, tendo atingido o marco histórico de 53.7% no ano de 2010, tendo sido cumprido o objetivo de 45% definido para esse ano. Dados de 2012 apontam para um decréscimo deste rácio para 44.3% nesse ano, contrariando a tendência de anos anteriores.
Portugal, no âmbito destas novas diretrizes da UE, comprometeu-se a aumentar o peso do consumo total de energia através de fontes renováveis, sendo previsto que no ano de 2020 cerca de 31% da energia consumida seja “verde”. Esta é a 5º meta mais exigente entre os países membros, sendo apenas superada pela Suécia (49%), Letónia (40%), Finlândia (38%) e Áustria (34%). Em sexto lugar surge a Espanha (30%), com valor equivalente ao definido para a média coletiva da União.
Um investimento estratégico em termos de educação foi também feito, com a criação de Licenciaturas em Engenharia de Energias Renováveis em universidades como a de Trás-os-Montes e Alto Douro e a dos Açores, e Institutos Politécnicos de Viana do Castelo, Bragança, Leiria, Coimbra e Viseu (entre outros), zonas geográficas estas em que a potência instalada atinge valores assinaláveis, com atenção especial para Viseu (719.3 MW) e Coimbra (513.8 MW).
Atualmente, com o contínuo desinvestimento no sector em questão e na educação, os frutos colhidos desta aposta começam a fazer sentir os primeiros sinais de abrandamento, pelo que considero vital que seja novamente dado o devido valor a esta área. Ainda assim, temos todas as condições para continuarmos a liderar e a prosperar no futuro. Sendo o nosso país extremamente dependente do exterior em termos energéticos (infelizmente, os poços de petróleo não abundam por terras Lusas), é imperial tornarmo-nos cada vez mais eficientes e produtivos nesta área, e em constante inovação. Empresas como a EDP Renováveis, ENEOP e IBERWIND lideram no investimento em parques eólicos e já deram o salto além-fronteiras, e é este o sentido que eu e os da minha geração devemos tomar, com a consciência de que não teremos apenas benefícios económicos, mas também ambientais, no longo-prazo.

Pedro Marques de Abreu

[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]  

Jogo ´online`: regulamentar ou não?

De há alguns anos para cá, temos assistido em Portugal, como em toda a Europa, a um debate sobre a regulamentação ou não dos jogos ´online`. Embora o ministro Paulo Portas tenha anunciado a regulamentação dos jogos ´online` para breve, como medida para aumentar as receitas fiscais, a sua implantação está por agora atrasada. O Governo deverá apenas incluir no Orçamento de Estado um pedido legislativo para alterações fiscais. Incluído no orçamento, este pedido omitirá taxas a aplicar, com o intuito de gerar receitas virtuais de forma a atingir a meta do défice. Tendo como base taxas aplicadas noutros países da UE, o imposto rondará os 20 a 25 por cento.
Portugal, devido ao seu atraso na regulamentação do jogo ´online`, já possui muita informação sobre como lidar com este processo, tendo como exemplo os erros cometidos no processo de regulamentação. Antes de tomar qualquer medida, o governo português terá de olhar para os custos e benefícios dessa mesma medida, e decidir sobre o que é mais favorável. 
Devido ao Relatório Creutzmann, desde Novembro de 2011, os estados membros da UE tornaram-se aptos para impor medidas de combate ao jogo ´online` ilegal e de excluírem o seu acesso ao mercado de operadores. Há várias medidas que podem ser tomadas, como a proibição dos jogos ´online`, que levaria à morte do mercado e que não traria qualquer benefício para a economia portuguesa. Outra medida possível seria a de implementar um imposto, cujo taxa fosse superior à que os jogadores estão dispostos a pagar, o que levaria à morte do mercado também. Qualquer uma destas medidas não seria benéfica para a economia do país visto que os jogadores iriam continuar a jogar, mas noutros países. Tudo isto levaria a uma diminuição da receita fiscal devido ao facto de deixarem de pagar outros impostos, visto que por norma os jogadores são pessoas com poder de compra elevado. 
Não sendo nenhuma destas opções credível, é por outro lado necessário regulamentar o jogo ´online`, pois haveria milhões de euros provenientes desta regulamentação a entrarem nos cofres do estado. Creio que a medida mais inteligente seria seguir países como Inglaterra, Chipre ou Malta, que possuem uma taxa de imposto reduzida, e que, para além de aumentarem a receita fiscal com cidadãos do seu país, conseguem cativar jogadores de outros países que não estão satisfeitos com o tipo de imposto praticado nos seus países. Neste momento, dado que em Portugal a receita fiscal proveniente do jogo ´online` é nula, conseguir gerar milhões de euros através de cidadãos portugueses e ainda de outros países seria a medida mais viável.

Pedro Miguel Ferreira Pimenta 

[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]  

Berlim para capital da Europa… Uma perspectiva Federalista

Quando a ideia de uma moeda única na Europa começou a ganhar contornos reais, muitos economistas reagiram com surpresa. Num antigo publicado em 1992 no “The economist ” Martin Feldstein, professor na Universidade de Harvard, previu a atual crise Europeia baseando-se na sua análise que uma moeda única, sem um governo único ou um orçamento único para a zona, estava condenada a falhar. 
Décadas depois, já com a zona euro a funcionar tecnicamente desde 1999, o primeiro teste à sua sustentabilidade surge na forma de uma crise financeira global, em 2007, que leva a Zona Euro à crise em que nos encontramos. 
Muitos foram os erros de formulação da UEM que a levaram à atual situação: o restrito mandato do BCE em manter a estabilidade de preços sem nenhuma referência a problemas como o emprego ou crescimento económico; os objetivos pouco realistas, como manter a inflação abaixo dos 2%, quando nenhuma economia Ocidental o conseguiu por um alargado período de tempo; e um défice público abaixo dos 3%, valor este lançado nos anos 80 pelo presidente Mitterand, em França, sem grande explicação. Mas estes erros são apenas parte do problema pois, como Krugman afirmava em 2012, “A crise da dívida pública Europeia de 2010 mostrou a necessidade de alguma forma de capacidade fiscal centralizada para lidar rapidamente com a instabilidade financeira de um estado-membro inerentemente contagiosa”. 
Isto leva-nos à questão: como teria ajudado uma maior federalização fiscal na Zona Euro a suavizar a crise? Promovendo uma maior coerência  política entre os Estados-Membros da zona Euro. Reduzindo os pontos de vista conflituosos tornados públicos entre instituições europeias e Estados-Membros. Aumentando a confiança dos mercados. Isso teria permitido também uma maior redistribuição, partilha de risco e política fiscal contra-cíclica federal, que poderiam atenuar o efeito da consolidação nesses Estados. Tal teria reduzido a margem para endividamento através de regras fiscais mais restritas e da redução da capacidade de os Estados-Membros o fazerem por grande parte das receitas e gastos públicos estarem centralizados no sistema federal. Por fim, teria também ajudado a fortalecer a banca e a ter criado esquemas/mecanismos de resolução para a banca a nível da Zona Euro. 
No entanto, opositores de uma federalização diriam que existem muitas diferenças, por exemplo, entre a Zona Euro e os Estado Unidos, onde a federalização teve bons resultados, pois os Estados Unidos são compostos por Estados mais homogéneos. Mas até que ponto o eram por altura da federalização? Como escreve o biógrafo de Hamilton, Ron Chernow, “É popular hoje para os Europeus olharem para a formação dos EUA e dizerem que era inevitável, único e ocorreu numa sociedade homogénea e coesa. Os factos da matéria são mais complexos. As treze colónias que compunham os primeiros estados eram dispares na sua composição e tinham visto a sua existência em relação a laços com Londres, mais do que tinham visto entre eles próprios. As cidades americanas estavam cheias de imigrantes de todas as culturas Europeias, falando uma multidão de línguas, com o Inglês e o Alemão sendo os mais dominantes. Grandes diferenças culturais existiam entre os estados, sendo provavelmente a maior as suas atitudes perante a escravidão.” Poderão dizer ainda que este não é o momento devido à situação delicada e que o processo para uma federalização fiscal deverá ser gradual. No entanto, foi precisamente numa situação de estados muito endividados, pela guerra, que se procedeu à federalização nos EUA e de uma forma rápida não gradual. 
De facto, o que a história nos mostra é que as uniões bem sucedidas foram resultado não de mudanças graduais em tempos prósperos mas de roturas em períodos de crise. Mas, com isto não podemos concluir que a federalização é a única alternativa. Várias propostas têm sido avançadas, entre elas as Eurobonds, no entanto, esta alternativa traria consequências, como a Alemanha perder o seu rating AAA, mas o pior de tudo poderia ser não se resolver nada e, mesmo, piorar a crise, pois o que levou a endividamentos tão grandes em primeiro lugar foi viver -se um “clima de Eurobonds”  na primeira década do euro, permitindo a países que na realidade não tinham condições para isso beneficiar de taxas de juro baixas. 
Uma alternativa a isto seria uma Eurobond, nas linhas de Delpla e Von Weizsäcken (2010). Isso iria trazer maior disciplina fiscal, iria criar um mercado grande e líquido de Eurobonds. Nesta solução, os estados-membros emitiriam Eurobonds garantidas pelo todo dos estados, no entanto apenas até 60 % do PIB. São as chamadas “blue bond”, expressão senior da “red bond”. Isto significaria um compromisso credível dos estados- membros em não socorrer a parte vermelha da dívida soberana dos estados, promovendo disciplina fiscal. 
  Outras alternativas têm vindo a surgir, como as “Basket-eurobonds”, onde cada país garantiria apenas a sua cota no cabaz. O problema das Eurobonds é que, no contento mais recente, a sua eficácia seria limitada, pois as taxas de juro têm recentemente atingido mínimos, verificando-se uma melhoria nesse aspeto. No entanto, isso deve- se em parte à baixa inflação e crescimento esperado para a Zona Euro, e isso só poderia ser contrariado com medidas fiscais centrais, apenas possíveis com uma federalização fiscal.
  Qualquer que seja a solução encontrada, a sua aplicação terá que passar pela Alemanha. No entanto, a opinião pública alemã não é favorável a uma maior integração, isto pois tem a ideia que  a Europa é um impedimento ao seu próprio sucesso. No entanto, a imagem da economia alemã não é tão boa como parece, pois desde 1999 a Alemanha teve um dos piores crescimentos do PIB e da produtividade da Zona Euro. O salários reais pouco cresceram, apesar da crise. Até em Espanha cresceram mais no período homólogo.
Para além disso a Alemanha tem tido uma das mais baixas taxas de investimento. Os alemães esquecem-se também que há pouco mais de uma década eles eram o problema da Europa e beneficiaram do dinamismo e crescimento de outros países europeus.
Outra ideia errada dos alemães é que a culpa da crise é do Euro por si próprio, esquecendo-se dos benefícios económicos e financeiros obtidos através do aumento do comércio, intermediação e integração, melhor estabilidade de preços e melhoria de eficácia e competitividade. Para além disso, a atual crise não tem características de uma crise monetária pois não se verifica uma sobrevalorização da moeda.
Os alemães são mesmo dos maiores beneficiários na manutenção da zona euro, pois dependem muito das exportações, e grande parte delas, aproximadamente 40%, para outros países membros. O fim do euro levaria a uma valorização da moeda alemã, prejudicando o seu setor exportador. Outra razão para a sua dependência do Euro é a sua posição credora. Sendo grande parte dela sobre países europeus, a queda do euro levaria a uma grande desvalorização desses ativos. Para finalizar, a Alemanha consegue defender os seus interesses fora da Europa da melhor forma pertencendo à zona euro. Como convencer então a Alemanha a decisivamente partir para mais união para salvar o euro?
Hamilton, para convencer o estado da Virgínia e outros do Sul a avançarem para a federação, “compensou-os” com a localização da capital da federação numa cidade entre Virgínia e Maryland. Talvez também funcione com a Alemanha...

Diogo Rocha

Referências:
Krugman, International Economics Theory and Policy, 9th edition, 2012
Jonathan Eyal, When Democratic and Fiscal Deficits Combine, 2012
Werner Weidenfeld, Future Constellations of Europe: Strategic Reflections, 2012
Marcel Fratzscher, The costs for Germany if the Eurozone collapses, Berlin Oeconomicus, 2013
Peter Bofinger, Can the ECB do more for Europe’s unemployed? With Basket-Eurobonds the ECB could act like the FED, Progressive Economy, 2013

[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]