quarta-feira, 24 de dezembro de 2014

Onde é que está a crise?

A pouco mais de uma semana para o Natal, as compras pagas com cartões bancários chegaram aos 1969 milhões de euros. O valor, divulgado pela SIBS, corresponde ao período entre 24 de Novembro e 14 de Dezembro e é 5,1% superior ao do ano passado, na mesma altura. Estes valores já tinham sido antecipados por um estudo do IPAM - The Marketing School, que apontava para uma subida de 7% nos gastos com compras este Natal e para um valor médio de gastos a rondar os 272 euros.
 Mas onde é que está a crise, afinal? Numa altura em que apenas se fala no colapso do maior banco português, nos cortes salariais, no facto da bolsa portuguesa estar entre as piores do mundo, no aumento do IVA e outros impostos, na pobreza do país, é possível haver um aumento de gastos, seja no que for?
A taxa de desemprego está a diminuir, é certo, mas talvez devido ao facto de cada vez mais pessoas que faziam parte da população ativa e desempregada estarem a emigrar. O salário mínimo aumentou em 20 euros, praticamente nada se comparado com o aumento do IVA que vai ocorrer já no início de 2015.
Então, qual é a lógica disto? Se os salários estão mais baixos, como é que se gasta mais em relação ao ano passado? Se há pessoas a passar fome, como é que se gasta milhões em compras de natal? Em plena crise, enquanto dizem que é para apertar o cinto, que a austeridade vai continuar, os portugueses continuam a ter os mesmos padrões de consumo do pré-crise? Falam que a crise está a abrandar, mas isso não significa que tenha acabado. Aliás, está muito longe de acabar!
Só há, então, uma explicação para estes valores: há uma loucura instalada na sociedade em relação ao natal (e não só). A população portuguesa continua a ser consumista, parece haver uma ignorância por parte dos consumidores em relação à crise, pois esta parece não estar a afetar em nada o poder de compra dos portugueses. Basta dizer-se que a crise está a abrandar para se aumentar o clima de confiança dos consumidores portugueses. Há claramente uma inconsciência por parte dos consumidores em relação à crise que enfrentamos ou, pior que isso, os portugueses estão a ignorar a crise e continuam a gastar mais do que podem, como faziam noutros tempos. Tudo isto não faz sentido, na minha opinião, e contraria tudo que se tem vindo a afirmar nos últimos anos. Afinal, estamos em crise ou não?

Sara Margarida Pimenta 

[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]

Vamos apostar na produtividade ou na competitividade?

Frequentemente, vamos ouvindo notícias sobre os níveis de produtividade e competitividade de Portugal e respetivas conclusões: de que Portugal necessita de apostar na produtividade, de que os portugueses trabalham muito mas não são produtivos, salientando-se que maiores níveis de produtividade garantem maiores níveis de competitividade.
A liderar o ranking da produtividade do trabalho por hora, na União Europeia, está a Bélgica, com um índice de 133,1, seguido dos Países Baixos, com 129,4, e da Dinamarca, com 129. Esta informação, recolhida no PORDATA, apresenta um índice de produtividade do trabalho por hora para Portugal de 65,3, situando-se acima apenas da Bulgária (43,3), Roménia (45,1), Letónia (57), Polónia (60), Estónia (60,9) e Hungria (61,6).
A situação portuguesa no que respeita à sua classificação nos rankings de produtividade não é a melhor, nem a desejável. Mas a causa estará nas capacidades e qualificações dos trabalhadores portugueses?
Os fatores que poderão influenciar os níveis de produtividade de uma empresa são os custos com a matéria-prima, infraestruturas e equipamento e a mão-de-obra.
Contudo, qualquer uma destas medidas pode, por si só, não significar melhorias ao nível da produtividade. E, no caso concreto de Portugal, é preciso ter em conta aspetos culturais, opções estratégicas, processos, procedimentos e formas de gestão implementadas nas empresas, que poderão limitar efetivamente os seus níveis de produtividade.
Ao mesmo tempo que se fala de produtividade, fala-se de competitividade e da necessidade de sermos mais produtivos para podermos competir à escala europeia e mundial, relacionando assim produtividade com competitividade.
Uma empresa poderá ter aumentos de produção porque, por exemplo, trabalhou mais horas ou porque foi feito um investimento numa máquina tecnologicamente mais avançada, garantindo assim uma maior oferta de produtos, mas não quer dizer que sejamos mais competitivos, pelo menos ao nível do preço. Podemos colocar no mercado maiores quantidades de produto, mas a preço superior, não garantindo assim níveis de competitividade (por exemplo, se competirmos com a China). Podemos até colocar no mercado maiores quantidades de produto a um preço inferior ao praticado no mercado, mas sem qualquer valor acrescentado, por exemplo, ao nível da inovação do produto, e aí não estaremos também a ser competitivos (por exemplo, se competirmos com Alemanha).
Na sua última edição, o Índice Global de Competitividade do Fórum Económico Mundial avaliou Portugal na 36ª posição dos países mais competitivos do mundo. Atualmente este ranking é liderado pela Suíça, seguindo-se Singapura, Estados Unidos, Finlândia, Alemanha, Japão, Hong Kong, Holanda, Reino Unido e Suécia.
É preciso apostar em maiores níveis de competitividade nas empresas portuguesas e posicionar Portugal num patamar superior, e isso poderá acontecer através de maiores níveis de produtividade...mas não só!
A competitividade da economia portuguesa passa pela aposta na inovação, na diferenciação da oferta e no desenvolvimento de produtos com real valor acrescentado.
Temos vindo a assistir ao longo dos anos a uma evolução positiva de investimento privado em I+D+i, contudo essa aposta ainda não é significativa quando comparada com outros países da União Europeia. Não assistimos a grandes níveis de transferência de tecnologia das universidades, centros tecnológicos e centros de I+D+i para as empresas, deixando grande parte dos projetos de ter aplicabilidade no mercado empresarial. E o certo é que a competitividade da economia portuguesa poderá passar por aí.
Por um lado, é necessário aproximar as empresas destes centros. Por outro lado, é importante apostar em projetos que tragam valor acrescentado à indústria e que possam ser propostos ao meio empresarial.
Portugal poderá competir globalmente, apresentando diferenciação através, por exemplo, de produtos desenvolvidos por empresas de base tecnológica, por produtos desenvolvidos pela indústria tradicional portuguesa mas com incorporação de I+D+i ou design. O setor do calçado ou do têxtil são um exemplo. Empresas como a Petratex ou Luis Onofre deram a volta ao panorama nacional e vingam no mercado mundial.
Mais do que apostar na produtividade, acredito na aposta em mais e melhores empregos, em mais conhecimento e transferência de massa critica para as empresas portuguesas. Só assim conseguiremos posicionar Portugal lá fora. Os trabalhadores portugueses são produtivos, trabalham bem e muito, mas precisam também que sejam criadas condições ao nível laboral, organizacional, apostando na qualificação dos seus gestores e lideres.
          Assim, é possível aliar a produtividade à competitividade.

Francisca Pereira

[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]

Empreendedorismo e inovação em Portugal

O Empreendedorismo é o principal fator promotor do desenvolvimento económico e social de um país. Afinal, o que é o empreendedorismo? O empreendedorismo é o fenómeno que visa a busca da criação de valor, através da expansão da atividade económica, pela introdução de novos produtos, processos ou acesso a novos mercados. Ao empreendedorismo estão associadas muitas vantagens económicas, tais como a criação de novas empresas, o que conduz a investimentos nas economias locais, a criação de postos de trabalho, a melhoria na competitividade empresarial, e a promoção de métodos, técnicas e modelos inovadores. 
O empreendedorismo e a inovação são, portanto, considerados como objetivos prioritários para o desenvolvimento e para o aumento da competitividade da economia nacional. Portugal devia apostar numa nova realidade económica, competitiva e aberta ao mundo, assente em conhecimento e inovação, capital humano altamente qualificado e forte espírito empreendedor.  
A esta luz, foi criado o programa estratégico para o empreendedorismo e inovação (+e+i), que tem como principais objetivo contribuir para a formação de uma sociedade mais empreendedora, ou seja o fomento da mudança cultural, intergeracional, a favor do espírito de iniciativa e do empreendedorismo. Este, deverá ser promovido e cultivada desde cedo, e ser um dos motores de inovação. Alargar a base de empresas inovadoras e com uma forte componente exportadora é uma peça essencial. Importa sermos um país inserido nas redes internacionais de empreendedorismo, conhecimento e inovação e sermos capazes de tirar melhor partido do investimento que, neste contexto, possa ser realizado. Para que Portugal se afirme a nível internacional de forma competitiva é necessário que se concentrem esforços nas empresas com maior potencial inovador, para que possam ser desenvolvidas capacidades e competências competitivas e diferenciadoras e, consequentemente, para que sejam criadas vantagens competitivas ao nível das ofertas de mercado. 
Os pilares fundamentais deste programa assentam no alargamento das competências da população, dinamização da inovação, estímulo ao empreendedorismo e promoção destes objetivos através de adequados instrumentos de financiamento. 
Apesar dos progressos que estas matérias têm vindo a conhecer nas últimas décadas, verifica-se que existem dificuldades estruturais, que acarretam impactos negativos na capacidade de recuperação económica. Destaca-se, por exemplo, a insuficiente capacidade de rentabilização económica da Investigação e Desenvolvimento (I&D), ou o reduzido impacto do capital de risco, circunstância que limita as soluções de financiamento de novos projetos e conduz a um peso pouco significativo da ciência e da tecnologia na globalidade da economia. 
Neste contexto, o empreendedorismo e a inovação carecem de uma intervenção prioritária e especialmente direcionada para as atividades de índole empresarial, indo além dos campos da investigação e da ciência. As prioridades da estratégia Europa2020 e da sua iniciativa Innovation Union são referenciais para o desenvolvimento da política de inovação em Portugal para os próximos anos.
Na minha opinião, o Programa Estratégico para o empreendedorismo e inovação é essencial para que haja uma maior aposta no empreendedorismo, que, no fundo, é o incentivador de mudança para uma sociedade equitativa, justa e solidária e, acima de tudo, é um desafio necessário, sendo possível uma maior promoção da inovação, que é um dos principais fatores que impulsionam o desenvolvimento económico do nosso país.

Margarida Marques Cardoso 

[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]

As pequenas e médias empresas em Portugal

As pequenas e médias empresas (PME) são amplamente reconhecidas como o pilar da economia nacional, sendo as principais responsáveis pela criação de emprego em Portugal.
As pequenas e médias empresas constituem cerca de 99,9% do tecido empresarial português e empregam a maior parte dos trabalhadores ao serviço das empresas, com uma percentagem de 77.6% de empregados, contra 22.4% nas grandes empresas.
Apesar de 99,9% das empresas serem pequenas e médias empresas, estas só são responsáveis por 58,8% do volume de negócios total gerado em Portugal. Ainda assim uma percentagem elevada, já que são, por definição, pequenas empresas com menos de 250 trabalhadores e com um volume de negócios menor ou igual a 50 milhões de euros. Existem então cerca de 1.120.000 PME’s em Portugal, com um volume de negócios combinado de 220 mil milhões de euros
O forte peso das PME na economia nacional é acompanhado de uma significativa contribuição destas empresas para o produto interno bruto. As PME foram responsáveis por 61,1% do valor acrescentado bruto, ou seja, quase dois terços do que se produz em Portugal vem de empresas de pequena e média dimensão. 
No entanto, estas empresas apresentam uma realidade preocupante em Portugal. Apesar da sua expressividade, a fragilização de tais empresas tem vindo a agravar-se, especialmente desde 2008, ano que marca o surgimento da crise financeira e em que se regista o primeiro de sucessivos decréscimos no número de empresas e no número de pessoas ao serviço. O decréscimo da procura interna bem como a falta de financiamento e a dificuldade de crédito levam a que o número de falências deste tipo de empresas tenha subido cerca de 444,4% desde 2007.
O financiamento é um dos fatores de relevo neste tipo de empresas pois permite que estas subam a nível de qualidade e quantidade do seu produto e recursos humanos, inovação etc. Torna-se, então, necessário desenvolver estratégias alternativas de financiamento para estas empresas. O acesso a fundos comunitários, a dinamização da Bolsa de Valores para estas empresas, o estímulo do capital de risco, incentivos para os aumentos de capital e a retenção de lucros são algumas das soluções que permitem melhorar a situação das pequenas e médias empresas em Portugal. O Estado pode também intervir de forma a proporcionar as mesmas condições existentes noutros mercados internacionais através do regime tributário simplificado para as PME’s. Com este regime, a carga fiscal que incide atualmente sobre as PME’s será reduzida, com estas a ficarem dispensadas do pagamento especial por conta e das tributações autónomas relacionadas com a sua atividade.
Para além das dificuldades de acesso ao financiamento que estas empresas enfrentam, as PME’s portuguesas têm as faturas energéticas mais pesadas, bem como o crédito mais caro da zona Euro. Os custos de contexto, como os impostos e a demora que se faz sentir na justiça, não ajudam a que estas consigam competir com empresas internacionais de semelhante dimensão. No entanto, estas conseguem ainda assim competir internacionalmente, através da diferenciação e da alta qualidade dos produtos que apresentam.
Num país em que há muito trabalho e cada vez menos empregos, a Economia está cada vez mais dependente das Pequenas e Médias Empresas, nomeadamente da sua capacidade de criação de emprego e da sua grande flexibilidade como instrumentos para pôr em prática a capacidade empreendedora e inovadora. 
O difícil acesso ao financiamento ao longo dos últimos anos levou a que muitas destas empresas tivessem encerrado. De forma a estimular o sucesso destas empresas é necessário investimento privado cada vez maior, bem como uma maior facilidade no financiamento, para que seja possível apoiar a criação de emprego e o incremento do valor acrescentado gerado por estas empresas. 

Margarida Marques Cardoso

[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]

terça-feira, 23 de dezembro de 2014

Sector Vitivinícola: de Portugal para o Mundo

Na economia portuguesa encontramos empresas e sectores que, mesmo perante os desafios e as dificuldades da conjuntura actual, revelam sustentabilidade económica, carteiras de encomendas solidas, competitividade e iniciativa no comércio global, como produtos exportadores de bens e serviços de sucesso, com base na qualidade, na inovação e no marketing. 
Estão precisamente neste caso os vinhos portugueses, cujas exportações estão em alta, reforçando assim a sua visibilidade e notoriedade nos cinco continentes, constituindo os vinhos nacionais importantes ‘embaixadores’ em matéria de promoção de um Portugal produtivo e moderno. Estes, além de desempenharem um papel de relevo no impulsionamento das exportações e na promoção nacional, promovem-se e afirmam-se nos mercados, ganhando visibilidade e notoriedade global. Os métodos de produção modernizam-se, os vinhos ganham uma elevada qualidade, a promoção investe, os mercados rendem-se cada vez mais à variedade incontornável dos vinhos portugueses, marcados por características únicas, o que potencia a sua competitividade em nichos de mercado, apreciadores de vinhos de excelência. 
As exportações portuguesas de vinho ultrapassam já os 700 milhões de euros para países fora da Europa, nomeadamente para Canadá, EUA, Brasil, Angola, China e Rússia. O país é o quarto fornecedor do Brasil e o primeiro de Angola. Em termos de volume, a subida de 8,8 por cento face ao ano anterior, coloca as exportações de vinhos portugueses muito perto dos 3,35 milhões de hectolitros devidos essencialmente à aposta dos produtores nacionais em novos mercados fora da Europa. É o terceiro ano consecutivo em que as exportações aumentam em todas as categorias, apesar da descida dos preços.
Portugal ocupa actualmente o 11º lugar na tabela dos maiores produtores mundiais de vinho, já ultrapassado pela Federação Russa e China. No entanto, na tabela dos maiores exportadores Portugal ocupa o 10º lugar.
Em suma, o vinho português tem-se desenvolvido a muito bom ritmo produzindo dos melhores vinhos a nível mundial, desenvolvendo a rotulagem, exportando cada vez mais e sendo um potencial factor para a recuperação económica e, consequentemente, um importante contributo para que a balança comercial continue positiva.

Marta Guise

[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho] 

segunda-feira, 22 de dezembro de 2014

Desigualdades salariais entre o homem e a mulher

A presença das mulheres em muitas profissões, em que antes não era habitual, nomeadamente em algumas das que têm maior visibilidade, como a medicina, o jornalismo e a magistratura, por um lado, e o aprofundamento contínuo da ordem jurídica no sentido de uma igualdade de mulheres e homens, por outro, induziram a ideia de que as desigualdades salariais no género estariam erradicadas ou, pelo menos, em vias de gradual eliminação. Até porque a lei que estabelece a obrigatoriedade de pagar um salário igual para trabalho igual data de antes do 25 de Abril. Todavia, as desigualdades salariais no género são ainda, apesar de um vasto conjunto de políticas e medidas que têm vindo a ser implementadas aos mais variados níveis, uma característica estrutural de Portugal.  
Estatísticas nacionais demonstram que em Portugal ainda persiste um elevado diferencial salarial de género, à semelhança do que acontece nos restantes países da União Europeia, atingindo os 15,7% em 2012, segundo os últimos dados da Comissão Europeia. Como tal, para conseguirem ganhar o mesmo que os homens ganham num ano, as mulheres teriam de trabalhar em média mais 57 dias.
Às desigualdades de remunerações entre homens e mulheres estão associadas inúmeras causas e consequências graves em múltiplos campos. 
As causas inerentes a esta problemática são complexas, múltiplas e, muitas vezes, decorrem da combinação de vários fatores. De entre as principais razões, destaca-se: o facto do trabalho das mulheres ser muitas vezes visto como tendo um valor inferior ao trabalho dos homens; os estereótipos de género que limitam as escolhas que homens e mulheres fazem dos percursos académicos e profissionais, originando um mercado de trabalho segregado em função do sexo, no qual as profissões predominantemente femininas são desvalorizadas em comparação com as profissões predominantemente masculinas; e a conciliação desigual da vida profissional e privada, dado que a desigualdade nas responsabilidades da prestação de cuidados leva muitas mulheres a procurarem horários de trabalho mais reduzidos e flexíveis.  
Atendendo às consequências, destaca-se o impacto da desigualdade de remunerações entre homens e mulheres na repartição da riqueza em Portugal e na sustentabilidade financeira da Segurança Social, e ainda o efeito que as disparidades salariais entre homens e mulheres têm sobre os rendimentos ao longo da vida, dado que as mulheres ganham menos ao longo da vida, pelo que são mais baixas as suas reformas e é maior o risco de pobreza na terceira idade. 
O prolongamento desta problemática constitui certamente um obstáculo sério ao desenvolvimento do país, na medida em que impede a utilização plena das capacidades da maioria da população e gera naturalmente sentimentos de grave injustiça social e económica.
Apesar de todos os programas e medidas que têm vindo a ser implementados para combater as desigualdades salariais no género, a verdade é que estas têm sido pouco eficazes, levando-me assim a considerar que esta problemática se virá a agravar ao longo dos anos. Deste modo, não só como mulher que pode vir a ser alvo deste tipo de discriminação quando ingressar no mercado de trabalho, mas também como cidadã apologista da igualdade nos mais diversos contextos, exalto que é ainda necessário criar medidas que permitam fortalecer a cultura da igualdade, infundir o sentido de compartilhamento das responsabilidades familiares e profissionais entre homens e mulheres e desvendar os mecanismos às vezes utilizados pelos empregadores no sentido de facilitar o crescimento profissional dos homens e vedar o das mulheres.
A verdade é que ainda temos um longo caminho a percorrer no sentido de uma verdadeira igualdade salarial.
A igualdade salarial está longe de ser uma batalha ganha pelas mulheres, mas ainda não perdemos a guerra!

Windy Martins Noro 

[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho] 

Esconder desemprego

Repararam na súbita transformação da tendência de desemprego em Portugal, ocorrida no últimos meses? Eu reparei. Eu que só ouvia falar de um Portugal de mudança, onde o fim da epidemia estava perto e que o país estava numa de curar o desemprego. Extraordinária técnica de dissuasão é o que se apresenta aos nossos olhos, uma autêntica contabilidade manhosa com mãos de políticos embaraçosos. 
Antes de nos centrarmos no tema de desemprego, precisamos de parar para analisar o quadro geral onde se reflete uma desvalorização da força de trabalho acompanhada por uma generalizada precarização do emprego. 
Hoje o emprego já é uma área apagada: pessoas trabalham pouco e recebem nada. O dito emprego, já nada tem a ver com os conceitos de “formação”, “estágio”, “empreendedorismo” e até “emigração”. Tudo se confunde, isto porque o trabalho precário é quem manda e foi, desde sempre, um objetivo governativo. Aliado a este trabalho instável dos portugueses, está o facto de este tirar coesão relativamente aos empregados, que fará que cada um atue segundo um pensamento de “salve-se quem puder”, criando desunião, onde só o governo sai a ganhar com isso.
Primeiramente, era tudo bonito e o governo investia e fazia propaganda em empreendedorismo e formação. Numa segunda fase, tudo isso se desfaz e encontra-se o camuflado desemprego. Entre elevados números de emigração, desempregados “ocupados”, gente não inscrita nos centros de emprego, o governo vem atirar “areia para os olhos” dos portugueses, dizendo que o desemprego é cada vez mais pequeno. 
Analisando agora em concreto dados, podemos concluir que a população ativa em Portugal desceu aproximadamente 200 mil indivíduos em apenas 2 anos, paralelamente a uma subida do saldo migratório, isto é, passámos a verificar um maior número de emigrantes em relação a imigrantes, pelo que é bastante fácil de entender a descida da taxa de desemprego, assim como a sua manipulação.
Em suma, podemos concluir que o governo não apresenta uma política real de criação de empregos, pelo  que o futuro do país não é brilhante quanto ao desempenho da força laboral, e enquanto essa situação não for contornada a economia portuguesa não poderá ser uma economia de crescimento sustentável.

José Luís Martins da Silva

[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho] 

Particularidades do Setor Agrícola

A baixa rentabilidade, o envelhecimento populacional, a reduzida formação da maior parte dos ativos agrícolas e a fragilidade do setor produtivo face ao crescente poder da grande distribuição são parte integrante dos problemas específicos do nosso setor agrícola.
O estado atual da agricultura portuguesa reflete não só os problemas específicos do setor como também a situação financeira, económica e social crítica que o país atravessa. A atual conjuntura económica vem agravar as condições do exercício das atividades agrícolas, florestais e agro-alimentares, cujas empresas são de micro, pequena e média dimensão, o que as torna vulneráveis comparativamente com outros sectores.
A grave crise que Portugal está a atravessar faz-nos esquecer, por vezes, a enorme riqueza que possuímos: a natureza e o que ela nos pode oferecer! O nosso país é dotado de uma boa localização geográfica, o que nos permite uma grande diversidade animal e vegetal, uma elevada variedade de paisagens e climas, com zonas secas e zonas húmidas, planícies e montanhas, rios e mar, muito vento, biomassa e calor saído da terra. Assim, temos todas as condições para poder tirar o melhor proveito desta riqueza em recursos energéticos renováveis. Desenvolver este potencial pode ajudar a economia a crescer! 
A floresta, por sua vez, ocupa 64% do território nacional e é o terceiro maior exportador, contribuindo anualmente com 1 300 milhões de euros para a economia portuguesa. A costa de Portugal é extensa, ronda os 1230 km no continente, 667 km nos Açores e 250 km na Madeira. 
Apostar no mar é, acima de tudo, ser mais sustentável. A combinação de tudo isto tem uma grande potencialidade económica. 
Em primeiro, parece-me necessário reabilitar a imagem do setor, que  por muitos é considerado como atrasado e incapaz de gerar riqueza. É preciso demonstrar que os setores agrícola e agro-alimentar têm futuro a nível alimentar, energético e ambiental. A revitalização da agricultura e o aumento da produção nacional poderão gerar receitas capazes de contribuir para o equilíbrio da balança alimentar, ou seja, para que as nossas exportações sejam iguais às importações. É vital para o nosso país encontrar vias para diminuir a nossa dependência externa de bens alimentares e para aumentar as nossas exportações, preferencialmente com elevado valor acrescentado, de modo a ultrapassar de forma duradoura a atual crise. Tendo este objetivo, os setores da produção agrícola, da produção florestal e agro-alimentar podem desempenhar um papel muito importante. 
Por outro lado, devem-se aumentar os incentivos aos verdadeiros interessados, os agricultores, e tornar o mundo rural aliciante, de forma a atrair jovens para a agricultura. Assim, estaremos a combater a desertificação humana do meio rural.
Os produtos da floresta devem ser valorizados, por serem genuínos e com valor nos mercados internacionais, assim como o mar se deve tornar essencial ao desenvolvimento português. Com isto, importa, portanto, reforçar os apoios aos múltiplos setores ligados às atividades marítimas. 
Segundo Adam Smith: “O consumo é a única finalidade e o único propósito de toda produção”. Enquanto consumidores, olhando para a atual conjuntura, devemos comprar conscientemente, contribuindo para valorizar a nossa produção agro-alimentar, apoiando os agricultores e empresas nacionais. Assim, o consumo nacional deve ser preferencial. Ao consumir estamos a contribuir também para o aumento da produção, criando novos postos de trabalho, combatendo assim outro problema macroeconómico da atualidade.  
Há estudos de organizações como as Nações Unidas que mostram que a economia verde pode ser uma mina de riqueza, visto que acelera o crescimento do PIB e é uma fonte de empregos. Eu acredito que a sustentabilidade ambiental, económica e social é o caminho certo para a Humanidade, e regressar aos campos como uma solução para responder à crise, pode ser uma opção.  Assim, cada vez mais viveremos num mundo onde reina a economia verde. 

Rui Filipe Alves Barbosa

[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho] 

Uma perspetiva nacional e internacional da saúde

O mercado da saúde é, frequentemente, desvalorizado pelos estudos económicos face a outros mercados como o da energia, trabalho ou imobiliário. Contudo, em Portugal, as despesas em saúde ultrapassaram, nos últimos anos, os 10% do PIB, segundo dados da OCDE. Na verdade, a evolução tecnológica tornou a nossa vida substancialmente mais longa ao longo das últimas décadas, o que contribuiu, em larga medida, para uma valorização de vários ativos, nomeadamente, imobiliários ou ações. No entanto, apesar destes ganhos houve custos: os tratamentos médicos tornaram-se significativamente mais complexos e, portanto, mais dispendiosos. 
No mesmo sentido, embora a expectativa de vida tenha aumentado, durante uma parte cada vez maior da nossa vida, deixamos o estatuto de produtores, resumindo a nossa existência como agentes económicos ao consumo. Estes desafios levaram os povos europeus a criarem um modelo social que respeite não só o acesso a cuidados de saúde dignos, mas também que proteja os seus cidadãos quando estes deixarem de poder contribuir para a economia. É, neste ponto, que atingimos um dos mais polémicos debates da atualidade. Serão o estado social e a saúde pública sustentáveis e até onde e para onde estamos a ir?
Nos últimos anos, Portugal foi um dos países da Europa que mais gastou em saúde em percentagem do PIB. Este dado tem servido de argumento para sustentar uma linha de pensamento que defende cortes severos no SNS. De facto, Portugal é o sétimo país da União Europeia com maior despesa em percentagem do PIB, mas mais preocupante do que os dados sobre o passado é o que podemos esperar do futuro. 
Sabendo que os idosos são o grupo etário com maior consumo de cuidados de saúde, quando olhamos para os dados do INE verificamos que nunca foi tão elevado o número de portugueses na faixa etária entre os 65-69 anos (645159 indivíduos). Mas se estes são os potenciais consumidores de cuidados de saúde, no grupo etário anterior 60-64 temos um novo máximo, com mais de 600 mil cidadãos. Se a estes dados alarmantes juntarmos o facto de a ciência médica ter conseguido aumentar a esperança média de vida em um ano a cada cinco, temos uma combinação absolutamente explosiva: maior número de consumidores de saúde, consumo de cuidados de saúde durante mais tempo, técnicas utilizadas na prestação de serviços de saúde mais caras e os consumidores de cuidados de saúde são cada vez mais carenciados devido à recessão económica que vivemos. Assim, é de forma dramática que assistimos a uma diminuição da base da pirâmide etária - correspondente à população mais jovem - e, em contrapartida, a um alargamento do seu topo - correspondendo à população mais idosa.
Tendo em conta os motivos expostos anteriormente, importa perceber como foram capazes os países do centro e do norte da Europa de sobreviver ao seu envelhecimento populacional. A primeira explicação é económica: embora alguns países tenham uma pirâmide etária dos nativos invertida, como o é caso português, foram capazes de importar jovens, em muitos casos, diga-se, os nossos próprios jovens, para equilibrar a sua estrutura etária. Mas tal feito só foi possível porque monstraram economias fortes, capazes de atrair imigração e gerar crescimento que lhes permite hoje gastarem significativamente mais com cada cidadão sem que isso tenha um peso expressivo no seu PIB. 
Para além disto, a má qualidade da distribuição dos recursos é outro fator a ter em conta. Os países nórdicos apostam, desde há décadas, nos cuidados primários e terciários em detrimento dos cuidados secundários, que são cada vez mais dispendiosos. De facto, em Portugal, os cuidados primários representam 2,1% do total de despesa e os terciários 1,4%, sendo que os cuidados secundários representam em Portugal 62% das despesas, segundo dados da OCDE. Quando comparamos estes dados com a Dinamarca (primários 2,3%, secundários 55%, terciários 24,4%), verificamos a forte enfatização dos cuidados hospitalares no nosso SNS mas também a elevada despesa com equipamentos, medicamentos e serviços de apoio (35% contra 19%).
Podemos assim constatar que a hospitalização do nosso SNS deu origem a um caos organizacional com mais de 5000 funcionários, com centenas de linhas de produção, com fortes deseconomias de escala, de difícil gestão e pouco especializados. Esses pontos foram precisamente focados pelo relatório para a reorganização hospitalar. Simultaneamente, embora se multipliquem os institutos anexos ao ministério da saúde, não há um planeamento consistente, como acontece com o NICE, no Reino Unido, reunindo um conjunto de economistas de saúde com a única função de aumentar a eficiência e qualidade do sistema.
Em suma, os portugueses despendem um enorme esforço face à capacidade da sua economia na saúde dos seus cidadãos, sem que com isso consigam atingir resultados de destaque a nível europeu. Existem fortes restrições económicas, de gestão e de política de saúde que condicionam os resultados obtidos e fazem com que haja um desfasamento significativo entre o que os portugueses recebem e aquilo que são obrigados a contribuir para o seu SNS!

Rui Barbosa

Bibliografia:
http://www.ine.pt/xportal/xmain?xpid=INE&xpgid=ine_p_etarias&menuBOUI=13707095&contexto=pe&selTab=tab4

[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho] 

A Emigração dos Jovens Qualificados

Olhamos à nossa volta e vemos, todos os meses, milhares de jovens emigrar. Ouvimos amigos a falar dos seus planos para partir. Não com a satisfação de quem procura novas experiências, mas com a frustração de quem sente que o país onde nasceu não lhe dá nem lhe dará no futuro qualquer oportunidade.
Estamos a perder agora as primeiras gerações de gente qualificada. Qualificada graças a um investimento que, no discurso dominante, é tida como um luxo incomportável. O emigrante dos anos 60 vinha de meios rurais e era, em muitos casos, ou analfabeto ou próximo disso. O emigrante atual é jovem, qualificado e procura carreira, e não apenas dinheiro para sobreviver no estrangeiro e depois regressar. A emigração de jovens qualificados é hoje um indicador problemático para o nosso país. 
O número de emigrantes portugueses com o ensino superior aumentou mais de 87% numa década, passando de um total de 77.790 em 2001 para mais de 145 mil em 2011. Numa perspectiva comparada com o total da emigração portuguesa, são já 10% os portugueses que emigram com curso superior, sendo que há dez anos o número de emigrantes qualificados não passava de 6%, o que representa um salto de quase 60% neste indicador. O Reino Unido é hoje o principal destino da emigração e o principal destino dos emigrantes qualificados. Segue-se a Suíça, tendo-se mantido constante como importante foco de emigração portuguesa desde o final da década de 80, e a Alemanha reaparece no mapa como um dos principais destinos de emigrantes qualificados. Para quarto lugar cai a Espanha, que está hoje a assistir a um ligeiro decréscimo da população portuguesa emigrada com o colapso da construção civil, que veio com a crise financeira de 2008.
Constatamos, então, que os jovens mais qualificados olham, de uma forma global, para as oportunidades de carreira, pelo que é natural que considerem mais vantajoso algumas saídas profissionais no estrangeiro. São engenheiros, enfermeiros, professores, economistas. É inúmera a diversidade de estudantes qualificados que procuram novas oportunidades e novos desafios fora do seu país. Portugal investiu em educação mas esqueceu-se que era necessário criar empregos para os milhares de alunos que terminam os seus cursos todos os anos. O estado português financiou a nossa educação durante anos e agora quem irá beneficiar dos seus frutos serão países como o Reino Unido, a Suíça e Alemanha, entre outros, pois estes países são sinónimo de oportunidade. Oportunidade de adquirir e aplicar novos conhecimentos, oportunidade de ter um futuro.
O incentivo à emigração dos jovens fará com que o país perca o seu bem mais valioso, o único capaz de o fazer renascer: o capital humano qualificado. É então necessário a reorganização do nosso mercado, numa lógica de valorização do capital humano e da criação de oportunidade de desenvolvimento profissional, para que se criem condições de acolhimento para esta geração que se vê aliciada a emigrar e que, apesar de poder trazer algumas vantagens disso, é uma geração altamente qualificada e preparada, que muito pode dar ao país e ajudar no seu desenvolvimento.

Ana Pereira

[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho] 

Um mundo eletricamente em movimento

Os carros movidos por combustíveis fósseis são cada vez mais uma problemática presente no nosso dia-a-dia em que os preços do petróleo, mesmo com as diminuições que temos observado atualmente, continuam elevados e a libertação dos gases poluentes cada vez mais preocupantes, como, por exemplo, o aumento do nível de emissões de dióxido de carbono (CO2) na atmosfera. Há uma necessidade de combater as alterações climatéricas, para as quais terão de ser reduzidas as concentrações de CO2 na atmosfera, de forma a contrariar o modelo de combustíveis fósseis. Por outro lado, verifica-se a possibilidade de esgotamento deste recurso energético cujo consumo está a crescer mais rápido que a sua produção e, apesar da atual crise económica, se as economias continuarem no atual ritmo de crescimento, os preços continuarão a aumentar.
Na tentativa da resolução desta problemática, tenta-se inserir no mercado os chamados veículos elétricos (VE). Veículos elétricos são aqueles que possuem parcial ou total parte do seu funcionamento movido por energia elétrica. Desses veículos podemos destacar os veículos híbridos (parcial), os veículos híbridos plug-in (parcial) e veículos elétricos puros (total). 
Num contexto económico como o de Portugal, perante o elevado peso dos produtos petrolíferos no setor dos transportes, os VE apresentam-se como uma das soluções de promoção do transporte eficiente. Em 2011, Portugal foi o sétimo país com maior dependência energética, estando portanto acima da média dos 27 países que compõem a UE. Portugal é um país com poucos recursos energéticos endógenos, em particular, petróleo e derivados, representando estes mais de 80% da fatura energética, onde o setor dos transportes é aquele que regista um maior consumo energético (40% da energia é utilizada neste setor). Desta forma, os transportes são assim um setor com elevado peso em matéria energética e ambiental, apresentando mais de um terço do consumo de energia em Portugal.
A utilização de energias renováveis é um instrumento de redução da dependência externa, dos níveis de emissões de gases poluentes e a dissociação dos custos da energia das flutuações dos preços do petróleo. Desta forma, o país torna-se mais autónomo com o uso destas energias, combatendo o aquecimento global. As desvantagens apontadas ao sistema utilizado nos veículos elétricos são as tecnologias usadas nos motores, as quais ainda são consideradas muito dispendiosos e com falta de autonomia.
Em 2009, com as importantes questões quanto ao nível energético, a UE teve de aprovar o pacote 20-20-20 – medidas de combate às alterações climáticas de forma a alcançar determinadas metas para 2020, tais como: 20% de redução das emissões de GEE relativamente aos níveis de 1990; 20% de quota de energia proveniente de fontes renováveis no consumo final bruto; 20% de redução do consumo de energia primária relativamente à projeção do consumo para 2020, mediante um aumento da eficiência energética.
Durante o primeiro ano de vendas destes veículos, o Governo manteve os incentivos fiscais onde os veículos exclusivamente elétricos estavam isentos do Imposto Sobre Veículos (ISV), sendo esse direito revogado através de uma proposta feita pelo PSD e CDS, a qual foi justificada "com o compromisso assumido no memorando de entendimento celebrado pelo Estado português com a União Europeia, o Fundo Monetário Internacional (FMI) e o Banco Central Europeu (BCE) de avaliar os atuais instrumentos relacionados com a energia, incluindo os incentivos fiscais em matéria de eficiência energética, designadamente da avaliação do risco de sobreposição ou de inconsistência de instrumentos". Para além disso, com o reduzido número de carros elétricos a circular na estrada, existe uma certa falta de interesse por parte do Governo no investimento em postos de abastecimento elétricos. Apesar da existência de alguns postos pelo país, esses ainda não são o número desejado, o que faz com que as pessoas interessadas neste tipo de veículos pensem duas vezes antes de o adquirir. 
Também é defendido que uma das causas da falta de incentivo para a compra destes veículos será os interesses económicos no setor dos combustíveis fósseis, em que, caso grande parte da população portuguesa possuísse um VE, parcerias com outros países, nomeadamente com os pais exportadores destes combustíveis, terminariam, acabando também com eventuais interesses económicos inerentes.
Estudos feitos a esta temática afirmam que a procura de combustíveis em Portugal tenderá a diminuir, como consequência da redução de consumos provocada pelo desenvolvimento tecnológico e pelo aumento da eficiência dos motores de combustão e resultado do número de viaturas a gasóleo. Na vertente económica, o aumento do número de VE no mercado permite uma redução da dependência dos combustíveis fósseis, quer por via da maior eficiência de consumos quer pela diversificação energética e da utilização de eletricidade proveniente de fontes de energia renováveis, contribuindo assim para um equilíbrio da balança comercial, nomeadamente ao nível da redução do saldo de importações de petróleo e derivados.

Inês Silva

[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho] 

O Porto de Sines, um sinal de futuro

Atualmente, Portugal atravessa um período recessivo e de emergência em matéria de crescimento económico e, como tal, procuram-se e analisam-se soluções económicas, políticas sustentáveis e exemplos de crescimento, desenvolvimento e integração. 
Portugal, como se tem visto nos últimos anos, carece de espírito empreendedor, de aproveitamento de potencialidades, de um rumo e de consciencialização do papel de cada um enquanto cidadão, porém, há que separar o trigo do joio, querendo eu com isto dizer que Portugal também tem excelentes exemplos de sucesso e de desenvolvimento, como é o caso do porto de Sines.
O porto de Sines é um porto de águas profundas com uma localização estratégica aliada a condições naturais ímpares para acolher todos os tipos de navios, o que permite posicioná-lo como um grande Hub Port (concentrador de cargas e linhas de navegação) da fachada Ibero-Atlântica, sendo atualmente líder nacional no que concerne à quantidade de mercadorias movimentadas e estando dotado de modernos terminais especializados, permitindo assim a movimentação de diferentes tipos de mercadorias. Desta forma, o porto de Sinas acabou por tornar-se indubitavelmente a principal porta de abastecimento energético do nosso país (petróleo e derivados, carvão e gás natural) e também um importante porto de carga geral/contentorizada. Conta ainda com acessibilidades terrestres adequadas para o tráfego atual e com um plano de evolução rodo-ferroviário, que permitirá dar resposta às projeções futuras de crescimento do porto e da sua área de influência, levando à afirmação de Portugal no mundo.
Contudo, o porto de Sines não funciona por si só, nem nos é garantida a importância e o relevo deste em perpetuidade e, como tal, há trabalho a fazer: há potencialidades e mercado a explorar, como demonstra a mais recente notícia do alargamento do canal do Panamá, o qual conduzirá a um aumento exponencial do tráfego de navios, pelo que urge melhorar a competitividade associada a este tráfego tendo sempre em conta os passos dos portos concorrentes, quer no contexto nacional quer a nível internacional, apostando em estratégias de dinamismo e diversificação. Importa ainda referir quanto a esta matéria o facto de o porto de Sines, até à data, ser apenas dotado de uma capacidade para acolher navios porta contentores de capacidade máxima até 12.000 TEU’s (em comparação, os navios de 18.000 TEU’s necessitam de uma profundidade de 14,5 m). 
O problema que daqui deriva remete para a possibilidade de o Porto de Sines perder relevo a nível ibérico, europeu ou até mundial, caso não se adapte, no longo-prazo, à constante evolução na capacidade de carga e envergadura dos navios. Torna-se assim urgente uma constante adaptação e evolução do porto às intermitentes mudanças deste mercado. 
Devo também realçar uma grande vantagem que se poderá associar ao Porto de Sines em termos futuros: o terminal de Gás Natural do porto, uma vez que dada a crescente aposta no transporte de gás natural pelas frotas, e tendo em conta a perspetiva de que dentro de poucos anos os países membros da CPLP (com os quais temos relações económicas e culturais que advêm de longa data) serão responsáveis por cerca de um quinto da produção mundial de gás e petróleo. Por isso, reveste-se  de enorme importância a aposta neste terminal, de modo a que se facilite o fornecimento de bancas de gás natural aos navios que por lá passem.
A nível nacional, o Porto de Sines desempenha um papel fundamental na economia, revelando também um potencial de crescimento nos últimos anos, o qual ficou demonstrado nos primeiros seis meses de 2014, com um crescimento de 40% no tráfego de contentores, face ao período homólogo de 2013, com as exportações a registarem níveis positivos, sobretudo para países fora das fronteiras da União Europeia. Tal tem contribuído para um maior número de postos de trabalho (estando prevista pelo memorando a criação de 200 novos postos de trabalho), resultado do projeto de expansão com um investimento de 139 milhões de euros para alargamento do terminal de contentores e ampliação das infraestruturas de proteção marítima. Relevante é também o crescimento de outras empresas associadas, ou não, ao sector, como é o caso da CP Carga, que regista em 2014 um crescimento da atividade para os portos nacionais (no total de 65% do volume de negócios), nomeadamente para o porto de Sines, onde a mesma detém a exclusividade do transporte ferroviário. 
Desta forma, o porto de Sines desempenha um papel crucial quer a nível regional, contribuindo para a fixação de população na região, desenvolvimento de infraestruturas e para a criação e dinamização de um conjunto de atividades ligadas à investigação e novas tecnologias, quer a nível nacional, contribuindo para a criação de riqueza e afirmação de Portugal no mundo, tornando este a "porta de entrada na Europa”!

Hélio André Guimarães Ribeiro  

Referências
http://www.portodesines.pt/pls/portal/go

[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho] 

Quando as promessas diferem da realidade

O período de governo de Pedro Passos Coelho sempre ficou marcado pelo seu discurso bastante optimista face à realidade dos números e indicadores macroeconómicos, contudo a estratégia para 2015 parece ser ainda mais optimista uma vez que em breve iremos entrar no ano de eleições. Começando pelas previsões bastante distintas do real e acabando no orçamento de estado demasiado “bom” para ser verdade, tudo isto surge como uma espécie de pré-campanha do atual primeiro-ministro para que possa manter-se no cargo nos próximos quatro anos.
Desde cedo se percebeu qual seria a estratégia deste governo: aguentar nos primeiros tempos os danos causados pela perca de popularidade e da percepção de competência para depois se poder vangloriar com pequenas melhorias na economia resultantes da austeridade aplicada.
Todavia, o resumo dos quase quatro anos de governação de Passos Coelho cinge-se a um aumento brutal dos impostos e a um corte indescritível nos salários e pensões, pelo que em relação a isto pouco ou nada de positivo se pode extrair do mandato deste governo.
Quando se imaginava que, para 2015, o governo se iria preocupar um pouco mais com as classes mais desfavorecidas e lhes reduzisse a carga fiscal de modo a tornar o sistema mais justo, os seus principais objetivos apenas se focaram nas eleições, pelo que as medidas tomadas em nada foram de encontro a esta situação. Outro ponto em que o governo irá falhar, tendo em conta o orçamento de estado, é na não redução do IVA sobre a restauração, que se encontra nos 23%, visto que este setor perde consumidores devido a preços elevados, e se tivesse um IVA mais baixo iria ser muito mais lucrativo (não nos podemos esquecer que Portugal é um país bastante turístico, pelo que a restauração é um setor com grande peso na economia).
O aumento do salário mínimo em 20 euros e das pensões mínimas em 1,5%, são os doces que este governo deu aos eleitores para garantir os seus votos. Passos Coelho pensa que estes doces, aliados a projeções optimistas para 2015 (mas irreais), são o suficiente para voltar a ter a confiança de muitos portugueses, e que se o seu discurso for sempre de encontro ao “crescimento económico”, a população irá pensar que as políticas demasiadamente austeras foram as ideais.
Relativamente ao desemprego, este governo também tem falhas bastante acentuadas, pois em vez de tentar controlar o seu valor, incentivava ainda à saída de população ativa para o exterior, provocando assim uma diminuição artificial da taxa de desemprego. Além disso, gerou-se um clima de precariedade em relação ao trabalho, uma vez que o estado destinou alguns milhões destinados a estágios profissionais, ou seja, mais uma forma de contornar os números do desemprego em Portugal.
O início deste novo crescimento económico é meramente artificial, pelo que uma evolução positiva com um crescimento sustentado da economia portuguesa não será um cenário viável no curto prazo, correndo-se mesmo o risco de se entrar novamente em recessão.
É verdade que o governo tem gasto alguns milhões nos últimos tempos em estágios profissionais e para aumentar o salário mínimo, mas isso não passam de medidas “para inglês ver”, pois, além de serem a pensar nas eleições, são autênticas migalhas que não escondem a verdadeira e cruel realidade portuguesa, que é a inexistência de uma política real de criação de emprego e de crescimento económico. Ao longo destes quatro anos, a tão aclamada “Reforma de Estado” ainda não foi concluída com sucesso, tendo ainda o governo muitas “gorduras” que necessitam de ser cortadas para que funcione melhor e não haja um nível de pobreza tão acentuado em Portugal.
Em suma, podemos concluir que este crescimento sazonal foi provocado estrategicamente pelo governo para garantir a vitória nas eleições no próximo ano, logo, as previsões que podemos fazer neste momento é que apenas em 2016 veremos o verdadeiro estado da nação.

Ricardo Fernando Azevedo da Silva 

[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho] 

Um diagnóstico ao preço dos combustíveis

Nos dias que correm, os combustíveis são indispensáveis no quotidiano. A economia mundial é fortemente dependente de combustíveis fósseis, não renováveis, como é o caso do petróleo e seus derivados (como, por exemplo, o gasóleo). Assim, a situação política mundial, desde a 2ª Guerra Mundial, está deveras dependente do equilíbrio entre países consumidores e países produtores de petróleo. Uma situação que é complicado alcançar uma vez que as maiores empresas petrolíferas mundiais são Americanas e Europeias, enquanto os maiores produtores mundiais de petróleo são a Arábia Saudita, o Irão, o Iraque, o Kuwait e a Venezuela, fundadores da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP).
As crises petrolíferas a que assistimos ao longo dos anos foram causadas pelos aumentos significativos do preço do petróleo por parte da OPEP, liderada pela Arábia Saudita. Esta tinha como objectivos políticos assumir o controlo da produção, aumentar a influência dos países produtores nas relações mundiais e reforçar o poder sobre as petrolíferas e os seus países de origem. Para além disso, tinha também objectivos económicos, como a gestão da relação entre oferta e procura com o maior lucro possível.
Contrariamente ao que aconteceu no passado, nos últimos meses assistiu-se a uma redução do preço dos combustíveis. A cotação do petróleo está em queda desde Junho mas só agora é que surgem as grandes reduções de preços no gasóleo e na gasolina. As empresas que operam no sector em Portugal prevêem uma redução acentuada nos preços, reflectindo a descida das cotações internacionais do petróleo, que agora alcançaram níveis mínimos de quatro anos. A queda das cotações de petróleo está a ser forçada pelas grandes quantidades de petróleo que estão a chegar aos mercados internacionais, numa altura em que não houve aumentos no consumo - com a Europa e a China a evidenciarem abrandamentos. 
No momento presente, a OPEP está a registar os níveis mais elevados de produção petrolífera, com a Arábia Saudita e o Irão a praticarem os preços mais baixos dos últimos seis anos. "Além do aumento da produção petrolífera na América Latina, sobretudo no Brasil, os mercados estão a ter um excesso de oferta de petróleos de diversas proveniências, com grande expressão por parte das produções sauditas e do Médio Oriente, onde os contractos de futuros sobre o crude iraniano atingiram os valores mais baixos dos últimos seis anos, mas também dos produtores russos e do próprio petróleo norte-americano", analisa uma fonte de uma empresa portuguesa do sector.
Já Nuno Ribeiro da Silva, presidente da Endesa Portugal, refere que "há muitos reguladores que questionam o lento ajustamento da descida de preços da gasolina e do gasóleo, e isso acontece em vários mercados, dos EUA a Espanha", mas admite que "há factores cambiais (a desvalorização do euro face ao dólar) que amorteceram as quedas de preços dos refinados em euros". 
Em jeito de conclusão, é importante referir que a procura por combustíveis no mercado nacional recuou no mês passado, facto revelado pela Entidade Nacional para o Mercado de Combustíveis, apesar da crescente redução do preço dos combustíveis. O mercado de energia, bem como quaisquer outros mercados, passa por ciclos. Segundo diversos analistas russos, o preço do petróleo começará a aumentar já a partir do próximo ano, contrariamente ao que é previsto pelos portugueses que operam neste sector.

Rita Margarida Silva Costa

[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho] 

O Peso do Turismo na Economia

O turismo tem uma importância estratégica para a economia portuguesa, já que dá um importante contributo para a criação de emprego e riqueza. Trata-se de um sector em que temos vantagens comparativas claras.
Portugal tornou-se num dos países turísticos europeus atuais mais importantes. Os seus recursos naturais, os seus recursos culturais e os seus produtos são reconhecidos internacionalmente. A diversidade e a biodiversidade do nosso país levam à criação de novos produtos e de novas marcas que provocam uma maior atração dos turistas.
O turismo em Portugal, cada vez mais, reforça a sua importância para o crescimento da economia. De acordo com um estudo do Conselho Mundial de Viagens e Turismo, em termos médios, o turismo vale mais para a economia, para as exportações, para o investimento e para o emprego em Portugal do que no resto da Europa e no resto do Mundo. O impacto económico do sector do turismo em 184 países, com base em dados de 2013, diz-nos que o contributo do Produto Interno Bruto (PIB) em Portugal é maior que na Europa e no Mundo, 5,8%, 3,1% e 2,9%, respectivamente. 
No emprego direto, o contributo do turismo foi de 7,2%, valor acima dos 3,1% que se registam em média nos países europeus e dos 3,4% em termos mundiais. Nas exportações o contributo do turismo é de 19,6% face ao total do comércio internacional, percentagem superior à que se verifica na Europa, 5,3%, e no Mundo, 5,4%. Quanto ao investimento, o estudo revela que a relevância do turismo é quase três vezes maior aos contributos médios registados no mundo, 12,5% para Portugal, 4,6% para a Europa e 4,4% em termos globais.
Segundo o relatório “Tendências e Políticas de Turismo 2014”, publicado pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE), Portugal contribui de forma significativa para o PIB nacional, tendo atingido no ano de 2010, 9,2% do PIB.
No campo da hotelaria, Portugal també, se encontra muito bem posicionado, apresentando hotéis com elevada qualidade, reconhecidos internacionalmente. E de acordo com o Instituo Nacional de Estatística (INE), a hotelaria, em 2014, registou 1,7 milhões de dormidas, apresentando uma subida homóloga de 10,1%.
Portanto, em Portugal, o turismo é, cada vez mais, um factor de máxima importância para o crescimento da economia, sendo os últimos anos considerados como os “anos de ouro” para o turismo. Em 2013, Portugal atingiu um grande reconhecimento internacional, tendo ganho diversos prémios na gala de atribuição dos World Travel Awars para a Europa, como, por exemplo, o prémio de melhor destino insular com a ilha da Madeira e o prémio de melhor destino de praias com o Algarve.
Portugal tem, por isso, no turismo uma arma fortíssima para o desenvolvimento económico! Há que saber aproveitá-lo!

Raquel Saraiva Pinheiro Soares

[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho] 

domingo, 21 de dezembro de 2014

A população portuguesa e a sustentabilidade da Segurança Social

Portugal tem apresentado problemas com o envelhecimento da população e com a possível falta de sustentabilidade da Segurança Social. Assim, é importante analisar o presente e projetar o futuro da nossa população, e perceber o que pode acontecer à Segurança Social nacional. 
Nos últimos três anos, a população portuguesa tem vindo a diminuir, contrariando uma tendência de crescimento que imperava desde os anos 70 do século passado. Para este resultado contribuiu o saldo migratório negativo de quase cem mil pessoas e o saldo natural negativo de quase cinquenta mil. Segundo as estimativas do Instituto Nacional de Estatística, a população portuguesa em 2060 será de 8,5 milhões de pessoas, no cenário central, havendo a possibilidade de uma redução ainda mais significativa se o cenário baixo ocorrer (6,3 milhões). 
Como tem sido alertado, o envelhecimento populacional será inevitável, sendo que em 2060 são esperados mais de três milhões de pessoas com mais de 65 anos de idade e menos de um milhão com idade inferior a 15 anos. Em 2013, o índice de envelhecimento (número de idosos por cada 100 jovens) era de 136, valor que sobe para 307 na estimativa central para 2060.
O envelhecimento da população é ainda potenciado pelo aumento da esperança média de vida, que atualmente é de 82,79 anos para as mulheres e 76,91 anos para os homens. Em 2060, é previsto pelo INE que estes valores se situem em 89,88 anos para o sexo feminino e 84,21 para o sexo masculino.
Para piorar este cenário, o índice sintético de fecundidade atingiu um novo mínimo em 2013 de 1,21 filhos por mulher, abaixo dos desejados 2,1 para haver renovação geracional. 
Para perceber o que poderá acontecer ao sistema de Segurança Social portuguesa, é também necessário perceber o que vai acontecer à população ativa, aquela que mais contribui para o sistema. O índice de renovação da população ativa (número de pessoas que entram no mercado de trabalho por cada 100 que saem) era em 2011 de 94, o que implica a diminuição da população ativa. Por comparação, em 2001 este índice era de 143. A previsão para 2060 do INE é de apenas 72 no seu cenário central, o que a confirmar-se levaria a uma diminuição forte da população ativa.
Assim, podemos concluir que a população portuguesa irá continuar a envelhecer, não havendo sinais animadores ao nível da renovação da população. Existe ainda uma alta probabilidade de decréscimo da população ativa, o que diminuirá o rácio entre população ativa e idosos. Deste modo, parece evidente que o sistema actual da Segurança Social terá que ser alterado, de forma a evitar um futuro colapso.

Jorge Pereira

[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho] 

Os Jovens e a Agricultura

Face à crise económica que se instalou, em que o desemprego representa uma constante, a agricultura revelou-se como uma última alternativa a ser pensada, principalmente para os jovens que optam por não emigrar. 
Na verdade, cada vez mais se ouve falar do regresso ao campo e às origens e do crescente número de jovens que trocam as cidades pelo trabalho rural, bem como de alguns projetos agrícolas de sucesso, que aos poucos contribuem para revitalizar e dinamizar as zonas rurais do país. 
No entanto, apesar da tendência crescente de jovens agricultores, esta ainda se revela pouco expressiva, posicionando Portugal entre os países da União Europeia com menos jovens agricultores: somente 2,5% dos agricultores portugueses têm menos de 35 anos, face à quase metade que tem mais de 65 anos. Contudo, aproximadamente metade dos jovens que procuram uma oportunidade no setor agrícola tem formação superior (46%) e são os homens que predominam, ainda que sem uma maioria significativa (60%). 
Como tal, nos últimos anos, tem-se assistido à criação de mais condições e incentivos para que os jovens empreendedores, com uma ideia de negócio e com vontade de trabalhar a terra, possam ocupar os campos e mobilizar a agricultura. Produções agrícolas rentáveis, como a do mirtilo e dos frutos vermelhos, são cada vez mais procuradas pelos países Nórdicos.  Outras, como cogumelos, kiwis, ervas aromáticas e medicinais, plantas ornamentais, árvores de fruto, vinho e outras menos conhecidas, como a do physalis ou açafrão-das-índias são também algumas das grandes apostas feitas pelos jovens.
Contudo, os agricultores sem experiência e a quase sem acompanhamento técnico, as condições financeiras e as dificuldades de escoamento da produção são o reverso da medalha do regresso aos campos. Esta viragem para a agricultura tem que ser acompanhada de eficiência, evitando, por exemplo, a plantação de culturas em terrenos impróprios, pensando nos custos de transporte e não vendendo a produção a qualquer preço. 
Outro dos problemas que o regresso à agricultura coloca é a descida dos preços, impulsionada pelo aumento da produção. De acordo com os dados do INE, a superfície agrícola não utilizada diminuiu 20% face a 2009, apresentando o valor mais baixo desde que existem registos estatísticos. 
Por outro lado, a incerteza do setor, que se encontra sujeito às alterações climáticas, põe em causa todo o projeto. As dificuldades de acesso ao crédito e de comercialização, representam também algumas das dificuldades da profissão de agricultor. No entanto, muitos dos jovens desistem dos seus projetos agrícolas quando percebem que têm que sujar as mãos, que abdicar de férias, fins-de-semana e da comodidade da cidade. 
Assim sendo, apesar de dever ser incentivada a exploração agrícola, dado que permite combater a desertificação e pode contribuir para ultrapassar a atual conjuntura económica, representando uma alternativa aliciante ao desemprego, é necessário ter presente que a agricultura não é para todos. É necessário um gosto especial. 
Ana Raquel Silva 

[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho] 

Preços do petróleo batem em mínimos de cinco anos

Os preços do petróleo negociado em Londres (Brent) e nos Estados Unidos (West Texas Intermediate - WTI) estão nos valores mais baixos dos últimos cinco anos, devido à expectativa criada pela possibilidade de os grandes investidores se desfazerem das suas posições. O petróleo Brent para entrega em janeiro estava a desvalorizar 3,5% para 66,65 dólares por barril, depois de ter testado um novo mínimo desde outubro de 2009, nos 66,53 dólares por barril, e contrastando com os 115 dólares, em junho do mesmo ano. Já em Nova Iorque, os futuros do WTI para entrega no primeiro mês de 2015 seguiam a negociar nos 63,73 dólares por barril, uma queda de 3,2%, depois de terem tocado no valor mais baixo desde julho de 2009, o qual foi de 63,63 dólares por barril. 
Tom Finlon, diretor da Energy Analytics Group, em entrevista à Bloomberg, um dos principais provedores mundiais de informação para o mercado financeiro, antecipou mesmo que "novos mínimos vão ser testados", realçando que o "mercado é volátil, pelo que são normais movimentos acentuados", quer nas descidas, quer nas subidas dos preços do "ouro negro". Outro fator que tem contribuído para esta íngreme descida dos preços são os sinais que apontam para um recuo da procura a nível mundial, o que já levou os grandes bancos de investimento, como o Morgan Stanley, o BNP Paribas e o Barclays a reverem em baixa as suas previsões de preços. 
No relatório mensal divulgado quarta-feira 10 de Dezembro, a Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP) reviu em baixa para 28,9 milhões de barris por dia a procura de petróleo em 2015, a par do cartel do petróleo, que também reviu em baixa as previsões de consumo em 70 mil barris por dia, uma redução de 0,07% em relação a 2014. No entanto, a alta carga fiscal sobre os produtos petrolíferos está a impedir que os consumidores beneficiem da queda dos preços do petróleo nos mercados internacionais. 
Em suma, a alta especulação em torno dos preços do petróleo tem diminuído o preço do barril, tendo este então atingido os valores mais baixos desde 2009 mas, para nós, consumidores, essa diminuição não tem transparecido com igual intensidade nos preços de venda pois continua a haver grande intervenção fiscal, que se sobrepõe aos movimentos dos mercados.

Rafaela Maia

[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho] 

sábado, 20 de dezembro de 2014

Parcerias Público-Privadas no Setor Rodoviário

As transformações ocorridas em Portugal durante o séc XX, acarretaram um aumento da despesa pública para níveis incomportáveis. Os vícios privados foram transformados em dívida pública e uma sucessão de más decisões governamentais ditou os desequilíbrios estruturais e sacrifícios que hoje sentimos na "carteira". Com o despertar da "Crise das Dívidas Soberanas", em 2010, a situação piorou ainda mais e foi imperativo pedir ajuda externa. 
A crescente necessidade de reduzir o défice levou a uma série de decisões e a uma necessidade de maximizar a eficiência em determinados setores. Uma das formas de capitalizar esta eficiência consistiu na concessão de Parcerias Público-Privadas (PPP), uma vez que, por norma, os privadas operam de forma mais eficiente e permite ao Estado arrecadar poupanças (o investimento é dividido ao longo dos anos).
Segundo os relatórios da Direção-Geral do Tesouro e Finanças (DGTF), a utilização das PPP em Portugal, teve um crescimento exponencial desde a década de 90. Um desenvolvimento notável devido a estas parcerias, verificou-se por exemplo no setor rodoviário (principalmente auto-estradas). Este tipo de parcerias envolve muitos outros setores, entre os quais: ferroviário, saúde, entre outros...
Segundo a PriceWaterHouseCoopers, em 2005 Portugal já era o país europeu com maiores encargos em PPP em percentagem do PIB, com cerca de 1,2%. Os encargos com as PPP, embora não estejam incluídos na dívida pública direta, são sempre uma responsabilidade do Estado pois é sua obrigação os pagamentos subjacentes a uma parceria. Isto tornou a utilização das PPP muito desejáveis aos Estado pois permite responder a necessidades imediatas, diferindo os encargos subjacentes para um futuro distante.
No que toca às PPP no setor rodoviário, a discussão que as envolve é muito controversa. Se, por um lado, é indiscutível os benefícios gerados por estas parcerias, resultando sobretudo numa expansão das infra-estruturas e consequente redução da sinistralidade, por outro lado, é bem visível o seu impacto negativo a nível orçamental no que concerne aos pedidos de reequilíbrio financeiro por parte dos privados que têm revelado elevados custos para o erário público. Estes pedidos devem-se sobretudo a uma queda no volume de tráfego. 
Segundo o Relatório da Comissão Parlamentar às Concessões Rodoviárias, é nos primeiros anos de concessão que surgem os maiores pedidos de reequilíbrio financeiro. Ora, isto é ainda mais grave porque a maior parte destes pedidos são culpa do próprio Estado (imposições contratuais ou atrasos nas expropriações).
Sendo todos estes factos notáveis, é necessário questionar-mo-nos se não foi um preço muito alto a pagar. No caso das PPP rodoviárias, é imensurável o custo de uma vida (por via da redução da sinistralidade), no entanto, fica a ideia de que seria possível obter estes resultados ou melhores por vias alternativas, ou melhor defesa dos interesses do Estado. Poderia verificar-se esta defesa de interesses se não se verificasse uma urgência no reequilíbrio das contas públicas e amenização da dívida pública que resultaram de má gestão governamental ao longo de muitos anos.
Verifica-se que grande parte dos riscos inerentes a estas parcerias, recaem sobre o setor público. Por estes motivos, atualmente, os sacrifícios exigidos aos contribuintes são excessivos. A acrescentar, hoje temos que suportar uma fatura elevadíssima por uma série de infra-estruturas dispendiosas, entre as quais autoestradas que não justificam a construção nem a sua utilização em muitos casos. Verifica-se ineficiências por sub-consumo devido às elevadas portagens exigidas quando usufruímos de um serviço que, no fundo, como contribuintes, já co-financiamos.
Mais uma vez, a execução de muitos projetos foi um fiasco, estando envoltos em erros e más previsões, assim como em falta de transparência. No ato do estabelecimento contratual é necessário haver uma maior capacidade de prever os ajustamentos imprescindíveis, diminuindo assim a imprevisibilidade nos gastos do estado. Isso implica a capacidade de prever adequadamente a cobertura total dos riscos e ainda calcular adequadamente todas as variáveis indispensáveis ao planeamento correto e coerente de investimentos que envolvem infraestruturas tão dispendiosas. 
Temos que ter bem presente que estas infraestruturas comprometem uma população imensa e muitas vezes colocam em primeiro plano o beneficio de terceiros (privados).

Ana Marta Gomes Carvalho

Bibliografia:
http://www.anpec.org.br/encontro2006/artigos/A06A031.pdf

[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]