domingo, 25 de setembro de 2016

Os Refugiados da Desavença e os “Valores Europeus”

Face à crise dos refugiados que se sente na Europa, algumas instituições Europeias tentam minimizar o drama humanitário, respondendo às necessidades de quem chega à costa do nosso continente, fugidos da guerra. Seremos nós, os europeus, assim tão dignos dos benefícios que esta “invasão” de refugiados nos traz?
São milhares os que de facto chegam até nós todos os dias com o intuito de sobrevivência e com esperança de um futuro mais risonho. Contudo, o aumento desse número, bem como as imagens divulgadas pelos média, têm criado sentimentos contraditórios entre os europeus, variando entre empatia e solidariedade e a angústia e egoísmo.
É assustador observar a rapidez com que os “valores europeus” são dizimados perante tamanha pressão proporcionada pela dita crise. Contudo, as principais vítimas não são os europeus e muito menos a Europa em si. Trata-se da Crise dos Refugiados - Os Refugiados da Desavença. Isto é, pelo menos para alguns europeus que os intitulam assim e que admitem que “o melhor seria fechar-lhes a fronteira e aproveitar a nossa paz” ou “Antes eles do que nós”. “Pessoas ignorantes” penso, “mas que culpa têm eles das religiões fanáticas que os assombram e do cenário de guerra que se instalou? Ninguém merece ter que enterrar a sua família!”. E como este, há outros tantos motivos que visam assustar os residentes da Europa, passando a citar: “Portugal não tem condições para acolher este fluxo de pessoas”, o que mais uma vez não é necessariamente verdade!! É preciso saber distinguir entre as pessoas que são vítimas das flutuações abruptas do mercado capitalista daquelas que são vítimas dos ambientes de guerra vividos por décadas na região do médio oriente (porém, atenção! não pretendo incrementar desvalorizações).
Pois bem, a história dos refugiados já toda a gente conhece, e eu não me vou estar a repetir. É certo e sabido que a sua vinda pode ter causado algumas preocupações e um pouco de desordem no quotidiano da Europa, contudo um problema jamais se resolve erguendo barreiras, mas sim administrando as pressões e os riscos de forma a beneficiar ambas as partes e, como em tudo, há um lado positivo nesta dramática história.
A Europa continua a estar muito longe da Crise dos Refugiados existente em outros locais do planeta, quer na sua capacidade financeira para lidar com estes novos fluxos, quer na quantidade de refugiados que recebe. Note-se ainda que este fluxo migratório contribuiu para a estimulação da economia Europeia, e ainda que o apoio a milhares de pessoas possa, a curto prazo, ter custos elevados, segundo o FMI, o acolhimento e a subsequente integração dos refugiados de uma forma eficiente e eficaz pode trazer impactos económicos positivos. Contudo, evidenciaram-se algumas falhas da política comum de asilo na UE e estão a levantarse dúvidas sobre a capacidade de integração anteriormente falada.
Fomos “invadidos” mas nem tudo está perdido! “Uma rápida integração dos refugiados no mercado laboral terá importantes benefícios económicos, orçamentais e sociais”, afirma estudo realizado pelo FMI.
Sabe-se que o crescimento de uma economia depende do consumo e investimento. E, assim, um aumento populacional impulsionará o consumo e estimulará a capacidade de produção do país, contribuindo modestamente para o aumento do PIB (refletindo a expansão fiscal). Há também a entrada de novas ideologias o aparecimento de novas iniciativas/ideias associadas à criação de novos negócios, contribuindo para os níveis de desenvolvimento. Já para não falar que, devido à grande flexibilidade de mobilidade geográfica, os refugiados podem se deslocar para os locais onde a oferta de trabalho é mais elevada e, consequentemente, quanto mais rápido estes encontrarem um emprego, também mais rápido começam a ajudar as Finanças Públicas através de contribuições para a Segurança Social e pagamentos de impostos. E aqui refiro-me aos programas de reinstalação que permitem não só dar uma solução mais gratificante aos refugiados, como também permitem uma maior partilha dos encargos e das responsabilidades na gestão dos fluxos destes em variadas regiões do mundo. Por fim, o FMI alega também que os refugiados podem amenizar os problemas demográficos vivenciados na Europa, uma vez que existem muitos idosos e poucas crianças, sublinhando que quem procura asilo na Europa está a dirigir-se para países com baixos níveis de desemprego e não para as regiões onde o problema de envelhecimento é mais severo.
Ainda que eu seja a favor do apoio a estas pessoas, infelizmente, uma integração demorada ou sem eliminação das barreiras a essa mesma integração, existentes em alguns países da EU, proporcionará um impacto bastante negativo.

Bruna Macedo Ferreira

[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]

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