O fenómeno da globalização transformou completamente o espaço de atuação das economias nacionais e trouxe à baila todo outro fenómeno conhecido por Comércio Internacional (CI) – toda a troca de bens e serviços com países terceiros. Todo este “novo mercado” concedeu novas oportunidades de interdependência e complementaridade, levando os países a criar estratégias direcionadas para o exterior.
No caso do nosso país, Portugal, o CI é uma tendência já confirmada, uma vez que os dados mostram que após a entrada para a União Europeia, o conjunto das trocas com o exterior, isto é, as exportações e importações, cresceram a uma média de 8% ao ano, entre os anos de 1986 e 2010. Contudo continuamos deficitários nas trocas com o exterior, ou seja, ainda importamos mais do que exportamos, em muito causado pela estagnação do nosso modelo de crescimento económico. Entre as causas dessa estagnação encontraram-se, entre outros fatores, a incapacidade de correspondermos à procura interna sem recorrer à importação, desde 1986 a economia portuguesa nunca consegui corresponder a mais de 70% da procura interna, e a nossa incapacidade de exportarmos mais de 35% do nosso PIB. O máximo da cobertura das exortações pelas importações aconteceu em 1986 com 89% e nunca mais esse valor foi atingido.
Se comparamos Portugal com o resto da União Europeia, verificamos que o nosso país foi o sexto país em relação às exportações per capita, o sétimo país em que as exportações têm menos peso no PIB e o segundo pior na taxa de cobertura.
Numa comparação sectorial entre as exportações e importações, é possível verificar que as importações portuguesas são maioritariamente em bens, com cerca de 84%, enquanto os serviços representam 16% das importações. Já nas exportações e tendo em conta a cada vez maior internacionalização dos serviços portugueses, o peso dos bens nas exportações desceu de 75% para 67%, sendo no ano de 2012, o peso dos serviços de 33%.
Entre 1986 e 2010 o comércio intracomunitário perdeu peso tanto nas exportações como nas importações, tendo perdido mais nas primeiras. Concretamente, a descida nas exportações foi de 79% para 73%, enquanto nas importações foi de 77% para 75%. Em relação aos países com que Portugal mais transaciona deparamos que Espanha, França, Reino Unido e Alemanha são os principais parceiros portugueses representando mais de metade das trocas comerciais portuguesas a nível internacional, sendo a Espanha o número um deste “ranking”. Entre este período a nossa dependência para “nuestros hermanos” aumentou significativamente, tanto a nível das exportações que aumentaram 8 pontos percentuais, de 15% para 23%, como nas importações, que evoluiu de 23% para 30%.
Contudo o nosso país tem apostado também, cada vez mais, em comércio com países extracomunitários, diversificando os seus mercados, principalmente no que a exportações diz respeito. Exemplo disse mesmo é o caso de Angola, dado que as nossas exportações para a nossa ex-colónia africana aumentaram em média 15% ao ano nos últimos 16 anos, representando atualmente cerca de 5% das exportações portuguesas.
Porém, e olhando para o grau de especialização tecnológica das exportações portuguesas, é fácil verificar que as atividades de nível mais sofisticado são duas vezes mais orientadas para o exterior do que as atividades com menos valor acrescentado. Contudo o domínio das exportações portuguesas continua na baixa tecnologia e é na média-baixa tecnologia que Portugal apresenta maior dinamismo nas exportações.
Tendo em conta todos estes dados já apresentados, é importante, na minha perspetiva que o nosso país aposte mais mercados de bens com um nível tecnológico mais elevado, mas para isso é essencial que apostemos em I&D, não só por parte do Estado como das próprias empresas. Mas, para mim, é ainda mais essencial que consigamos abranger um número maior de países, ou seja, que consigamos comercializar os produtos em que realmente somos bons e temos prestígio, como o exemplo da indústria do calçado e da cortiça, para países com quem ainda não tenhamos traços comerciais fortes e que tenham boas situações económicas, como o caso da Finlândia e Suíça. Assim sendo, o alargamento dos “negócios” portugueses poderia permitir um ponto de viragem da economia portuguesa e uma alavanca para a recuperação económica.
Flávio André Gouveia Peixoto
[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]
[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]
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