O consumo privado das famílias reveste-se de grande importância uma vez que a despesa interna é composta pela soma entre o consumo, investimento e despesa do Estado. Através de uma análise gráfica, do período entre 1954 e 1994, constata-se que o peso do consumo no PIB é bastante elevado o que faz dele um factor determinante. Esta situação teve o reverso da moeda afectando de forma significativa a poupança das famílias. Assim, é importante perceber quais os motivos que contribuíram para este aumento do consumo nos últimos anos bem como quais os bens mais procurados.
A mudança política e a adesão à CEE, nos anos 70 e 80, respectivamente, fizeram os portugueses acreditar num futuro melhor, alargando o acesso a bens e serviços. Enquanto em décadas anteriores apenas os grupos mais ricos tinham acesso a certos bens e serviços, num passado mais recente essas barreiras foram sendo eliminadas. Com a integração na CEE, o desenvolvimento do sistema financeiro associado a baixas taxas de juro também permitiu reduzir as restrições de liquidez. Todos estes factores conjugados com o desenvolvimento tecnológico e a constante inovação contribuíram para o aumento do consumo em Portugal.
Ao longo do tempo, o consumo foi-se aproximando do rendimento disponível. Segundo dados do Banco de Portugal, verifica-se que entre 1999 e 2006 houve um aumento do consumo em Portugal de cerca de 64% para 68%. Enquanto na zona Euro o peso do consumo está bastante abaixo do que acontece em Portugal, mantendo-se relativamente constante no período referido. Aliás, Portugal é dos países em que o peso do consumo é mais elevado.
Depois de uma pequena referência à evolução do consumo, é importante perceber quais os bens que se destacaram nos últimos anos. Analisando os bens que satisfazem necessidades primárias, tal como os bens alimentares, dados do INE demostram uma tendência crescente, embora ligeira, passando de 18589,8, em 2006, para 21317,4 milhões de euros, em 2012. Embora os dados demonstrem uma tendência crescente, em altura de crise, pode verificar-se um efeito de substituição trocando alguns produtos por marcas brancas.
Analisando a riqueza em habitação, verifica-se que a partir da adesão à moeda única (1999) esta aumenta de forma acentuada. Esta riqueza passa de cerca de 275% do rendimento disponível das famílias em 1999 para aproximadamente 300% em 2008, começando a partir deste ano a diminuir.
Em relação aos bens duradouros, o que incluiu tecnologia, electrodomésticos e automóveis, ou seja, os chamados bens supérfluos, este foi o sector mais afectado pela crise que o país atravessa nos últimos anos. Recorrendo novamente a dados do INE, constata-se uma diminuição de 8873,7 para 6548,1 milhões de euros de 2011 para 2012.
Os choques de expectativas positivas que se verificaram com a adesão à CEE contribuíram para o aumento do consumo de forma acentuada durante alguns anos. Contudo, a crise económica financeira que se faz sentir desde 2007 levou a medidas de austeridade por parte do Governo que em muito têm contribuído para desacelerar o consumo privado. Perante a crise que o país atravessa, tornou-se mais difícil o acesso ao crédito o que, conjugado com os altos impostos e a insegurança nos empregos, leva as pessoas a reduzirem o investimento em bens duradouros (automóveis, electrodomésticos, tecnologia), direccionando os seus rendimentos para os bens essenciais.
Reino Unido, Grécia, Estados Unidos e Portugal representam o grupo de países onde o peso do consumo é mais elevado, sendo que a maioria se encontra no momento em dificuldades. Aliás, é importante referir que tanto Portugal como a Grécia são os países onde a economia mais depende do consumo. Na minha opinião, a correcção dos desequilíbrios apresentados por Portugal deve passar por uma diminuição do peso do consumo e um aumento da poupança. É certo que, com base na teoria Keynesiana, aumentar a poupança pode agravar a recessão, a não ser que a diminuição do consumo se baseie na diminuição dos bens importados. Para mim, aqui reside o problema. O consumo em Portugal baseou-se durante anos na importação, enriquecendo os estrangeiros. Durante anos, o país consumiu mais do que produziu, apresentando uma despesa superior à produção. Esta situação levou a défices externos recorrentes, que têm de ser corrigidos, e para tal será necessário um aumento das exportações conjugado com a redução das importações.
Regina Marques Gonçalves
[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]
[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]
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