sábado, 28 de dezembro de 2013

Quem tem medo da inflacção?

A inflação tem crescido um pouco por todo o mundo. Com muitos a culparem o Banco Central e as Reservas Federais pelas alegadas políticas monetárias expansionistas, existem alguns motivos para temer o aumento da taxa de inflação: pressões salariais, preço dos bens e a crise financeira. Como tal, o Banco Central desempenha um papel fundamental dada a potencialidade que este tem para influenciar a relação (delicada) entre a inflação actual e a expectável.
Quanto às pressões salarias, quando a inflacção actual aumenta é crucial que não seja desencadeada a procura por salários nominais mais altos, pois isso iria empurrar os custos marginais das empresas para um nível ainda mais alto, causando ainda mais inflação: surge então este ciclo vicioso onde uma inflação actual elevada tende a ser auto-sustentável no futuro. Exemplificando: se considerarmos as últimas reuniões do sindicato de trabalhadores de uma empresa têxtil do norte a negociar os salários para a sua empresa, para os próximos 2 anos, obviamente que a sua decisão será baseada no que eles esperam que a inflacção seja nesse período de tempo. Supondo que a inflacção actual se situa perto dos 3% (como era o caso de Portugal em 2012), acima, por isso, dos quase 2% permitidos pelo BCE, e se o sindicato estiver confiante que o Banco Central em conjunto com o Governo fará todos os possíveis para baixar a inflação para os 2% num espaço de tempo razoável, vai fazer com que as suas exigências actuais salarias não sejam tão elevadas. Ou seja, se o Banco central for suficientemente credível ao definir a inflação nos 2% e for transparente o suficiente nas acções que vão ser desencadeadas para atingir essa meta, quer sindicatos, quer trabalhadores, à priori, vão perceber que  os 3% actuais de inflação são apenas temporários, fazendo assim com que as expectativas face à inflação sejam lidadas da maneira mais eficiente – a chave é moderar todas as manifestações súbitas de inflacção actuais, tendo presente as lições aprendidas com a história.
Já o aumento nos preços dos bens, quer sejam bens comuns alimentares ou matérias primas, é um dos factores que mais contribui para o aumento da inflação – este fenómeno pode ser explicado por dois factores: por o excesso de procura por materiais a ser usados na indústria (ferro, zinco, cobre, etc) serem originários de economias emergentes, como a China, a índia e o Brasil; e porque um aumento nas expectativas da inflação diminui as taxas de juro reais.  
Na infinidade de teorias sobre os efeitos do choque financeiro actual, parece haver alguma confusão sobre as suas possíveis consequências inflacionárias. Uma das criticas mais comuns ouvidas contra o BCE questiona porque é que se preocupa tanto com a inflação. Se estamos perante uma crise económica, esta provoca desaceleração na economia, consequentemente, as pressões inflacionárias estarão controladas. Como tal, é preferível fazer o possível para manter um crescimento fraco na Europa do que centrar as preocupações apenas na diminuição da inflacção. 
De uma perspectiva, algo original, há quem defenda que o choque financeiro que a Europa está a atravessar é, intrinsecamente, deflacionário. Porém, este raciocínio acenta numa lógica algo falaciosa, pois não refere que este desacelaramento, no futuro, poderá induzir mudanças radicais na direcção das políticas monetárias, com potenciais consequências dolorosas para a economia; e porque ainda não se sabe ao certo se este choque financeiro que estamos a atravessar irá afectar o grau de eficiência dos mercados financeiros. Mas, se for esse o caso, o mesmo pode induzir um choque positivo ou negativo sob o hiato de produto. 

Rita Andrade

[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho] 

Sem comentários: