O atraso de Portugal relativamente aos outros países sempre existiu ou começou numa dada altura? Para responder a esta pergunta vamos recuar até ao início do século XIX (1830).
No início do século XIX, acontece na Inglaterra um movimento “poderoso” que definiu divergências económicas patentes ainda nos dias de hoje - a Revolução Industrial.
Antes da revolução industrial as economias eram maioritariamente agrícolas e com fraco crescimento do PIB (taxas de crescimento do PIBpc próximas de 0). Todos os países que foram arrastados por este movimento viram as suas economias crescerem devido à industrialização e modernização do país e ao surgimento de infra - estruturas sólidas.
A economia portuguesa não conseguiu acompanhar o processo de industrialização por diversas razões. Ausência de recursos naturais - os países que se industrializaram possuíam carvão e ferro, ao contrário dos países do sul da Europa. Portugal também não possuía recursos naturais para se adaptar às inovações agrícolas, levando assim a um problema de deficiente especialização agrícola. A elevada taxa de analfabetismo levava à ausência de recursos humanos adequados. O que tornou ainda mais difícil o processo de industrialização, foi a criação de um tratado que facilitava a penetração do produto manufaturado Inglês em Portugal. Todos estes motivos levaram a que Portugal não conseguisse acompanhar o progresso dos restantes países, levando a diferenças notórias no PIB, que permanecem até aos dias de hoje.
Só perto de 1900, várias décadas depois, Portugal começa a investir em infra–estruturas, com recurso a empréstimos (exemplos: Ponte D. Luís, desenvolveu-se o telegrafo, fizeram-se importantes investimentos no sector das estradas). Também a agricultura se desenvolveu, as exportações dos bens agrícolas aumentaram, introdução de máquinas e resíduos químicos na agricultura. Também no sector industrial se detetam avanços. Começam a ser introduzidas em Portugal as inovações da revolução industrial, a indústria portuguesa começa a diversificar-se (surgem novos sectores, como, por exemplo, o sector ligado à transformação de cortiça e sectores ligados às conservas de peixe). Contudo, este período terminou com uma crise económica e financeira grave. O estado português devido ao forte endividamento deixou de ter dinheiro, declarando mesmo bancarrota parcial. A crise financeira levou à corrida aos bancos. Muitos bancos fecharam e a moeda portuguesa deixou de ser convertível.
Podemos observar que Portugal industrializou-se tardiamente e quando o fez, no intuito de acompanhar as outras economias, sobre-endividou-se. Quando os dirigentes portugueses se aperceberam do atraso de Portugal face ao resto da Europa procuraram igualar o nível de desenvolvimento, saltando as etapas fundamentais para um crescimento sustentável, isto é, apostaram “todas as moedas” no sector secundário e terciário, esquecendo-se do sector primário. Note-se que não quero com isto dizer que não se deveria apostar nestes sectores, mas sim que deveria ter sido feita igual aposta no desenvolvimento do sector primário e não ter deixado que este chegasse a um ponto de estagnação ou até mesmo de retrocesso.
Dos acontecimentos agora descritos podemos observar que as lacunas da economia portuguesa não são recentes. Uma análise mais profunda da história económica portuguesa permite-nos mesmo concluir que elas se vêm repetindo ciclicamente ao longo dos tempos. Embora se tenham notado algumas melhorias no que diz respeito ao crescimento da economia portuguesa em 2013, é certo é que os tempos são difíceis.
Marisa Oliveira Couto
[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]
[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]
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