A crise económica global, acentuada a partir de 2008, e a consequente fragilidade da economia desde então, tem alimentado rumores de que os governos podem recorrer ao protecionismo comercial com vista a sustentar as respectivas economias e a proteger as mesmas da concorrência estrangeira.
Este receio de um aumento do protecionismo tem os seus fundamentos, dada a esmagadora evidencia empírica do período pré-crise, que segundo alguns teóricos da área, demonstra que os governos tinham mais propensão a erguer barreiras comerciais, sempre que a economia experimentasse recessões/perdas de competitividade.
Apesar desta relação contra-cíclica (historicamente documentada) entre o crescimento, a competitividade, o protecionismo comercial e o abrandamento da economia global (incluindo a recente desaceleração do comércio mundial) os dados existentes sugerem que os governos do G20, até agora e maioritariamente, resistiram à tentação de avançar para políticas comerciais mais protecionistas. Isto levanta a questão se a relação contra-cíclica pré-crise se mantem depois do surgimento desta.
Por um lado, há a possibilidade de esta relação ter sido interrompida (não só) como um resultado da fragmentação progressiva entre as cadeias de abastecimento de todos os países que vão, a pouco e pouco, reduzindo os seus incentivos para fechar os mercados domésticos aos produtores estrangeiros. Se assim for, os receios de um aumento do proteccionismo nasceram sem fundamentos e todos os esforços para conter as politicas comerciais restritivas devem ser direccionadas para outras questões políticas.
Por outro lado, se esta relação se mantiver, a resposta protecionista tem sido reduzida por factores desconhecidos e de cariz pontual, e o proteccionismo pode aparecer a qualquer momento. Se assim for, a coordenação internacional no âmbito do G20 ou da Organização Mundial do Comércio deve entrar em acção para impedir o uso de politicas protecionistas.
Relacionando o número de políticas protecionistas implementadas pelos países do G20 para o crescimento do PIB real é possível identificar, genericamente que: na queda de um ponto percentual no PIB resultou do aumento do número de medidas comerciais de cariz restritivo; a apreciação real da moeda nacional em 1%, é, tipicamente, seguida de um aumento das mesmas medidas; e um fraco crescimento de um parceiro comercial não induziu, em nada, economias do G20 para adicionar mais barreiras ao comércio.
Estes resultados sugerem que a relação entre crecimento, competitividade e proteccionismo antes da crise se mantém, mesmo após esta e que não acarreta grande importância na determinação das políticas comerciais recentes.
Assim, é claro que, quanto mais tempo demorar para que a economia global se recupere, mais difícil será acreditar que as politicas comerciais permanecerão (relativamente) não discriminantes. Os governos do G20 terão de suportar a procura pelo proteccionismo comercial, e com o passar do tempo esta tentação terá tendência a agravar-se se as respectivas economias não ganharem qualquer impulso de crescimento. Como tal, todos os esforços para evitar a “peer pressure” no âmbito do G20 devem ser monitorizadas bem de perto pela Organização Mundial do Comércio, por exemplo.
Rita Andrade
[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]
[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]
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