sábado, 21 de setembro de 2019

Estudos de felicidade

O que é a felicidade? É algo que pode ser medido? Há forma de aumentarmos a nossa felicidade? Se sim, como? “Se acreditamos que algo é importante, temos de tentar medi-lo”. Esta frase foi proferida por um economista britânico, Richard Layard, conhecido por tentar medir a felicidade. E sendo o paradoxo da nossa vida a felicidade, podemos e/ou devemos medir a nossa própria felicidade? E, acima de tudo, será que a conseguimos interligar com a Economia?
         Talvez consigamos definir a felicidade como um estado de satisfação a nível pessoal e profissional, em que encontramos um equilíbrio com o nosso estado psicológico. Mas, o grau de perceção de felicidade será o mesmo para mim e para o resto das pessoas? A felicidade é uma definição individualista. Tanto que se nos perguntarmos se somos felizes, muitas pessoas podem assumir que são felizes porque têm uma boa casa ou um bom salário, enquanto que outras dão como razão da sua felicidade terem uma família feliz ou saúde. E é aqui que o paradoxo começa. Se a definição e a causa da felicidade são díspares para todos, como podemos medi-la? A verdade é que sim, podemos medi-la, mas talvez seja uma avaliação subjetiva.
Tendo em conta a dificuldade de mensuração da felicidade, um exemplo interessante do estudo exaustivo desta matéria é o Better Life Index. A meu ver, a felicidade é algo que não se consegue traduzir num número objetivo. Porém, podemos tentar estabelecer uma conexão entre a felicidade e uma boa vida, e desta forma chegarmos a um resultado mais concreto. Mas será uma vida melhor sinónimo de felicidade?
         A OCDE lançou em 2011 o Better Life Index, onde mostra como cada país agrupa as variáveis que considera mais importantes, de forma a chegar a um resultado. Este Índice engloba 11 variáveis, umas subjetivas, como a medição da nossa satisfação pessoal, e outras mais objetivas (embora não tanto), como o rendimento e o equilíbrio pessoal-profissional. É de salientar que quantas mais dimensões abarcarmos, mais sustentável será o nosso resultado. Mas isto atrai dificuldades, como o peso relativo atribuído a cada variável ou a tendência de querer adicionar dimensões que são difíceis, ou talvez impossíveis de medir. Como exemplo, temos o engajamento cívico e a qualidade do meio ambiente.
         Porém, é interessante efetuarmos uma comparação entre os países da OCDE. Conseguimos retratar que os países nórdicos, como a Noruega, a Islândia e a Dinamarca obtêm um Índice mais elevado, ao contrário de países como a África do Sul, o México e o Brasil.
                 

         
Nada de inesperado até agora, mas em que medida estes dados são exequíveis? Tal como foi dito, um dos dilemas deste Índice é o peso de cada variável na sua medição. Porque não é o rendimento a variável mais importante? É certo que a maioria das pessoas quer mais rendimento, mas a verdade é que apesar de as sociedades se tornarem mais ricas, tal não quer dizer que sejam sociedades mais felizes, ou até que vivam melhor. Estudos recentes demonstram que as pessoas, nos últimos 50 anos, não apresentam um grande aumento no seu nível de felicidade, mesmo que o rendimento médio tenha mais que duplicado. É claro que o dinheiro não compra a felicidade, mas é um fator marcante para avaliar o padrão de vida das sociedades. E, nesta variável, o Luxemburgo, seguido dos Estados Unidos, é o pais que apresenta um Índice mais elevado e, por outo lado, é o país que apresenta mais desigualdades na distribuição do rendimento.
No que concerne a Portugal, o nosso país encontra-se acima da média em variáveis como a segurança e o equilíbrio pessoal-profissional, mas encontra-se abaixo da média em variáveis como o emprego e a satisfação pessoal. Mas os portugueses vivem pior que os luxemburgueses porque apresentam um Índice mais baixo?



Este Índice serve de comparação, mas há que ter atenção que temos de analisar estes valores com total consciência que existe uma panóplia de fatores por detrás destes números que não estão a ser considerados como, por exemplo, o da desigualdade no rendimento.
Sendo a Economia uma ciência que ampara as outras ciências, não seria impensável pensar em “felicidade económica” como medida do bem-estar e qualidade de vida, e fazendo uma conexão entre a satisfação de cada indivíduo e os problemas económicos.
Na minha opinião, é notório que não é fácil medir algo tão abstrato como a felicidade, até porque os índices de felicidade não apresentam um significado próprio, mas acredito que, à medida que nos questionamos sobre a nossa própria felicidade, possamos ter mais em conta valores humanos do que valores materialistas.
         Em suma, se este artigo não traz nada, pelo menos, que traga alguma felicidade. E em contraste ao que foi dito inicialmente, Albert Einstein afirma que “Nem tudo o que conta pode ser medido, nem tudo o que pode ser medido conta”.

Mariana Azevedo Gomes

Referências: http://www.oecdbetterlifeindex.org/pt/

[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]

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