domingo, 29 de setembro de 2019

Relaxar no interior

Há anos que dizemos que o turismo em Portugal está a aumentar, contudo, cada vez a passos mais pequenos. Pela primeira vez desde que temos verificado este crescimento, enfrentamos uma diminuição do número de dormidas em alojamentos turísticos. Constata-se que o maior impacto desta caída foi no mercado externo, tendo as dormidas aumentado 1,8% em 2018, sendo que no ano anterior obteve-se um crescimento de 12,2%. Contrariamente a este movimento, os estabelecimentos de turismo no espaço rural e de habitação são cada vez mais procurados. De 2017 para 2018, registou-se um aumento do número de hóspedes (+6,8%), que proporcionou um aumento do número das dormidas (+5,3%).


Os indicadores da secção rural do turismo em Portugal apontam para que, em termos gerais, os interessados pelos espaços rurais sejam uma clientela culta e com poder económico superior à média. Aquilo que se tem verificado nos últimos anos é que, cada vez mais, não só os turistas estrangeiros, como também os portugueses, que desejam explorar os quatro cantos do seu país, demonstram interesse por este tipo de turismo, fazendo, assim, com que o leque de clientes se alargue. Para além disso, atividades como caça, pesca, feiras e festivais atraem turistas, maioritariamente nacionais, independentemente dos seus status socioeconómicos.
         Por um lado, podemos notar que o turismo rural no nosso país afeta positivamente as economias nacional, regional e local, ao criar empregos, promover a sustentabilidade e gerar receitas que dinamizam as economias ao, indiretamente, levar ao crescimento de outros setores de atividade para os quais o turismo é benéfico – como, por exemplo, a restauração.
Em 2018, o número de dormidas em estabelecimentos de turismo de habitação e de turismo no espaço rural representou cerca de 2% do número total de dormidas em Portugal. Tendo em conta que os mercados interno e externo obtiveram em 2018 um total de 67,7 milhões de dormidas, de facto, está longe de ser a área do turismo com maior impacto a nível nacional. No entanto, também é verdade que nos últimos 6 anos se verificou um aumento de mais de 1 milhão de dormidas. De entre as diversas regiões, destacaram-se o Norte e o Alentejo, com crescimentos de +8,5% e +7,6%, respetivamente.


Por outro lado, também positivo, acredito que o turismo rural traz dinamismo às regiões do interior. O aumento da procura por parte de turistas locais e estrangeiros por estabelecimentos rurais nas zonas menos povoadas do nosso país gera a necessidade de abertura de novos alojamentos turísticos e de outros negócios. Prevê-se, então, o aumento do número de estabelecimentos não só para a clientela com maior poder económico que referi como, também, alojamentos mais acessíveis, que fomentam o interesse da população e combatem a desertificação destas regiões.
Se acredito que o turismo rural é a resposta à discrepância entre o litoral e o interior e à necessidade de aumentar a população deste último? Não. Acredito, sim, que tem a capacidade de apoiar o desenvolvimento económico das regiões e, consequentemente, criar incentivo à mobilidade da população. O apetite por explorar o interior de Portugal é cada vez maior e com isso cresce o interesse pelas tradições e património portugueses e potencia-se a melhoria dos acessos e das comunicações.
Concluindo, vejo o turismo rural como uma mais-valia para o país e para as pessoas que o procuram. Acredito que, apesar de enfrentarmos uma desaceleração no crescimento do turismo português, esta secção, em específico, ainda tem um caminho longo para crescer. Desde as termas aos campos de férias para as crianças, penso que há zonas muito sub-exploradas que agora, com o crescimento do interesse pelo turismo rural, têm a oportunidade de prosperar.

Bruna Torres,

Dados consultados no Instituto Nacional de Estatística (INE), Pordata e Direção-Geral de Agricultura e Desenvolvimento Rural.

[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]

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