Com a emergência das problemáticas climáticas, revelou-se que
a indústria da moda é uma das áreas mais destrutivas no que diz respeito à
preservação do ambiente. Assim, uma realidade talvez não tão conhecida é a da
poluição causada por cabides de plástico descartados pela indústria de Retail. Na mais recente semana da moda
em Paris, o realizador português John Filipe realizou uma campanha que traz o
problema à luz das atuais medidas ecológicas.
O fenómeno denomina-se de GOH ou “Garments On Hangers”. Segundo
o realizador, quando as roupas são transportadas das fábricas para as lojas, as
mesmas já estão em cabides de plástico, prontas para serem expostas. A
justificação encontra-se, para uns, no facto de a roupa ter menos “dobras”
desta forma e, para outros, no facto de ser um método de poupar no
empacotamento e na própria exposição das mesmas. No entanto, a realidade é mais
assoladora do que aquilo que aparenta. Os cabides de plástico barato servem
como “plástico de uso único”, isto é, não são vendidos junto com a peça e
acabam em aterros sanitários ou no fundo dos nossos oceanos.
Apesar de incertos, os números são aterrorizantes: de cerca
de 150 mil milhões de peças, 2/3 delas usam este método. Assim sendo, cerca de
100 mil milhões de cabides são usados apenas uma vez, levando mais de 1000 anos
a decompor.
Aos olhos de qualquer um de nós, o fenómeno é demasiado
ridículo para ser real. Quando compramos uma peça de roupa, o cabide vai parar
a uma caixa debaixo de um balcão para nunca mais ser usado. Contudo, cada um de
nós também compra cabides, duplicando assim o desperdício. Por outro lado, os
mesmos cabides poderiam voltar à fábrica para serem utilizados, mas são tão
baratos que a firma não tem qualquer proveito em tal.
Uma outra hipótese seria a da venda de roupa sem os cabides.
No entanto, do ponto de vista do marketing, as pessoas tendem a comprar menos
quando o produto não se encontra disposto.
Num jogo de culpas, estas distribuem-se equitativamente. Em
2006, a Voluntary Inter-industry Commerce
Solutions Association alertou para este problema e apresentou uma solução:
um cabide “emagrecido”, que usaria qualquer tipo de plástico reciclado e que,
na teoria, pouparia 78 mil euros. Esta ideia, porém, não foi concretizada, já
que a falta de exigência dos materiais poderia tornar-se nociva.
Agora, 13 anos depois, na situação de emergência ambiental
com que nos deparamos, aparece uma verdadeira solução. Apresentado pelo Ridley Scott Creative Group, em parceria
com Arch & Hook, BLUE é o único
cabide no mundo feito na sua totalidade de plásticos marinhos. Este artigo vira
o jogo, sendo uma alternativa 100% reciclada e que pode ser utilizada várias
vezes. Esta parece ser a oportunidade para acabar com a poluição marinha; no
entanto, se veio tarde demais ou não, depende ainda da atitude dos retalhistas.
A meu ver, esta é apenas uma solução “ilusória”, isto é,
enquanto a situação é recente há uma espécie de motivação publicitária para ser
ambientalmente consciente. Todavia, com o correr do tempo, deixa de existir
controlo em relação ao assunto, deixando de ser rentável utilizar estes cabides
ecológicos. Todos sabemos que, em muitas destas empresas, economia e moralidade
nem sempre coexistem, pois nem sempre a moralidade “vende”.
[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]
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