Nestes últimos 2 anos, tem-se vindo a registar um abrandamento da
atividade económica de vários países Europeus e uma das economias que mais tem
sofrido é a alemã. Segundo dados da OCDE, em 2018, houve uma contração de
0,8 pontos percentuais no PIB Alemão relativamente ao ano anterior, dando-se
assim os primeiros indícios para uma possível recessão. Também no segundo trimestre
deste ano se observou uma queda do produto, que rondou os -0,1%, valor
verdadeiramente alarmante numa economia com uma década de crescimento
praticamente constante e uma taxa de crescimento média de 2,0%.
Este desenvolvimento, sustentado principalmente
na indústria, teve também os seus retrocessos associados à situação política e
social vivida nos momentos de recessão. Por exemplo, em 2002, houve uma fase de
maior incerteza na mudança da moeda em circulação para o euro, em 2007, deu-se
o período em que se sucedeu a crise financeira internacional e, por fim, em
2010, sucedeu-se a crise das dívidas soberanas.
Mas então qual é a razão para este fraco
desempenho económico neste momento? A meu ver, existem duas explicações por
detrás deste recuo que se complementam entre si.
Uma delas prende-se com o facto da Alemanha, sendo
considerada a cabeça de cartaz da elite Europeia, poder estar também mais
vulnerável às consequências adjacentes ao atual contexto interno vivido na
Europa, nomeadamente, a saída do Reino Unido da União Europeia. A desaceleração
da atividade económica poderá estar relacionada com o Brexit na medida em que este
põe em causa a própria consistência da União e adiciona mais incertezas no
mercado europeu, fazendo com que os investidores pensem duas vezes antes de
apostar na Europa.
A outra hipótese considera que, para além da
instabilidade interna, existe também um problema no mercado externo, fruto da
guerra comercial entre as duas maiores potências mundiais. Tudo começou no dia 22 de março de 2018, data em que o presidente Donald Trump tomou a iniciativa de aumentar
o preço das tarifas dos produtos chineses importados. Como seria de esperar, o
líder Chinês Xi Jinping não se mostrou indiferente perante essa decisão e respondeu
da mesma forma às importações Americanas.
Este tema é bastante polémico na atualidade dado
que as trocas comerciais entre os EUA e a China representam 3,4% do comércio mundial.
Porém, estes dois países que estão diretamente envolvidos neste conflito não
são os únicos, nem mesmo os que estão a ser mais prejudicados com esta guerra.
Este clima, que já perdura há quase dois anos, tem afetado a economia mundial e
posto à prova principalmente as balanças comerciais Europeias (até porque o
peso do comércio entre a China e a União Europeia no total do comércio do mundo
é cerca de 3,7%.) O FMI calculou que a guerra comercial poderia reduzir o PIB
mundial em cerca de 0,8% em 2020 e levar ainda a mais perdas nos anos
seguintes.
Mas esta guerra pode agora ter implicações mais
diretas nos países Europeus uma vez que na sexta feira passada a Organização
Mundial do Comércio (OMC) chegou a uma conclusão sobre a queixa feita em 2006
pelos Estados Unidos contra os apoios concedidos pelos países europeus à
fabricante de aviões Airbus. A decisão tomada ainda não é pública, mas segundo
consta, de acordo com os rumores vindos de Washington, a deliberação da OMC foi
feita a favor dos norte-americanos e pouco deve faltar para que seja oficial
pois a verdade é que o caso já não é recente. Deste modo, foram abertas assim as
portas à possibilidade da criação de tarifas aos produtos europeus exportados
para a América.
Perante estas condições, as previsões para a
Alemanha não são muito otimistas e as medidas tomadas, ou melhor, a falta de
medidas tomadas pela chanceler Angela Merkel perante a situação começam a ser
questionadas. O setor automóvel, em particular, provavelmente continuará a
lidar com o aumento da incerteza sobre política comercial e sobre as preferências
do consumidor enquanto a deterioração no ambiente externo persistir e poderá arrastar
com ele outras economias. Portugal, por exemplo, já começa a sentir os efeitos
nesta indústria, quer por via dos investimentos que os alemães fazem na
economia nacional, quer por via das exportações, dado que a Alemanha é o
terceiro maior cliente dos bens e serviços vendidos por Portugal ao exterior.
No meio deste clima de turbulência, a Alemanha
prepara-se assim para enfrentar a primeira grande recessão da década, e provavelmente
não será a única a cair. Apesar de tudo, num debate parlamentar em Berlim, Olaf Scholz, Ministro alemão das Finanças,
assegurou que, em caso de crise, o Estado alemão tem o dinheiro que é preciso
para ajudar a economia a recuperar. Agora se esta declaração será a suficiente
para assegurar a estabilidade do país isso permanece uma incógnita, mas a
verdade é que mesmo perante esta possibilidade as previsões de abrandamento na
conjuntura económica internacional mantêm-se.
A meu ver, o futuro é bastante incerto, até
porque as eleições presidenciais de vários países estão aí ao virar da esquina
e elas podem trazer grandes mudanças. Uma coisa é certa: a história tem-nos
mostrado que a Alemanha é capaz de feitos inimagináveis.
Cristiana Gião
[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]
[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]
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