segunda-feira, 24 de setembro de 2018

A corrida às casas

A 14 de setembro, o jornal Público avançava com a notícia de que 85% das casas à venda em Portugal estariam a ser vendidas em menos de seis meses. Segundo dados da Associação Portuguesa de Promotores e Investidores Imobiliários, os imóveis estão a ser vendidos mais rapidamente. Prova disso é que, em 2015, o tempo médio de venda de uma casa era de dois anos e, atualmente, a maioria sai de venda em menos de meio ano.
Está visto que, em Portugal, a procura por habitação tem sido crescente, sendo que, na minha opinião, isto não seja algo que me surpreenda. São vários os fatores que ajudam a explicar este acontecimento atual. Poderemos apontar o contínuo aumento do preço das rendas das casas como um dos grandes motivos que levam a esta “corrida” à compra de casa.
Entre 2011 e 2013, registaram-se aumentos consecutivos das rendas, atingindo mesmo um valor recorde (3,36% em 2013). Após o abrandamento até 2015, desde aí que o mercado de arrendamento tem encarecido, com a previsão de, neste ano, o aumento do preço das rendas se estimar em 1,12%, e em 1,19% em 2019, segundo dados do Instituto Nacional de Estatística.
Muito se tem discutido acerca dos elevados valores das rendas em Portugal, justificado com a pouca oferta e grande procura por arrendamento. Tal situação veio dificultar o acesso à habitação de uma parte significativa da população, que se confronta com preços de habitação cada vez mais próximos dos praticados nas principais capitais europeias, embora os seus rendimentos não estejam em conformidade.
A elevada procura por arrendamento de longo prazo (por parte das famílias nacionais e estrangeiras, uma tendência em crescimento) e de curto prazo (associado ao turismo) fez com que a aquisição de casa para fins arrendatários se apresente, nos dias de hoje, como um investimento viável, de elevado retorno.
Assistimos, então, ao aumento do número de casas para arrendar, ainda que o preço dos imóveis tenha vindo a aumentar, mas não tanto como o valor das rendas, as quais facilmente encontram inquilinos dispostos a suportar tais valores. E porquê que isto acontece? A resposta é muito simples: as famílias estão agora mais confiantes para com a conjuntura económica e há uma maior abertura dos bancos à concessão de crédito.
O crescimento da economia, assim como a reposição de rendimentos e o fim da sobretaxa de IRS vieram trazer maior poder de compra, com o Fundo Monetário Internacional a apontar para o maior aumento deste século ocorrido em 2017 (2,9%).
O crédito à habitação possui agora melhores condições comparativamente com os anos da crise, onde os bancos restringiram fortemente a concessão de crédito. Apesar de existir, por exemplo, um maior controlo sobre a taxa de esforço, a verdade é que o número tem vindo a aumentar. Se em 2013 haviam sido concedidos 2.048 créditos à habitação, no ano passado esse valor praticamente que quadruplicou.
Ao que parece, os bancos pouco ou nada aprenderam com a crise financeira recente, uma vez que estão dispostos a conceder créditos com condições de financiamento mais favoráveis, valores de spread mais baixos e financiamento a 100%, aliados a taxas de juro baixas. A aquisição de habitação própria apresenta-se como um “plano de fuga” do arrendamento, pois, na maior parte dos casos, o valor atual de uma prestação mensal chega a ser bem mais baixa que a de uma renda.
No meu ponto de vista, são estes os três grandes motivos pelos quais temos vindo a registar um crescimento do número de construções e do menor tempo de venda dos imóveis disponíveis no mercado.
Nos dias de hoje, todos procuram casa em Portugal e a tendência é a de um contínuo aumento. Tudo isto terá um impacto positivo na economia, até porque o imobiliário é dos setores que mais potencia outros, nomeadamente, a construção, indústrias e serviços. Isto tem sido discutido como sendo algo terrível para a economia, o que, na verdade, até é bastante benéfico. É simplesmente a lei da oferta e da procura a funcionar em pleno e um acontecimento que tem potencial para alavancar ainda mais o crescimento económico.

Andreia Filipa Teixeira Barbosa

[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]

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