segunda-feira, 21 de dezembro de 2020

Quem casa quer casa, mas… não será melhor esperar?

        Será que a expressão da sabedoria popular “quem casa quer casa” ainda reflete aquilo que se passa na sociedade atual? Quais são as decisões tomadas pelos consumidores na hora de colmatarem as suas necessidades de habitação?

Até há alguns anos, a aquisição de habitação própria era a opção mais frequente e tida como mais desejável pelos consumidores. Paralelamente, a habitação para arrendamento era um produto com pouca atratividade para os investidores. Esta tendência parece estar a alterar-se e o mercado de arrendamento pode vir a ganhar expressão pois vai ao encontro das necessidades da geração millennial, que privilegia a flexibilidade, da classe média com menor poder de compra e do número elevado de estrangeiros que estão em Portugal temporariamente. O mercado habitacional ligado ao arrendamento apresenta um potencial de crescimento, apesar de ainda ter pouca expressão.

Não é segredo nenhum que, nos últimos 6 anos, temos assistido a um aumento nos valores de venda dos imóveis. As oscilações nos preços das casas devem-se, essencialmente, às taxas de juro e ao crescimento económico que se fez sentir. Para o setor imobiliário, desde 2013, o número absoluto de transações tem aumentado e demonstra que as pessoas preferem comprar casas já existentes, em detrimento de casas novas (devido ao tempo exigido pela construção e processos burocráticos).

No entanto, esta subida de preços da habitação não tem constituído um entrave para o crescimento da procura, verificando-se um grande dinamismo no mercado imobiliário. Este dinamismo é sustentado por um conjunto de fatores, como a maior facilidade de obtenção de empréstimos bancários, o maior apoio governamental e também a existência de um grande número de promotores imobiliários.

Todavia, em 2020, o cenário mudou de figura e, por causa da pandemia provocada pela doença COVID-19 e do período de confinamento que vivemos e que impossibilitou a realização de muitos negócios, o setor imobiliário sofreu um ligeiro retrocesso e venderam-se, no segundo trimestre deste ano, menos 21,6% de alojamentos familiares do que no período homólogo de 2019.  Apesar disto, ainda não conseguimos ter a noção absoluta do impacte que esta pandemia provocará. A única conclusão que podemos retirar é que, numa fase pré-COVID, o mercado imobiliário estava em ascensão e atingia valores históricos na venda de casas, com preços acima do que era esperado.

E quem comprou? Nos primeiros meses da pandemia em Portugal faria sentido que as pessoas começassem a procurar habitações em zonas rurais (para “fugir” à densidade populacional), mas tal não se verificou. Penso que, apesar da COVID-19, as pessoas continuam a preferir espaços perto de escolas e do mercado de trabalho, e esses fatores pesam mais na decisão da compra de uma casa dado que este é um investimento de longo prazo. Além disso, como as pessoas passam agora mais tempo em teletrabalho (em casa), quem tem possibilidades, prefere comprar uma casa maior.

Mas como será daqui para a frente? Considero que o mercado imobiliário deverá continuar a sentir o impacte da pandemia em 2021, pois muitos daqueles que planeavam sair de casa dos pais e procurar casa própria ou trocar de casa deverão atrasar esse plano devido ao clima de incerteza, instabilidade financeira e à perda de poder de compra (por causa do aumento da taxa de desemprego). Por outro lado, a pandemia, provavelmente, irá mudar o paradigma e fazer com que as pessoas prefiram apostar no arrendamento de longa duração do que comprar uma habitação de imediato. Outra alternativa que reconheço que possa ocorrer é a transformação dos alojamentos locais em habitações de arrendamento de longo prazo, o que trará uma consequente descida de preços por causa da subida da oferta.

Para concluir, penso que, pelo facto de o mercado imobiliário depender muito das flutuações económicas, a sua recuperação passa por incentivos por parte dos governos e por dar confiança às pessoas de que este setor continua a ser “seguro” para investir. No entanto, acredito que a recuperação do setor imobiliário será relativamente rápida porque os juros irão manter-se baixos por mais tempo. O importante é ser otimista e adaptar este setor aos novos tempos!

 

Sofia Pereira

[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]

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