quarta-feira, 6 de janeiro de 2021

Reinventar Portugal pelo mar!

          Ao longo da história, Portugal sempre enfrentou um dilema estratégico, dada a sua posição geográfica, e procurou superá-lo voltando-se para o mar. Com isso, não só prosperou como foi também pioneiro na descoberta do mundo. E se hoje, tal como há seis séculos, o nosso país trilhar o seu caminho pelo mar, mostrando novamente ao mundo a perícia e o esplendor da nossa nação?

Hoje, a meu ver, Portugal tem a oportunidade de embarcar num novo ciclo geopolítico, no qual pode explorar a sua relação marítima com o mundo, dado o volume de recursos financeiros significativos a que vai poder aceder. Deste modo, creio que a resposta nacional passa pelo reconhecimento estratégico das oportunidades latentes nas adversidades, valorizando de forma sustentável as potencialidades do nosso território para o crescimento da economia e para a criação de emprego.

Efetivamente, a exploração da dimensão marítima exige o reforço do investimento nas estruturas portuárias, na ampliação dos cais e da capacidade de armazenamento, nos equipamentos de manutenção, consolidando o papel do país como plataforma comercial e logística e reforçando a sua inserção em hubs, em polos agregadores de valências e nas redes mundiais de comércio, energia, transportes, tecnologia e conhecimento.

Além disso, a exploração, aliada à fonte de riqueza económica deste recurso com a extensão da plataforma continental, permite dinamizar novos polos de atividades, desde as biotecnologias às ciências da saúde, do aproveitamento sustentável de recursos minerais estratégicos às energias renováveis, da indústria alimentar ao apoio e à modernização dos setores da economia azul. São assim inúmeros os setores que a transformação do mar numa nova âncora da economia nacional pode potenciar o desenvolvimento.

É ainda importante salientar que, atendendo ao renascimento comercial e energético da bacia do Atlântico e à crescente digitalização dos oceanos, é possível incentivar uma intervenção mais sustentável na gestão dos ecossistemas, potenciar o desenvolvimento do poder dos sensores e, ao mesmo tempo, permitir um aproveitamento dos recursos marinhos com base no conhecimento e na tecnologia. Nesta perspetiva de revolucionar a oceanografia e a climatologia, de modo a aproveitar estrategicamente o nosso recurso geográfico e a ZEE, seria promissor construir uma Universidade do Atlântico e instalar o Observatório nos Açores, em estreita articulação com o AIR Centre, tendo em vista a criação de um grande centro tecnológico para estudar o clima, a atmosfera e a terra, e promover o conhecimento do oceano e estimular a ligação à economia.

Para superar as limitações do mercado interno, Portugal, como espaço geoeconómico integrado, pode articular o fomento da identidade territorial com o desenvolvimento dos setores tradicionais da economia e edificar com as empresas uma nova visão, de modo a aumentar a competitividade, através do reforço do seu dinamismo e do ecossistema de inovação, com o intuito de promover a capacidade de se internacionalizar cada vez mais e de explorar os nichos certos do mercado globalizado. Por conseguinte, é possível solidificar e diversificar o setor exportador ao integrá-lo e potenciá-lo em plataformas logísticas diversificadas.

O país pode ainda transformar-se numa Plataforma Tecnológica Integrada, através da qual seria possível desenvolver e testar novas soluções científicas e tecnológicas para os desafios do nosso tempo em relação à gestão dos recursos, à mobilidade, às energias, às cidades, à economia circular, reformatando as alianças com países e multinacionais. Portugal precisa de abrir novas vias para a criação de riqueza e políticas ativas para a atração do investimento.

Posto isto, acredito que o país, pelas suas especificidades, encontra nesta crise uma oportunidade de ultrapassar constrangimentos estruturais e de valorizar vantagens competitivas, pois Portugal não é, de todo, um país periférico! Está na hora de potenciar a economia atlântica e fruir do cruzamento das redes da globalização, ao exaltar os nossos ativos e inseri-los nessas mesmas redes. Com efeito, o nosso país pode ser reconfigurado em função do paradigma da conectividade e tornar-se num ator económico polifacetado.

Em suma, considero que o mar é um ativo estratégico e que devemos olhar para o futuro e para todas as suas potencialidades como uma oportunidade única de estimular o desenvolvimento e fomentar o crescimento económico, social e sustentável, podendo aumentar a nossa projeção internacional.

É possível engrandecer Portugal pelo MAR, tal como outrora o foi feito pelos “mares nunca dantes navegados”, imortalizando a nação como “Heróis do mar”!

 

 Ana Sofia Prelado Diogo

[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia da EEG/UMinho]

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