segunda-feira, 8 de junho de 2009

Trabalhadores a prazo são os mais atingidos pelo desemprego

No espaço de um ano, tudo parece ter mudado na economia portuguesa. No primeiro trimestre de 2008, Portugal gerava empregos, sobretudo à conta de contratos precários. Um ano mais tarde, chega a factura: dezenas de trabalhadores com contratos a prazo ou falsos recibos verdes perderam o emprego. Provavelmente, os mesmos que o ganharam a um ano.
No primeiro trimestre de 2008, o número de trabalhadores por conta de outrem cresceu 1,1%, o correspondente a 42,2 mil novos empregos. No entanto, a criação de emprego fez-se, na altura, quase exclusivamente a custa de contratos a termo (+71 mil), enquanto os trabalhadores com contratos por tempo indeterminado, ou seja, que pertenciam ao quadro até caíram (-23 mil). Passado um ano, passou-se exactamente o inverso: segundo as estatísticas do INE divulgadas estes dias, 40,9 mil trabalhadores por conta de outrem perderam o seu emprego nos primeiros três meses do ano. E a razão é simples: neste período, a economia eliminou 63 mil postos de trabalho a termo ou com falsos recibos verdes. O saldo só não foi pior porque durante o primeiro trimestre aumentou o número de trabalhadores no quadro, ou seja, com contratos sem termo (+22,7 mil).
Trabalho por conta própria debaixo de fogo
A crise não afecta apenas as pessoas que trabalham para terceiros. Os dados do INE revelaram que, no primeiro trimestre deste ano, havia 1.169,3 mil trabalhadores por conta própria, menos 35 mil do que no período homólogo. Se estes juntarmos os empregados familiares não remunerados que também perderam o seu posto de trabalho (por falência de pequenos negócios familiares) chegamos ao número global de empregos perdidos em Portugal no primeiro trimestre: 91,9 mil.
Outro sinal de que a crise está atingir sobretudo os trabalhadores em situações mais inseguras é a redução do emprego a tempo parcial, que geralmente está associado a situações de sub-emprego (ou seja, pessoas que gostariam de trabalhar mais horas mas não conseguem). No primeiro trimestre, o número de pessoas com trabalhos de horário parcial caiu 4,8%, para 597,3 mil.
Estes números mostram que a previsão do Governo para um desemprego de 8,8% não é sustentável. O desemprego deverá subir no próximo ano. Somos uma pequena economia aberta e não seria normal retomarmos o crescimento económico antes do resto da Europa. A retoma começará no EUA, prosseguindo depois para a Europa.
O Governo não pode fazer muito mais, a degradação do mercado de trabalho está a fazer-se de forma rápida, e se o cenário mais pessimista se concretizar, a pouca margem de manobra que ainda há será utilizada pelo funcionamento dos estabilizadores automáticos.
Marco Mota
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[artigo de opinião produzido no âmbito da u.c. "Economia Portuguesa e Europeia", do Curso de Gestão (1º ciclo) da EEG/UMinho]

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