segunda-feira, 4 de junho de 2012

Fuga de Cérebros – Causas e Benefícios

O conceito de “fuga de cérebros” (em inglês brain circulation) (Johnson e Regets, 1998) foi introduzido para traduzir a seguinte perspectiva: indivíduos especializados e com elevadas qualificações circulam entre diferentes locais, incluindo o próprio país, adquirem novos conhecimentos e desenvolvem as suas competências. Integram redes internacionais de conhecimento, em vez de se moverem para um local específico e aí se estabelecerem. Através deste processo estes indivíduos contribuem para a criação e difusão do conhecimento ao longo de todos os nós das redes que integram. Sob o ponto de vista do país de origem, o elemento central da circulação de cérebros é a possibilidade de retorno (temporário ou definitivo) ou, ainda, a construção de redes de conhecimento que podem ser utilizadas para suportar o desenvolvimento do país de origem (Gaillard e Gaillard, 1998; Williams et al, 2004).
A “fuga de cérebros” e em particular a mobilidade científica internacional é um tema que tem recebido ampla atenção por parte não só dos estudos de ciência, tecnologia e inovação como também dos decisores políticos, a nível nacional e supranacional.
A obtenção de formação pós-graduada é uma das principais motivações para a saída do país indicada pelos investigadores portugueses (Delicado, 2008). Outras razões facilmente identificadas são as melhores condições que estes investigadores encontram em centros de investigação no exterior. Assim, destacam-se como factores de “atracão” comuns não só as condições científicas (recursos disponíveis para a atividade científica, nomeadamente financiamento e equipamento; qualidade do ambiente de investigação; desenvolvimento em áreas de ponta; equipas compostas por cientistas reputados) e profissionais (oportunidades de formação e emprego, remunerações, progressão), mas também políticas (natureza democrática dos regimes, facilidades concedidas à imigração qualificada) e culturais (língua, estilo de vida, cosmopolitismo, presença de comunidades do país de origem). Estes factores de “atracão” são o que se denominam na literatura como pull, por oposição aos factores de “repulsão” que são denominados como push. Naturalmente, os primeiros dizem respeito às condições favoráveis de acolhimento no país de destino e os segundos às condições menos propícias à atividade científica no país de origem.
A literatura indica que o estudo num país estrangeiro é frequentemente o primeiro passo para a migração tendencialmente permanente, na medida em que oferece uma integração social e cultural e fornece os créditos educacionais, reconhecidos no estrangeiro, tornando a integração mais fácil.
No caso dos investigadores e académicos, as condições nos países de destino a respeito de todo o suporte à investigação e à procura por staff para I&D são determinantes para a sua decisão de emigrar ou não e pela escolha do país para o qual emigrarão. No entanto quando alargamos o nosso espectro relativamente à denominada fuga de “cérebros” e pensamos em outros profissionais altamente qualificados, devemos ter em consideração que as razões que os levam a sair do seu país de origem também incluem objectivos intelectuais, tais como, educação, investigação, aprendizagem de uma nova língua. Já entre os empreendedores, o ambiente para inovação, para start-ups e para o emprego por conta própria, pode desempenhar um papel muito importante na decisão dos indivíduos se deslocarem para o exterior.
Contudo, nem todos os emigrantes qualificados se movem em busca de oportunidades de educação, económicas ou intelectuais. Frequentemente, nos países em desenvolvimento, os mais qualificados deixam o seu país de origem de forma involuntária, como resultado da guerra, colapso económico ou ainda perseguições políticas e religiosas. De facto, em muitos casos os emigrantes qualificados estão entre os refugiados e entre aqueles que pedem asilo.
Em muitas situações é confundido o conceito de “fuga de cérebros” com o de “circulação de cérebros”, principalmente quando nos reportamos a países de origem considerados desenvolvidos. Neste caso, verifica-se que a taxa de retorno dos investigadores ao país de origem é bastante elevada, veja-se o caso português, pelo que não existe efetivamente uma perda de capital humano permanente. Por contrapartida, no caso de países menos desenvolvidos, onde se assiste em muitas situações a uma perda, não apenas temporária mas sim permanente, na medida em que estudantes e investigadores que saem para o exterior dificilmente regressam ao seu país de origem. Isto acontece pois estes indivíduos altamente qualificados encontram melhores condições para realizar investigação ou simplesmente oportunidades de trabalho mais atrativas (salários mais elevados, maiores possibilidades de progressão na carreira, etc.).
À partida, esta mobilidade de indivíduos altamente qualificados, quando se trata apenas de uma “fuga temporária”, trás vantagens tanto para o país de origem, como para o país de acolhimento. O primeiro beneficia de todo o know-how, redes de contactos trazidos pelo indivíduo aquando o seu regresso, o segundo de um aumento temporário de capital humano qualificado, assim como a estimulação de I&D. No entanto, quando o fenómeno é de uma efetiva “fuga de cérebros”, corremos o risco de assistir a imposição de medidas por parte dos países de origem, com vista a “desencorajar” a saída de capital humano qualificado.

Fábio Veloso

Bibliografia Consultada:
Gaillard, J. e Gaillard, A. M. (1997), “The international mobility of brains: exodus or circulation?”, Science Technology and Society, nº 2, pp. 195-228M.
Johnson, J and M Regets 1998. “International mobility of scientists and engineers to the US — brain drain or brain circulation?” National Science Foundation, NSF 98-316, June.

[Artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3.º ano do curso de Economia (1.º ciclo) da EEG/UMinho]

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