Segundo
valores do Eurostat relativos a 2005, Portugal era o segundo país da UE com a
maior taxa de dependência energética, tendo importado nesse ano 99,4% do total
de energia consumida, face à média europeia de 56,2%.
A
acrescentar a este cenário, sabe-se que entre 2000 e 2004 o PIB português
cresceu a uma taxa média de 0,5% ao ano, tendo o consumo de energia crescido
4,7% ao ano durante o mesmo período. Com efeito, Portugal apresenta valores
preocupantes no que respeita à intensidade energética do PIB (Mtep/M€),
registando um crescimento contínuo e acentuado desde 1985.
Assim,
para além de uma dependência energética face ao exterior, o país debate-se com
uma grave ineficiência na utilização da energia que produz e importa.
Perante uma
preocupante dependência externa e a persistência de um elevado preço do crude,
o país enfrenta um aumento da fatura em combustíveis minerais, contribuindo
para agravar o longo problema do desequilíbrio da balança de pagamentos. Por
outro lado, a grave ineficiência da utilização da energia contribui para uma
perda de competitividade das empresas localizadas em território nacional.
Desde 2004 que
se gerou um consenso político em torno desta questão e os sucessivos governos têm
procurado ativamente resolver este problema, nomeadamente, através de
incentivos à produção de energias renováveis e à utilização dos transportes
públicos.
Naturalmente
que é de realçar o esforço importante que desde o início deste século tem sido
feito no desenvolvimento das energias renováveis, sendo Portugal um dos países
europeus pioneiros nesta área, particularmente no que se refere à energia
eólica, solar fotovoltaica e das ondas. No entanto, também é necessário
analisar criticamente a ideia amplamente difundida de que as energias
renováveis são a solução para todos os problemas energéticos. As energias
renováveis são apenas inesgotáveis!
De facto, as
energias renováveis ainda apresentam limitações significativas para poderem
substituir totalmente os combustíveis minerais. Por exemplo, o contributo dos
biocombustíveis, do biogás e da geotermia é residual para o total de produção
energética nacional. A energia solar fotovoltaica carece de um elevado
investimento inicial e implica significativos constrangimentos a nível da
construção dos edifícios. A energia proveniente da biomassa debate-se com a
desorganização da floresta nacional e a energia das ondas ainda está em fase de
investigação. Finalmente, a energia eólica e hídrica, que representavam mais de
80% da energia renovável produzida em Portugal em 2007, apresentam sérias
restrições ambientais e ambas oferecem limitações consideráveis no escoamento
de energia.
Quanto à
energia nuclear, tem sido politicamente muito difícil um debate nacional sobre
a sua possível utilização, sobretudo devido aos perigos inerentes à sua
exploração. Sendo assim, apenas um agravamento considerável da dependência
energética nacional colocaria a energia nuclear novamente na agenda.
É importante
aumentar a produção endógena de energia, mas mais importante é utilizar essa
energia de forma mais eficiente, de modo a reduzir os custos energéticos do
país e, assim, aumentar a sua competitividade.
É preocupante
que nos últimos dez anos a utilização do transporte individual nas áreas
metropolitanas do Porto e Lisboa tenha duplicado. Tal fato deve-se
principalmente a uma rede deficiente de transportes públicos rodoviários, a uma
negligência do transporte ferroviário e à existência de uma rede diminuta de
transporte subterrâneo.
Por
outro lado, é impressionante como o transporte rodoviário de mercadorias, o
mais dependente do petróleo, assume uma esmagadora importância em Portugal,
representando cerca de 95% do total do transporte interior. Tal facto deve-se a
um investimento sucessivo em infraestruturas centradas neste tipo de transporte
nos últimos 20 anos, negligenciando o transporte ferroviário.
Finalmente,
parece que os empresários portugueses se acomodaram a suportar um elevado custo
pela ineficiência energética, talvez devido ao facto de o meio empresarial
nacional ser dominado por empresas de pequena e média dimensão, sem um sistema
de contabilidade de gestão implementado e, assim, sem condições para analisar e
avaliar custos.
Ao contrário do desenvolvimento das
energias renováveis, muito pouco tem sido feito pelos sucessivos governos desde
2004 para reduzir seriamente o consumo ineficiente de energia. O esforço
notável de aumento da produção endógena de energia é redundante se a energia
não for utilizada de forma mais eficiente.
Deste modo, é
necessário um papel muito mais ativo do Estado na modernização e
desenvolvimento das redes de transportes públicos, na consciencialização dos
cidadãos para uma utilização racional de energia no seu quotidiano, na
reorganização da rede ferroviária nacional e na criação de incentivos para uma
utilização mais eficiente da energia por parte da indústria. Isto é, Portugal
precisa de ultrapassar a grande dependência energética face ao exterior, onde
os combustíveis fósseis têm um peso desproporcionado. A diversificação do
abastecimento é fundamental para garantir a segurança do abastecimento e tornar
mais eficiente e menos poluente o sistema energético nacional.
O grande
objetivo de aumentar a eficiência energética visa diminuir a diferença entre a
energia final consumida e a energia útil estritamente necessária para o seu
uso. A eficiência energética pode contribuir para o crescimento da economia,
gerando volumes significativos de poupança de recursos, por um lado, e
fomentando novos investimentos possíveis de associar a áreas de negócio
inovadoras. Em suma, pretende-se criar um sistema fiscal coerente que tenha em
conta as vertentes económica e ambiental, contribuindo para o cumprimento dos
objetivos da política energética nacional. É possível e desejável incentivar,
pela via fiscal, comportamentos económicos e consumos energeticamente mais
eficientes.
Joana Cristina Alves Oliveira
1 comentário:
A produção de energia hídrica é a mais barata!A 2ª mais barata é a Nuclear!
A mais fiável é a Nuclear!
JSilva
Enviar um comentário