segunda-feira, 3 de dezembro de 2018

As consequências da entrada de Portugal na União Europeia



Portugal entrou na União Europeia em 1986, estabelecendo-se como uma democracia ocidental apoiada numa economia de mercado. De facto, com a adesão às comunidades europeias verificou-se um conjunto significativo de alterações nas estruturas sociais e económicas portuguesas que mudaram completamente a realidade do país.
Nestes 32 anos de integração, pode-se destacar três períodos distintos na história de Portugal: o primeiro de 1986 a 1999, seguido de um desde 2000 a 2008 e o mais recente, que teve início em 2009 e vai até à atualidade.
Em cerca de seis anos, de 1986 a 1992, viveu-se o melhor período económico em toda a história da democracia portuguesa, sendo que este foi um período de caraterísticas muito particulares e possivelmente irrepetíveis. É importante salientar que o melhor período se registou nos primeiros quatro anos, no qual o PIB registava taxas superiores aos 5% por ano.
São diversos os motivos que explicam este elevado crescimento, nomeadamente a descida abrupta do preço do petróleo, entre 1984 e 1986, e o facto de que a adesão à CEE abriu as portas de Portugal ao enorme mercado europeu, o que aumentou bastante as exportações e a influência do país. Este desenvolvimento causou a formação de uma expectativa de crescimento junto do mercado de investidores que levou a um aumento do investimento direto estrangeiro. Ao mesmo tempo, começavam a chegar os primeiros fundos comunitários para investimento em infraestruturas e requalificação de mão-de-obra a Portugal, o que ajudou bastante a impulsionar a economia.
Nos anos que seguiram, o país entrou num período inflacionário e, consequentemente, adotou-se uma política cambial e monetária restritiva, terminando com o crescimento do país e originando uma grave crise económica. No entanto, um conjunto de circunstâncias muito positivas, embora temporárias, como a abertura ao exterior e adoção de novas ideias e tecnologias, permitiram o regresso desse crescimento de 1995 até ao final da década.  
No período de 2000 a 2008, é incontestável que Portugal apresentou uma longa estagnação, que veio a abrandar todo o progresso que se vinha alcançado. Pensava-se que era só uma correção cíclica e que os valores iam voltar aos seus precedentes, mas na realidade Portugal está cada vez mais longe das principais economias europeias.
As causas desta estagnação da economia portuguesa não são óbvias, mas existem algumas hipóteses que se destacam, como a falta de investimento e a má gestão empresarial, uma política orçamental incorreta, o elevado aumento da aceleração da divida pública e a incapacidade de saber gerir os enormes fluxos de capital que a economia portuguesa recebeu de uma forma eficiente. De facto, a má gestão interna de diversos fundos comunitários não possibilitou chegar ao nível de convergência que Portugal poderia ter, tal como diz Rui Machete: "A má governação não permitiu aproveitar as potencialidades da Europa" (2015).
A partir de 2009, Portugal continuou a apresentar uma contração económica, onde grandes níveis de austeridade levaram a cortes consecutivos nas pensões e nos salários e a aumentos dos impostos, com o intuito de diminuir a dívida. No entanto, hoje depois de muitos sacrifícios, a economia portuguesa está claramente num período de mudança. Os períodos mais negros da crise financeira aparentam estar no passado e a economia apresenta melhorias, estando finalmente a crescer.
Depois de uma breve análise do período de Portugal na União Europeia, surgem as seguintes perguntas: Será que para Portugal teria sido mais melhor se não tivesse aderido à CEE? Se voltássemos atrás, deveríamos evitar a adesão ou faríamos o mesmo? Estas são algumas das muitas questões que se podiam levantar, mas que ninguém tem a certeza absoluta da resposta. No entanto, o ex-presidente da fundação Francisco Manuel dos Santos não tem dúvidas: “Valeu a pena. A pertença à União Europeia foi certamente a força mais potente no estímulo ao desenvolvimento da civilização, da decência pública, da cultura e da liberdade”.

Pedro Nuno Vilela

Bibliografia:
AMARAL, Luciano, Economia Portuguesa, as últimas décadas, Lisboa: Fundação Francisco Manuel dos Santos, 2010
ALEXANDRE, Fernando et al, A economia Portuguesa na união Europeia: 1986- 2010, Coimbra: Actual, 2015
JORNALDENEGOCIOS,http://www.jornaldenegocios.pt/weekend/detalhe/machete_a_ma_governacao_nao_permitiu_aproveitar_as_potencialidades_da_europa, 14/12/2017
PORDATA,https://www.pordata.pt/Portugal/Taxa+de+crescimento+real+do+PIB-2298, 14/12/2017
OBSERVATÓRIO,http://observatorio-lisboa.eapn.pt/ficheiro/Tr%C3%AAsd%C3%A9cadas-de-Portugal-europeu.pdf, 14/12/2017

[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]

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