segunda-feira, 17 de dezembro de 2018

Consumismo natalício

Nos últimos dois anos, assistiu-se a uma quebra no consumo declarado de Natal e de Ano Novo em Portugal, tendo os gastos efetivos sido inferiores aos estimados. Em 2018, volta a assistir-se a uma tendência de diminuição no consumo esperado, passando o valor médio que os consumidores portugueses estimam despender na época natalícia para 314€ por agregado familiar, considerando as despesas com presentes, alimentação e bebidas e eventos sociais. Este valor representa uma redução de 24€ face a 2017 e é cerca de metade do valor registado em 2008 (610€).

Segundo o “Estudo de Natal de 2018”, realizado pela Delloite, o valor estimado para este ano é o segundo mais baixo da pesquisa (o valor mais baixo registado foi de 270€, em 2014), sendo que em comparação à media europeia a previsão dos gastos dos portugueses fica 63€ abaixo. Portugal é, efetivamente, dos países que mais diminuiu o seu valor estimado de gastos para este ano.
Apesar de uma proporção significativa da população nacional que participou neste estudo afirmar não ter um orçamento definido para gastar na época natalícia, aqueles que definiram um orçamento acabaram por ultrapassá-lo cerca de 40% das vezes, em 2017.  Ainda assim, a maioria gastou o montante que tinha previsto, sendo que apenas 7% afirmou ter conseguido gastar menos do que tinha planeado. Assim, do valor médio previsto pelos portugueses para ser gasto durante as festividades de 2017 (338€), pôde observar-se uma redução de 30€, tendo sido o valor declarado no montante de 308€ por agregado familiar nesse ano.
Portugal encontra-se em linha com a Europa no que diz respeito à divisão do consumo por categorias, apresentando valores bastante semelhantes relativamente à média europeia. Os portugueses revelaram uma repartição igualitária dos gastos pelas áreas de maior consumo para a época natalícia de 2018, continuando os presentes (51%) a liderar as despesas do orçamento familiar, seguido da alimentação e bebidas (36%) e, por último, os eventos sociais (13%).
Como já vem sendo um hábito, o fator fulcral para o aumento da despesa familiar na época natalícia em Portugal é a existência de promoções (apesar da ligeira diminuição verificada face a 2017), independentemente do género, faixa etária ou escalão retributivo. As promoções vêm, portanto, incentivar o consumo nesta época festiva, e os portugueses são dos que mais planeiam comprar em ocasiões como a chamada “Black Friday”, representando cerca de 1/3 do seu orçamento.
É de realçar que os europeus em geral se querem divertir sem pensar na insegurança da situação económica, ou seja, preferem disfrutar e evitar pensar na situação económica, sendo este o segundo maior motivo para o aumento das despesas dos portugueses na época natalícia. Ainda assim, em 2018, os portugueses sentem-se menos confiantes relativamente ao estado atual da economia, apesar de continuarem mais otimistas que a média europeia.
À semelhança dos resultados obtidos em 2017, são aqueles que auferem rendimentos mais elevados os mais otimistas em relação ao estado da economia, prevalecendo o estado considerado como “neutro” para os restantes escalões remuneratórios. No entanto, a classe média encontra-se mais pessimista comparativamente ao ano homólogo, subindo mais de 10 pontos percentuais a avaliação negativa do estado da economia e descendo 8% a avaliação positiva.
Apesar da redução no valor do orçamento para a quadra natalícia, parece existir uma estabilização do poder de compra em Portugal, uma vez que a maioria dos portugueses afirma ter o mesmo montante para gastar nas compras de Natal, pelo que a perceção geral face à evolução do poder de compra tem-se mantido relativamente estável desde 2009. Assim, a maioria da população afirma ter, em 2018, o mesmo poder de compra, dando os portugueses mais destaque à influência do Orçamento de Estado nos seus comportamentos de consumo, face ao que revelavam dar em 2017.
Podemos então concluir que apesar da época natalícia ser uma época de consumo excessivo e impulsivo por parte dos consumidores, tem-se assistido a uma maior contenção por parte dos mesmos, com um orçamento destinado às compras de Natal cada vez mais reduzido. Posto isto, as pessoas tendem a aproveitar períodos de promoções no sentido de pouparem mais nas suas compras. Ainda assim, esta época festiva impulsiona bastante o consumo, e a maioria dos portugueses prefere desfrutar sem se preocupar demasiado com a situação económica.
Na minha opinião, o consumo natalício irá sempre ao encontro de um comportamento consumista, no entanto e dada a tendência observada, quem sabe não consigamos atingir um consumismo natalício no futuro.

Inês Azevedo

[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]

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