A austeridade e a pobreza estão altamente correlacionadas. Numa altura em que já passámos por cerca de 3 anos de medidas fortemente restritivas na economia, podemos depreender que as pessoas são deixadas para segundo plano, em prol do cumprimento do(s) memorando(s) assinados com os credores. Será esta a via para sair da crise? Ou será que apoiar os cidadãos na pobreza, que cada vez mais aumenta, poderia (eventualmente, em algum discurso) atrasar a recuperação económica?
Segundo um recente relatório da União de Organizações Não Governamentais, Oxfam (Oxford Committee for Famine Relief) intitulado “Um conto moral: o verdadeiro custo da austeridade e da desigualdade na Europa”, prevê-se que haja 25 milhões de europeus na pobreza em 2025. Em particular, aponta que Portugal possa ser dos países mais desiguais do mundo. De certa forma, a maioria dos portugueses já extravasa essa possibilidade pelas suas vivências do dia-a-dia, apesar de saberem que há países que passam por maiores dificuldades, não só actualmente mas desde há muito tempo.
Os portugueses sentem-se injustiçados. Actuam de forma submissa (como é habitual), só que desta feita não há benefícios fiscais ou aumento de salários ou mais dias de férias, como na contínua campanha eleitoral que vinha a ser protagonizada há décadas pelos sucessivos Governos. O caso da austeridade na Europa é particularmente doloroso porque os cidadãos vêem os seus direitos eliminados, sucessivamente, (ou, em caso de aperto orçamental, saqueados!), com parcas explicações e sem solução à vista. Nunca são suficientes os cortes que são feitos ou os impostos que são aumentados. Talvez quando tivermos uma camada de pobres, com a dimensão de um ghetto brasileiro, deixemos de ser olhados como uma União Europeia, e mais como o filho adoptivo e mal comportado do FMI.
Estamos a viver uma crise prolongada, comparativamente ao que se verificou na história económica recente. O problema é que não aprendemos muito com as anteriores. Se há algo a retirar da história das crises económicas é de que há que ter sempre várias soluções exequíveis e utilizá-las logo quando há sinais claros de que o caminho seguido é um caminho falhado. Infelizmente, já passámos essa etapa há muito tempo e ainda estamos “amarrados” à austeridade e à destruição do Estado Social para a financiar.
Em suma, a União Europeia tem de estar realmente unida porque quando estamos tão interligados pela via do comércio internacional, sistema bancário e financeiro, entre outros, quando um país “cai” este tem impacto nos restantes. A questão é de que não se trata de pagar pelos erros que certos países cometeram, mas sim de uma união para estabelecer limites que possam deixar as economias recuperar e consolidar-se, e, no fundo, apoiar os cidadãos em vez de os desintegrar da sociedade, do país e da Europa.
Ana Luísa Araújo Rodrigues
[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]
[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]
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