Portugal já se encontra entre os países mais envelhecidos
do mundo, situação bem diferente do que se verificava há 40 anos. O fenómeno do
duplo envelhecimento da população, caracterizado pelo aumento da população
idosa e pela redução da população jovem, continua bem vincado nos resultados
dos Censos 2011. As previsões apontam para que a situação se agrave… A
população idosa representará em 2050 cerca de 32% da população residente em
Portugal, em contraste com os 13% estimados para a camada jovem. Assiste-se a
uma inversão da pirâmide etária, onde a renovação de gerações deixa de estar
assegurada.
À partida, parece positivo que a estrutura etária esteja a
envelhecer… É fruto de enormes progressos da sociedade. As mulheres entraram em
massa no mercado de trabalho, mais escolarizadas e emancipadas, o que explica a
tendência de decréscimo da natalidade. De uma forma geral, a melhoria das
condições de vida e os progressos da medicina e da assistência médica explicam
a queda da mortalidade e o aumento da esperança de vida.
Não será este fenómeno demográfico uma oportunidade de
negócio e de trabalho pouco explorada? Um estudo da Universidade Católica
Portuguesa refere que os lares, centros de dia e serviços de apoio
domiciliário, assim como o turismo e as Universidades Sénior terão um peso
crescente nas oportunidades de trabalho e negócio até 2020. Parece viável,
neste sentido, reforçar a formação de profissionais na área da ação social e
apostar na Economia Social como forma de promover o crescimento económico a par
do desenvolvimento sustentável.
No entanto, as dificuldades da sociedade em se
adaptar a este seu novo “corpo” populacional, mais grisalho, são várias.
Atravessam sectores como a saúde e a proteção social. E numa situação de
desequilíbrio das contas públicas como vivemos atualmente (sem fim à vista) não
podemos deixar de olhar para a questão da (in)sustentabilidade da Segurança
Social. A preocupante evolução dos índices de envelhecimento, de
sustentabilidade potencial e de dependência dos idosos põe em causa a questão
do financiamento e da estratégia para o futuro dos sistemas de segurança social
e, em particular, das pensões. Estes índices ilustram, também, o crescente
esforço que a população idosa exerce sobre a população ativa. O índice de
sustentabilidade potencial mostra que existem atualmente 3,4 ativos por cada
idoso em Portugal, quando há uma década esse indicador era de 4,1.
Ao longo dos últimos anos têm-se acentuado
pressões para a reforma do sistema de Segurança Social. As dificuldades de
financiamento são imensas, pois é cada vez mais difícil de assegurar que seja a
força de trabalho (com a taxa de desemprego sempre a crescer!) a transferir os
fundos necessários para o pagamento das pensões e dos cuidados necessários à
população idosa. Para responder ao envelhecimento da população, as taxas de
crescimento do PIB e da produtividade teriam de ser superiores à taxa de crescimento
da pensão média.
Como forma de resposta apontam-se reformas que
acentuem a componente privada e desvinculem o Estado do compromisso de
pagamento das pensões, através da entrega das poupanças a privados ou da
implementação de um sistema de capitalização. Mas as más experiências com o
Chile e com a Argentina falam por si…
A rubrica das despesas da Segurança Social com
pensões e outras prestações sociais é de grande dimensão, pelo que se
compreende a atração pela sua utilização na hora de reduzir a despesa pública.
As políticas que se têm verificado pela Europa em geral neste sentido são o
aumento da idade da reforma e o corte nas pensões.
O aumento em um ano da idade legal da reforma foi
aprovado e, a meu ver, não é uma medida desproporcionada. Se a esperança de
vida aumentou tanto e, simultaneamente, os avanços da medicina preventiva e
curativa nos permitem ter mais qualidade de vida, a par do aumento exponencial
do rácio entre o período de tempo inativo (como pensionista) e o período de
tempo ativo (como trabalhador), é natural, aliás, racional, darmos um
contributo um pouco maior para a riqueza do país.
O corte nas pensões atuais, sobre pessoas que já
contribuíram, no sentido lato, durante uma vida de trabalho e fizeram um
contrato pensando ter direito a um fim de vida digno, é uma indignidade que não
se pode aceitar…
É, então, adequado que os órgãos competentes
estudem melhorias e ajustamentos a introduzir no sistema que não se cinjam a
resolver problemas de curto prazo e objetivos de tesouraria mas sim numa
perspetiva de longo prazo e de sustentabilidade, e que não passem pelo aumento
da carga fiscal sobre os (cada vez em menor número) trabalhadores. As questões
de fundo da Segurança Social são estruturais, demográficas e económicas.
Ana Luísa Soares Pimenta
[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]
[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]
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