Num mercado cada vez mais global, um dos maiores problemas
que a economia portuguesa enfrenta é a elevada e crescente falta de
competitividade e consequente abrandamento do crescimento económico.
Ao longo dos últimos anos, e segundo o Fórum Económico
Mundial, Portugal tem registado consecutivas quedas no “ranking” da
competitividade mundial. De acordo com o The
Global Competitiveness Report (FEM), este posicionamento resulta
principalmente de um ambiente macroeconómico instável, da perda da confiança na
elite política, da ineficiência do Governo e, sobretudo, das dificuldades de
acesso ao financiamento – quer através dos mercados ou de créditos. Como
podemos, então, reverter esta tendência? Será que aquilo que tem sido feito
para contrariar estes indicadores e a frequente diminuição de competitividade é
suficiente?
A essa pergunta só teremos uma resposta concreta a
médio/longo prazo, no entanto, algumas políticas que têm sido levadas avante
podem não ser as mais adequadas à realidade económica na qual estamos
inseridos.
Parece que em Portugal se confunde produtividade com
intensidade laboral, apesar de os trabalhadores portugueses serem dos que mais
trabalham. Parece que se mede a produtividade com base nos custos de produção e
se conclui que, quanto menos custa, mais produtivo é! Ora pensemos um pouco:
sendo a produtividade habitualmente calculada dividindo a riqueza criada, i.e.,
o valor acrescentado bruto, pelo valor dos recursos
utilizados na produção, o raciocínio
parece ser o seguinte: os trabalhadores poderão produzir o mesmo, mas, se lhes
pagarmos menos, a produtividade aumenta. Melhor ainda: poderão até produzir
menos, mas, se os salários forem reduzidos mais do que proporcionalmente à
redução na produção, a produtividade aumentará!
O que acontece é que os baixos custos, assim como as
estratégias de diferenciação dos produtos e serviços e as estratégias de selecção
de um nicho de mercado, são, efectivamente, formas de aumentar a competitividade,
como afirma Michael Porter. Contudo, a redução nos custos não diz somente
respeito às remunerações. Uma estratégia de baixos custos baseada
fundamentalmente na redução de salários parece uma estratégia muito pouco
sustentável. É impensável considerarmos ser possível baixar os salários dos
portugueses para o nível dos salários dos trabalhadores asiáticos - repare-se
que essa estratégia não é seguida pelos outros países da União Europeia para aumentar a competitividade das suas empresas,
porque será? Talvez porque, para além da produtividade depender do
desempenho do trabalhador e das suas capacidades, também depende da sua
motivação. Importa aqui salientar que políticas favoráveis, direccionadas
maioritariamente para o grande capital, acabarão por levar, inevitavelmente, a
nossa economia a perder a batalha do desenvolvimento, da competitividade, do
progresso e do bem-estar, porque tudo isto só é possível com a participação empenhada
e motivada dos trabalhadores.
Considero que, para além de estarmos a usar de forma
incorrecta um dos conselhos de Porter, estamos a esquecer-nos de outros dois!
E, para além disso, estamos a descorar parte daquilo que poderia ser a solução.
O país investe cada vez menos na formação de capital intelectual. O país não
cria incentivos nem apresenta estratégias de retenção para evitar a fuga desse
capital no qual andou a investir durante anos. Sem capital humano qualificado e
com inúmeras dificuldades de financiamento, como podem as empresas conseguir
garantir níveis crescentes de investimento, desenvolvimento e inovação? Note-se
que estes últimos factores são essenciais para gerar elevados níveis de valor
acrescentado!
Atenção, não pretendo com tudo isto dizer que se aumentarmos
a produtividade obteremos melhorias na competitividade. Pode aumentar-se a
produtividade sem que o mesmo aconteça com a competitividade. Basta que se
produza mais produtos de qualidade reduzida ou produtos para os quais não há procura.
Que interesse teria uma empresa em aumentar a produtividade e a quantidade de
bens que produz se não conseguisse escoar os produtos? Por outro lado, pode
aumentar-se a competitividade e não aumentar a produtividade. Se uma empresa já
produzir bens de qualidade e inovadores, pode aumentar
significativamente a sua competitividade com uma boa campanha de marketing.
Porque não tentar conjugar aumentos de produtividade com aumentos de
competitividade?
Em suma, Portugal
deve gerir de forma mais eficiente os seus recursos humanos e tecnológicos. Deve
seguir políticas de redução da carga fiscal e de desbrucratização, para que se
consiga atrair mais investimento estrangeiro. Deve apostar fortemente na
inovação e desenvolvimento para produzir produtos de elevado valor acrescentado
e, para além de tudo isto, deve tentar aumentar sistematicamente a produtividade
pois, como Krugman refere, “Productivity
isn’t everything, but in the long run is almost everything”. Só assim se
conseguirá recuperar os lugares perdidos e alcançar uma posição mais ambiciosa
no “ranking” da competitividade mundial.
Joana Catarina Soares Ferreira
Nota: The Report and an interactive data platform are
available at www.weforum.org/gcr
Porter,
Michael E. (1980) Competitive Strategy, Free Press, New York , 1980.
[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]
[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]
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