Muitos
economistas afirmam que uma das maneiras de ajudar Portugal a ultrapassar a
crise em que se encontra é investir. Será que investimentos como o que irei
demonstrar em seguida são favoráveis para a economia e para o crescimento do
nosso país?
Há pouco mais de três anos, o
Governo, que estava a cargo do Engenheiro José Sócrates, fez um investimento de
15 milhões de euros, saindo bem caro ao executivo e, principalmente, a todos
nós. Este investimento baseia-se numa Rede Nacional de carros elétricos
-“Mobi.e”, que permite o abastecimento dos veículos elétricos. Esta rede tinha
como objetivo-chave diminuir as emissões de CO2 e reduzir a dependência
energética do país. A aposta do governo previa que, já para o ano de 2020, 1 em
cada 5 carros fossem elétricos. Um sonho muito difícil de se concretizar, até
porque, com a chegada da “Troika”, terminaram os incentivos dados à compra
destes veículos, o que fez com que, se os números anteriormente apresentados
eram de difícil alcance, se tornassem agora praticamente impossíveis.
Ao analisarmos os factos, vemos que
foram instalados cerca de 1163 carregadores públicos em 427 localizações por
todo o país, contudo estes veículos, no total, são exatamente 347, ou seja, se
fizermos as contas, para cada carro elétrico existem, 3,37 pontos de
carregamento, o que demonstra desde logo um sobredimensionamento do projeto.
Para além disso, e para piorar os números apresentados até então, é de referir
que 352 pontos de carregamento encontram-se avariados ou não comunicam com o
sistema, outros 285 nunca foram utilizados ou não comunicaram consumos, ou
seja, 1 em cada 4 pontos de carregamento teve consumo 0 desde que foi
instalado. Para ficarmos mais esclarecidos, só
em Lisboa, que aparentemente deveria ser o local onde estes pontos mais
funcionassem, demonstra dados preocupantes, ou seja, existem 86 pontos onde
nenhum carro alguma vez foi ligado. Dados do centro que monitoriza o sistema
mostram-nos ainda que, ao todo, foram feitos 15.760 carregamentos, o que quer
dizer que, em média, um ponto carregou pouco mais do que 13 vezes (13.5).
Para percebermos o sobredimensionamento do projeto, há dois
concelhos que nunca tiveram qualquer carregamento, Portalegre e Bragança.
Devido à falta de utilização destas máquinas, é possível vermos postos de
carregamento em parques de estacionamento públicos, em que os lugares
circundantes deveriam ser para estacionamento de veículos elétricos, com
lugares sempre vagos ou com carros de outros tipos que não elétricos, pois os
próprios vigilantes dos parques acabam por deixar, pela simples razão de que
nunca viram nenhum carro a fazer qualquer tipo de carregamento elétrico.
É importante referir que o projeto
piloto era de 1300 postos de carregamento, dos quais 50 eram de carregamento
rápido, que demora aproximadamente 30 minutos, e os restantes, que compõe o
grosso da rede “Mobi.e”, podem demorar cerca de 8 horas. Contudo, no país
inteiro, referi que estavam propostas 50 máquinas de carregamento rápido (úteis
para viagens de longa distância). Acontece que apenas se encontra uma instalada
em Vila Nova
de Gaia. Perguntamo-nos então onde estão as outras 49 máquinas?! Estas
encontram-se paradas nos armazéns do fabricante à espera de ordem para serem
instaladas. Ou seja, os postos de carregamento rápido, que possivelmente
trariam mais-valias para o projeto, encontram-se paradas. Simplesmente, estão à
espera de destino, mas como nem as já instaladas têm utilização, estas
mantêm-se com o fabricante.
Agora, com a abertura aos privados, existem 9 máquinas de
carregamento rápido, ainda assim poucas quando comparadas com as de carga
lenta. É importante referir que sem postos de carregamento rápido, não é
possível a realização de viagens de longa duração, como por exemplo Porto-Lisboa,
ficando os carros limitados a um ambiente citadino. Com isto, era então
previsível que, dos poucos indivíduos que detêm carros elétricos, estes efetuam
95% dos seus carregamentos nas suas próprias casas.
A meu ver, os factos que apresentei anteriormente
são mais que visíveis da inércia do projeto “Mobi.e”. Este projeto demonstra-se
completamente sobredimensionado e insustentável, o que em nada contribuiu para
o crescimento económico do nosso país, pelo contrário. Foram gastos 15 milhões
de euros sem qualquer rentabilidade, encontrando-se o projeto abandonado e sem
capacidade aparente de se tornar lucrativo e benéfico para o país. É assim
evidente que a resposta à questão inicial, quanto ao contributo deste tipo de
investimentos para o nosso país, seja então negativa.
Rita
Isabel Carneiro Araújo
Nota: texto elaborado com base em dados de
Maio de 2013
[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]
[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]
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