Tendo em conta algumas previsões do Banco de Portugal,
que nos dizem que o consumo deverá cair este ano 3,8%, sofrendo em 2014 uma
diminuição de mais 0,4%, parece-me relevante dissecar o principal motivo desta
queda constante do consumo, as medidas de austeridade. Estas medidas têm implicações
sobre a sustentabilidade das empresas, a qualidade de vida das famílias
portuguesas e consequente redução do nível de consumo.
É
compreensível que as medidas de austeridade existam como forma de satisfazer a
necessidade de reduzir o défice das contas públicas e a dívida externa, que
estiveram na origem do pedido de resgate financeiro em 2011.
Recorde-se que este défice foi devido ao desequilíbrio da
nossa balança comercial, que anos e anos apresentaram elevados desequilíbrios,
com as importações a atingirem sucessivamente valores superiores às
exportações. Como forma de colmatar este défice, surge a necessidade de aplicar
medidas restritivas do consumo, para que Portugal possa cumprir o programa
acordado com as entidades financeiras internacionais. Contudo, é preciso notar
que estas medidas levam à estagnação do consumo e à paralisia económica.
Num pais onde cerca de 90% do tecido empresarial é
composto por pequenas e médias empresas que dependem do mercado nacional, uma
redução da procura interna, provocada pela redução do rendimento disponível das
famílias, originará quase inevitavelmente um aumento do nível de desemprego,
caindo-se assim numa espiral económica recessiva. Esta conclusão é suportada na
análise do modelo IS/LM, que nos diz que um aumento dos impostos (T) faz a
curva IS deslocar-se para a esquerda, dando origem a um novo ponto de
equilíbrio em que verificamos um nível de produto inferior ao registado
anteriormente. Durante este processo, assistimos a uma redução da procura (z) e
do consumo (C), assim como a uma redução do investimento (I).
Posto isto, e tendo agora mais em conta as famílias,
posso dizer que estas medidas de austeridade provocam uma clara redução do
nível de consumo, potencializado por uma redução dos salários reais, o que
causa uma redução clara da qualidade de vida dos consumidores. De acordo com a
teoria do consumidor, este estará tanto melhor quanto mais produtos puder
comprar. Um aumento dos impostos leva a uma redução do rendimento disponível ou,
se quisermos, a uma nova e maior restrição orçamental, o que faz com que os
consumidores possam comprar menos produtos. Posto isto, podemos dizer que uma
redução no consumo leva a uma redução na qualidade de vida das famílias.
Concluindo, de forma a resolver ou melhorar o panorama
atual e aumentar o consumo e a qualidade de vida dos consumidores, face á
degradação da procura interna, a única solução para promover o crescimento
económico é a aposta deliberada no sector empresarial exportador, fornecendo às
empresas meios capazes de reforçar a sua atividade, nomeadamente linhas de
apoio financeiro e a sua promoção externa, proporcionando-lhes mercados que
individualmente lhe estão vedados. Esta aposta levaria a um superavit na balança comercial,
reduzindo assim as necessidades de financiamento.
Diogo
Alexandre de Queirós e Cardoso
[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]
[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]
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