Flexibilização
do défice é uma problemática que há vários meses vem a ser discutida. O
executivo, desde a sétima avaliação, tem defendido que seria benéfico para o
país um aumento da meta do défice para 2014. Pedro Passos Coelho e Paulo Portas
avisaram, em Maio, que a meta iria ser difícil de alcançar e, portanto,
defendiam o aumento da mesma de 4% para 4,5%, um valor dentro dos limites do
tratado orçamental da União Europeia.
O aumento de
meio ponto percentual no défice corresponde, em termos brutos, a 800 milhões de
euros de folga orçamental. Portanto, este ajustamento nos objectivos
orçamentais evitaria a contribuição de sustentabilidade, também conhecida como
TSU sobre os pensionistas, com a qual foi estimado arrecadar 430 milhões de
euros. Assim sendo, dado que não existe acordo quanto a esta medida, um
ajustamento na meta do défice evitaria um cenário de crise política.
No passado mês
de Junho, Nemat Shafik – vice-directora do FMI – afirmou que o alargamento do
objectivo proposto pela Troika não deveria ser alterado. Nemat defendeu que as
elevadas necessidades de financiamento e o rácio da dívida pública não
permitiam flexibilização da meta do défice.
Por sua vez,
em Agosto, o chefe da missão do FMI em Portugal, Abebe Selassie, afirmou que a
meta do défice podia ser alterada de acordo com a evolução da economia
portuguesa. Selassie defendeu que, caso a recessão do presente ano e de 2014
fosse mais elevada que as estimativas efectuadas, o défice a cumprir pelo nosso
país poderia ser ajustado, acomodando aumentos da despesa como, por exemplo,
subsídios de desemprego.
Contrariamente,
Mário Draghi revela, no final de Setembro, a sua oposição à flexibilização da
meta do défice português. O director do Banco Central Europeu justificou a sua
opinião com a extrema necessidade de manter os esforços de consolidação
orçamental. Contudo, afirma que tais esforços devem ser feitos de uma forma
“amiga do crescimento”.
Chegado
Outubro, foram realizadas a oitava e nona avaliações ao sistema de resgate.
Portugal obteve nota positiva nas mesmas, aumentando a credibilidade do país.
Contudo, depois de autorizar duas flexibilizações do défice, a Troika decide
manter a meta de 4% do produto interno bruto em 2014 e de 5,5% neste ano. “Quando
não se corta, congela-se”, afirmou o secretário-geral do PCP, no debate quinzenal, centrado nas conclusões da oitava e nona
avaliações do programa de assistência financeira. Assim sendo, os
cortes orçamentais terão de ser mais exigentes para fazer cumprir os objectivos
acordados. Um dos cortes já divulgados atingirá os ministérios que serão
obrigados a uma contenção maior do que era já previsto, na ordem dos 0,3 pontos
percentuais do PIB sobre a despesa corrente primária.
Certamente,
caso a Troika tivesse permitido um aumento da meta do défice para 4,5%, ou
seja, caso os objectivos orçamentais portugueses fossem postos em causa, os
mercados iriam reagir de imediato. Os juros da dívida poderiam aumentar
demasiado, como já aconteceu num passado bem recente. Ora, uma reacção brutal
não é de todo desejável, neste momento, para Portugal. Assim sendo, Portugal e
outros países mais frágeis deverão ter sempre uma especial atenção quando se
trata de decisões orçamentais.
Sílvia Marina Castro Leite
[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1ºciclo) da EGG/UMinho]
[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1ºciclo) da EGG/UMinho]
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