sexta-feira, 22 de abril de 2011

Portugal… Política e Economia

Ao longo das últimas décadas temos assistido ao desmoronamento da economia portuguesa. O acumular da dívida pública, o aumento do desemprego, a pobreza, foram sempre assuntos do nosso dia-a-dia aos quais os sucessivos governos não conseguiram dar resposta. A políticas erradas seguiram-se mais políticas erradas, a promessas seguiram-se mentiras… Portugal tornou-se assim um dos países em pior situação económica da União Europeia.
É certo que o governo demissionário se enquadra neste último conjunto proferido, no entanto muita da culpa da nossa situação económica actual é daqueles que deixaram a situação agravar-se consecutivamente sem pouco ou nada fazerem. Governar Portugal com certeza não é tarefa fácil mas por vezes os governantes gostam de complicar. Assistiu-se ainda há pouco tempo a uma promessa do primeiro-ministro demissionário, em que ele dizia que não eram necessárias mais medidas de austeridade às muitas que já estamos sujeitos. Por espanto, ou não, dois dias mais tarde sem conhecimento do Presidente da República e da Assembleia, apresentou mais um pacote de medidas de austeridade. Pergunto: como podemos ter estabilidade, tanto política como económica? Qual o incentivo para investir em Portugal com tanta incerteza?
Na última década muito se ouviu em “apertar o cinto” e eu pergunto se realmente se apertou. Vejamos, a dívida pública portuguesa em percentagem do PIB em 2000 era de 48.5%, com os supostos apertos de cinto em 2005 era de 62.8% e em 2009 passou para os 76.1%. Já o desemprego em 2000 era de 4%, em 2005 aumentou para 7.7% e em 2009 para 9.6%. A meu ver durante este tempo houve efectivamente muito sacrifício por parte dos portugueses, mas como podemos constatar não foi suficiente para contrariar a tendência desoladora, muito devido à má gestão do governo. O governo andou a gastar (ou talvez a brincar) com o dinheiro dos outros esquecendo-se que um dia terá que saldar a dívida.
As guerras políticas são uma constante, tudo vindo do governo é alvo de crítica por parte da oposição, não há consenso. A meu ver existe uma grande desorganização da estrutura política portuguesa, é necessária uma grande reforma não só política mas também ao nível da justiça.
Muito se tem falado da competitividade dos produtos portugueses, é óbvio que para Portugal sair desta situação crítica precisa que os seus produtos sejam mais competitivos externamente, precisa de produzir mais. No entanto, pouco tenho visto ser feito para se conseguir. Para tal vejo duas soluções. Começando por aquela mais difícil de implementar e admito muito complicado de se conseguir fazer, baixar generalizadamente os salários. O antigo governo já começou por reduzir os salários dos funcionários públicos, mas prevejo que não seja suficiente. Um dos problemas que se levanta com a possível descida dos salários é o facto de muitos países que concorrem com Portugal terem salários significativamente mais baixos e desta forma esta medida não ter o impacto desejado. Apesar disso, penso que esta não é uma medida a descartar uma vez que as empresas portuguesas melhorariam substancialmente a sua competitividade, principalmente a nível interno.
Vários economistas de renome como Blanchard afirmaram que os salários em Portugal têm que baixar, muito recentemente o chefe da comissão europeia em Portugal também admitiu que os salários reais em Portugal têm efectivamente de baixar. Portugal tem constantes défices da balança comercial, com esta medida a população portuguesa tinha uma grande vantagem em comprar produtos portugueses em vez de produtos estrangeiros, a produção nacional era estimulada e desta forma o problema do desemprego era suavizado. Sim, era extremamente complicado para a população. Por isso, tenho uma outra medida. Penso que uma boa resposta aos graves problemas de Portugal passa por aumentar o número de horas de trabalho, mais uma ou duas horas, mantendo o salário. Desta forma as nossas empresas produziam mais, o preço dos produtos baixava, uma vez que produzíamos mais com praticamente os mesmos custos. Os nossos produtos ficariam mais competitivos tanto internamente como externamente.
Conhecendo como conheço o povo português não me parece que, principalmente, esta última medida vá ser aceite e acima de tudo não acho que quem dirige o país tenha coragem para a implementar. Então não vejo outra alternativa que não seja efectivamente a de os salários baixarem. Prevejo que Portugal vá estar num clima recessivo por muitos anos. Culpo aqueles que tomaram medidas avulsas sem fundamento, preocupando-se apenas e só com o curto prazo, nomeadamente com os seus cargos no poder… As futuras gerações vão ter de suportar a dívida que a incompetência passada gerou.
Visto isto, penso que o que se pede ao próximo Governo português são medidas livres, concretas, inovadoras e acima de tudo corajosas. De outra forma vamos andar mais anos e anos a ouvir falar de FMI’s, de mais medidas de austeridade que de nada servirão para nos tirar da situação crítica pela qual passámos.

Bruno Xavier Machado Silva Ferreira

[artigo de opinião produzido no âmbito da u.c. "Economia Portuguesa e Europeia", do Curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]

1 comentário:

Anónimo disse...

ACORDA SOCIEDADE BRASILEIRA .....



A distância entre a notícia publicada na mídia e a percepção da sociedade


Tenho certeza que você leu a notícia: “Economia brasileira é a sexta maior do Mundo”. Ou seja, na frente do Brasil os EUA, China, Japão, Alemanha e França; sendo que ganhamos a posição que antes era do Reino Unido. Coisa para encher de orgulho os brasileiros. Ou seja, usando o jargão político da moda, nunca na estória desse país chegamos a tal posição.

O Ministro da Fazenda rapidamente arrematou: em vinte anos os brasileiros poderão ter padrão de vida igual aos dos europeus; só não disse se estava se referindo aos padrões antes da crise por que passa a Europa, ou ao atual padrão.

Ou seja, o Brasil está à frente do Reino Unido na escala agora apresentada, mas sabe-se que o padrão de vida do brasileiro é bastante inferior a qualidade de vida no Reino Unido. O IDH – índice que mede o desenvolvimento humano das nações – é de 28 para o Reino Unido, enquanto o Brasil é 84, em uma escala que vai até 187 (total de países pesquisados).

Não resta dúvida que para o Governo a notícia foi um “presente de Natal. Mas fica a pergunta: como o povo percebeu (se é que entendeu) este presente?

Olhando em volta – segurança pública, saúde, educação e corrupção – a sociedade não encontra nada que a leve a perceber o significado do “presente de Natal”; pelo contrário, tem tudo para não entender a notícia que circulou em toda a imprensa brasileira e, também, na internacional.

Na área da segurança pública e saúde as evidências são de uma crise crônica e com dificuldade de solução em curto prazo, pois depende de alterações profundas no processo de gestão e, sobretudo, de um profundo choque de moralização de comportamentos. Na educação, o descrédito nos recentes e cíclicos problemas de vazamento de informações nos processos de avaliação dos estudantes. Por último, em relação à corrupção, seis ministros demitidos ligados a cinco partidos da sustentação do Governo.

Frente a toda esta percepção natural do dia-a-dia (percepção do entorno) a sociedade brasileira fica intrigada em imaginar que superamos o Reino Unido na indicação das maiores economias do mundo.

Se levarmos em conta que, no Brasil, 2012 não terá um cenário muito diferente daquele que vivenciamos em 2011, dado que os problemas econômicos dos países europeus e os EUA ainda estão longe de serem considerados como resolvidos, a economia mundial ainda irá depender do desempenho de China e Índia para que o crescimento da economia mundial – do qual o Brasil depende – não sofra uma ação de descontinuidade.

No Brasil, no ano que se inicia, não está totalmente descartada a possibilidade da subida dos juros e da inflação que, poderá ter seus efeitos absorvidos por ações do Governo, mas que se isso não ocorrer no ritmo necessário poderá colocar o país em condições menos favoráveis que àquelas percebidas hoje em um cenário de euforia. Isso tudo tendo como pano de fundo a imprescindível evolução das atividades da indústria nacional.

Resumindo a estória (se é que isso é possível), pode-se dizer que a sociedade não verá os reflexos da nova posição do Brasil, entre as grandes economias do mundo, em um horizonte de curto e médio prazo. Possivelmente poderá sentir tais efeitos em longo prazo, particularmente se – e apenas se - o Governo adotar as posições que precisarão ser tomadas.

Várias conjunturas – algumas independentes da ação do Governo – nos levaram a realidade de estarmos em evidência na economia mundial, entretanto, e isso é inevitável, serão as novas ações do Governo que irão possibilitar que continuemos nessa posição.

Roosevelt S. Fernandes, M. Sc.
roosevelt@ebrnet.com.br