Nos dias de hoje são inúmeros os medos e as preocupações que assaltam a vida e a consciência de toda a sociedade. O “ fantasma” do desemprego, a perda do poder de compra e o endividamento das famílias são problemas que assombram todos os portugueses levando a uma mudança de hábitos de consumo reflectindo uma alteração de comportamentos culturais e sociais.
Portugal, à semelhança com outros países, tem verificado um aumento preocupante do endividamento das famílias devido de certa forma ao reduzido incentivo à poupança por parte dos consumidores e ao seu espírito consumista, e tendo em conta a situação actual está longe de apresentar melhores resultados.
No caso português, esta problemática teve inicio aquando da sua adesão à Zona Euro e ao processo de convergência que a procedeu, dando origem a uma era de estabilidade de preços, acompanhado pela forte concorrência, verificada a nível das instituições bancárias que permitiu o incremento da disponibilidade, diversificação e sofisticação dos produtos financeiros bem como uma maior acessibilidade e rapidez de resposta, seguida por sucessivos aumentos das taxas de juro e a situações correntes de desemprego. É de salientar que na maioria das vezes a informação fornecida pelas instituições bancárias não é apresentada de forma clara e transparente, de modo a que os consumidores possam decidir de forma racional e sustentada contribuindo assim para um consumo desenfreado.
Porém, a culpa não pode ser atribuída apenas às instituições bancárias mas também à irresponsabilidade do próprio indivíduo que não resistindo ao bombardeamento da publicidade de crédito fácil, cedem às suas tentações e desejos.
No entanto, não podemos olhar para o recurso ao crédito apenas como um aspecto negativo uma vez que quando realizado com moderação e de forma consciente permite aos consumidores obter benefícios possibilitando, deste modo, a satisfação das suas necessidades presentes através utilização de recursos futuros. Mas, este tem de ter a perfeita noção de que para além da satisfação das necessidades do “hoje” é fundamental assegurar a satisfação das necessidades do “amanhã”, isto é, é necessário garantir a sustentabilidade futura. Assim sendo, a poupança torna-se crucial uma vez que o futuro comporta a incerteza podendo surgir de um momento para o outro despesas inesperadas.
Assim, na minha opinião o que deve preocupar os portugueses não é o endividamento em si, mas a forma como estes se endividam e a susceptibilidade de este se tornar num endividamento excessivo, o que se mostra grave, principalmente quando este acontece por mera negligência do consumidor. A vontade de “ter sempre mais e melhor que o nosso vizinho”, viver num mundo irreal e inconsciente leva a situações de total desespero onde os indivíduos, depois de acumulados diversos créditos, entram numa verdadeira “espiral de endividamento”.
Atendendo à situação presente pode-se dizer que os cidadãos portugueses só agora compreenderam o significado do conceito de endividamento, e que num passado não tomaram as melhores decisões de consumo, pois são inúmeras as famílias que foram obrigadas a mudar a sua maneira de viver e moderar os seus gastos, abdicando de todos os seu luxos e despesas supérfluas.
Actualmente, cada vez mais são as famílias que recorrem a centros de aconselhamento, onde é analisada cada situação e são apontadas soluções na tentativa de minorar o efeito do endividamento, e a centros alimentares, onde são assegurados os bens essenciais para a sua sobrevivência.
Apesar deste panorama desfavorável, não podemos permitir que a realidade do endividamento que nos persegue tome conta de nós. É necessário definir prioridades e planear gastos de forma a combater esta tendência crescente do endividamento. E uma possível solução para ajudar a resolver esta situação poderá ser a melhoria salarial sustentada pelo acréscimo da produtividade.
Cátia Cunha
[artigo de opinião produzido no âmbito da u.c. "Economia Portuguesa e Europeia", do Curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]
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