Num país tantos anos reprimido, onde a pobreza vingou no dia-a-dia da nossa sociedade, nas últimas décadas a nossa história mergulha-se em falsa ostentação e muitas aparências! Tem-se vindo a verificar um incremento bastante considerável no consumismo, principalmente devido à publicidade que é cada vez mais apelativa. O poder do marketing publicitário alicia os consumidores a comprarem, a experimentar sensações, toda a ilusão da publicidade promove um enorme desejo de conhecer novos produtos. No entanto, o grave problema que advém da publicidade é a necessidade que esta provoca nos consumidores em comprar por vezes o desnecessário (o simples ato de consumir transforma-se em consumismo). É alegado por muitos que este problema é uma consequência do capitalismo e da estrutura de sociedade que é presenciada na actualidade.
Desta forma, um consumidor mesmo sendo racional, facilmente é tentado a comprar e independentemente de género ou raça, o consumismo acompanha toda a gente, de uma forma mais ou menos evidenciada. Mas será isto sustentável?
Um forte problema associado a este acto de consumir é o endividamento. É sabido que, actualmente, muitas famílias portuguesas estão endividadas, sendo que apenas a Holanda (da zona euro) nos supera relativamente ao endividamento dos particulares. As notícias da actualidade marcam de forma clara este problema: desde a década de 90, o peso das dívidas no rendimento disponível passou de 19,5% para 124%, ao passo que a taxa de poupança caiu de quase 20% para 8,3%. É também bastante discutido o problema que se levanta na decorrente procura ao crédito para satisfazer as necessidades dos consumidores que frequentemente se endividam.
Ora, mais uma vez, a publicidade é vista como a grande impulsionadora do problema. Anúncios publicitários de empresas credoras, para além das financeiras (por exemplo, a COFIDIS), são recorrentes quer na TV ou na internet. Facilmente o consumidor é estimulado a comprar porque, segundo estas empresas, estão solucionados todos os problemas relativos a dinheiro pois o pagamento do valor pedido (hipoteticamente) será feito com prestações muito baixas, e no caso de alguns “gold card” não existem mesmo prestações! Ora, esta falsa informação/publicidade enganosa, leva os consumidores a recorrerem facilmente aos créditos e não sabem eles que mais tarde vão sofrer a consequência: os juros suportados serão elevadíssimos por causa da ausência de prestações.
Mês a mês vão pedindo dinheiro, ou para ir de férias, ou para comprar carro, ou para ocasiões ou coisas sem qualquer importância e vão-se envolvendo numa bola de neve. Tudo isto se torna num ciclo vicioso, e as pessoas nem se apercebem do dinheiro que gastam e dão por elas à frente de um banco a pedir empréstimos e mais empréstimos... As famílias acabam por ter de pedir outros créditos para pagar as prestações dos primeiros, embarcando num mar de dívidas. Saliento o grave problema e a tentação do consumismo e deixo a advertência para que haja racionalidade no ato de consumir.
Sofia Lages
[artigo de opinião produzido no âmbito da u.c. "Economia Portuguesa e Europeia", do Curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]
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