A actual crise internacional, conhecida como a Crise da Dívida, começou em 2007, nos EUA, depois de uma bolha especulativa no mercado imobiliário, e depressa se espalhou por todo o mundo.
Actualmente a União Europeia, mais precisamente a Zona Euro, parece ser a mais afectada. Recuando um pouco no tempo, muitos eram aqueles que não acreditavam no projecto de Zona Monetária Óptima da União Europeia, pois existiam inúmeras divergências entre os países, no entanto este projecto avançou e apesar de um ou outro obstáculo, parecia bem sucedido até meados de 2007. Este aparente sucesso, fez com que a cotação do Euro subisse em relação ao dólar. Em 2002, o Euro e o dólar valiam aproximadamente o mesmo, a partir daí a cotação do Euro subiu em flecha atingindo máximos históricos em 2008, chegando à casa dos 1,6 (onde 1€ chegou a valer cerca de 1,6 dólares).
Os EUA, maior potência mundial, parecia ameaçado pelo Euro. Em 2007 começavam a aparecer sinais de desequilíbrio nos EUA, a falência do Lehman Brothers ditou o começo de uma das crises mais profundas que há memória. Esta crise atingiu em cheio as fragilidades da Zona Euro. Os primeiros a sentirem dificuldades foram: Grécia, Irlanda, Portugal e Itália, uma vez que eram os países mais “fracos” e suportavam uma moeda muito forte. Actualmente, os EUA estão em recuperação, enquanto que para a União Europeia tal cenário parece uma miragem. Uma vez que, a economia Norte Americana é mais elástica do que a da União Europeia, e conseguiu responder mais eficientemente às exigências colocadas.
Diariamente, ouvimos notícias desencorajadoras, como as que apregoam que as agências de rating vão baixar a classificação de um ou outro país da Zona Euro, ou que se torna impossível adiar a vinda do FMI a Portugal.
Confesso, no entanto desconfiar de todas estas calamidades que vêm assombrar os países da zona euro. Concordo que a dívida soberana é elevada, mas sinceramente não acredito no risco de incumprimento. Este tem sido utilizado como motivo das elevadíssimas taxas de juro a que a dívida destes países é vendida. Atrevo-me mesmo a dizer que foi muito pertinente para os EUA e para o Dólar este descalabro da zona euro. O rating é feito pelos EUA, o FMI está sedeado nos EUA assim como o Banco Mundial. A verdade é que os Estados Unidos da América continuam a dominar os mercados financeiros, e influenciam, como ninguém os especuladores.
Exige-se à União Europeia uma atitude firme, determinada e provas que está a trabalhar em algo real, algo convincente que trará benefícios e progressos. Necessita de convencer os especuladores que não deixará nenhum país sair derrotado deste projecto. É necessária a discussão de modelos de regulação financeira e o controlo da dívida soberana dos países da União Europeia. Deveria ser criado um Fundo Europeu maior, mais eficiente, continuo e sobretudo mais independente do que o actual Fundo de Estabilização. Assim como, formar uma agência de rating Europeia, promover a produtividade e estabilizar a Política da Zona Euro. Esta é a prova dos nove ao projecto da Moeda Única, à qual temos de passar com distinção.
Na consequência desta necessidade, surgiu do parlamento Europeu o novo Fundo de resgate. Este, tem sido discutido desde o final do ano passado. A capacidade efectiva de financiamento do Instrumento Europeu de Estabilidade Financeira, começou por ser de 250 bilhões de euros, no entanto irá ser elevado para o valor nominal de 440 bilhões. Apesar de tudo, ainda não estão completamente definidas as exigências que irão ser reclamadas aos possíveis utilizadores deste fundo.
A teimosia Portuguesa, em adiar a vinda do FMI (nada desejável, mas infelizmente necessária), deve-se na minha opinião, à necessidade da EU em solucionar os seus próprios problemas. Ou seja, tem-se adiado a ajuda externa, que todos notam como necessária, para recorrer a uma ajuda “interna”. Devo referir que a ajuda do FMI à Irlanda e a Grécia, não lhes trouxe tréguas por parte dos mercados. Além disso, estão a ser implementadas medidas muito rigidas, nomeadamente o corte salarial, que tem afectado imenso o consumo das famílias. Talvez não tenha sido completamente impertinente a espera pela intervenção Europeia. No entanto, penso que a demora está a ser demasiado elevada, tem de se fazer algo, e rápido, pois a situação está a ficar insustentável.
Para agravar a situação, Portugal está no meio de uma crise política, elevando ainda mais a desconfiança geral em relação à nossa capacidade em pagar a dívida contraída. Curioso é o facto de que os partidos parecem entender-se melhor com um governo transitório, do que com um governo minoritário. Apesar de compreender as razões que levaram à dissolução do Parlamento, a fase de eleições tem a desvantagem de ser um período instável e muito dispendioso, pede-se aos partidos seriedade e contenção.
Neste cenário catastrófico e preocupante, resta-nos esperar para ver. É impossível delinear cenários, a instabilidade é elevadíssima. Só posso deixar a opinião, de que são necessárias fortes medidas para que recuperemos a confiança dos credores.
Cátia Cristina Afonso Cerqueira
[artigo de opinião produzido no âmbito da u.c. "Economia Portuguesa e Europeia", do Curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]
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