Hoje em dia, o principal factor competitivo das economias, nas sociedades actuais, é a qualificação da população. Neste sentido, apresenta-se como sendo uma variável determinante para a compreensão do aumento do desemprego em Portugal.
A crise iniciada em 2008 focalizou o sector do debate público e político. Uma boa parte das perspectivas que têm ocorrido em Portugal sobre as causas da crise financeira no país e sobre as medidas a adoptar para dela se sair, passam por caracterizarem o problema financeiro. A crise financeira é avaliada como sendo uma realidade em si, em que a possibilidade de ela ser ultrapassada depende fundamentalmente da diminuição dos défices anuais do Estado e do endividamento externo do país. Por outro lado, a abordagem ao problema financeiro cruza-se com a análise da actividade económica. As medidas de austeridade influenciam a actividade económica, mas a superação dos défices orçamentais e do endividamento externo dependem do crescimento da economia portuguesa. Neste campo sobressaem geralmente dois conceitos: exportação e produtividade.
Desde há mais de 10 anos que a taxa de desemprego em Portugal tem vindo a aumentar. Contudo, nos últimos 2 anos essa tendência agravou-se. Entre o 3º trimestre de 2008 e o 3º trimestre de 2010, o número de desempregados em Portugal, estimados pelo INE, aumentou 40,5%. Assim, isto traduz-se num crescimento de cerca de 175 mil desempregados, que fixou a taxa de desemprego nos 10,9%. Esta é a consequência mais pertinente e o dado mais revelador dos efeitos na economia portuguesa da crise financeira iniciada em 2008. É a consequência mais pertinente pois é um factor decisivo quanto à capacidade de criação de riqueza do país, visto que tem implicações directas na diminuição das receitas do Estado e da Segurança Social, bem como no aumento das despesas com a protecção social.
O aumento do desemprego que se tem verificado durante esta crise financeira e económica pode também ser utilizado como fonte de divulgação de alguns dos primordiais problemas que se colocam à economia portuguesa. Nos últimos dois anos, este aumento recaiu principalmente em dois grandes grupos de trabalhadores: um grupo mais velho e com qualificações escolares baixas ou muito baixas e um outro grupo constituído por activos mais jovens e com qualificações intermédias. Esta verdade permite identificar problemas específicos que se colocam ao nível do mercado de trabalho e à economia portuguesa. Assim, estamos perante um tipo de mão-de-obra pouco preparada para fazer frente a desafios laborais mais complicados e rigorosos. Concluímos então que a situação de desemprego dos activos que têm este tipo de perfil se deve sobretudo à sua falta de preparação para a produção de bens e serviços a preços relativamente benéficos. Este é, então, o principal problema estrutural da economia portuguesa que foi por ela estimulado e comprovado.
Nesta aproximação às tendências do desemprego nos últimos dois anos, é importante referir um outro fenómeno, que é talvez um dos principais problemas que o país vai ter de encarar nos anos que se seguem: o aumento do tempo de permanência numa situação de desemprego. Os resultados são muito mais significativos nos grupos etários mais velhos, mas não deixam de sensibilizar no grupo dos mais jovens. Isto é, por um lado, os mais velhos têm grandes dificuldades em reentrar no mercado de trabalho, por outro, o acesso ao primeiro emprego ou ao reingresso no mercado de trabalho (nas fases iniciais do percurso profissional), são problemas que os trabalhadores mais jovens têm frequentemente de enfrentar.
Para haver competitividade com países que não têm baixos salários, Portugal necessita de garantir que a sua população activa disponha do conhecimento e das competências essenciais para o aumento do volume e qualidade dos seus produtos e serviços. O aperfeiçoamento das aptidões formalmente concedidas e dos níveis de literacia de empregados e empregadores é a principal estratégia para o país criar emprego numa economia global, que evolui a partir do conhecimento. Sem o aumento das habilitações formais e das competências da população actualmente empregada e da que integrará no futuro o mercado de trabalho, qualquer estratégia política nessa área será insustentável.
Mónica Mendes Silva
[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]
[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]
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