E se todos os esforços dos países do sul da Europa fossem deitados abaixo por um euro demasiado forte? A valorização da moeda única poderá estar a abalar em Portugal, Espanha e Grécia os anos de sacrifício para reduzir os custos do trabalho, ganhar competitividade e promover as exportações.
Num ano, a valorização do euro perante o dólar terá já anulado praticamente todos os ganhos de competitividade dos países periféricos. Sendo este efeito neutro sobre o crescimento atualmente, a verdade é que da forma que as coisas se encaminham, isto é, o euro continuando a ganhar força, ele será mesmo prejudicial à recuperação económica.
A taxa de câmbio de cerca de 1,35 dólares por um euro está ainda longe do seu valor recorde de 2008 (1,60 dólares). Mas se, por um lado, esse nível é indolor para a Alemanha e nefasto à Itália ou à França, já para Portugal, Espanha e Grécia trata-se de um autêntico veneno.
Em causa está a forte sensibilidade dos preços dos produtos vendidos ao estrangeiro, como os têxteis ou o azeite, no caso nacional, que são facilmente substituíveis por outros mais baratos. Patrick Artus, economista francês, estimou mesmo que um aumento de 10% no preço das exportações teria o efeito de reduzir o volume das exportações entre 8% e 10% nos países do sul da Europa, enquanto na Alemanha a redução seria apenas de 3%.
No seio de uma Europa convalescente, onde se exigiu que os países debilitados procedessem a desvalorizações internas – baixar preços e salários – de forma a compensar a incapacidade de desvalorização da moeda, parece incompreensível deixar agora escapar a divisa em alta.
Tem-se assistido a uma divisa excessivamente forte apenas para ver satisfeita a obsessão alemã pela inflação, deixando-se para segundo plano os verdadeiros problemas que são o desemprego e a falta de crescimento. Mesmo que a desvalorização do euro não seja a solução para pôr fim à crise de vários países, seria já uma “lufada de ar fresco” para as economias desses países.
Por outro lado, existe um ponto de vista diferente que defende que uma moeda forte é sinal de uma economia forte, e portanto optar pela desvalorização seria optar pelo caminho mais fácil. Seguindo esta ótica, a Europa não deve concorrer pelos preços mas sim pela qualidade dos seus bens e serviços. Acrescentando-se ainda que a desvalorização provocaria também um aumento do preço do petróleo avaliado em dólares.
Anthony Macedo
[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]
[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]
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