segunda-feira, 7 de janeiro de 2013

O futuro que virá

O ano de 2012 está a ficar para trás mas será um ano que ficará na memória de toda a gente. A crise que se vive actualmente está a pôr à prova as decisões políticas tomadas pelos países da União Europeia e pelos EUA, depois de um ano como o de 2012, ano bastante atribulado e de transformações rápidas. Um ano onde se pediram reformas à estrutura económica de muitos países ocidentais de forma a combateram as persistentes taxas de desemprego elevadas, como também a escalada da dívida para níveis insuportáveis, aliado a “tímidos” crescimentos económicos. Ano esse também de bastantes discórdias na União Europeia relativamente ao tema “euro” e relativamente às intervenções financeiras feitas nos países periféricos.
O ano de 2012 já passou mas deixou um legado negro à União Europeia, legado esse que poderá continuar e acentuar-se no ano que se avizinha. A UE que fora criada no intuito de criar uma sociedade mais livre e unida já não se verifica nos dias de hoje. Existe uma clara polarização das decisões políticas e económicas na Europa, estando essa polarização concentrada nos credores dos países europeus, basicamente a Alemanha. A Alemanha neste momento é quem dita as regras. A França está a perder esse estatuto, começando também a sentir o “peso” da sua dívida, tal como a Espanha e a Itália.
Quando François Hollande ganhou as eleições frente ao presidente Nicolas Sarkozy, este prometeu aos franceses e à Europa que o rumo que se devia tomar era o do crescimento económico em vez da austeridade alemã, pois a austeridade estava a levar os países da moeda única para a recessão, desestabilizando mais o euro e impossibilitando cada vez mais a recuperação da “soberania” dos países intervencionados pelo FMI e pelo BCE. Mas Hollande esqueceu-se no seu discurso que quem manda são os credores, e estes querem a austeridade e consolidação orçamental para continuarem a dar crédito aos países europeus. Trata-se de uma “machadada” no projecto europeu.
A Alemanha já não olha para o projecto europeu como olhavam os estadistas alemães antes de Maastricht. A integração europeia foi posta em causa, e isso foi verificado pelos credores, ao considerarem alguns países europeus como “lixo” no que toca a investimento em dívida pública.
Outra evidência da fragilização da integração europeia foi a reação dos países do norte europeu como a Finlândia, que se recusavam a pagar pelos erros cometidos pelos países do sul. E aqui chegamos à questão, cuja resposta é cada vez mais consensual: Será que o integralismo europeu é possível?
Analisando a situação europeia actual, o federalismo não iria resultar. A Europa, o “velho Continente”, é constituída por países com culturas tão diferenciadas, muitas delas conquistadas e defendidas à custa de guerras. Será que um país com novecentos anos de história estaria disposto a abdicar da sua autonomia para ser liderado por uma instituição? O Reino Unido já deu mostras de que não está interessado em perder a sua soberania, sendo este um país de grande importância para Europa e com um historial sem par. Penso que podemos pegar na Espanha como exemplo, apesar de as regiões autónomas espanholas partilharem mais elementos culturais entre si do que os países europeus entre si.
Tem-se verificado nos últimos tempos a ascensão de alguns partidos ou movimentos extremistas em alguns países europeus. O Syriza, esquerda radical na Grécia, a Frente Nacional de extrema-direita na França, da extrema-direita da Holanda, o partido da liberdade e democracia e da Finlândia, o “True Finns”, partidos eurocépticos que estão a ganhar força nos seus países. Este fenómeno demonstra realmente as profundas diferenças culturais entre os países.
A Europa está a perder poder na economia mundial e continuará a perder se as coisas continuarem como estão agora, tudo na mesma. A Alemanha assumiu-se como líder da Europa, não porque quisesse mas por ser a economia mais forte, por ser o “motor” da Europa. Mas o que se tem verificado é algum cepticismo também por parte dos alemães. A Alemanha aposta na austeridade, na consolidação das contas públicas, mas as economias europeias estão a entrar em recessão, o que leva a que esse processo de consolidação seja mais demoroso e mais penoso. Além disso, a própria Alemanha está em austeridade e isso tem-se revelado prejudicial pelo facto de esta ter diminuído as importações de bens oriundos dos outros países da união.
Eu penso que 2013 irá ser um ano de muita discussão na UE, um ano em que se verá se há ou não vontade por parte dos decisores europeus de alterar a situação actual, se há vontade em continuar a integração europeia e se há vontade em pensar no futuro não só do euro e do sistema bancário, mas principalmente nas pessoas, que têm vindo a suportar tudo este processo. É necessário que a Europa permita aos países fazer as suas reformas e consolidar as suas contas públicas de forma sustentável e planeada, não da forma que se está a fazer, tudo feito de forma acelerada e num curto espaço de tempo. O banco central europeu tem de ter um papel preponderante, não permitindo que o euro enfraqueça mas também permitindo aliviar as dificuldades dos países intervencionados para o bem destes e da Europa. Espera-se um ano de grandes dificuldades e de muitos sacrifícios.

Bruno Fernandes 

[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]

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