quarta-feira, 4 de dezembro de 2019

Deixaremos de lavar a roupa?

          O primeiro impacto perante esta possibilidade pode ser estranho, mas o futuro não pára de nos surpreender e, portanto, as máquinas de lavar roupa, detergentes e ferros de engomar poderão ter os dias contados. De facto, a sociedade não se encontra formatada para pensar na possibilidade de utilizar a mesma camisola três semanas consecutivas sempre com o cheiro a lavado.
É com este propósito que Mac Bishop, fundador da start-up que desenvolveu a marca Wool&Prince, lança o conceito de roupa sem necessidade de lavagens constantes, mantendo-se limpa e perfumada e sem se amarrotar. O segredo está no tipo de matéria-prima empregue, a lã merino, já utilizada, em parte, na confeção de roupa desportiva. Esta lã mostra-se resistente a odores e bactérias e capaz de regular a temperatura corporal.
Apesar do longo caminho que tem pela frente, este tipo de vestuário consegue ser destacável do demais, no sentido em que há uma relação intrínseca com responsabilidade e sustentabilidade do meio ambiente, que tem sido uma constante. Deste forma, é possível uma dupla redução envolvendo custos financeiros e custos ambientais, uma vez que cerca de 17% do consumo de água que é gasto em casa tem como finalidade a máquina de lavar roupa. Para além disto, é importante salientar que todo o processo da lavagem da roupa, desde a separação de cores à arrumação, é cansativo e por alguns considerado chato. É neste sentido que se destaca a sua conveniência para uma geração desapegada de bens, que sugere dar mais valor à experiência em detrimento dos objetos físicos, e que passa parte do tempo a viajar.
Contudo, o maior entrave à produção de vestuário incorporando a lã merino prende-se com a necessidade de aplicação de fibras sintéticas que não são recicláveis. Em contrapartida, a Pangaia consegue resultados 100% recicláveis. Esta empresa, que surgiu no final do ano passado, comercializa indumentária à base de fibras de algas, corantes naturais fabricados através de plantas e frutos e óleo de hortelã-pimenta para garantir o ar fresco acabado de lavar.
Portugal não passa despercebido a este conceito, uma vez que a roupa da Pangaia é produzida em fábricas a nível nacional. Esta empresa apurou que, face ao modelo tradicional de roupa em algodão, uma t-shirt produzida segundo estes procedimentos poupa até 3000 litros de água no seu ciclo de vida. Efetivamente, não estamos preparados para pensar qual seria a poupança total, em litros de água, de uma diminuição da comercialização de peças em algodão.
Em adição, a dificuldade desta tendência relativamente à massificação da produção e à redução de custos constitui, igualmente, um obstáculo. Se, por um lado, temos a dificuldade da produção em quantidades suficientes para a eventualidade de, um dia, a procura se tornar elevada, por outro, encontramos os preços ainda relativamente elevados, o que coloca estes produtos fora do alcance de todos. Nestas circunstâncias, fica aquém a possibilidade de mudança por parte de toda a população pela incessibilidade daqueles que apresentam menos possibilidades.
Concluindo, e realçando a minha opinião, o maior obstáculo está no convencimento do consumidor para a ideia de não precisar de lavar roupa com tanta frequência para esta se manter realmente limpa. Finalmente, acho que será um conceito difícil de se estender a todo o tipo de vestuário e, por isso, as máquinas de lavar roupa não irão desaparecer na sua totalidade. No entanto, se surgir oportunidade de provar tal lançamento, encontro-me bastante curiosa.  Afinal, está à vista de todos que o processo de mudança para a sustentabilidade do meio ambiente está cada vez mais individualizado e depende de pequenas mudanças.

Margarida Pimenta

[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]

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