sexta-feira, 27 de dezembro de 2019

Projeto Porter – um projeto atual ou passado?

Michael Porter é um famoso professor na Harvard Business School e autor de diversos livros relativos a estratégias de competitividade, sendo considerado por muitos um especialista na área de estratégia empresarial.
Assim, em 1992, o governo português e algumas empresas privadas decidiram pedir um parecer a Michael Porter e à Monitor Company de modo a avaliarem os clusters portugueses mais competitivos. Esse resultado foi publicado em 1994 no relatório denominado “The Porter Report (Monitor Company,1994)”. O relatório concluiu que Portugal tinha seis clusters com potencial económico para se tornarem competitivos no mercado internacional – vinho, derivados da madeira, calçado, têxtil, componentes de automóveis e turismo.
Da aplicação desta metodologia foram selecionadas políticas horizontais que se focavam no sistema educativo, financeiro, gestão da floresta, ciência & tecnologia e capacidade de gestão. Complementarmente, foram identificadas “task-forces” para os empresários, associações empresariais e para a administração pública de modo a implementar as recomendações do projeto Porter, de modo a gerar efeitos dinâmicos na sociedade e na economia portuguesa.
Através da iniciativa do Diário de Notícias e do Diário Digital, em 2002, realizou-se uma nova visita de Michael Porter a Portugal. Nessa altura, Portugal encontrava-se estagnado, a economia real estava esquecida, a produtividade apresentava dos mais baixos valores da União Europeia e o défice da balança corrente rondava os 10% do PIB. Oito anos após o relatório, o autor, após denotar que não houve uma mudança significativa nas diversas vertentes destacadas no seu relatório, defendeu que não há prosperidade sem produtividade, e que o setor privado tem que mobilizar-se para um problema que “não é do Governo”, mas sim do país. Adicionalmente, afirmou que a prioridade dada às condições macroeconómicas para a entrada no euro deviam passar agora para a área da competitividade, o “pilar fundamental da prosperidade”. Segundo Porter, a capacidade competitiva de um país não consiste no que o país produz, mas na sofisticação e produtividade com que o país faz o que faz.
Com o passar do tempo, ocorreram mutações das condições do país e da economia, contudo, a capacidade inovadora do país, de modo a aumentar a produtividade, é ainda, atualmente, apontado como um caminho prioritário para o futuro de Portugal.
Analisando os clusters de vantagem competitiva de Portugal, atualmente o país é mundialmente conhecido pela produção de calçado, ocupando o segundo lugar relativamente ao par de calçado mais caro, o turismo dá contributo em termos de receitas cada vez mais fulcral para a economia, a balança comercial de vestuário, em 2018, apresentava um valor positivo de 123,6 milhões de euros, a produção vinícola portuguesa é uma referência a nível mundial e a produção de componentes automóveis, tendo em conta a produção da Autoeuropa, em 2018, representou 1,6% do PIB, tendo registado um aumento de 106% na produção relativamente a 2017.
Assim, no meu ponto de vista, apesar destes resultados positivos, a grande preocupação da política económica deve continuar a focar-se na questão da competitividade. Só tornando o país mais produtivo e competitivo é que poderemos melhorar a prazo a nossa qualidade de vida e reduzir as desigualdades que o país detém. É então necessário fomentar a competitividade, flexibilizar o mercado de trabalho, incentivar a inovação empresarial, o empreendedorismo e o mercado de capitais para as pequenas e médias empresas.
É bastante debatida a necessidade de aumentar as exportações, contudo, na minha opinião, sem competitividade e produtividade comparáveis a nível internacional, não teremos produtos para vender no mercado internacional.

Isabel Miranda

[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]

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