sábado, 21 de dezembro de 2019

Setor têxtil em Portugal

A afirmação do setor têxtil na economia portuguesa é notável. Apesar de ser dos setores mais antigos em Portugal, a sua importância e peso não desvaneceram na economia nacional.
A origem da produção têxtil, em termos industriais, remonta à Revolução Industrial, iniciada em Inglaterra, no final do século XVIII. A propagação desta indústria pela Europa foi assinalada pela atividade mecânica em detrimento da manufatura, com o surgimento da máquina a vapor e dos teares, que vieram substituir, em parte, a mão-de-obra humana.
Para Portugal são poucas as informações relativamente aos primeiros desenvolvimentos da indústria. A informação é escassa, sobretudo no que diz respeito à maquinaria empregue, termos de produção e técnicas. Inicialmente, tratava-se de uma atividade meramente artesanal, em pequenas regiões rurais, realizada, essencialmente, por hábeis artesãos. É de notar que este trabalho era desempenhado por membros da mesma família, onde o montante subsidiado era atribuído ao homem como espécie de ordenado familiar.
Contudo, a evolução tecnológica permitiu o desenrolamento de sistemas fabris, viabilizando a melhoria das condições laborais e como resultado a competitividade das fábricas. As décadas de 70 e 80 do século XX, distinguem-se pelo ilustre progresso deste ofício, em virtude de custos de mão-de-obra comparativamente mais baratos.
A maior contração deste setor aconteceu no período entre 2001 e 2008. A adesão de Portugal ao euro, a alargamento da União Europeia a Leste, a crise financeira internacional e, sobretudo, a entrada da China para a Organização Mundial do Comércio contribuíram para o arrefecimento do ramo. Todavia, os primeiros sinais de recuperação dados em 2010 baseavam-se em pilares sólidos, capazes de levar ao crescimento de longo prazo. A aposta foi feita, nomeadamente, na inovação, design, qualificação dos recursos humanos, know-how industrial, qualidade coerente com rapidez e flexibilidade. Na contemporaneidade, o setor tem-se mostrado competitivo pela qualidade que apresenta nos seus produtos. Portugal é conhecido, cada vez mais, como país fabricante de alta-costura, aliada a princípios ambientais e de sustentabilidade.
Segundo a Associação Têxtil e Vestuário de Portugal, ATP, o contributo do setor têxtil representava, sensivelmente, 10% do total das exportações portuguesas, em 2018, 5314 milhões de euros (M€), uma evolução de 1,9% face ao ano anterior. Por sua vez, as importações situavam-se nos 4307 M€, mais 4,1% face a 2017. Em termos de empregabilidade, os 138000 postos de trabalho, em 2018, figuravam 20% do emprego da indústria transformadora.
Os dois grandes desafios à evolução requerida para este ramo centram-se na própria composição do setor e na falta de recursos humanos disponíveis para a área. Por um lado, o primeiro entrave relaciona-se com o facto de a maior parte das empresas constituintes serem classificadas como pequenas e médias empresas. Neste contexto, Paulo Vaz, Diretor-Geral da ATP, espera que o governo seja capaz de criar incentivos para a concentração empresarial, e que, por sua vez, o tecido empresarial arrisque no design e desenvolvimento de novos produtos mais sofisticados. Por outro lado, a reduzida oferta de mão-de-obra dirigida ao setor industrial tem preocupado os empresários detentores das grandes organizações.  Paulo Vaz declara que o “perfil do país tem mudado radicalmente”, com isto se refere a que as qualificações dos jovens criam desincentivos à procura de futuro nas fábricas por parte dos mesmos.
Concluindo, acho pertinente citar, uma vez mais, Paulo Vaz: “mais vale ser dono de metade de alguma coisa do que ser dono de 100% de coisa nenhuma”. A meu ver, a citação cinge-se a uma crítica construtiva, de modo a apelar à valorização da capacidade competitiva através de empresas de maior dimensão, capazes de sobressair nos mercados internacionais, os maiores consumidores de têxteis produzidos no nosso país.

Margarida Pimenta

[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]

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