sábado, 21 de dezembro de 2019

Refugiados, um fardo para a Economia?

Desde 2015 que a União Europeia conhece um afluxo sem precedentes de refugiados que fogem da guerra, de perseguições e da pobreza extrema, constando-se a maior crise humanitária desde a 2ª Guerra Mundial. Perseguições, conflitos e violações dos direitos humanos levam a que muitos arrisquem as suas vidas e enfrentem travessias de morte. Quando falamos de refugiados, falamos de pessoas numa situação de extrema fragilidade emocional, social e económica.
A imagem que a maior parte da população tem da imigração é a de filas de refugiados a caminhar pelas estradas e campos da Europa, insufláveis lotados no mediterrâneo, afogamentos e salvamentos, barcos à deriva, falta de alimentos, campos de refugiados repletos de tendas, entre outros. Isto são tudo situações que, traduzidas em imagens televisivas ou em redes sociais, mais se assemelham com uma invasão da Europa por uma multidão de indivíduos de tez escura.
Paralelamente, e ao invés de estabelecer uma política comum, estruturada e consistente de imigração, ou seja, encarar o problema de frente, os governos europeus limitam-se a pagar à Turquia para reter o fluxo, a negociar discretamente com traficantes e a fixar quotas de acolhimento por país. Não existindo nenhuma política europeia de integração para aqueles que acabam por chegar, o destino normal é sobreviver da assistência da segurança social ou da exploração laboral, e viver em guetos controlados. Todo o cenário assim criado origina, naturalmente, inquietação nas populações.
A Europa recebeu um recorde de refugiados nos últimos cinco anos, mas que em termos demográficos e económicos terá um impacto mínimo, pelo que a crise política que se gerou não se justifica, segundo um relatório publicado pela Organização para Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE). Esta sublinhou ainda que os refugiados trarão um aumento na população em idade ativa nos países europeus em cerca de 0,33%, até 2020. Em alguns países, o efeito do fluxo de refugiados será mais evidente: na Áustria, Grécia e Suécia, os refugiados recentes aumentarão a força de trabalho em até 0,5%; e na Alemanha em até 0,8%. Alguns estudos mostram também que a complementaridade entre as competências laborais dos refugiados e dos nativos pode ter consequências positivas, embora em certos setores possa haver efeitos negativos significativos, ou seja, alguns refugiados podem competir diretamente com os nativos no mercado de trabalho.
No que concerne aos custos de integração dos refugiados, estes variam muito de um país para outro, mas encontram-se entre 0,1% e 1% do Produto Interno Bruto (PIB). O estudo mais recente, publicado em junho na revista Science Advances, mostra que os refugiados começam a “devolver” o dinheiro gasto com eles logo no ano de chegada.
A verdade é que, apesar de todos estes dados favoráveis, a crise de refugiados que se tem vivido nos últimos anos veio trazer ao de cima o pior da humanidade, mostrando que os cidadãos europeus são menos tolerantes relativamente aos estrangeiros do que os líderes esperavam e que os partidos mais radicais transformaram esses eventos em narrativas alarmistas – associadas, normalmente, ao desemprego, à violência, ao terrorismo e à perda de identidade. A tradição de atribuir ao estrangeiro todas as desgraças da nossa existência, para mais quando este apresenta uma tez diferente e professa um credo diferente, é uma constante da História.
Apesar dos muitos progressos feitos ao nível das operações de salvamento no mar e da assistência nas rotas terrestres, há, na minha opinião, ainda muito a fazer ao nível do acolhimento e integração de refugiados. É necessário ajudá-los a encontrar e a permanecer em postos de trabalho, bem como trabalhar mais de perto com uma ampla variedade de partes interessadas na integração de migrantes, incluindo a sociedade civil, o setor privado, os parceiros sociais e órgãos governamentais a nível subnacional. Mostra-se, também, ser essencial criar um plano de crise para identificar parceiros, canais de comunicação e responsabilidades diante de grandes afluxos de pessoas que procuram proteção. Assim, é imperativo e urgente salvar vidas e assegurar as condições básicas de vida aos refugiados.
     
Sara Vieira Ribeiro

[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]

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