sexta-feira, 27 de dezembro de 2019

Futuro do setor automóvel

Atualmente, todos estamos a par das notícias que constatam os problemas das emissões de CO2 bem como a (já) proibição de circulação de determinados carros nalgumas cidades europeias (Lisboa, a título de exemplo). Assim e, com base nos princípios do Acordo de Paris, existe um investimento cada vez maior em motorizações alternativas, nomeadamente, a produção de veículos elétricos. A motorização elétrica é claramente um tema já discutido e ainda por discutir (existem constantes desenvolvidos neste campo), aparentando ser o principal futuro da indústria automóvel ou da mobilidade. Contudo, a realidade é que os recentes e futuros desenvolvimentos são muito complexos, havendo necessariamente muitas mais opções para além dos veículos elétricos.
Relativamente ao nosso país, é importante destacar a preponderância que o setor da indústria automóvel já representou e continua a representar na economia nacional. Esta indústria Portugal “nasceu” por volta de 1950 (em Portugal), sendo que na década de 1990 aconteceu um dos principais marcos da história da mesma: em Palmela, implantou-se a Volkswagen Autoeuropa, oferecendo um desenvolvimento constante (e sustentado!) a Portugal no que diz respeito a esta indústria. Desde 1990, mais 4 fábricas surgiram, nomeadamente a PSA - Peugeot-Citroën, a Mitsubishi Fuso Truck, a Toyota Caetano, e a Caetano Bus. As 5 fábricas que existem no país têm o principal foco nos mercados externos, sendo suportadas por um completo ecossistema de fornecimento e apoio.
Através destas 5 fábricas, o ano de 2018 registou um crescimento impressionante que, inclusive, “serviu” para quebrar alguns recordes, segundo dados da PORDATA. Face a 2017, o cluster automóvel registou um crescimento superior a 12%, ou seja, um incremento no volume de negócios de cerca de 13,7 mil milhões €. Um novo recorde registado foi o número de veículos produzidos: aproximadamente 295 mil e, destes, 97% foram exportados. Outro recorde foi na indústria de componentes: alcançou-se uns expressivos 11,5 mil milhões € em volume de negócios. Estas importâncias indicam que as empresas do setor têm um peso de 7,1% no PIB e um valor acrescentado bruto de 3,5 mil milhões €.
Em Portugal, as empresas do setor são muito intensivas em tecnologia, apresentando níveis de produtividade significativamente elevados. Aliada à produtividade e, com o intuito de se colocarem no patamar das empresas europeias e serem igualmente competitivas, existem padrões de grande exigência e rigor. Além disso, cada vez mais estas empresas enfrentam desafios científicos, tecnológicos e financeiros. Por um lado, há a necessidade de investimento e de implementar a indústria 4.0 e conseguir cooperar com a falta de recursos humanos. Por outro lado, as empresas têm que, simultaneamente, responder eficazmente às exigências ambientais e aos novos conceitos de mobilidade.
O trilho para uma indústria de sucesso e competitiva é, inquestionavelmente, a inovação. As novas evoluções impõem a existência de automóveis mais ecológicos, mais autónomos (o que será possível através dos sistemas de apoio à condução e, possivelmente, independentes do condutor), mais interligados e, claro, cada vez mais seguros. Para que os veículos sejam tudo isto e mais, é estritamente necessário haver um esforço em investimentos no domínio da investigação e desenvolvimento para, numa primeira fase, testar e, depois, aplicar na produção dos componentes e, consequentemente, dos veículos.
Com o intuito de apoiar a indústria automóvel, o Governo Português assinou, recentemente, um Pacto Setorial para a Competitividade e Internacionalização. Os principais objetivos deste pacto são o aumento do nível competitivo e a disposição de melhores condições com vista à atração de mais investimentos estrangeiros (investimentos esses que também serão alavancados pela nossa posição no ranking da produtividade europeia – como tal, também um dos objetivos é promover o crescimento nesse ranking). De forma geral, são enumerados seis princípios cruciais que se dividem por medidas, como o apoio a financiamentos para a indústria 4.0, a capacitação de recursos humanos (através de estágios e formação especializada) e a negociação de legislação que define os estatutos e a autorização de circulação de veículos com motorizações alternativas.
Assim, este documento inicia a colaboração entre o Governo e o cluster automóvel, onde são assumidos compromissos essenciais por ambas as partes, com vista ao reforço do contínuo contributo da indústria automóvel e da mobilidade para a economia portuguesa. É plausível então presumir que este pacto é um passo (de muitos ainda) em frente no futuro destas indústrias.

Tomás Ferreira Pinto

[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]

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