quinta-feira, 26 de dezembro de 2019

O (novo) mercado imobiliário em Portugal

Portugal surge como o mercado imobiliário mais dinâmico da Europa ocidental devido a incentivos fiscais concedidos a compradores vindos de fora do país e, também, graças aos vistos Gold, que oferecem licença de residência em troca de um montante mínimo de investimento de 500 mil euros.
Os investidores estrangeiros, desde 2012, investiram 4,3 mil milhões de euros no imobiliário português, com a ajuda do programa de residência. O Primeiro-ministro, António Costa, afirma que o pais precisa de incentivos para continuar a atrair investimentos.
Lisboa é desde então um íman para turistas na Europa. Muitos investidores renovaram as suas propriedades e transformaram-nas em rendimentos de curto-prazo com o arrendamento através de certos sites, como o Airbnb. Os alugueres de curto prazo fazem com que os preços aumentem porque os potenciais clientes têm um poder de compra maior que o dos locais.
De acordo com os últimos números, os preços dos imóveis em Portugal aumentaram 9,2% no primeiro trimestre do ano, o maior ganho na Zona Euro e o aumento mais acentuado na União Europeia, depois da Hungria e da República Checa, segundo dados compilados pelo Eurostat.
"Eles não podem dar-se ao luxo de dizer que não", salientou Tiago Caiado Guerreiro, advogado em Lisboa especializado em legislação fiscal. "Estes incentivos transformaram cidades como Lisboa num ímã para investidores estrangeiros que ajudaram a colocar a cidade no mapa como um dos principais destinos turísticos".
Os incentivos adotados em Portugal foram também adotados na Europa e em outros países, como os EUA e o Canadá. Estes tendem a durar até uma massa crítica de oponentes exporem os custos – aumento dos preços da habitação, ausência de proprietários e alegações de corrupção – que superam os benefícios, e aí os políticos abandonam os incentivos.
Portugal, devido à sua circunstância, pode impedir que tal abandono aconteça, dado que existem muitas propriedades que necessitam de reforma e os preços continuam a ser razoáveis, se os compararmos com outras áreas da Europa.
Há pouco tempo, com a Europa a recuperar da crise financeira global, Portugal ficou para trás no que concerne a captação de investimento e os edifícios na histórica Lisboa foram-se desmoronando, o trabalho de azulejos e a alvenaria desbotaram e racharam.
Estas coisas começaram a mudar quando o governo retirou o controlo aos arrendamentos e criou os vistos Gold e benefícios fiscais de modo a atrair residentes estrangeiros com elevado poder de compra e investidores imobiliários. Na altura, cerca de 12.000 edifícios estavam em más condições ou em ruínas, cerca de 20% do total, segundo as estimativas da Câmara Municipal.
O investimento no setor imobiliário e na indústria do turismo atingiu recordes, fazendo com que a economia portuguesa se expandisse pelo quinto ano consecutivo, em 2018. Contudo será que esta medida tem apenas consequências positivas? Tomemos como exemplo o Canadá.
O Canadá, em 2014, acabou com um plano de investimento para emigrantes porque conclui que esse programa apresentou um benefício económico limitado. Ao comparar com outros programas económicos, os investidores pagaram menos valores de impostos. Daí existiu uma propensão menor a ficarem no Canadá e muitas vezes não se conseguiam adaptar, de modo a integrar a comunidade. O programa estava a admitir aproximadamente 2.000 investidores por ano quando terminou.
É certo que são muito boas em termos económicos estas medidas que potenciam o investimento no nosso mercado imobiliário, contudo temos de ter cuidado dado que irão afetar os portugueses com menores possibilidades, que ao tentarem comprar casa não o irão conseguir fazer devido aos preços estarem elevados.

Tomás Ferreira Pinto

[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]

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