quinta-feira, 26 de dezembro de 2019

Economia Paralela

Este é um dos temas que mais gera controvérsia em Portugal, pois poderia ser fonte para um grande crescimento económico e apresentar um grande peso no PIB português. No entanto, a economia paralela é um fenómeno à escala global, com uma dimensão e complexidade distintas em cada período e país devido às suas particularidades económicas e sociais, sendo em Portugal muito escassos os estudos sobre as suas causas e consequências. Apesar de o cidadão comum interagir no seu quotidiano com esta economia, quer pela sua experiência, quer através dos meios de comunicação social, esta é designada de ‘paralela’, ‘não observada’ ou ‘não registada’.
A Economia Paralela, cuja atividade, usualmente é resultado de condutas marginais e desviantes, não é acomodada pela contabilidade nacional. Apesar desta ser uma das causas do funcionamento ineficiente no mercado de trabalho e do mercado de bens, introduz distorções de competitividade entre empresas e países, pois um aumento da Economia Paralela atrai trabalhadores da Economia oficial.
A Economia Paralela, normalmente, subdivide-se em três tipos:
i)                   economia subterrânea, caraterizada pela produção de bens ou serviços legais, de forma deliberadamente não declarada de modo a evitar o pagamento de taxas ou impostos, ou o cumprimento de normas legais e procedimentos administrativos;
ii)                economia informal, caraterizada pela produção de bens e serviços legais em pequena escala, normalmente para gerar consumo ou rendimentos próprios; e  
iii)              economia ilegal, caraterizada por bens e serviços cuja produção e venda são proibidos por lei ou por posse a indivíduos não autorizados.
Os trabalhadores que enveredam por estes segmentos perdem, naturalmente, os seus direitos e garantias, além de reduzirem as receitas fiscais e a capacidade do Estado para realizar despesa pública, o que aumenta a instabilidade económica. Além disso, este tipo de atividades favorece a corrupção, o crime, a ilegalidade e provoca falta de confiança na qualidade das instituições públicas.
Sendo este um problema já conhecido, existem diversas causas que explicam a existência desta economia, tais como a elevada carga fiscal sobre as empresas e as famílias, as grandes contribuições para a segurança social, os elevados custos administrativos, a complexidade e demora da burocracia, a falta de credibilidade dos órgãos de soberania, a ineficiência da Administração Pública, a falta de transparência no atendimento público, a mão-de-obra composta por imigrantes ilegais e clandestinos, a falta de cultura e de participação cívica, a baixa produtividade, a instabilidade social e o fraco investimento de qualidade. 
Por outro lado, a existência deste mercado implica deformações na concorrência entre empresas, contribuindo para que os preços se situem (ainda mais) acima dos custos, e reduzindo as quantidades transacionadas. Efetivamente, estas atividades produzem desconfiança nas pessoas e geram uma ideia de impunidade de certos indivíduos, que perdem a sua consciência ética e a sua responsabilidade social.
Todavia, o combate a este tipo de atividades já tem sido feito e algumas sugestões já são incentivadas por algumas instâncias, tais como o aumento da transparência na gestão de recursos públicos, a aplicação de uma justiça rápida e eficaz, punindo fortemente o agente que adquirir bens em manifesta desconformidade com os rendimentos fiscalmente declarados, o combate à fraude empresarial e ao branqueamento de capitais, e o incentivar ao uso cada vez maior de meios eletrónicos nas transações de mercado, ao permitir o rastreio aos meios dos indivíduos.
Só para se ter uma ideia, de acordo com o Observatório de Economia e Gestão de Fraude (OBEGEF), que tem avaliado o peso da Economia Não Registada (ENR) em Portugal, os últimos dados existentes, obtidos através de modelos estatísticos, revelam a representação de 27,29% do PIB, correspondendo a 48.993 milhões de euros em 2015, com uma tendência de aumento. Este valor sustentaria o orçamento do ministério da Saúde durante cinco anos.
No futuro, apesar de ser difícil a sua previsão, espera-se que o combate à Economia Paralela e à evasão fiscal e à corrupção aumente, pois tem sido um dos objetivos principais dos países da OCDE.

André Oliveira

[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]

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