domingo, 1 de dezembro de 2013

Baixar os salários para aumentar a competitividade?

«Não é a espécie mais forte que sobrevive, nem a mais inteligente, mas aquela que reagir melhor às mudanças». Esta afirmação de Charles Darwin tenta exprimir o desafio de Portugal, num contexto de acelerado processo de Globalização, do alargamento da União Europeia (UE) e do aprofundamento da União Económica e Monetária. E reagir melhor às mudanças exige um ambiente dinâmico e motivador, concentrado num futuro desafiador: o de fazermos melhor, ou seja, sermos mais competitivos. Mas o que significa isto de sermos mais competitivos? O PIB por pessoa empregada, que é equivalente à produtividade do trabalho, é, regra geral, um dos melhores indicadores para a medição da competitividade de um país. 
Paul Krugman, prémio nobel da economia, afirmou no ano passado que baixar os salários é a melhor forma de Portugal aumentar a competitividade. Passará por aí a solução? Será essa a única forma de Portugal voltar a crescer e sobreviver neste contexto tão exigente?
Não são os custos unitários do trabalho os únicos que comandam o comércio internacional, mas também as vantagens comparativas de um país. A inovação é ferramenta indispensável na criação de vantagens comparativas e de novos postos de trabalho. Numa altura de grandes restrições orçamentais, é essencial a habilidade de introduzir inovação nos produtos, serviços, processos, negócios e modelos organizacionais. 
O Estado tem também um papel muito importante no aumente da competitividade. No caso de Portugal, há muitos sectores onde o Estado deveria atuar com mais intensidade, por exemplo na formação da sua mão-de-obra, que é muito desqualificada em relação à média europeia. Também na melhoria dos seus sistemas de transporte para a Europa Central, nomeadamente nos seus portos e no caminho-de-ferro. Mas estes são investimentos que só a longo prazo poderão dar frutos no que diz respeito ao aumento da competitividade.
Em relação à moeda, desde a entrada na moeda única, o país deixou de ter na política monetária um instrumento para ganhar competitividade com a desvalorização da moeda. Assim, uma moeda forte como o euro induz uma nova disciplina competitiva e um aumento do nível de exigência, incentivando a emergência de novos sectores industriais intensivos em tecnologia e criatividade, geradores de maior valor acrescentado. 
Também a concorrência de novas economias emergentes, como é o caso da China, constitui um fator adicional de preocupação para a economia portuguesa, especialmente na indústria têxtil. Mas o curioso é que nem todos os países europeus reagiram da mesma forma a este novo contexto macroeconómico. Por exemplo, os países do alargamento (em especial a Polónia, Hungria, República Checa e Eslováquia) conseguiram aliar uma especialização produtiva de baixos salários e níveis de educação elevados, que lhes conferiram um potencial competitivo e uma grande capacidade de atração de investimento direto estrangeiro.
Contudo, volto a frisar que um modelo de desenvolvimento para Portugal não pode passar só pela descida de salários. Essa visão de empobrecimento das pessoas para torná-las mais produtivas não é a mais correta nem propícia a o clima dinâmico e motivador que o país tanto necessita. Então, a solução deve passar por uma aposta mais forte na educação, incluindo fundos para I&D, uma melhora das infraestruturas logísticas e no aumento do valor acrescentado do sistema produtivo. No fundo, o importante é criar condições que visem tornar Portugal num país mais atrativo ao investimento estrangeiro e a novas empresas com métodos de gestão mais inovadores e eficientes.

João Paulo Castro Martins

[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho] 

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