sexta-feira, 27 de dezembro de 2013

Economia Paralela em Portugal

“Os crimes socialmente mais relevantes são praticados por quem está profundamente integrado na sociedade, pela criminalidade de colarinho branco”.

Quando falamos em economia paralela, estamo-nos a referir a um conjunto de actividades que não são registadas oficialmente, ou seja, que não se encontram no sistema estatístico e fiscal, e, por isso, a economia paralela é uma preocupação transversal à sociedade portuguesa.
O índice da economia paralela subiu 4% em 2012, passando de 25,49 % em 2011 para 26,74% em 2012. Em termos absolutos, o aumento foi menor, da ordem dos 2%, para 44100 milhões de euros, devido à queda de volume do produto interno bruto (PIB) que caiu 3,2% em 2012.
A economia não registada, outra das designações para definir a parte da economia que, por nacional, ou seja, não paga impostos, ascende a mais de metade da ajuda externa da troika.
O aumento de cerca de mil milhões de euros registado entre 2011 e 2012 daria para pagar um mês de salários na função pública e ainda sobravam 200 milhões de euros. Segundo cálculos do OBEGEF (Observatório de Economia e Gestão de Fraude), sem economia paralela, o PIB nacional teria ascendido a 209 mil milhões de euros em 2012. Sem economia não registada e aplicando uma taxa de imposto de 20% a essas actividades, o défice público seria negativo em 1,7%, e em percentagem do PIB o valor ainda seria negativo, mas apenas de 0,85%.
O índice da Faculdade de Economia, o único calculado a nível nacional, inclui produção ilegal, produção oculta (subdeclarada ou subterrânea), produção informal, produção subcoberta por deficiências da estatística. Por sectores, o maior peso da economia paralela verifica-se no comércio e serviços, seguidamente da indústria e, por fim, a agricultura.
As principais causas para a economia não registada é a carga fiscal, onde se inclui os impostos directos e as contribuições para a Segurança Social, a carga de regulação, onde se inclui o consumo do Estado, e a evolução do mercado de trabalho/desemprego.
Assim, com o objectivo de combater a economia paralela, a OBEGEF reafirma as sugestões de outros anos, como a necessidade de maior transparência na gestão de recursos públicos, educação da sociedade civil, justiça rápida e eficaz, combate à fraude empresarial, combate à utilização abusiva de convenções de dupla tributação. Inclui ainda o incentivo à utilização de meios electrónicos e combate ao branqueamento de capitais.
Desde 1970, o peso da economia paralela passou de 9,3% para 26,74% em 2012, enquanto que a média dos países da OCDE, em 2012, era de 16,5%.
Só em democracia se reduz a economia não – registada, mas não acontecerá enquanto o poder político estiver exclusivamente subjugado à dinâmica económica, aos “mercados”…

Maria Clara Antunes Lobo Martins

[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho] 

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