quinta-feira, 26 de dezembro de 2013

Calçado: um caso de sucesso

Dada a atual conjuntura económica que a Europa está a atravessar, delinearam-se estratégias muito ambiciosas de crescimento em matéria de emprego, I&D, alterações climáticas e sustentabilidade energética, Educação e ainda contra a pobreza e a exclusão social.
Não se deixando intimidar pela grandeza das metas, o sector do calçado em Portugal decide acompanhar a estratégia de crescimento e traçar também alguns objetivos para 2020. Este é um sector de grande importância para Portugal e prevê-se um total de exportações para este ano na ordem dos 1700 milhões de euros, o que representa um crescimento de 6% face a 2012.
Mas então que se propõe este sector? Contra todas as projeções e tendências verificadas nos últimos anos, o sector quer até 2020 exportar mais caro e recusa salários baixos. Aposta-se em inovação, em investimento e em reforçar a competitividade, especialmente lá fora!
No entanto, para os mais académicos, esta estratégia de aumentar o preço final e os salários parece um pouco controversa do ponto de vista do mercado laboral. Onde há excesso de oferta de mão-de-obra comparativamente à sua procura (no caso de Portugal isso verifica-se pela alta taxa de desemprego que ultrapassa o desemprego natural) o mercado deveria ajustar-se mediante uma flexibilização de salários de forma a aumentar a taxa de emprego. Sendo que a prática comum nos últimos tempos é procurar mercados onde a mão-de-obra é mais barata. Não sei muito bem até que ponto essas empresas estão interessadas na qualidade dos serviços prestados, no entanto parece ser uma boa forma de aumentar exponencialmente os lucros. Condições dos trabalhadores? Se calhar não ficam muito satisfeitos com as condições precárias, mas onde a alternativa é a miséria até parece que as condições fornecidas são autênticas regalias. Por outro lado, aumentando o preço final dos produtos poderá levar a uma inversão/diminuição da competitividade externa, segundo dizem.
No entanto, nem tudo se rege por teorias, pois estas muitas vezes não dão rsposta às necessidades em questão. Segundo os últimos reportes da OCDE, uma diminuição generalizada de salários leva também a uma quebra da produtividade. Será que não é um fator importante a ter em consideração? Ou esta parte não afeta diretamente os lucros e os gestores deixam de se incomodar?
No caso do sector do calçado, somos uma referência mundial, que se destaca pela qualidade, design e produção destinada a segmentos de luxo. Por esse destaque, Portugal vende o 2º calçado mais caro do mundo, que ronda os 22.7€ em média contra os 33.7€ do calçado Italiano.
A meu ver, este sector apercebeu-se que tem que apostar na diferença para continuar a destacar-se lá fora e conseguir ultrapassar até o calçado Italiano. Se eles vendem caro e mantêm os salários mais elevados, porque é que nós não podemos fazer isso? Estou completamente de acordo com a posição tomada pela aposta mencionada. Os trabalhadores têm que ser recompensados pelo seu trabalho e esforço e lucrar pela distinção que a marca consegue. Se estes têm que ser cada vez mais proactivos, estudar os mercados concorrentes e conhecer as técnicas dos demais concorrentes para conseguirem ultrapassar a qualidade, têm que saber que esse esforço tem algum propósito e compensação no final. Caso contrário surgem situações de desinteresse e baixa produtividade que dificultam a produção e expressão da empresa.
E assim se constroem empresas de sucesso com alta expressão no mundo inteiro. É preciso sim bons profissionais a liderar uma equipa, mas no final de contas uma empresa só existe se tiver trabalhadores/colaboradores. Mais, esta é tanto melhor quanto mais motivados estiverem os seus funcionários. Se estes acreditarem que fazem parte do sucesso, e esse mérito for reconhecido, vão fazer de tudo para dar o seu melhor, vão querer crescer com a empresa e, no fim, conseguimos ter destaque e reconhecimento. No final de contas, nada mais é do que aumentar os lucros assim como o bem-estar de todos que contribuiram para este fim.

Tânia Sofia Rodrigues Fernandes

[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho] 

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