segunda-feira, 26 de dezembro de 2016

Brexit: uma lição para a União Europeia

Brexit é a junção das palavras Britain e exit, representando a saída do Reino Unido da União Europeia. Este é um assunto que remonta a 1973, aquando da entrada do Reino Unido na Comunidade Económica Europeia (posteriormente União Europeia), sendo um objetivo político perseguido por vários grupos de interesse e partidos políticos.
O primeiro referendo sobre a saída ou não do país da CEE deu-se em 1975, com resultado favorável à permanência. 41 anos depois, em 2016, o caso muda de figura. O resultado do segundo referendo, convocado pelo então primeiro-ministro, David Cameron, foi o oposto do primeiro, isto é, favorável à saída.
O referendo constituiu um marco histórico. Pela primeira vez, o povo de um país membro da União Europeia votou para recuperar a sua soberania. Este resultado trata-se também de uma grande lição para a União Europeia, que acreditava numa verdade indubitável de que uma vez parte da União Europeia era impensável sair.
As primeiras consequências passaram pela demissão de David Cameron, substituído por Theresa May. Deu-se ainda uma grande indefinição nos mercados financeiros mundiais, com grandes quedas nas bolsas de todo o mundo. A desvalorização da libra foi acentuada, tendo esta atingido valores mínimos em 30 anos (o que favorece as exportações, mas pressiona a inflação). Segundo o Banco de Inglaterra, a inflação irá atingir os 2% em 2017. A instituição reviu já em baixa o crescimento para o próximo ano (de 2,2% para 1,4%) e os inquéritos às empresas demonstram que muitas estão a reduzir os seus planos de investimento, o que ameaça o emprego. As agências de rating baixaram o rating do Reino Unido, o que significa uma menor capacidade de se financiar no mercado externo.
Contudo, o cenário económico é confuso. Ao que parece, o Reino Unido já recuperou do choque inicial. A economia britânica está a crescer de forma sólida desde o referendo: o consumo das famílias cresceu mais do que o esperado e o desemprego caiu para os níveis mais baixos desde 2005, abaixo dos 4,8%.
A meu ver, os efeitos reais do Brexit, de agora em diante, são incertos e dependerão das decisões tomadas tanto pela União Europeia como pelo Reino Unido, quando estes invocarem o artigo nº50 do Tratado de Lisboa.
O Reino Unido pode optar por duas vertentes. A primeira prende-se com uma inclinação protecionista, cujo objetivo é fechar o Reino Unido ao mundo, o que serão péssimas notícias. A segunda prende-se com uma inclinação para políticas mais liberais, permitindo uma maior liberdade e autonomia para negociar com outros blocos e países, sendo esta a opção mais adequada para o Reino Unido.
Quanto à União Europeia, esta beneficiaria com uma reação humilde, vontade de negociar e um forte desejo de manter uma boa relação com o Reino Unido.
A verdade é que seis meses se passaram e a União Europeia já devia ter aberto os olhos. Estamos a perder a oportunidade de redesenhar a estrutura e os ideais em que esta assenta e construir uma verdadeira União Europeia. Embora os potenciais efeitos, quer económicos quer políticos, da saída do Reino Unido sejam custosos para a União Europeia, a perda de credibilidade desta terá efeitos bastantes piores, pondo em causa os países que a compõem.

Ana Luísa Lopes Correia

[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]

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