segunda-feira, 26 de dezembro de 2016

Discriminação racial em Portugal

Apesar de nos últimos anos se ter assistido a importantes mudanças no quadro legal e institucional da luta contra a discriminação racial e de todos os progressos alcançados nesse sentido, não há dúvida que milhões de seres humanos continuam até aos dias de hoje a ser vítimas de tal flagelo. Com o aparecimento de novas tecnologias e da globalização, novos desafios se colocam neste domínio, exigindo medidas inovadoras e esforços concertados a nível nacional, regional e internacional.
A luta contra a discriminação está patente na Constituição da República Portuguesa (CRP), que prevê um leque de direitos, liberdades e garantias que devem ser aplicados de acordo com o princípio da igualdade, segundo o qual todos os cidadãos são iguais perante a lei. Contudo, ao contrário daquilo que possamos pensar, Portugal não constitui uma exceção no que diz respeito às atitudes e comportamentos racistas que se verificam noutros países da Europa. Resta saber qual é a dimensão do problema da discriminação racial em Portugal.
Segundo alguns dados do relatório sobre a Afrofobia na Europa, elaborado pela European Network Against Racism (ENAR), em quase todos os países da União Europeia as estatísticas mostram que as pessoas de origem africana têm sistematicamente níveis mais altos de desemprego por causa da discriminação racial. Na Finlândia há três vezes mais desemprego entre as pessoas de origem africana (41,2%) do que a média nacional (8.7%). Na Lituânia, uma sondagem revela que uma em cinco pessoas não quer trabalhar com uma pessoa negra. Na Suécia, uma em cada quatro pessoas negras licenciadas está em empregos de baixa qualificação. Na Holanda é relatado que estudantes de origem africana, apesar de obterem resultados altos num teste nacional, foram subavaliados pelos professores. Mas e quanto a Portugal?
É evidente que Portugal não passa ao lado desta tendência. No entanto, Portugal encontra-se no grupo de países que apresenta menos dados em nome de uma política de “não discriminação”. Segundo a Constituição Portuguesa, não é permitida a recolha de dados estatísticos com base na raça, etnia ou cor da pele, salvo determinadas exceções. Todavia, este não-registo não só não protege os mais frágeis como esconde os crimes de discriminação racial, impossibilitando determinar a proporção de tal problema. 
Nesse caso, a Comissão Europeia contra o Racismo e a Intolerância alerta, a propósito das conclusões retiradas no seu último relatório sobre Portugal, que grande parte das recomendações efetuadas ainda não foram aplicadas, enquanto outras o foram apenas parcialmente. Ainda assim, foram desenvolvidos alguns mecanismos de combate ao racismo e à discriminação de minorias étnicas e raciais por parte das autoridades portuguesas, como o Observatório das Comunidades Ciganas, que realizou um estudo nacional, e o Observatório das Migrações, cujo trabalho tem ajudado a melhor definir, aplicar e avaliar políticas com vista à integração dos imigrantes.
O que é certo é que minorias étnicas e raciais, como as comunidades ciganas, negros e afrodescendentes, ainda hoje sofrem de exclusão social e enfrentam dificuldades no acesso aos serviços públicos, como a educação, habitação, saúde e emprego. No que respeita à imigração, são muitos aqueles que se encontram em situação irregular no país e que, por isso, estão sujeitos a condições de trabalho precárias.
Na minha perspetiva, é fundamental recolher dados sobre a origem racial e étnica dos indivíduos, de forma a trazer à luz-do-dia a discriminação existente e a pôr fim ao manto de invisibilidade que cobre o racismo em Portugal. Para além disso, é igualmente importante adotar medidas e políticas direcionadas para estes grupos minoritários, com o intuito de fazer frente à atual situação em que estes se encontram.

Bela Diana Gomes

[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]

Sem comentários: