terça-feira, 27 de dezembro de 2016

Viver em Alepo – uma situação bem real que muitos querem esquecer

Alepo é a maior cidade da Síria, e está localizada no norte deste país. Esta cidade desde 2012 que se encontra submersa numa batalha de poder na região, entre governo do país, rebeldes e jihadistas, o auto-proclamado estado Islâmico, e ainda um povo originário da Ásia Ocidental – os Curdos, que se encontram no país e estão em guerra com o governo Sírio.
“A ONU diz que esta guerra já provocou mais de 400 mil mortos mas há outras organizações, como o Centro de Investigação Política da Síria ou o Observatório Sírio para os Direitos Humanos, que colocam o número entre os 430 e os 470 mil mortos”, segundo o Observador. Penso que é importante referir que o número de pessoas que morreram desde o início dos conflitos é terrivelmente elevado e que são maioritariamente civis. Nesta guerra não são só os mortos a lamentar mas também as condições, ou melhor a falta delas, que está a matar lentamente um número substancial de seres humanos.
“A estes números, a ONU soma mais 4,8 milhões de refugiados dispersos por países como a Turquia, o Líbano e a Jordânia. Há 6,6 milhões de pessoas deslocadas dentro do próprio país. Na parte leste de Alepo, segundo Jan Egeland, conselheiro da ONU para a crise humanitária na Síria, ainda há 30 mil pessoas à espera de serem retiradas. Cerca de 50 mil fugiram pelo seu próprio pé nos últimos seis meses, o período mais desesperado do conflito, quando o impasse entre americanos e russos impossibilitou a entrada de ajuda humanitária na cidade."
A meu ver, a ajuda humanitária é crucial para tentar garantir as necessidades básicas da população. Por um lado, com a entrada da Rússia e do Irão a proteger o governo de Bashar al-Assad e, por outro, os Estados Unidos fornecendo armas aos rebeldes, a  ajuda humanitária  é posta em causa.
Compreendo que a ideia destes países é terminar a guerra o mais cedo possível, mas torna-se mais complicado com grandes países a lutar em lados opostos. Contudo, é necessária muita cautela para não dar azo a mais conflitos para os civis sírios.
Felizmente, muito recentemente foi permitido pelo governo Sírio a evacuação da população de Alepo. “A operação deveria ter começado quarta-feira, dia 14 de dezembro, mas o cessar-fogo que necessariamente teria que estar em vigor para que se pudessem retirar as pessoas da cidade, em segurança, foi quebrado menos de três horas depois de ter sido acordado”. Na minha opinião, esta é uma solução muito vantajosa para todos. Os habitantes de Alepo já começaram a ser retirados. Porém, pelo menos, mais 50 mil ainda se encontram na cidade à espera de serem retirados. Contudo, estão a ser levados para Idlib, uma cidade no noroeste do país, a 65 quilómetros de Alepo, que ainda é controlada por rebeldes. Penso que os habitantes de Alepo ainda não se sentiram verdadeiramente salvos pois continuaram a ser controlados por rebeldes.
Muitos esperam que no futuro a guerra acabe e que tudo volte à normalidade, mas quem ficará a chefiar Alepo e a Síria? Na minha opinião, a reconquista de Alepo necessita de calmas negociações entre o regime que estiver no poder no fim da guerra e os seus aliados. Contudo, o “fim” da guerra aberta não é necessariamente o fim do sofrimento na Síria. As forças da guerra poderão somente mudar para outra cidade, como Idlib, para onde civis e rebeldes rendidos estão a ser enviados, e onde não haverá nenhuma potência ocidental disponível para os socorrer. A cidade de Idlib está a ser controlada pela al-Nusra, um dos dois grupos provenientes da al-Qaeda.
Em suma, todos nós somos alertados para o problema na comunicação social e nas redes sociais, com fotos e vídeos de famílias, parecidas em tudo com as portuguesas, mas que estão no país errado a viver um verdadeiro inferno. Cabe-nos a nós todos não deixar passar em branco esta situação, e ajudar da forma que cada um entenda ser a melhor. O que é realmente importante é não virar a cara a quem está em sofrimento.

Ana Catarina Gomes Peixoto de Sousa Baptista

[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]

Sem comentários: