sábado, 9 de dezembro de 2017

O grande problema de Portugal

Estamos todos muito focados nos sérios problemas que a economia portuguesa enfrenta: o endividamento privado, as despesas do Estado, a poupança das famílias, a sustentabilidade da segurança social,… E o verdadeiro problema de Portugal continua às escuras para muitos portugueses. O nosso desenvolvimento e crescimento económico só tem um único obstáculo: a baixa produtividade.
Segundo dados da pordata, a produtividade dos portugueses equivale a apenas 68,9% da produtividade média da União Europeia. Encontramo-nos no grupo de países menos produtivos ao lado da Grécia, da Polónia, da Letónia e da Lituânia. Poderíamos pensar “se calhar a nossa produtividade é baixa porque trabalhamos pouco”. Mas se voltarmos aos dados da pordata podemos comprovar que o que acontece é exatamente o oposto. O mesmo grupo de países com baixa produtividade é o grupo com mais horas de trabalho. E esta relação inversa verifica-se também nos países mais produtivos. A Alemanha, a Dinamarca, o Luxemburgo e os Países Baixos representam o grupo de países mais produtivos e ao mesmo tempo o grupo de países com menos horas de trabalho. O que é que pode então explicar que em Portugal, ao fim de um ano, cada indivíduo tenha mais 500 horas de trabalho do que um indivíduo na Alemanha e no entanto tenha produzido apenas um terço?
Há muitas opiniões neste campo, no entanto, eu acredito que a verdadeira causa está na qualidade dos gestores nas organizações e empresas portuguesas. Muitas organizações portuguesas utilizam estruturas e técnicas de gestão que foram desenvolvidas por Frederick Taylor em 1911, e, quando Taylor desenhou a gestão da organização perfeita, apenas 4% da população, do país onde Taylor se encontrava, tinha o ensino básico completo, e, por isso, a gestão da organização passava muito por tomadas de decisão apenas no topo da empresa e o resto tinha regras e orientações específicas e havia processos de controlo muito rigorosos. Hoje esta realidade não se verifica. Temos a geração mais bem formada de sempre e que quer participar ativamente nos processos de decisão e a gestão das organizações não acompanhou este crescimento e acabamos por ter pessoas qualificadas completamente “entalhadas” de processos, onde as decisões apenas podem vir de cima.
É claro que a solução passa pela reestruturação da gestão das organizações. Um colaborador que tenha a liberdade de tomar uma decisão assim que o problema surja, em vez de perder horas em relatórios e reuniões para comunicar o problema e esperar pela resposta dos gestores no topo da organização, não só torna o funcionamento da organização mais rápido e eficaz, como cria espaço para a inovação.

Bruna Filipa Matos Azevedo

[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]

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